27. Letícia

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Eu deveria estar paralisada de medo

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Eu deveria estar paralisada de medo. Meus músculos deveriam estar tensos e alertas, mas não é assim que me sinto.

Meus músculos estão relaxados, eu deixo minha cabeça encostar no ombro de Matias enquanto ele sussurra no meu ouvido.

- O que você quer então?

Pego a taça de vinho e bebo mais um gole. Bebi uma garrafa inteira, o que me deixou bem mais aérea do que eu esperava. Deve ser porque não bebo um bom vinho há muitos meses. Afinal, um vinho desses custa caro e até essa semana eu não tinha a possibilidade de passar a conta no cartão corporativo.

Será que Matias vai notar que estou bebendo vinho às custas dele?

Em minha defesa, deixei de jantar para compensar o saldo no cartão...

Percebo que ele não está preocupado com isso quando chama o garçom: - Mais uma garrafa e uma taça.

A mão dele sobe e desce pelo meu braço e me surpreendo com a suavidade do seu toque. Não era o que eu esperava.

Ele não responde a minha pergunta até o garçom servir a taça dele e completar a minha. Depois, ele dá um gole e eu me encolho, achando que ele vai reclamar do vinho, afinal é o mais barato do cardápio.

Um luxo que eu não posso pagar mesmo assim.

Mas ele faz um outro comentário sobre o vinho: - Então, esse é o gosto que está na sua boca.

- E o que achou?

- Entorpecedor.

Os lábios de Matias roçam na minha nuca, o hálito faz o calor descer pelo meu pescoço. Os dedos experimentam a pele da minha coxa. Sei que não deveria estar sentindo isso, mas estremeço.

Eu deveria estar sentindo repulsa ou ódio, até mesmo mágoa, mas ele tem um cheiro tão inebriante quanto o vinho que confunde meus sentidos.

Ele puxa a cadeira e sinto seu abdômen contra as minhas costas. Tento me convencer de que o tremor que corre meu corpo não é uma ofensa à memória de Cecília.

Isso é bom, Letícia.

Você precisa da confiança dele.

Quanto mais à vontade estiver, mais ele vai se soltar.

- Você não me respondeu... O que você quer de mim?

- Eu quero tudo - os braços dele contornam a minha cintura, e apoio meu corpo todo contra ele. Poderíamos ser apenas um casal aproveitando a paisagem, mas a mão dele entra por baixo da minha blusa.

Os dedos de Matias são longos e finos, mãos de quem nunca precisou fazer nada pesado na vida, mas contra os meus mamilos parecem perfeitos. Com apenas uma mão, ele consegue tocar o direito com o dedão e o esquerdo com os dedos indicador e médio. Agradeço por estar sem sutiã quando um arrepio desce pelas minhas pernas.

Minha mente grita o quanto é errado eu estar sentindo prazer por estar em seus braços.

Sua outra mão abre o botão do meu short e tento lutar contra o latejar constante que me faz abrir as pernas.

O bar está escuro e não há ninguém nessa parte, mas ainda tenho medo de que o garçom apareça, o que me faz virar o rosto para garantir que estamos sozinhos.

Pela primeira vez, nossos olhares se encontram. Matias é ridiculamente bonito, mas percebo quando a sua expressão de divertimento se fecha. Ele crava os olhos nos meus e sua voz sai rouca quando ele afirma: - Ninguém vai aparecer.

Agora, o arrepio que toma meu corpo não é de prazer. Pela primeira vez, meus instintos parecem estar no caminho certo e sinto medo. Penso que posso quebrar a garrafa na cabeça dele caso ele me ataque, penso que posso sair correndo, mas... Também vejo algo nos olhos dele...

Apreensão? Medo? Dúvida?

A mão dele recua.

Algo está errado.

Ele está prestes a dar para trás e não posso deixar isso acontecer.

Preciso envolvê-lo.

Preciso que ele queira estar comigo.

Me lembro da minha personagem, a Letícia provocadora, sensual...

- O que é tudo? - meus olhos miram seus lábios e eu aperto meu quadril contra ele. Apoio meu pé na grade da sacada, facilitando seu acesso à minha calcinha. Sua mão desce mais um pouco e um sorriso espreita no rosto perfeito.

- Tudo o que você quiser - ele responde.

- Eu que sou a chefe agora?

- Só por essa noite...

Penso um pouco e me recosto ainda mais contra ele.

O que eu poderia dizer para envolvê-lo ainda mais? Tem que ser algo provocador e que possa inflar ainda mais o seu ego de playboy rico...

Subo meu rosto a ponto de sussurrar contra o seu queixo: - Eu quero gemer seu nome no terraço mais alto dessa cidade enquanto saboreio uma boa taça de vinho.

Ele solta uma gargalhada e abre um sorriso de moleque que faz com que pareça inofensivo. Sinto uma vontade súbita de beijá-lo.

Deve ser o álcool.

Tem que ser o álcool.

Ele inclina a cabeça na minha direção, sua mão direita me puxa ainda mais contra ele, seus dedos agora descem pela minha cintura. Ele fica a centímetros de mim. Busco seus olhos com os meus, mas ele não retribui meu olhar. Seus olhos estão baixos, quase fechados, mas fixos nos meus lábios.

Sua mão esquerda alcança a minha calcinha e sinto um calor que se derrete entre as minhas pernas. A realidade me atinge como um raio. Estou bêbada o bastante para ser irresponsável com o meu corpo e não temê-lo, mas não bebi o suficiente para esquecer que ele é o responsável pela ruína da minha família.

Meu corpo se tensiona e minha mão encontra o peito dele, afastando-o levemente.

- Quer que eu pare? - ele pergunta imediatamente, os olhos encontrando os meus pela segunda vez.

Não.

Não posso amarelar.

Não agora que já estou tão perto de vencer o jogo.

- Não, eu só... - improviso a primeira coisa que passa pela minha cabeça: - Nunca fiz isso com um chefe antes.

Bebo um longo gole de vinho, enquanto ele avalia a minha resposta.

Por fim, Matias sorri e, sem saber, dá o único comando que eu preciso: - Esqueça quem eu sou. Feche os olhos.

Bebo mais um gole e obedeço.

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