Capítulo 75

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– Que seja. Eu agradeço demais por ter me tirado daquela pressão, mas não sei se isso foi o melhor. Não tenho nada nem ninguém, estou sozinha outra vez. A solidão assusta, devasta.

– Por que não vai dormir? Teve um dia cheio, por isso está falando bobagem.

– É a minha verdade, a morte não pode ser tão cruel ou amarga do que a solidão. A certeza de não ter alguém ao meu lado.

– Não seja estúpida! Você é jovem, bonita, inteligente, um pouco rabugenta, mas não deve desejar a morte. Está falando algo sem saber de fato como é.

– E você sabe? Sabe como é morrer? Por acaso é um zumbi? – seus olhos negros se contraíram num feixe, pude sentir a raiva vibrando do seu corpo, senti medo, mas não me movi.

– Acho melhor você ir dormir garota, conversamos depois.

– Tudo bem, eu vou. Mas... bem, você poderia ficar aqui? Só essa noite. Amanhã chamo alguém para ficar comigo, ainda estou assustada com o que aconteceu.

– Sem problemas, durmo aqui no sofá.

– Não! – quase gritei e Euro se assustou – por favor, fica lá em cima comigo. E se aquela pressão voltar? Se me pegar enquanto durmo? Você não vai me salvar, você vai? Estou com medo, fica comigo – minhas lágrimas caíram apressadas, me sentia tola por aquela cena, ele tinha sido um estúpido comigo. Porém o medo que eu sentia era palpável, aquela pressão tinha sido horrível, não queria passar por aquilo outra vez. Euro deu passos largos e me alcançou, passou os braços pela cintura e me envolveu em um abraço quente. Só pude deixar mais algumas lágrimas caírem, um misto de medo e tensão. Ele afagou meu cabelo e fechou os olhos negros, parecia tenso e rígido. Usava uma jaqueta de couro, desconfortável e quente, uma calça escura e uma bota de guerra. Tinha um aroma agradável, não era um perfume especifico, era apenas seu cheiro. Me senti calma, ali, abraçada e protegida.

– Você precisa dormir, vamos subir.

Subimos a escadaria e então entramos no meu quarto. As paredes brancas, duas janelas grandes e um enorme espelho. Uma cama com algumas almofadas, grande, macia. Tirei a coberta e deitei, Euro abaixou e sentou no chão, pensei em jogar alguma almofada, dormir ali deveria ser bem desconfortável. Mas decidi fazer melhor.

– Euro?

– O que é menina?

– Dorme comigo? – fiz uma pausa envergonhada.

– Como?

– Deita aqui, a cama é enorme e você está desconfortável aí.

– Estou ótimo, agora durma.

– Por favor, prometo que não falo mais.

– Isso é algo aceitável.

Sorriu e foi até a cama, deitou no canto esquerdo, encolhido. Fingiu fechar os olhos e dormir, mas sabia que ele ainda estava acordado. Me ajoelhei na cama e fui até onde ele estava, gentilmente deitei próximo. Seus cachos castanhos estavam perfeitamente desordenados, sua pele era branca, brilhante. Sabia que ele ainda estava acordado, sua postura era rígida e sua respiração controlada. Ele não gostava de me ter tão perto e eu me achei ridícula por forçar aquela situação, estava desconfortável para ambos. Então virei para o outro lado, ainda próxima a ele, mas olhando para a janela e não para sua face. As cortinas brincavam com o vento, um cheiro de terra molhada invadiu o quarto, uma sensação de calma, de paz. Adormeci lentamente, tentando imaginar o quanto minha vida era louca. Antes de apagar por completo juro ter sentido um afago no pescoço, mas deveria ser impressão, Euro era fechado demais para isso. 

Melhor ParteWhere stories live. Discover now