Os primeiros raios de sol surgiram tímidos e banharam toda a cama. Os lençóis ainda estavam com as marcas deixadas por Euro, dormir ao seu lado o fez relaxar depois daquela transe psicótico. Apoiei na cama e desejei do fundo do coração que o plano de Euro desse certo e que no fim tudo acabasse bem. Segui para um banho quente para ajudar a relaxar a tensão que estava por começar, logo ouvi batidas na porta.
– Querida, está pronta? Já estamos de partida.
– Um minuto Minas, já estou saindo.
Assim que abri a porta e a encarei pude sentir a surpresa estampada em seu olhar. Eu usava um longo vestido vermelho brilhante e um longo colar de diamantes, meu logo rabo de cabalo estava devidamente arrumado e minha postura rígida me deixou mais elegante.
– Aceitável para um duelo mortal? – perguntei desanimada.
– Magnífica! Agora vamos, só falta você.
Seguimos rapidamente e no ponto de decolagem um servo nos esperava com meio de transporte, apertei a mão de Minas assim que partimos e recebi um olhar de carinho e zelo como resposta. O clima está fechado, nenhum raio de sol cortava o céu e visivelmente logo começaria a chuva. O duelo seria nas ruínas do antigo Olimpo, sabe-se lá qual era a localização geográfica de tal ponto turístico.
Alguns minutos depois avistamos uma pedra enorme e suspensa no meio do céu, era uma ilha em queda livre. Não era tão grande quanto o Olimpo atual e de longe era possível enxergar algumas estruturas velhas e visivelmente afetadas com o tempo. Era um grande navio naufragado e perdido. Atingimos terra firme e o servo nos ajudou a descer. O lugar era totalmente velho e úmido, décadas de vazio exibiam uma vegetação selvagem e alguns insetos estranhos. Conforme caminhávamos podíamos ouvir algumas vozes e logo nos deparamos com um centena de pessoas.
Hades, Euro, Zeus e Sebastian estavam no centro de um tipo de arena. Todas as pessoas, espectadores daquele show mórbido, estavam sentados em um banco velho de pedra e tão apodrecido quanto o resto. Pude ver Celena e Estélio e recebi um par de sorriso brilhantes quando nossos olhos se encontraram, contudo Minas me guiou para o centro da arena e eu senti meu estomago virar.
– O que está fazendo?
– Faz parte do ritual, você dará início a luta.
Desejei que a terra se abrisse ali. Eu ainda teria que dar a bandeirada para aquela batalha absurda? Será que teria que desfilar de biquíni com uma plaquinha exibindo o round?
Assim que cheguei ao centro da arena pude enxergar melhor o semblante das quatro figuras ordenadas em um semi-círculo. Hades deixava a alegria transbordar do olhar, estava radiante e totalmente psicótico. Euro manteve a postura e seguia fingindo que hipnose ainda fazia efeito, esse era o plano. Zeus estava tenso e me lançou um olhar terno assim que me aproximei. E Sebastian, ah o meu Sebastian, ele estava estranhamente indiferente e nem se deu trabalho de me olhar.
O plano de Euro estava caminhando perfeitamente bem, Hades ainda pensava que ele estava hipnotizado e assim que chegou tinha falado com Sebastian sobre não lutar. Euro fez a oferta diretamente a Sebastian e aparentemente ele tinha concordado. O plano era esse: não lutar. Caso Sebastian não aceitasse Euro me daria algum sinal, como ele não veio tudo deveria estar combinado.
– Duelo clichê: golpes livres, sem armas, sem truques, jogo limpo!
– Claro Hades, como se você soubesse fazer isso.
– Eu não sei, por isso meu servo será um soldado. Eu acabaria com você fedelho!
– Estou pagando pra ver – disse Sebastian com fúria.
– Chega filho! Vamos acabar logo com esse teatro. Helen, querida, dê o sinal de início da luta e saia da arena. Tudo bem?
– Na verdade não Zeus. Não haverá luta.
Uma grande confusão e cochichos surgiram, todos estavam chocados exceto Hades que estava transtornado.
– Como garota? – Ele chegou mais rápido do que eu poderia imaginar e me segurou forte pelos ombros.
– Sem luta. Sebastian e Euro não vão duelar, não por mim!
– Bravo, bravo! Agora deixem de palhaçada. Zeus, você tinha aceitado esse duelo, trate de ensinar ao seu filho o que é honra.
Zeus estava totalmente confuso e visivelmente perdido. Euro estava um pouco mais distante e mantinha uma postura rígida. Sebastian caminhou lentamente até Hades, o encarou furtivamente e deu a maior punhalada que eu poderia receber.
– Ela não fala por mim. Eu lutarei com quem quer que seja.
Meu mundo ruiu, simples, rápido. A chuva caiu no momento exato e me fez sentir ainda mais miserável. Sebastian mentiu para Euro, ele deu uma palavra que não cumpriria. Isso era feio demais, era sujo e desumano. No que ele tinha se tornado?
– Ora que boa notícia fedelho! Ótimo, agora só preciso lembrar o imbecil do meu servo que ele é apenas um fantoche.
– Tudo bem Hades, já entendi e sei suas condições. Eu vou lutar.
Como assim? Esses garotos não tem palavra? E o acordo? Como lutariam? Tudo girava ao meu redor e sem perceber atingi o chão quando o primeiro golpe de Sebastian atingiu o olho de Euro.
Acordei no colo de Minas, apoiada em seus braços e totalmente suja de grama. Os dois ainda estavam na arena, ambos ensangüentados e totalmente deploráveis.
– Eles precisam parar.
– Calma querida, eu sinto que não vai durar muito tempo.
– Por que?
– Hades não vai deixar passa essa chance.
Abstraí as palavras de Minas assim que um chute forte de Euro atingiu Sebastian e o fez cair no chão. Estava tão sujo, machucado e irado. Por que eles estavam fazendo aquilo? A luta não era deles e a minha liberdade não custava tudo aquilo. Nunca custou. A luta seguia morna, socos e golpes para ambos os lados, contudo quando Sebastian caiu pela centésima vez, tudo mudou. Hades disparou um dos seus raios mágicos da cor de sangue, era vívido e emanava um poder diabólico. Tentei acompanhar a velocidade do objeto estranho e logo pude ver o alvo: Sebastian. Ele estava totalmente distraído e só tentava levantar, o raio o atingiria pelas costas e isso era bem característico de Hades. Pude ver Zeus saltando e vociferando algumas coisas, pude ver os olhos maníacos de Hades e inocência da cegueira de Sebastian. A morte estava logo atrás dele. O que não vi foi de onde Euro surgiu, ele apenas correu e empurrou Sebastian para o chão, mas o raio não parou.
Silêncio e incredulidade. O mundo tinha parado ali e ninguém era capaz de respirar. Rompi a pausa e corri até Euro que estava totalmente... totalmente não vivo.