Por tudo o que você fez

By Amandeep1009

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Letícia jurou para si mesma que vingaria a morte da irmã. Anos depois da tragédia, ela está de volta à sua ci... More

✨Sinopse ✨
✨ Bem-vindos ✨
🎧Playlist🎧
Prólogo
1. Letícia
2. Matias
3. Letícia
4. Matias
5. Letícia
6. Matias
7. Letícia
8. Matias
9. Letícia
10. Matias
11. Letícia
12. Matias
13. Letícia
14. Matias
15. Letícia
16. Matias
17. Letícia
18. Matias
19. Letícia
20. Matias
21. Letícia
22. Matias
23. Letícia
24. Matias
25. Letícia
26. Matias
27. Letícia
28. Matias
29. Letícia
30. Matias
31. Letícia
32. Matias
33. Letícia
34. Matias
35. Letícia
36. Matias
37. Letícia
38. Matias
39. Letícia
40. Matias
41. Letícia
42. Matias
43. Letícia
44. Matias
45. Letícia
46. Matias
47. Letícia
48. Matias
49. Letícia
50. Matias
51. Letícia
52. Matias
53. Letícia
54. Matias
55. Letícia
56. Matias
58. Matias
59. Letícia
60. Matias
61. Letícia
62. Matias
63. Letícia
64. Matias
65. Letícia
66. Matias
67. Letícia
68. Matias
69. Letícia
70. Matias
71. Letícia
72. Matias
73. Letícia
74. Matias
75. Letícia
76. Matias
77. Letícia
78. Matias
79. Letícia
80. Matias ✨ Epílogo
81. Letícia ✨ Epílogo
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57. Letícia

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By Amandeep1009

De volta ao meu sótão na casa da minha avó, depois de um banho e pelo menos dois relaxantes musculares para tentar aliviar a dor no meu pescoço, me deito na cama e me cubro, fingindo que vou conseguir dormir. Além do fuso diferente, minha cabeça está girando com os acontecimentos dos últimos dias. A confissão de Matias não sai dos meus ouvidos.

"Eu desisti".

O que ele quis dizer com isso?

Pelas coisas que ele me disse, a culpa em relação a Cecília é óbvia. Como aponta o diário, Matias é responsável pelos sentimentos da minha irmã... Mas essa frase vai contra o que eu esperava.

Já li e reli esse diário tantas vezes e, em todas elas, tive certeza de que a culpa de Matias era calcada em uma ação, algo que ele fez, o modo como ele a tratou, uma agressão, uma violência.

Desistir não é nada disso.

É justamente o contrário.

Desistir é a não-ação, é deixar livre, solto.

E não é isso que ela sentia quando escreveu as últimas páginas.

O celular vibra com uma mensagem e nem reparo quando um sorriso estampa meu rosto. É uma foto de Matias, também deitado na cama dele, sem camisa e com um braço casualmente atrás da cabeça.

"O que estou fazendo aqui sem você, Diabinha?"

Eu também não sei.

Tenho vontade de jogar esse diário no lixo, esquecer esse plano idiota e correr para os braços dele.

Mas me recuso.

Não posso esquecer quem eu sou. Posso não ter família além da minha avó, mas um dia eu tive. Meu pai, minha mãe e minha irmã viveram bem aqui nessa casa. E a falta que eles fazem dói até hoje no meu peito. Ninguém nunca pagou por todo o sofrimento que eu passei, que eles passaram...

E agora, mais do que nunca, eu preciso saber exatamente o que aconteceu, porque tudo o que Cecília escreveu aqui não tem nada a ver com o homem que está me mandando mensagem nesse exato momento.

Não pode ter.

Uma pessoa não conseguiria mudar tanto...

Vejo no MB que Cecília descreve traços do Matias de hoje. Vejo que ele se preocupa com ela, com o abuso das drogas, com a influência das companhias... No entanto, o que está no final do diário prova um MB totalmente diferente. Eu nunca tinha desconfiado dessa mudança. Sempre achei que, no início, estava lendo as palavras de uma adolescente iludida que ainda não tinha identificado as características de um agressor.

Mas, agora...

Merda.

Eu não sou uma adolescente iludida.

Sou uma mulher adulta, que se envolveu tendo os instintos bem alertas.

Eu estava procurando qualquer sinal de agressividade, seja por palavras, toque ou atitude.

E não encontrei nada.

Pelo contrário, me deparei com um homem que não cansa de me surpreender.

E isso é raro.

Agora, preciso descobrir que merda aconteceu há vinte anos.

"Não sei o que você está fazendo, mas deveria estar dormindo... Afinal, você tem uma reunião amanhã às 6h da manhã", envio, suprimindo uma gargalhada. É claro que é mentira, não faço ideia dos compromissos de Matias para essa semana, mas posso imaginá-lo dando um pulo da cama agora mesmo e indo checar a agenda.

Abro o diário de Cecília determinada a lê-lo como se fosse a primeira vez, como se eu não soubesse o nome do culpado, como se eu estivesse à procura de um suspeito. Quem sabe eu descubro algo novo que tinha passado despercebido até agora.

"D.

Meus pais insistem no castigo. Acho que eles ainda não perceberam que não tem como me trancar em casa. Quanto mais eles me proibirem de sair, mais eu vou querer sair.

A viagem ao hotel-fazenda deixou os dois malucos. Eles não param de querer mandar em mim desde que isso aconteceu. Agora, mamãe deu pra me mandar fazer o dever de casa. Logo eu que sempre fiz o dever de casa!

Papai fica atrás de mim me dando um monte de tarefa: lavar a louça, tirar o lixo, levar Lelê na pracinha, levar na natação... Como somos pobres, eles acham que eu sou a empregada deles. Só pode!

Outro dia, eu disse isso pra mamãe e ela gritou até não poder mais. Disse que não sabe de onde eu tirei essa ideia de que sou pobre, que ela e meu pai fazem de tudo pra me dar do bom e do melhor... Foi um drama sem fim.

Ou eles se contentam com muito pouco ou eles não sabem o que é ter dinheiro.

Agora que eu vi como MB e seus amigos vivem... D, isso é que é ter grana. O resto é brincadeira.

Mas é claro que eu entendo o que a mamãe quis dizer... Pra falar a verdade, depois que ela brigou comigo, eu tenho pensado sobre algumas coisas. Eu nunca tinha me importado tanto com dinheiro, nem com ter as coisas... É só que S e PD têm tantas coisas novas e legais que eu me sinto, sei lá, deslocada. Como se eu não tivesse nada.

MB não liga pra nada disso, eu já reparei. As blusas são as mesmas, os tênis, os bonés... Ele não suporta ir ao shopping. Sempre que S e PD querem ir, ele fica esperando no fliperama.

Esses dias, a gente tava na beira do lago com a galera e eu perguntei ao MB como era ser tão rico a ponto de ter tudo o que ele quisesse. Ele teve a cara de pau de responder que dinheiro nunca tinha dado a ele nada do que ele quisesse. Tive que rir na cara dele, D. Acho que não fui muito sensível.

Depois, perguntei como era ter tanto dinheiro a ponto de não precisar nem trabalhar. E ele disse que não trabalhar nunca tinha nem passado pela cabeça dele.

Perguntei se ele ia herdar a empresa do pai e ser o chefe de tudo.

MB disse que não, mas não disse mais nada. Eu achei que ele estava meio mal-humorado e resolvi deixar ele em paz. Aí, eu fui pegar um baseado com MMG e, quando eu voltei, MB me chamou. Ele me convidou pra ir andando com ele até o deck e nós fomos bem devagarzinho. Quando a gente estava já distante do pessoal, ele me passou um fone. Coloquei no ouvido e tinha uma música tocando.

Era 'Money' do Pink Floyd. Eu já conhecia, mas nunca tinha parado pra pensar na letra. Agora sei como MB se sente.

Ele tem razão, D. O dinheiro vicia, a gente quer sempre mais.

Depois que ele me mostrou essa música, fiquei pensando em como deve ser ter tanto de uma coisa que todo mundo quer, mas que é a raiz de todo o mal.

Eu perguntei pra ele por que ele não gostava de ter dinheiro e ele disse que não era isso. É claro que todo mundo quer ter dinheiro, principalmente dinheiro suficiente pra ter uma vida digna. Essas foram as palavras dele. 'Vida digna'.

O problema era quando esse dinheiro não tinha limite nenhum.

Ele voltou pra um trecho da música... 'New car, caviar, four star, daydream. Think I'll buy me a football team'.

Traduzindo, dá isso aqui: 'Carro novo, caviar, quatro estrelas, devaneio. Acho que vou comprar um time de futebol'.

MB disse que essa estrofe sempre o assustou. Que o maior medo dele era ficar perdido na vida, sem saber o que fazer com as infinitas possibilidades do dinheiro que ele tinha herdado e que, por isso, ele queria ter uma profissão que tivesse algum propósito.

Acabei dizendo pra ele que todas as profissões têm um propósito, até mesmo comprar um time de futebol. Afinal, você está fazendo as pessoas torcerem, vibrarem, se apaixonarem por algo... Ele riu e disse que gostava de conversar comigo. A sós.

Acho que ele não gosta muito quando estamos com a galera toda. Acabamos passeando mais tempo sozinhos perto do lago. Encontramos uns barquinhos que ficam parados na margem, entramos em um deles e deitamos ali.

Ficamos olhando as estrelas juntos que nem personagens de um filme.

Mas confesso que logo fiquei inquieta e entediada.

Eu queria voltar pra pegar mais um baseado, mas MB me convenceu a ficar.

Ficamos calados e cheguei à conclusão de que ele está certo, D.

O dinheiro é perigoso.

Só de experimentar as regalias que MB tem e ver as coisas caras de S e PD, eu já estou aqui, falando um monte de merda pra minha mãe...

Que droga, D.

Nunca fui de brigar assim com meus pais.

MB disse que eu deveria tratá-los melhor, que eles parecem preocupados comigo e que isso é bom. Eu falei que ele só não se irrita com o pai dele porque ele tem toda a liberdade do mundo. MB não respondeu, o que me deixou curiosa. Fiquei sem saber se ele concordava comigo ou não.

Quando ele cochilou dentro do barco, eu escapuli. Voltei pra onde a galera tava. MMG tava acordado com os caras da Dragona. Perguntei se tinha mais baseado e MMG falou que tava tarde pra isso, a festa já tinha começado. Então, ele me deu uma pílula colorida que derreteu na minha língua e eu fiquei tão doidona que não lembro de nada do resto da noite. Só tenho alguns flashs de MB muito puto, berrando com MMG e, depois, me levando pra casa dele.

Acordei no quarto de MB pela primeira vez desde que começamos a namorar. E adivinha o que eu fiz, D?

Vomitei no carpete.

Sério.

Vomitei no carpete do cara mais rico de Aroeiras na primeira vez que ele me levou pra casa dele.

Sou um caso perdido mesmo...

Acordei sozinha no quarto dele. Fiquei toda noiada, sem saber o que tinha acontecido, fritando meus miolos. Fiquei procurando pistas de onde ele estava sem ter coragem de sair do quarto... Foi horrível, D.

O quarto de MB é gigantesco. Tem um computador irado, vários posters de bandas, mas não aqueles que vêm nas revistas. MB tem posters de verdade, bonitões, emoldurados. Eu já estava surtando quando uma pessoa bateu à porta e eu quase pulei de volta pra cama. Eu estava usando só uma camiseta do MB e a garota que entrou parecia uma estrela de cinema, de robe e tudo.

De qualquer forma, ela me ajudou, trouxe um chá pra mim e disse pra eu nunca comentar com ninguém que ela tinha me ajudado, nem que ela tinha estado ali. Disse que MB não ia gostar de saber. Eu perguntei onde ele estava e ela riu.

Ela me contou que, por causa da briga da noite passada, o pai dele estava dando uma bronca nos dois.

Eu não sabia qual tinha sido a briga, nem quem eram os dois, o que fez ela rir ainda mais.

'Por sua causa, mocinha, MMG e MB caíram na porrada e quebraram um dos vasos mais antigos da casa.'

Achei engraçado ela ter me chamado de 'mocinha' porque ela não era tão mais velha do que eu.

Foi assim que eu descobri que MMG e MB me trouxeram pra casa de MB no meio da madrugada, porque eu não parava de vomitar. Eles tentaram me trazer para o quarto de MB sem fazer barulho, mas tudo deu errado, porque eu acabei falando alguma coisa que irritou MB. Aí, os dois começaram a brigar e me largaram no chão do hall, enquanto eles caíam na porrada, mas o que caiu mesmo foi um vaso chinês que valia alguns milhares de reais.

MB demorou mais de uma hora pra voltar pro quarto, mas quando voltou, não estava nada contente. Ele me ajudou a tomar banho, o que foi bem constrangedor, me deu roupas limpas e me contou sobre como eu tinha ficado doidona com um comprimido que MMG tinha me dado. MB disse que não queria mais saber de andar com MMG, que ele estava me viciando nessas coisas, um monte de baboseira, D! Eu fiquei tão irritada que só não saí andando porque eu não sabia sair daquela casa gigantesca. Mas falei pra MB que eu tinha total controle e responsabilidade pelos meus atos e que eu não precisava de mais uma pessoa me policiando. Já basta meus pais!

Depois disso, MB me levou pra casa. Quer dizer, o motorista dele me levou. MB ficou emburrado durante todo o caminho e nem falou comigo.

Eu fiz questão de dizer que gosto de MMG e eu não quero me afastar dele e dos caras do Dragona.

Ele disse que eu precisava descansar e que a gente poderia conversar depois.

Eu concordei, mas assim que cheguei em casa levei mais uma bronca imensa dos meus pais, porque dormi fora e não avisei onde estava, nem que horas eu voltaria. Minha cabeça começou a doer tanto que eu não conseguia nem ouvir meus pensamentos. Acabei batendo a porta de casa e correndo para a pracinha.

Adivinha quem estava lá?

MMG.

De novo na pracinha com o priminho mais novo.

Ainda bem, porque ele tinha um comprimido perfeito pra curar a minha dor de cabeça e me ajudar a dormir. Depois disso, voltei pra casa, ignorei meus pais e dormi por mais de dez horas."

Preciso ir atrás de alguém dessa galera, decido, fechando o diário.

Abro o computador e digito no Google a pista mais fácil: "Dragona".

Os resultados são muitos, mas nenhum é atual. Não é difícil descobrir que a Dragona acabou há muitos anos. Encontro algumas reportagens sobre MMG.

"Marcelo Morelli Gatti, o ex-baterista da Dragona, é internado mais uma vez"

"Marcelo Morelli Gatti, ex-baterista da Dragona, é inocentado em caso de atropelamento"

"Marcelo Morelli Gatti, ex-baterista da Dragona, é detido por posse de drogas"

"O que aconteceu com Marcelo Morelli Gatti, ex-baterista da Dragona?"

Clico nessa última manchete, me debruçando sobre o computador.

"Conhecido por um dos sorrisos mais famosos do rock grunge brasileiro dos anos 2000, o baterista Marcelo Morelli Gatti estampou capas de revistas locais e saiu como colírio da Capricho, mas por onde ele anda hoje?

A antiga Dragona se reformulou, se posicionando como banda indie depois dos anos 2010, formando a Dragon Fire, uma tentativa de reinventar o conceito da banda e se relançar no mercado. O sucesso acabou alcançando outro público e os integrantes da banda se mudaram para o Sul do país, onde a Dragon Fire ainda faz shows, além de tocar em casamentos e festas particulares.

No entanto, o ex-baterista Marcelo Bernardi Morelli Gatti, integrante de uma das famílias mais proeminentes de Aroeiras, continuou na cidade natal, optando por sair da banda.

Após várias passagens por clínicas de reabilitação e alguns processos por posse de drogas e por dirigir embriagado, o músico passou a levar uma vida reclusa em um antigo vilarejo entre Aroeiras e Berlocchi.

A propriedade, apelidada pela família de Fazenda Santa Rita, é conhecida pelos locais como Fazenda Ovelha Negra.

'A família resolveu esconder o Marcelo lá, desistiram dele', disse um comerciante que preferiu não se identificar.

'Eu trabalho nessa estrada há anos e nunca vi qualquer movimento lá na fazenda. Duvido muito que alguém esteja morando na Santa Rita', comentou o caminhoneiro Carlos José Santos.

O nosso jornal conversou com um antigo empregado dos Morelli Gatti: "Hoje em dia, Marcelo fica melhor em lugares silenciosos e sem muita agitação. É melhor para controlar o impulso pelas drogas. A história da ovelha negra é engraçada... Era ele mesmo que chamava a fazenda assim, porque tinha muitas ovelhas e ele brincava que era uma delas. Às vezes, ele se ajoelhava na grama e ficava imitando as ovelhas. O Marcelo era um menino bom que se perdeu. Esse mundo da música não é pra todo mundo. Por alguns anos, a família providenciou uma equipe de empregados que morava na Fazenda Santa Rita e cuidava do Marcelo. Um médico também ia visitá-lo todo mês. Médico de pulmão, porque ele tinha enfisema e também médico de cabeça. O Marcelo fala sozinho, vê coisas que não existem e pode ser agressivo com quem ele não conhece. É muito triste para quem o conhece desde pequeno. Depois que a Dona Miriam morreu, eu fui dispensado. Não sei se tem alguém cuidando dele agora'.

Miriam Alves Bernardi Morelli Gatti, a mãe de Marcelo Bernardi Morelli Gatti, faleceu aos 70 anos de câncer, há seis anos. O pai de Marcelo já havia falecido quando o músico era criança.

Quem vê a Fazenda Santa Rita da estrada entre Aroeiras e Berlocchi tem a impressão de que se trata de uma terra abandonada. A grama está alta e sem cuidado na altura da estrada, mas, quando entramos na propriedade, conseguimos notar que a grama tem sido aparada ao redor da casa. As ovelhas também tiveram os pelos tosados. Fomos até a porta e batemos à procura de Marcelo, mas não obtivemos resposta.

O nosso jornal entrou em contato com a assessoria do hospital Morelli Gatti, mas eles informaram que não passariam informações sobre Marcelo ou qualquer outro paciente. Quando pedimos a eles um telefone para contato, a assessoria informou que Marcelo não tem interesse em entrevistas.

Estaria a família Morelli Gatti escondendo a ovelha negra?

Após muitas recusas dos familiares, o nosso jornal encontrou um Morelli Gatti disposto a falar sobre o parente: "Marcelo sempre foi um inconsequente. É triste ver como se afogou nas drogas. É bom que esteja recluso, pois o seu comportamento não reflete a honra e a tradição da nossa família. Ele é uma mancha na nossa reputação."

Quando o questiono sobre o talento musical de Marcelo, que já foi apontado como um dos expoentes da cena cultural de Aroeiras, o parente é categórico: "Talento é encontrar o sucesso e conseguir mantê-lo. Não considero que fazer meia dúzia de músicas seja algo relevante para uma família como a nossa. Espero que as gerações futuras da nossa família se inspirem em exemplos mais notáveis e não em um drogado."

Além de baterista, Marcelo Morelli Gatti é compositor de vários dos hits da Dragona e algumas de suas canções são cantadas até hoje por outras bandas de sucesso. Um dos seus versos mais famosos foi eternizado pela banda Cruel Race na música 'Cristais'.

'Mil cristais que brilham, mil cristais que me fazem brilhar.

Quero deitar, me esparramar.

Mil cristais que me fazem suar, mil cristais que dançam pelo meu corpo.

Eu também me vejo dançando e girando...

A nuca no chão craquelado é um alívio gelado.

Com as costas contra o piso eu ignoro o aviso.
Eles estão chegando, eles estão chegando'.

Eu conversei com o vocalista da Cruel Race, Edgar Vitorino, que contou a história dessa música: 'Era uma época muito louca, todo mundo estava sempre drogado. Marcelo rabiscava várias coisas maneiras, mas estava chapado demais para realmente tocar. Um dia a gente estava em um festival com várias bandas e eu o ouvi cantarolando esse trecho. Eu disse a ele que era lindo e ele falou que tinha feito essa letra pra uma garota. Eu perguntei como era a música, mas ele disse que não era uma música, não tinha melodia. Comecei a brincar com o meu violão e logo fizemos a Cristais. Durante todo o processo, Marcelo ficou só olhando, não interferiu nem nada. Quando terminamos, perguntei de onde tinham saído aqueles versos e ele falou que tinha sido de uma briga. Ele e a menina tinham ficado doidões demais e ele tinha tentado levar a garota para o namorado, mas ela estava passando mal e precisou se deitar no chão. No teto tinha um lustre cheio de cristais... Mas os cristais não são só o lustre, são as drogas também. Você saca isso quando ouve a música, né? No final, ele não conseguiu erguê-la e começou a ouvir vozes de pessoas chegando. Ele tentou avisar, mas ela não se levantou. Ficou ali olhando os cristais. Depois desse dia, ele fez os versos e mandou pra ela... Mas ela nunca mais falou com ele. Perguntei por que ele não gravou a música para que ela o perdoasse, mas ele disse que os mortos não ouvem. Fiquei triste por saber que a menina tinha morrido e Marcelo não quis me contar mais nada. Dois dias depois, ele me ligou. Disse que eu podia gravar a música, que tinha ficado bonita e a garota merecia a homenagem. Então, nós gravamos.'

Minhas mãos tremem quando termino de ler esse trecho. O final da reportagem é uma sucessão inútil de entrevistas com especialistas do mundo da música sobre o talento desperdiçado de Marcelo Morelli Gatti.

Abandono o computador e folheio o diário de Cecília encontrando os versos escritos por MMG.

Meu coração bate tão forte no meu peito que preciso puxar o ar várias vezes para me acalmar.

Como deixei isso escapar?

Como não percebi que se tratava de uma música?

Como nunca ouvi essa maldita dessa música?

Jogo o endereço da Fazenda Santa Rita no Google e tomo a minha decisão. Não importa o que digam sobre MMG ouvir vozes ou ser agressivo, preciso que ele me conte exatamente o que aconteceu nessa noite e o que ele sabe sobre Cecília e MB.

Letícia deve ir atrás de MMG? O que ela vai descobrir?

MB e Letícia vão ganhar uma playlist! Me conta qual música te faz lembrar do nosso casal

Spoilers e mais informações sobre os personagens de PTQVF e meus outros livros no meu instagram https://www.instagram.com/amandeep.1009/

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