– Que seja. Eu agradeço demais por ter me tirado daquela pressão, mas não sei se isso foi o melhor. Não tenho nada nem ninguém, estou sozinha outra vez. A solidão assusta, devasta.
– Por que não vai dormir? Teve um dia cheio, por isso está falando bobagem.
– É a minha verdade, a morte não pode ser tão cruel ou amarga do que a solidão. A certeza de não ter alguém ao meu lado.
– Não seja estúpida! Você é jovem, bonita, inteligente, um pouco rabugenta, mas não deve desejar a morte. Está falando algo sem saber de fato como é.
– E você sabe? Sabe como é morrer? Por acaso é um zumbi? – seus olhos negros se contraíram num feixe, pude sentir a raiva vibrando do seu corpo, senti medo, mas não me movi.
– Acho melhor você ir dormir garota, conversamos depois.
– Tudo bem, eu vou. Mas... bem, você poderia ficar aqui? Só essa noite. Amanhã chamo alguém para ficar comigo, ainda estou assustada com o que aconteceu.
– Sem problemas, durmo aqui no sofá.
– Não! – quase gritei e Euro se assustou – por favor, fica lá em cima comigo. E se aquela pressão voltar? Se me pegar enquanto durmo? Você não vai me salvar, você vai? Estou com medo, fica comigo – minhas lágrimas caíram apressadas, me sentia tola por aquela cena, ele tinha sido um estúpido comigo. Porém o medo que eu sentia era palpável, aquela pressão tinha sido horrível, não queria passar por aquilo outra vez. Euro deu passos largos e me alcançou, passou os braços pela cintura e me envolveu em um abraço quente. Só pude deixar mais algumas lágrimas caírem, um misto de medo e tensão. Ele afagou meu cabelo e fechou os olhos negros, parecia tenso e rígido. Usava uma jaqueta de couro, desconfortável e quente, uma calça escura e uma bota de guerra. Tinha um aroma agradável, não era um perfume especifico, era apenas seu cheiro. Me senti calma, ali, abraçada e protegida.
– Você precisa dormir, vamos subir.
Subimos a escadaria e então entramos no meu quarto. As paredes brancas, duas janelas grandes e um enorme espelho. Uma cama com algumas almofadas, grande, macia. Tirei a coberta e deitei, Euro abaixou e sentou no chão, pensei em jogar alguma almofada, dormir ali deveria ser bem desconfortável. Mas decidi fazer melhor.
– Euro?
– O que é menina?
– Dorme comigo? – fiz uma pausa envergonhada.
– Como?
– Deita aqui, a cama é enorme e você está desconfortável aí.
– Estou ótimo, agora durma.
– Por favor, prometo que não falo mais.
– Isso é algo aceitável.
Sorriu e foi até a cama, deitou no canto esquerdo, encolhido. Fingiu fechar os olhos e dormir, mas sabia que ele ainda estava acordado. Me ajoelhei na cama e fui até onde ele estava, gentilmente deitei próximo. Seus cachos castanhos estavam perfeitamente desordenados, sua pele era branca, brilhante. Sabia que ele ainda estava acordado, sua postura era rígida e sua respiração controlada. Ele não gostava de me ter tão perto e eu me achei ridícula por forçar aquela situação, estava desconfortável para ambos. Então virei para o outro lado, ainda próxima a ele, mas olhando para a janela e não para sua face. As cortinas brincavam com o vento, um cheiro de terra molhada invadiu o quarto, uma sensação de calma, de paz. Adormeci lentamente, tentando imaginar o quanto minha vida era louca. Antes de apagar por completo juro ter sentido um afago no pescoço, mas deveria ser impressão, Euro era fechado demais para isso.