46. Matias

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Ainda bem que meu sono é leve

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Ainda bem que meu sono é leve. Letícia ainda está dormindo quando escuto vozes bem perto. Perto demais.

Tentando não assustá-la, estico meu pescoço e vejo que os primeiros visitantes já estão dentro do Fórum romano. Não vejo nenhum guarda, o que me deixa mais calmo.

Mesmo assim, precisamos descer daqui.

Agora que amanheceu, consigo perceber que a árvore que está em cima da gente está cheia de passarinhos que piam alto e me parece impossível que eu tenha dormido dessa forma. Um passarinho está posicionado justamente sobre a minha cabeça...

É tarde demais.

O maldito faz cocô bem nos meus cabelos.

Dividido entre tentar limpar e me sujar ainda mais, acabo ignorando uma senhora com um mapa na mão que aponta para mim.

- Estos borrachos! - ela exclama. Tenho certeza de que ela nos chamou de bêbados em espanhol e está prestes a avisar aos funcionários do Fórum sobre a nossa presença.

Afasto os cabelos de Letícia, tentando acordá-la, mas ela só se encolhe ainda mais nos meus braços. Por um momento, me deixo levar pela sensação que é ter alguém assim tão próximo de mim. Quase nunca permito que uma mulher fique tão à vontade na minha presença.

- Bom dia, Letícia - falo no ouvido dela: - Precisamos ir antes que a polícia volte.

Ela se espreguiça, esfrega o rosto e me observa entre os dedos finos: - Que bela maneira de acordar uma mulher.

- Que tal, então... Buongiorno, perdizione.

- Não falo italiano, mas acho que isso soou melhor.

Ela se levanta e pula até o chão, assustando um grupo de turistas japoneses. Abandonamos a garrafa de vinho para trás, enquanto tentamos sair sem chamar atenção dos guardas. Faz frio nessa manhã e Letícia está com o meu casaco, o que me obriga a pensar em como ela está aguentando andar por aí sem um casaco apropriado para a temperatura.

Minha barriga ronca quando passamos na frente de uma barraquinha de cornetos. Letícia tenta me puxar pelo braço, insistindo que tem guardas demais ainda perto. Mas imagino que o turno já mudou e aqueles que nos perseguiram agora estão bem confortáveis em suas camas.

Peço um cornetto de creme e um capuccino. Letícia me observa mal-humorada, mas acaba abrindo um sorriso quando escolho um cornetto de chocolate pra ela. Tento evitar uma gargalhada quando passamos bem perto da polícia, porque Letícia está andando apressada e olhando para os lados como uma verdadeira fugitiva.

Ela me fulmina com o olhar quando, deliberadamente, abordo um policial: - Mi scusi, agente. Dove posso comprare un cappotto per mia moglie?

O guarda me dá as instruções, enquanto Letícia belisca a minha mão.

Quando nos afastamos, ela me dá uma bronca: - Ficou doido? Está querendo ser preso? Não vai ter milagre que dê para fazer nas suas redes sociais se você for preso por causa de ontem!

- Não fique tão estressadinha, eu precisava de uma informação.

- Estressadinha?! Vai se ferrar, Matias! Eu não sou CEO de merda nenhuma, se eu for presa como vou encontrar trabalho?

- Está pretendo pedir demissão da Bernardi CMB? - questiono, intrigado. Ela apenas revira os olhos, bufando.

- O que você queria com o policial, afinal?

- Saber o caminho do hotel...

- Você só pode estar de sacanagem! Olha a rua do hotel bem ali!

- Ah, é mesmo. Bom, então, você já está entregue. Te vejo mais tarde - dou as costas antes que ela possa me seguir. Não quero que veja o que vou fazer, porque, pelo pouco que a conheço, sei que vai tentar me impedir.

Spoilers e mais informações sobre os personagens de PTQVF e meus outros livros no meu instagram https://www.instagram.com/amandeep.1009/

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