80. Matias ✨ Epílogo

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Três meses depois

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Três meses depois

Eu nunca pensei que estaria neste lugar. E, mesmo depois que todo o escândalo estourou à minha volta, eu não me via vindo até aqui. Deixo o ar-condicionado ligado enquanto encaro os muros altos da penitenciária de Berlocchi. Apesar da temperatura gelada dentro do carro, minhas mãos suam.

Dispensei Josué e dirigi de Aroeiras até aqui com o som no máximo, evitando qualquer pensamento sobre o que estou prestes a fazer. Ainda não estou certo da minha decisão, mas ela precisa ser tomada.

Assim que o relógio marca 10h da manhã, bato a porta do carro e deslizo a chave para dentro do bolso da minha calça jeans. Como eu temia, um jornalista não falha em me encontrar. É claro que eles sabiam que eu viria aqui em algum momento, mas eu esperava que o tempo de espera e o calor os tivesse afugentado. Pelo jeito, um deles achou que valeria a pena continuar o plantão na porta da penitenciária.

– Sr. Bernardi! – ele berra, correndo atrapalhadamente na minha direção. – O senhor vai visitar o seu pai? Qual assunto vão tratar? A empresa vai ser vendida?

Ele arremessa logo várias perguntas, com a intenção de que eu responda qualquer uma. Não quero responder a nenhuma, mas eu tenho um fraco por pessoas esforçadas. Ele está suado, com a blusa amarrotada e molhada, a cabeça careca completamente vermelha de tantas horas debaixo do sol, já que a penitenciária não oferece nenhuma marquise para as pessoas que aguardam na fila que se forma para a visitação. Eu entro na fila e ele se coloca ao meu lado, esperançoso.

– Sim, estou aqui para visitá-lo – admito. Os olhos do repórter se arregalam e seu rosto cansado se transforma. Ele está incrivelmente feliz por eu ter dito algo. – Vou tratar dos negócios da família. Para qual jornal você trabalha?

– Eu... Sou freelancer. Aguardo uma oportunidade e vendo para os jornais interessados... Não tenho um contrato fixo.

– Entendo.

– E quanto ao teste de DNA? Após o resultado, surgiram especulações sobre o futuro da empresa, já que o senhor... – a fila anda rápido e logo é a minha vez. Não tenho tempo para responder e sei que ele vai me esperar até a hora que eu sair mesmo sob o sol escaldante. Então, puxo um cartão do bolso, com meu telefone pessoal, e o entrego a ele: – Me ligue às 16h, neste número. Vou responder às suas perguntas.

Ele pega o cartão com urgência, conferindo os números. Depois disso, passo pela revista da polícia. Os corredores são especialmente quentes. O sol passa por buracos gradeados altos demais para deixar a ventilação passar. Os passos do policial que me guia são hesitantes, a todo instante ele se vira para dar uma olhada em mim, como se quisesse garantir que estou mesmo aqui. Seus olhos já passaram algumas vezes pela cicatriz no meu rosto, algo com que ainda estou tentando me acostumar. Quando ele vira novamente para trás, não resisto e pergunto: – Tudo bem, policial? Há algo errado?

– De forma alguma, parceiro. Mas se você me permite...

Puta que o pariu.

Lá vem.

Por tudo o que você fezWhere stories live. Discover now