Letícia jurou para si mesma que vingaria a morte da irmã. Anos depois da tragédia, ela está de volta à sua cidade natal com apenas um objetivo: destruir a vida do responsável pela morte de Cecília.
Com passos calculados, ela se infiltra na empresa d...
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"Sei que você está de folga hoje, mas você jantaria comigo?", leio a mensagem rapidamente, enquanto o funcionário da locadora de carros me dá as últimas instruções. Pego as chaves e, logo, estou na estrada para Berlocchi. Ainda não respondi, porque estou tão dividida que simplesmente não sei o que fazer.
É claro que quero jantar com Matias.
Mas não sei o que vou encontrar na fazenda de MMG.
E se eu encontrar a confirmação de que meu instinto está errado e Cecília está certa?
Sigo o gps pela estrada tentando evitar os monstros que assombram a minha mente.
Quando faltam apenas alguns minutos para chegar na fazenda, me dou conta de como o lugar é ermo. Meu coração acelera e minhas mãos suam. Estaciono no acostamento e abaixo a cabeça, vendo pontos luminosos apesar dos meus olhos fechados. Sei que estou tendo uma crise de ansiedade por vários motivos. A estrada me deixa angustiada, porque foi nela que aconteceu o acidente que levou meus pais. A cada metro, fico mais perto da fatídica curva que roubou qualquer resquício da minha infância.
Além disso, não fiquei sabendo sobre a fazenda por causa da reportagem. Nesta manhã, antes de sair de casa, me lembrei que Cecília escreveu sobre uma propriedade entre Aroeiras e Berlocchi.
Ainda trêmula, pego o diário que estava jogado no banco do carona e folheio as páginas envelhecidas. A anotação é rápida e confusa, como costumam ser a partir desse momento.
"D.,
Não preciso de MB para nada. Ele não passa de um mimadinho que acha que o próprio umbigo é o centro do mundo. Tive um fim de semana irado, apesar de ele não estar falando comigo. Encontrei MMG na pracinha, ele me perguntou qual era a boa e eu disse que estava sem planos. Então, ele me disse que depois do almoço, ia com os caras da Dragona pra um rancho onde ninguém enche o saco se eles ficarem doidões. Falei que eu tava dentro, fiz a minha mochila e nem avisei meus pais.
Eles não iam me deixar sair mesmo.
S e PD não foram e eu era a única garota, o que me deixou meio nervosa.
Mas os caras foram tranquilos. Fumamos, bebemos, dançamos em volta de uma fogueira que eles tinham feito. Não deu pra ver o rancho direito, estava escuro quando chegamos, porque tinha que pegar a estrada. Não entendi muito bem onde era, acho que dormi no caminho.
Dormi também em cima de uma toalha estendida na grama do lado de fora da casa principal.
Teve uma hora que acordei e vi outras mulheres lá, o que me deixou mais relaxada. Só que eram mulheres mais velhas, usando umas roupas meio de prostituta. Chegaram uns caras mais velhos também, só que não mais velhos como os caras da Dragona. Esses eram bem mais velhos.
Tava todo mundo cheirando, eu cheirei também.
Um homem que eu nunca vi, de cabelos grisalhos e com uma barriga gigante começou a falar comigo e eu fiquei bem sem graça. Mas aí MMG me puxou, disse que eu tinha que ouvir uma coisa. Não lembro o que era, D. Eu já estava viajando nessa hora.
