Freedom Wings - Levi Ackerman

By HiddlesA

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| Universo Shingeki no Kyojin | +18 | S/n faz parte do esquadrão da tenente Hange Zoe, braço direito da cient... More

Nota
Para Você, Em 2000 Anos
Naquele Dia
Primeira Batalha
Uma Fraca Luz No Meio Do Desespero
O Mundo Pelos Olhos Da Garota
A Pequena Lâmina
Rugido
Ouvindo As Batidas Do Coração
O Destino Do Braço Esquerdo
Resposta
Ìdolo
Ferida
Origem Do Desejo
Indivíduos
Necessidade
Ilusão De Força
O que deve ser feito, agora
Ainda Não Posso Ver Seus Olhos
Grupo De Missões Especiais
Missões Especiais
Abrindo Os Portões
Formação De Batimento À Longa Distancia
Líder Das Muralhar
Amigos
Um Sonho Do Passado
Consequências Da Outra Noite
A Noite Da Operação
Onde Tudo Começou
Objetivos Da Missão
Duras Batalhas A Frente
Escolha E Resultado
Meu novo... inimigo?
O Mundo Que Eles Viram
Os Soldados Desconhecidos
Promessa
Entre A Cruz E A Espada
Memorias Do Futuro
Lost Girl
Minha adorável, S/n
Acordo
A Única Salvação
Para O Outro Lado Da Muralha
O Outro Lado Do Mar
Soldado de Paradis
Salão De Quadros
Soldados voluntários
Visitantes
Só pode existir um
Onda De Emoções
O Amor Pela Arte
Sob Meu Controle
O Alvorecer Da Humanidade
A Comandante
A Partir Desse Dia... Eu Os Abandonarei.
Aquele Dia ... Contado Do Ponto De Vista De Zeke
História De Terror
Liberio
Velejar
Se Fosse Você
Enquanto Isso Em Paradis
Aurora
Trem Da Noite Escura
O Garoto Dentro Do Muro
Sol Da Noite
Minhas Feridas Regeneram, Mas Nunca Cicatrizam.
Sua Melhor Lembrança
Tudo Por Nós
Quando Disse Que Poderíamos Ser Amigos, Acho Que Menti
A sombra de uma consciência culpada
Alvorada na Batalha
A Bala Da Assassina
Um Bom Argumento
No Coração Da Floresta Titã
Planos Em Execução
Sombras Do Passado, Chamas Do Futuro
O Caminho Inexorável
O Limiar da Existência
Chuva De Destroços
Entrelaçados Nos Caminhos
Jogo Sujo
Derretimento
A Véspera Do Fim
Traidora
Tribunal
Amanhecer Para A Humanidade
Calmaria do Despertar
Mundo Perfeito
Asas Da Liberdade
A Dolorosa Aceitação
Pecadora
Batalha Do Céu E Da Terra
Entreguem Seus Corações
Caos
Honra, Promessas e Cicatrizes
Sem Arrependimentos
Amor Mútuo
Falsa Paz
Tatakae

Um longo sonho

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By HiddlesA


Levantei-me com dificuldade, tentando entender o que havia acontecido. Observei minhas mãos, minhas pernas, tudo em meu corpo havia voltado ao normal, até mesmo meu cabelo. Dei um pequeno suspiro de desânimo e, em seguida, um sorriso grato. Finalmente acabou.

A batalha havia chegado ao fim e eu estava de volta à minha forma humana. Olhei ao redor, vendo meus companheiros também retornando à sua forma original. O alívio era palpável no ar enquanto nos recuperávamos do tumulto da batalha.

No entanto, as palavras que ecoaram na minha mente trouxeram uma pontada de tristeza. "Para o menino que buscou a liberdade, adeus." O sacrifício do vilão não seria esquecido, e agora era nossa responsabilidade honrar sua memória e garantir que seu legado não fosse em vão.

Com um coração pesado, mas cheio de determinação, ergui-me ainda me vendo em volta de muita neblina, mas em meio ao nevoeiro, podia ver silhuetas e sentir algo estranho, como se aquelas figuras me observassem. O ar estava carregado de tensão e incerteza, mas também de uma sensação de renovação.

Com passos firmes, avancei através da neblina, as silhuetas foram ficando mais nítidas, as figuras desconhecidas ganharam rostos. Lado a lado, vi uma fileira de mulheres de todas as idades se formar, mas nenhuma delas era familiar para mim.

O olhar delas era gentil e amável, mas também havia uma aura de compaixão e força. Elas tinham uma aparência parecida umas com as outras, o que as diferenciava eram suas roupas que aparentavam ser de gerações diferentes. No entanto, havia algo que se destacava entre elas, algo que eu conhecia muito bem.

Não importava de qual forma era usado, seja como adorno em uma coroa, um broche ou uma joia, aquele cristal continuava sendo o mesmo: o cristal de Ymir, o cristal que foi destruído sob a minha posse.

Eu não as conhecia, mas aquelas mulheres eram minhas ancestrais, todas aquelas que receberam o título de Rainha dos Demônios. A descoberta deixou-me sem palavras, uma mistura de surpresa, admiração e uma sensação de conexão profunda com o passado e a linhagem que me precedia.

Segui a fileira que se estendia, e a cada mulher que eu passava, fazia-lhe uma reverência em reconhecimento à linhagem que se seguiu e à responsabilidade que recaía sobre meus ombros como a última Rainha. Cada gesto era carregado de respeito e gratidão pelo legado que elas representavam, pelo peso da história que elas carregaram.

Quando finalmente cheguei à última mulher, senti uma familiaridade instantânea. Seus olhos encontraram os meus e, por um momento, pareceu que o tempo parou. Em seu rosto, vi traços de todas as mulheres que vieram antes dela, uma amalgama de todas as rainhas que moldaram nossa linhagem.

Um nó se formou em minha garganta enquanto as lágrimas começaram a escorrer pelas minhas bochechas. Fazia quantos anos desde a última vez que eu a vi? Naquele maldito dia quando ela me deixou, no dia em que eu roubei o cristal da sua mala. Eu não sabia que aquilo mudaria nossas vidas para sempre.

— Há quanto tempo, mãe? - murmurei, deixando que as palavras escapassem em um sussurro trêmulo.

Seus olhos, tão familiares, encontraram os meus com uma intensidade que me tirou o fôlego. Havia uma mistura de tristeza e amor em seu olhar, uma história inteira contida naquele único momento de reconexão.

Ela apenas sorriu para mim, e eu estendi minha mão tentando tocar seu rosto, buscando o último abraço que nunca tivemos. Mas sua imagem vacilou entre meus dedos, dissipando-se como um sonho ao amanhecer. Com um soluço sufocado, caí de joelhos diante dela, coloquei minhas mãos em frente ao rosto e fechei os olhos, tentando segurar o momento por mais tempo, sabendo que era apenas um vislumbre fugaz.

Limpei as lágrimas e quando reabri os olhos, o que encontrei na minha frente entristecia ainda mais meu coração sombrio e partido. Sua face agora pálida e sem expressões me trazia de volta aquele sentimento de culpa. As mechas loiras cobriam seus orbes azuis, que se mantiveram abertos em seu momento final.

Um arrepio percorreu minha espinha enquanto eu encarava o rosto sem vida daquele que foi meu melhor amigo, que se tornou minha família... Com um suspiro pesado, peguei sua cabeça entre as mãos e a apoiei em meus joelhos, minhas lágrimas que ainda corriam acabaram caindo sobre seu rosto.

Um nó se formou no meu coração, um soluço vindo do fundo da minha alma se fez presente. Era uma dor tão profunda que parecia física, como se meu peito estivesse sendo espremido por mãos invisíveis. Cada respiração era um esforço, cada batida do coração ecoava o vazio deixado pela perda daquele que tanto significava para mim.

As lágrimas continuavam a fluir, uma torrente de tristeza e desespero que não parecia ter fim. Era como se todo o peso do mundo estivesse sobre meus ombros, me afundando em um mar de angústia e desolação.

Com as mãos trêmulas, acariciei suavemente o rosto sem vida do meu amigo, desejando desesperadamente que ele acordasse, que tudo isso fosse apenas um terrível pesadelo do qual eu logo acordaria. Mas a realidade cruel estava diante de mim, implacável em sua brutalidade.

E naquele momento de profunda tristeza, eu me permiti sentir a dor em toda a sua intensidade, deixando que as lágrimas lavassem minha alma e que o soluço rasgasse o véu da minha dor. Era um luto necessário, uma despedida que precisava acontecer para que eu pudesse começar a encontrar paz dentro de mim novamente.

Abaixei a cabeça exausta após tudo o que aconteceu e fechei os olhos por um momento. Até minha mente me pregava peças, pois podia jurar ouvir sua voz me chamando por aquele maldito apelido. Era como se ele estivesse ali, ao meu lado, mesmo sabendo que nunca mais o veria novamente neste mundo.

Uma sensação de calor pareceu acariciar minha pele, trazendo consigo uma brisa fresca que era como um sussurro de calma em meio ao turbilhão. Com lágrimas ainda úmidas nos olhos, abri-os lentamente, deixando a luz inundar minha visão até que a figura à minha frente se tornasse clara e distinta.

Era ele, o loiro de olhos gentis que irradiava uma aura reconfortante. Meu coração apertou ao encontrá-lo ali, diante de mim, como um farol de esperança em meio à escuridão.

— O que aconteceu, majestade? — Sua voz era suave, um bálsamo para minha alma em agonia.

Antes que eu pudesse responder, ouvi passos apressados se aproximando, seguidos por uma voz doce e preocupada.

— Mamãe, o que aconteceu? — A voz da menina era como música para meus ouvidos, trazendo um misto de alívio e preocupação. A figura dela se ajoelhando ao meu lado, seus olhos azuis cinzentos transbordando amor filial, trouxe um sorriso aos meus lábios, mesmo em meio à confusão.

Toquei o rosto dela incrédula. Como ela havia crescido tão rápido? Onde estava Levi? As perguntas rodopiavam em minha mente enquanto eu tentava assimilar a cena diante de mim. Ela estava ali, minha filha, ao lado de Zeke, segurando uma bola de beisebol.

Antes que pudesse processar completamente a situação, a voz de Eren me fez virar em sua direção, surpresa estampada em meu rosto.

Ao encarar Eren, uma avalanche de emoções me atingiu em cheio. A dor da perda, a confusão de seu retorno e a incerteza sobre o que isso significava. Minha mente debatia entre confrontá-lo ou tentar entender.

— Eren... Como...? — Minha voz saiu em um sussurro, minha confusão refletida em meus olhos.

Ele me observou com serenidade, como se entendesse o caos dentro de mim. Era estranho vê-lo ali, depois de tudo o que aconteceu.

— Tio! — Aurora se levantou rapidamente, abraçando Eren com afeto enquanto ele a segurava com ternura.

Eu assisti a cena, atordoada, uma mistura de sentimentos me invadindo. Ver Aurora demonstrando tanto amor por Eren trouxe uma enxurrada de emoções contraditórias.

— O que está acontecendo aqui? — Minha voz soou mais firme agora, mesmo que minha mente ainda estivesse turbulenta com questionamentos.

Eren olhou para mim, seus olhos transmitindo uma serenidade que contrastava com a agitação dentro de mim. Ele colocou minha filha no chão e arqueou as costas para falar com ela.

— Por que não volta a brincar de arremessar com o papai? Sua mãe e eu temos algumas coisas para conversar. — Com um aceno de cabeça e um sorriso radiante, a garotinha se virou para mim e Zeke, agarrou o braço do loiro, o fazendo se levantar. Ambos conversavam animadamente, dava para ver a ternura que um tinha pelo outro.

Eu também me levantei e encarei Eren, que fez um sinal para que eu o seguisse. Caminhamos por aquele lugar até que reconheci ser o jardim da casa da minha família em Sina. Pouco à nossa frente estava a árvore onde eu guardava a maior parte das minhas lembranças com minha mãe, e o local onde, há muitos anos, eu não retornava.

Eren se sentou à sombra da árvore, recostando as costas em seu tronco, e eu fiz o mesmo. Por algum tempo, ficamos em completo silêncio, observando Zeke e Aurora brincando de arremessar.

O tom sereno e contido de Eren quebrou o silêncio, suas palavras ressoando no ar tranquilo do jardim.

— Parece que nossos momentos finais se aproximam — ele disse, sua voz carregando uma calma que contrastava com a gravidade de suas palavras. — Você parece muito calma sobre isso, minha amiga.

Respondi, mantendo minha voz firme apesar da tumultuada tempestade de sentimentos dentro de mim:

— É inútil ter outro tipo de reação agora. A realidade diante de nós é clara, e precisamos aceitá-la.

Meus olhos encontraram os dele, e por um momento, vi um lampejo de tristeza que ecoava nas profundezas da sua alma.

— Você está certa — ele suspirou, me dando um sorriso. — Graças a você e sua teimosia, consegui me despedir da Sasha e da Hange. Achava que não teria essa oportunidade, mas foi bom vê-las uma última vez.

Assenti, olhando novamente para Aurora e Zeke, que agora riam enquanto brincavam. Era um momento de serenidade.

— Por que está tão sentimental? — Eren me questionou, e eu voltei a encará-lo. — Você não era assim.

Balancei a cabeça, um sorriso nostálgico se formando em meus lábios.

— Eu sei que isso... — fiz um gesto que mostrava tudo ao nosso redor —... é tudo uma ilusão, mas estou feliz em poder ver como teria sido se eu tivesse conseguido salvar vocês dois.

Eren assentiu, compreendendo o significado por trás das minhas palavras. Seu olhar vagou para Aurora e Zeke, que continuavam sua brincadeira com risadas e sorrisos inocentes.

— Eles parecem felizes. É a vida perfeita que meu irmão sonhava... uma vida que não lhe pertence...

Suspirei profundamente, sentindo a gravidade das palavras de Eren ecoarem dentro de mim. Aquela cena aparentemente idílica, embora reconfortante à primeira vista, era tingida pela sombra do passado e pelas escolhas que havíamos feito.

— A vida que ele nunca pôde ter... — Murmurei, minha voz carregada de tristeza e remorso. Eren e eu compartilhávamos um fardo pesado, uma responsabilidade que nos seguia ao longo dos anos.

Eren permaneceu em silêncio, sua expressão reflexiva enquanto observava Aurora e Zeke brincando. Era como se estivesse imerso em pensamentos profundos, em um mar de arrependimentos e desejos não realizados.

— S/n, eu me despedi de todos os nossos amigos, e queria me despedir de você também. Arrisquei infundir essa memória no Zeke, torcendo para que você a encontrasse. Mas também foi a forma que encontrei para dar um fim menos doloroso para ele... Apesar da ligação de sangue, eu não tinha qualquer sentimento pelo meu irmão, mas naquele momento... Ele estava aqui com a família que tanto sonhava. Zeke morreu dentro dessa ilusão.

O peso das palavras de Eren pairava no ar, carregado de uma mistura de despedida e redenção. Eu me vi lutando para encontrar as palavras certas, uma resposta para tudo o que ele havia revelado.

— Eren, eu... — minha voz vacilou, enquanto lutava para expressar a complexidade das emoções que me inundavam. Por um momento, me peguei olhando para Aurora e Zeke, sentindo uma onda de ternura e tristeza.

Antes que eu pudesse continuar, Eren ergueu uma mão em um gesto calmo, indicando que queria falar.

— Me deixe terminar, S/n — ele disse, interrompendo-me com um simples movimento. — Sei que você não se arrepende do tempo que viveu no continente e, principalmente, do tempo que passou com meu irmão. Mas também sei que você se culpava por ter privado o Capitão Levi de presenciar os momentos da gestação da própria filha, assim como seu nascimento e seus primeiros meses.

E ele estava certo. Eu me culpava todos os dias por ter tomado aquela decisão. Privar Levi desses momentos... era algo que eu nunca consegui perdoar a mim mesma. Eren me olhou com compreensão, seus olhos expressando uma mistura de empatia e tristeza. Ele sabia o peso que eu carregava, as cicatrizes invisíveis que marcavam minha alma.

— Não sei por quanto tempo vai durar, mas transferi as memórias do Zeke para o Capitão, para que ele pudesse ao menos ter essas lembranças, mesmo que não seja realmente dele... — Sua voz era suave, e eu o encarei assustada e boquiaberta. — Não se preocupe, quando conversamos, eu expliquei tudo ao Capitão. Você tinha que ver como ele ficou... — Eren soltou um pequeno riso nasal. — Foi reconfortante poder conversar com o Levi uma última vez.

Compreendi as palavras de Eren, sentindo um misto de gratidão e tristeza. Saber que Levi teria essas memórias, mesmo que não fossem suas de fato, era um alívio para minha consciência atribulada. No entanto, a sensação de perda ainda pesava em meu coração.

— Obrigada, Eren... — murmurei, lutando para encontrar as palavras adequadas para expressar minha gratidão. — Isso significa muito para mim... e para ele.

Com uma mistura de gratidão e culpa, encarei Eren, sentindo um turbilhão de emoções se agitarem dentro de mim. Algumas lágrimas teimavam em se formar em meus olhos, testemunhas silenciosas do peso que carregava em meu coração.

Eu sabia que logo nós dois teríamos que partir, nosso tempo estava quase acabando. Mas por quanto tempo eu ainda me culparia por não ter feito mais? Meu desejo era salvar a vida de um velho amigo e, junto com ele, a de seu irmão. No entanto, depois de tudo o que aconteceu, não tinha certeza se a mente de ambos estaria preparada para seguir em frente, ou se eles se tornariam tão fragmentados e suscetíveis à depressão quanto Reiner acabou se tornando.

— Não me olhe assim. Eu tenho que partir, mas antes, deixe-me pedir um último favor — Eren prosseguiu, sua voz carregada de seriedade. — Tome cuidado e cuide de todos eles também. Essa falsa paz que eu criei não vai durar para sempre, apesar de ser o caminho mais seguro.

Eren compartilhou suas lembranças com seriedade e um toque de melancolia enquanto nos sentávamos no gramado. De vez em quando, ele arrancava alguns tufos de grama com os dedos, como se estivesse buscando alguma resposta na terra sob nossos pés.

— No dia em que me transformei pela primeira vez, estávamos em Trost. O Comandante Pixis estava lá e ele me disse algo que nunca esqueci — ele começou, sua voz carregada de lembranças. — "Dizem que antes da chegada dos Titãs, a humanidade era feita de várias raças e credos, que lutavam umas contra as outras o tempo todo. Aparentemente, alguém disse na época que só seria preciso o aparecimento de um inimigo em comum para que toda a humanidade se unisse e lutasse como uma só."

Ele riu levemente, soltando um sopro nasal antes de continuar.

— O Comandante me perguntou o que eu achava dessa história. Na época, eu não entendia o real significado. Eu disse a ele que era uma lenda boba que até chegava a me dar sono — seus olhos se perderam no horizonte por um momento, como se estivesse revivendo aquela conversa. — Mas no fim das contas, a lenda era real. Ou pelo menos ela se tornou real por um pequeno período de tempo... Enquanto eu for lembrado como inimigo, haverá paz entre os sobreviventes do Estrondo. Mas em algumas décadas, essa "paz" será esquecida. Afinal, é da natureza humana provocar conflitos.

O peso das palavras de Eren pairava no ar, como se cada sílaba carregasse consigo o fardo de séculos de história. Seus olhos, agora fixos em mim, transmitiam uma mistura de resignação e determinação, como se estivesse pronto para enfrentar o inevitável.

— Eldia e o mundo... até que um deles desapareça, a guerra não irá acabar — ele disse, sua voz carregada de um peso profundo. — Com a minha morte, o poder dos Titãs não fará mais parte deste mundo. Então, mesmo se houver conflitos no futuro, o "jogo" estará nivelado... Pelo menos no que diz respeito à minha parte como Titã Fundador e à de Ymir. Mas, no fim das contas, nós não fomos os únicos a possuir o Fundador.

Seus olhos fixaram-se em mim, penetrantes e carregados de significado. Era como se Eren estivesse transmitindo uma mensagem silenciosa através deles, uma última comunicação antes de seguir seu destino inevitável.

Ao ouvir suas palavras, balancei a cabeça em negação, uma mistura de incredulidade e compreensão borbulhando dentro de mim.

— O Titã... de Ymir? — murmurei, tentando processar a enormidade do que ele estava implicando. — Ela apenas me concedeu...

— Você consumiu a medula e o sangue contidos dentro daquele cristal, Ymir não apenas te concedeu o Titã, ela o entregou a você — ele murmurou, suas palavras carregadas de um significado profundo que eu mal conseguia compreender. — A era dos Titãs chegou ao fim, mas você permanecerá, S/n. Você afirmou que acabaria com os 20% restantes da população caso fosse necessário. Então, este é meu pedido: quero que nossos amigos tenham vidas longas e felizes. E se alguém tentar ameaçar isso novamente, sua última missão será avançar e afastar os inimigos que se atreverem a se aproximar.

Compreendi a seriedade e a urgência por trás das palavras de Eren. Seu pedido era claro e carregava consigo a responsabilidade de proteger aqueles que amávamos, mesmo que isso significasse assumir uma posição implacável contra qualquer ameaça que se apresentasse.

— Eu prometo, Eren. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para garantir a segurança e a felicidade deles — respondi, minha voz carregada de determinação e gratidão por sua confiança em mim.

Eren assentiu, como se uma grande carga tivesse sido retirada de seus ombros. Havia uma serenidade em seu semblante, como se finalmente tivesse encontrado paz em meio ao caos que o cercava.

— Obrigado, S/n. — disse ele, seus olhos transmitindo uma mistura de resignação e esperança para o futuro. — ...e me desculpe por te deixar esse fardo.

Nosso momento de despedida se aproximava enquanto continuávamos a observar Aurora e Zeke. Os dois pareciam estar cansados, a pequena nos olhava de longe e cochichou algo para o loiro antes de correr em nossa direção.

Aurora correu até nós com um sorriso radiante no rosto, seus olhos brilhando com a energia típica de uma criança. Ela olhou para mim e para Eren com curiosidade.

— Titio! — exclamou ela, sua voz infantil carregada de entusiasmo. — A tia Mikasa e o tio Armin não vão vir?

Eren sorriu para ela e se levantou, pegando-a pela mão.

— Podemos ir buscá-los — disse ele, enquanto se preparava para sair.

Eu sabia que era ele quem estava manipulando aquela ilusão, mas mesmo assim, só de poder ver minha filha crescida interagindo com ele dessa maneira me transmitia uma sensação estranha. Sem perceber, comecei a chorar, um nó se formando em meu peito, enquanto ambos me observavam.

— Está tudo bem? — a pequena de olhos cinzentos se aproximou de mim, soltando a mão de Eren, que permanecia em silêncio. — Mamãe, eu vou com o tio Eren, mas a gente se encontra logo, logo. O papai me disse que vai em uma aventura junto com o titio, mas que mesmo de longe ele vai estar conosco. Eu já me despedi dele, você deveria fazer o mesmo...

Suas palavras apenas intensificaram meu estado emocional. Engoli em seco, tentando conter as lágrimas que insistiam em escapar.

— Eu... Eu sei, querida. — Minha voz falhou, embargada pela emoção. — Eu só... Queria ter mais um momento com ele...

Ela assentiu, sua expressão transmitindo uma sabedoria além de seus anos.

Então, Eren interveio com uma sugestão inesperada, apontando para a sombra da árvore onde estávamos.

— S/a, o que acha de trazer meu irmão para descansar neste local? — ele propôs. — Aqui é calmo, e ele estará próximo da família.

— Sim... — murmurei, finalmente cedendo à ideia.

— Vamos, então. — disse Eren, oferecendo sua mão a Aurora. — Eu e aquele velho barbudo temos que ir, você nos acompanha?

Observando-os se afastarem, senti um nó se formar em minha garganta. Não queria me despedir novamente. Em vez disso, eu apenas cumpriria o que prometi a Eren: dar-lhe um enterro digno e deixá-lo descansar em paz, junto da família que ele tanto amava.

Ao me aproximar, percebi que, ao contrário de seu costume, o barbudo não estava tagarelando. Ele apenas sorriu para mim, provavelmente tão cansado quanto eu. Segurei seu rosto com ambas as mãos e sorri de volta, um sorriso triste borrado pelas minhas lágrimas.

— Vamos para casa, Zeke? — minha voz carregava um eco profundo, ecoando em meio ao silêncio do lugar. Observando-o, perdi-me por um momento em seus lindos olhos azuis solitários, que aos poucos foram perdendo o brilho, até se fecharem completamente, como se estivessem se despedindo de mim.

Ao baixar as mãos lentamente, senti o peso que elas carregavam, não apenas físico, mas também emocional. Olhei ao redor e percebi que não estava mais no tranquilo jardim de casa. Em vez disso, estava de volta ao campo de batalha, onde a terra fora nivelada pelo estrondo. Um lugar vazio e silencioso, envolto pela neblina que pairava sobre o terreno desolado. Era como se a paisagem refletisse a desolação e a tristeza que eu carregava dentro de mim.

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