79. Letícia

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O depoimento dura horas

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O depoimento dura horas. Saio da delegacia exausta e completamente faminta. Paula me deu o dia de folga, mas me vejo de volta à rua da Bernardi CMB como um cão perdido. Mais uma vez, entro no Braga Burguer e peço meu favorito: hambúrguer de cheddar com cebola caramelizada. Estamos no meio da tarde e o restaurante está praticamente vazio, exceto por Miguel Braga, o dono do restaurante, que faz meu sanduíche enquanto tenta distrair uma garotinha de quase dois anos que brinca de se esconder entre as mesas. Por causa do depoimento, meu celular está sem bateria e eu pergunto ao Braga se ele tem algum carregador. Apesar dos meus protestos, ele coloca a garotinha no colo e diz que vai levar pra carregar na confeitaria da esposa dele.

Não queria dar esse trabalho, mas ele não me dá escolha. Aproveito para abrir o novo livro de suspense do Marco Gallo, enquanto como meu hambúrguer e tento tirar as perguntas do delegado Assis da minha cabeça.

Depois de muitas horas de interrogatório, ele me confidenciou que dificilmente os abusos sofridos por Cecília estarão no processo contra Marcelino Bernardi. As evidências foram perdidas, o diário é inconclusivo, o depoimento de Marcelo Morelli Gatti pode ser contestado pelo laudo da clínica psiquiátrica de que ele não estava bem na época e o crime prescreveu. Porém, a minha vingança correu exatamente como eu planejara: Marcelino foi execrado nos jornais. A reputação dele caiu por terra e, após as primeiras notícias sobre os abusos de Cecília, outras mulheres começaram a acusá-lo. Agora, ele vai responder por inúmeros processos, começando pelo flagrante por ter tentado matar Matias e, depois, ter mandado seus capangas atirarem contra ele.

Com a ida de Matias para o hospital e o tiroteio intenso na mansão, os jornais não demoraram a cobrir o escândalo. A polícia se aproveitou do interesse da mídia para, "acidentalmente", vazar tudo o que podia sobre o caso de Cecília, os abusos de menores de idade e as suspeitas contra Abramo Barone e Adelardo Fiore. Os dois estão sendo investigados.

Minha avó também está sendo investigada por ter entrado na casa de Marcelino armada, mas a mensagem que Dafne enviou do telefone de Marcelino faz com que a presença dela na mansão seja justificável. Assis não está interessado em culpá-la.

Na semana seguinte, quando o estado de saúde de Matias já era estável, apesar de gravíssimo, Josué me chamou para conversar e me contou sobre o seu envolvimento com a polícia. O delegado particular contratado pela minha avó e por Marcelo, percebendo que Matias tinha um temperamento explosivo, achou melhor alertar o segurança dele que, segundo a própria investigação que ele fez, era de confiança. Por isso, quando Matias o procurou buscando a arma, ele já tinha uma arma falsa para dar para ele. Josué também usou o rádio dos seguranças para informar sobre uma falsa emergência envolvendo a segurança de Matias, o que fez todos eles se deslocarem para o meio de Aroeiras sem qualquer necessidade, deixando a mansão desprotegida. Assim que isso foi feito, como era combinado com a polícia, ele ligou para Assis e disse que Matias estava indo atrás de Marcelino.

O modo como todos nos manipularam e o extremo de terem deixado Matias ir atrás de Marcelino com uma arma de brinquedo me fizeram brigar com todos. Esbravejei e gritei com cada um deles. Josué, Marcelo, Paula, minha avó e até com o delegado Assis. Eles ainda tentaram me convencer de que era o único jeito, mas não consigo perdoá-los totalmente. Porém, secretamente, admito que, se a arma fosse verdadeira, Matias a teria perdido para Marcelino da mesma forma e estaria morto.

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