Levi
— Urgh... — Ouvi um grunhido, estava começando a ficar preocupado se esse sujeito não acordaria mais. Virei-me para encará-lo — Uh...
— Está acordando? — Em resposta à minha pergunta, Zeke apenas emitia grunhidos. — Ei, espera. Não se mexa. A lança do trovão está conectada a um fio enrolado no seu pescoço. Se se mexer, ela vai explodir seu abdômen. Provavelmente, você vai terminar em pedaços.
Permaneci ali, observando-o atentamente enquanto seus olhos se ajustavam à luz. Os grunhidos diminuíram, indicando uma gradual retomada da consciência.
A despeito de seus ferimentos, Zeke permanecia no limiar da consciência. Seu corpo, antes vigoroso, estava agora devastado pela dor e pelos danos internos. A visão do sangue que ele expelia não suscitava em mim qualquer sentimento de compaixão. Em vez disso, era uma recordação crua das consequências inevitáveis de suas ações. Observando seu sofrimento, eu ponderava sobre as escolhas que o conduziram a esse estado, sem deixar espaço para piedade.
— Pelo seu estado, é difícil até falar para você não morrer, mas não é como se eu desse a mínima. Você pisou na vida dos meus subordinados, tudo de acordo com o seu plano, mesmo coberto de vômito e merda, gritando... Foi tudo de acordo com o plano? — Puxei minhas lâminas, decepando seus membros inferiores — Cala a boca. Se eu te cortar, não vai sobrar mais nenhum imbecil para se transformar em titã, não é?
Permaneci impassível diante dos gritos agonizantes de Zeke, uma mera formalidade em meio à execução do meu trabalho. Não era prazer que eu buscava naquela tortura, mas sim a eficácia em atingir meus objetivos.
Os gemidos agonizantes de Zeke ecoavam na carroça enquanto eu planejava cada passo meticulosamente. Sua resistência só alimentava minha determinação em tornar a jornada para Shinganshina um verdadeiro inferno para ele.
À medida que a carroça sacolejava, eu ponderava sobre a possibilidade de transferir esse fardo para S/n. A ideia de vê-la lidar com a situação me agradava, e eu sabia que ela não escaparia de me dar uma explicação convincente sobre as informações que o barbudo havia compartilhado.
Não que eu me importe muito com a sanidade dela, mas ter um filho com um sujeito desses? É demais para aceitar. Se eu descobrir que há algo mais por trás disso, algo que ela não está me contando, as coisas podem ficar bem feias. Não vou deixar isso passar impune.
A estrada desolada para Shinganshina se estendia diante de nós, uma metáfora cruel para a jornada tumultuada que se desdobrava em minha mente.
— M-meus... Óculos... Onde... Eles estão? — gaguejou ele, buscando desesperadamente no chão da carroça, entre seus fluidos de vômito e sangue.
— Oh? Sei lá. Você não vai mais precisar deles mesmo. — Respondi cínico, ignorando completamente sua preocupação com os óculos. O sarcasmo permeava minhas palavras, enquanto a carruagem seguia seu caminho impiedoso, levando consigo o homem em agonia.
Enquanto sua mente se perdia aos poucos e o silêncio voltava a prevalecer, eu continuava a guiar a carroça. Vez ou outra, eu me pegava pensando em dois objetos que pertenciam a Zeke: a fotografia que ele me mostrou antes de toda a confusão da floresta titã acontecer e a outra... A aliança que ele usava, pendurada naquela corrente. Em sua parte interior estava gravado o nome da S/n.
Tentei me manter sob controle, mas quando a chuva começou a cair, antes de puxar o capuz da minha capa para me proteger das gotas d'água, permiti que minhas lágrimas se misturassem à chuva.
O som ritmado da chuva batendo contra a carroça encobria minha melancolia, enquanto a jornada seguia impiedosamente. A cada gota que se misturava ao rastro de lágrimas em meu rosto, uma tormenta interior crescia.
Ao relembrar a fotografia e a aliança, minha mente mergulhava nos meandros da confusão e da traição. A imagem da S/n, ligada a Zeke por aquele símbolo de compromisso, perturbava meus pensamentos. A raiva e a desolação se entrelaçavam, obscurecendo meu senso de direção.
A carroça avançava, e eu tentava encontrar solidez em meio à tempestade emocional. No entanto, a chuva persistente servia apenas para disfarçar as lágrimas que eu preferiria esconder.
Horas se passavam lentamente enquanto eu tentava me concentrar em retornar a Shinganshina. Vez ou outra, eu olhava para Zeke, ainda desacordado. Cada vez que era obrigado a encará-lo, minha mente vacilava e me pregava peças ao criar cenários onde S/n estava junto a esse barbudo desgraçado.
— A única... Salvação possível... É a eutanásia... De Eldia. — Ouvindo seus murmúrios, virei o rosto lentamente, minha expressão taciturna. As palavras de Zeke ecoavam como um lamento.
— Como é que é? — Indaguei, fixando meu olhar em Zeke. — Eutanásia? — Minha voz carregava uma mistura de surpresa e incredulidade. — Você vai terminar morrendo na boca imunda de algum titã enquanto ouve o som do seu próprio corpo sendo mastigado, mas...
Parei os cavalos e me levantei, indo até a carroceria onde o corpo imundo de Zeke repousava com a lança do trovão fincada em seu abdômen. A carroça permanecia imóvel, enquanto eu encarava Zeke com um misto de desprezo e curiosidade. Seus murmúrios sobre a "eutanásia de Eldia" ecoavam como um eco distorcido de suas próprias convicções.
— ...esta não seria uma forma gentil demais de você morrer? — Adicionei, minha voz carregada de sarcasmo. — Se comparado à vida dos meus companheiros que você roubou...
— Eu não roubei... — Retrucou Zeke, suas palavras ecoando, mesmo em sua condição debilitada. — Eu... Salvei. A vida daquelas crianças... Deste... Mundo cruel... Não é. — Sua voz era fraca, mas carregava um tom de convicção, como se estivesse defendendo suas ações, mesmo na beira da inconsciência.
Permaneci em silêncio por um instante, absorvendo as palavras de Zeke. Enquanto a chuva continuava a cair, criando um murmúrio monótono, eu ponderava por milésimos de segundos antes de puxar minhas lâminas. O brilho metálico refletia a luz difusa da chuva. Minhas mãos, assim como a determinação em meus olhos, permaneciam firmes. A resposta para as palavras de Zeke seria dada não apenas em palavras, mas em ações concretas.
— Parece que suas pernas já cresceram de novo. — Respondi, mantendo a firmeza em minhas mãos e o olhar fixo em Zeke. A ironia transparecia em minha voz, enquanto eu me preparava para lidar com a situação de uma vez por todas.
— Me observe, senhor Ksaver!!! — Assim que Zeke gritou com desespero, percebi o erro que cometi. Com um movimento brusco, ele acionou a lança do trovão. Não previ que Zeke estaria disposto a sacrificar nós dois nesta explosão.
A explosão foi iminente, e o caos se desencadeou. O som ensurdecedor ecoava no ar, acompanhado por estilhaços, destroços e partes do próprio Zeke que voavam em todas as direções. A força da explosão me arremessou para longe da carroça, e a chuva intensificou-se, misturando-se ao cheiro de fumaça e destruição.
S/n
Ao abandonar Eren e a facção Yeager, prossegui a cavalo em direção a Shinganshina. Assim que alcancei meu destino, soltei o animal, deixando-me consumida pela aflição diante das revelações perturbadoras que Eren havia compartilhado comigo. O peso das palavras dele ecoava em minha mente enquanto eu confrontava as complexidades do que estava por vir.
Sobre a muralha, minha mente divagava enquanto eu tentava decidir qual caminho seguir primeiro. Apenas ouvira boatos sobre o paradeiro de Levi e Zeke, mas a verdade era que Hange era a única que tinha conhecimento da localização real, e ela nunca revelaria para mim, especialmente depois de tudo o que fiz.
Eles não teriam arriscado sair das muralhas; não existem outros lugares além do porto e do quartel do Reconhecimento no Norte. Em Sina, quem comanda as coisas é a PM. Levi e Hange não teriam qualquer autoridade lá, sem contar que apenas pessoas de alta classe vivem em Sina. Eles não colocariam os nobres em risco, na verdade, tendem a evitar colocar civis em perigo. Isso também elimina a possibilidade de estarem dentro da Muralha Rose, então devem estar no território da Muralha Maria.
Diante dessas considerações, direcionei minha busca para o território da Muralha Maria. Tinha plena consciência de que, ao adentrar aquele vasto território, me depararia com desafios e perigos desconhecidos. No entanto, a determinação de encontrar Levi e Zeke impulsionava cada passo meu. Minhas apostas estavam centradas no Castelo Utgard ou na Floresta Titã.
Ao ponderar com cuidado, o Castelo Utgard não parecia ser o mais propício para Levi e os soldados. Seria um local perfeito no caso de Zeke se transformar em Titã, já que o castelo proporcionaria munição suficiente para alvejar todo o esquadrão.
Assim, descartando o Castelo Utgard como um local provável, minha atenção se voltou para a imponente Floresta Titã. A vastidão da área e a densidade da floresta tornariam difícil para Zeke escapar sozinho. O solo arenoso, desprovido de rochas, o deixaria vulnerável, sem nada para arremessar em caso de ataque. O Titã de Zeke não foi projetado para combate corpo a corpo, ao contrário dos Titãs de Eren ou Reiner, por exemplo. Além disso, as árvores de cerca de oitenta metros na floresta seriam perfeitas para utilizar o Dispositivo de Manobra Tridimensional.
Era a minha melhor chance. Parti em direção à Floresta Titã, planejando correr por cima da Muralha Maria usando minha habilidade para alcançar rapidamente o destino. Com meus poderes em seu nível atual, eu era mais veloz do que qualquer meio de transporte que tínhamos na ilha.
À medida que avançava sobre a Muralha Maria, minhas habilidade permitia que eu cortasse a distância em tempo recorde. A paisagem abaixo de mim transformava-se rapidamente, revelando a vastidão da ilha e a imponência das muralhas que protegiam a humanidade.
Ao adentrar a Floresta Titã, a densidade das árvores criava uma atmosfera de mistério e desafio. A luz do sol mal conseguia penetrar a espessa cobertura de folhagem, mergulhando o ambiente em sombras cambiantes.
Enquanto me aproximava do centro da floresta, mantive meus sentidos aguçados, atenta a qualquer sinal de presença. A possibilidade de encontrar Levi e Zeke tornava cada momento crucial. Minha determinação só se intensificava à medida que me embrenhava na floresta, confiante de que a resposta para o destino deles estava prestes a se revelar.
Em certo momento, percebi um aroma característico que há muito tempo não se fazia presente, o cheiro que os corpos dos Titãs exalavam quando entravam em decomposição. No entanto, parecia que nunca havia sentido esse odor em tal intensidade antes.
Segui o odor repugnante até chegar à sua origem, tomando cuidado e permanecendo alerta para a possibilidade de haver mais ameaças ao redor. Logo percebi o que havia acontecido: os subordinados de Levi tinham ingerido o fluido espinhal de Zeke, e uma batalha havia ocorrido há pouco tempo, pelo que parecia.
Ao examinar o local da batalha, deparei-me com vestígios de uma confrontação intensa. Segui o rastro que serpenteava pela vegetação da floresta, e alguns metros à frente me deparei com outro local que parecia ter sido palco de mais um confronto. Julgando pela carcaça do Titã Bestial se decompondo naquele canto, deduzi que a vitória pertencera a Levi.
Aproximando-me cautelosamente do local, observei os destroços e os sinais evidentes da feroz batalha que ali ocorreu. Fragmentos de árvores quebradas e marcas profundas no solo testemunhavam a intensidade do combate.
Meu coração acelerou enquanto eu continuava a seguir os rastros da batalha, ansiosa para encontrar qualquer sinal de Levi ou outras pistas que pudessem indicar o desfecho da luta.
Vasculhei todos os cantos possíveis até encontrar rastros de rodas e pegadas de cavalos. Segui o rastro, torcendo para encontrá-los logo. Ao mesmo tempo, minha mente debatia-se tentando decidir o que fazer. Afinal, minha missão era levar Zeke ao encontro de Eren e proteger Levi do que quer que seja a visão que Eren teve.
O Os sinais das rodas e pegadas de cavalos guiaram-me adiante, através da floresta e além, antes que começasse a chover. O caminho sinuoso indicava uma possível retirada apressada ou movimento estratégico. Cada passo reforçava a urgência da situação e a necessidade de alcançar Levi e Zeke antes que eventos desconhecidos se desenrolassem.
O desespero se apossou de mim quando percebi que os rastros vitais haviam desaparecido sob o manto implacável da chuva. Aterrissei no chão encharcado, meu coração batendo descompassadamente. Cada segundo parecia uma eternidade, enquanto eu examinava freneticamente o solo, buscando qualquer vestígio que pudesse revelar para onde Levi e Zeke haviam se dirigido. Mas, cruelmente, a chuva havia apagado todas as pistas, deixando-me à deriva, com a angústia crescente de não saber o que acontecera ou para onde seguir. Parte superior do formulário
Não enxergava outra solução, então fiz algo que havia muito tempo me esquecido.
— YMIR! — gritei para o nada, tentando me conectar com a fundadora — por favor, me ajude a encontrá-lo. Não posso deixar que nada de mal aconteça a ele.
O eco das minhas palavras se dissipou no ar, enquanto eu aguardava ansiosamente por qualquer sinal de resposta que nunca veio. Em seu lugar, ouvi uma explosão vinda não muito longe de onde eu estava. Meu coração se apertou ainda mais, imaginando que aquele era o evento catastrófico que Eren havia me avisado.
No fim, minha morte será iminente, mas isso não importa; somente o agora interessa. Por impulso, transformei meu corpo em eletricidade. Surpreendentemente ágil e efervescente, tornei-me uma corrente elétrica, cortando o ar com intensidade. Percorri o local em alta velocidade, buscando a fonte da explosão. A paisagem passava como flashes ao meu redor, enquanto eu me movia com a velocidade da luz.
A eletricidade tornou-se minha forma, e a chuva, que antes era um obstáculo, agora apenas intensificava minha carga elétrica. Cada gota de chuva cintilava ao meu toque, tornando-me uma força da natureza em busca daqueles que eu amava. Enquanto a incerteza do destino ecoava na minha mente, a eletricidade pulsava em minhas veias, impulsionando-me para frente.
Minha primeira visão concreta foi dos cavalos que puxavam a carroça. Apenas um ainda estava vivo, mas suas patas traseiras haviam sido desmanteladas, e todo seu corpo estava revestido por estilhaços de madeira. O pobre animal grunhia de dor, e em um ato misericordioso, acertei-o com um de meus dardos de cristal, acabando com sua dor de uma vez por todas.
Ao lidar com a cena devastadora, meu olhar se voltou para além dos destroços da carroça. Em meio à destruição, avistei figuras familiares. Apenas o torso de Zeke estava visível, seus órgãos expostos para fora do que restava de seu corpo. Diante da cena terrível, meu coração se apertou, mas ao perceber que a nuca de Zeke estava intacta, uma centelha de alívio se instalou em mim. Sabia que ele tinha a capacidade de regenerar-se, o que trazia um fio de esperança em meio à devastação.
Meus olhos buscaram freneticamente por Levi. Entre destroços e escombros, finalmente o encontrei próximo à beirada do riacho que corria com força devido à chuva brusca. Corri em sua direção, desesperada para avaliar a extensão de seus ferimentos e oferecer qualquer ajuda possível. Ele estava gravemente ferido, mas ainda vivo por pouco. Eu mal conseguia ver seu rosto, muito menos seus olhos; havia muito sangue, seu rosto estava completamente cortado.
Com as mãos trêmulas, aproximei-me de Levi. O som da chuva misturava-se ao ruído do riacho, criando uma atmosfera sombria ao nosso redor. Ajoelhei-me ao lado dele, ignorando a lama e a água que cercavam a cena.
— Levi, por favor, fica comigo. — Minha voz tremia enquanto eu tentava avaliar a gravidade de seus ferimentos. Sua respiração era fraca, ele mal tinha pulsação — não, você não pode me abandonar assim... Por favor, Capitão, eu imploro, fica comigo. Tenho tanto para te contar... Você precisa voltar para casa, precisa conhecer a nossa filha... Você ainda não me perdoou por todo o sofrimento que eu te causei...
Levi permanecia inconsciente, seu corpo frágil e machucado repousava em meu colo. Não conseguia segurar minha emoção ao abraçar seu corpo contra o meu, na intenção de prendê-lo e não o deixar partir. Minhas mãos buscavam desesperadamente formas de ajudar, pressionando seus ferimentos na tentativa de estancar o sangramento.
— Levi, por favor, não me deixe agora. — As palavras saíam num misto de súplica e desespero. — Você é o homem mais forte da humanidade, não é? Você ainda tem uma vida para construir junto com a Rory, a família que você sempre mereceu está te esperando. Não posso perder você, não depois de tudo que passamos.
As lágrimas misturavam-se com a chuva que caía incessantemente, criando um cenário de dor e desespero. A sensação de impotência pesava em meu peito, enquanto eu tentava desesperadamente manter Levi consciente.
A chuva continuava a cair, e meu coração ansiava por um milagre, por qualquer sinal de que Levi poderia superar aqueles ferimentos devastadores. Enquanto segurava seu corpo ferido em meus braços, desejava ardentemente que o homem que sempre enfrentou a adversidade com coragem pudesse encontrar forças para resistir mais uma vez.