- Sendo assim, tenho um acordo a te propor..., mas antes o que sabe sobre Eren Yeager?
Conto a ele tudo o que sabia sobre o pirralho titã, de todos os acontecimentos dentro das muralhas desde que Eren se transformou pela primeira vez. Evitei falar sobre Levi e Mikasa, afinal se eu estiver enganada sobre esse cara, aqueles dois são os únicos que poderiam arrumar a minha bagunça.
Mas ele fazia perguntas mais referentes a Eren e a família Yeager, como imaginei o foco dele era o meio irmão, esse sentimentalismo vai acabar o matando em algum momento. Aos poucos percebo ganhar sua confiança e logo ele também me entrega informações do mundo exterior. Zeke falava com entusiasmo de algo que ele denominava de "plano de eutanásia".
Um extermínio pacifista que envolveria apenas o povo de Ymir, ele achava que poderia concretizar esse plano usando o poder do fundador. A ideia em si não era ruim, porem para mim a eutanásia não fazia diferença, eu não posso e não quero me reproduzir. Mas e todos aqueles que sonhavam em reconstruir suas famílias, para substituir aquelas que foram destruídas por culpa dos titãs. Eles aceitariam esse plano? Acredito que não.
- Acho que isso é tudo, por enquanto... – quando ele termina de falar eu já havia deixado de prestar atenção – vamos precisar trocar informações pelo tempo que nosso acordo durar. Aqui na ilha existem pássaros mensageiros?
- Não que eu saiba...
- Imaginei que não - ele inspira profundamente por algum tempo - Bem, eles são usados com frequência em nações do oriente médio. Posso conseguir um para nós, essa é a forma mais segura de trocar informações à longa distância.
Ele me explicou rapidamente como aquilo funcionaria, não era nada complicado, só precisamos ter um pertence que seja do outro. Os tais pássaros mensageiros poderiam nos encontrar em qualquer parte do mundo através do cheiro.
O loiro então retira o casaco que ainda vestia, ele não esboça uma expressão muito agradável ao ver pela primeira vez o que havia acontecido com suas roupas. Ele então deixa o casaco de lado e retira a camisa que também não estava em sua melhor condição, logo jogando a peça de roupa em minha direção, no chão ao meu lado e voltando a vestir o casaco.
- Preciso de algo seu agora!
Penso um pouco no que poderia dar a ele, sinceramente uma peça do meu uniforme é tudo o que tenho a oferecer, porém se voltar pra as muralhas sem a jaqueta com o brasão do reconhecimento terei problemas.
Tenho uma ideia peculiar, e retiro uma de minhas botas e entrego a ele uma meia velha e bastante gasta que tinha um odor tenebroso.
- E eu que estava começando a te achar encantadora... – diz em tom de sarcasmos. Ele pega a meia com certo nojo a colocando rapidamente no bolso da calça.
- Tem algo a mais a dizer ou já podemos seguir por caminhos diferentes? – me levanto impaciente, alcanço meu equipamento do DMT o prendendo ao meu uniforme.
- Está muito apressada, majestade... nós não confiamos um no outro, então vou perguntar mais uma vez, por que correr o risco? – a encaro curiosa. Ele volta a se sentar e acende o último cigarro que o restava – soube que a família real dentro das muralhas mudou de sobrenome pra se proteger, e colocaram um impostor no trono para continuar representando o rei Fritz. Então, por que alguém que diz carregar o nome Fritz se arriscaria entrando para o exercito e lutando contra titãs?
Sorrio de ladino ao ser pega em minha própria mentira. Ele era esperto e bastante perceptivo, tenho que ser cautelosa se for continuar a enganá-lo.
- Acha que estou mentindo?
- Sobre o sobrenome, sim, claramente está mentindo. Mas acredito que tenha sangue real, é a única coisa que explicaria suas habilidades... eu não me importo com quem você seja, mas se vamos firmar um acordo o mínimo que espero é poder confiar em você!
- Infelizmente, confiança é algo que se ganha com o tempo, e não acho que termos nos conhecido em campo de batalha, com você alvejando meus companheiros, seja algo que transmita confiança!
- Você está certa... – ele se levanta e joga a bituca do cigarro para longe - vamos recomeçar com o básico então, como é seu nome?
- S/n Kupper.
- é um prazer finamente conhecê-la, senhorita Kupper – ele estende a mão direita em minha direção – temos um acordo?
- ... – meus olhos passeiam entre sua mão e seu rosto antes de tomar uma decisão – aceito o acordo! – com um aperto de mãos firmamos aquele trato.
-HEEEY!! AQUI! – O grito alto me chamou atenção, aquela era a voz do Zeke, mas ele estava na minha frente, não foi ele quem gritou tenho certeza disso – VOCÊ DISSE QUE QUERIA ME ENCONTRAR, CERTO LEVI?!
Enquanto eu o via na minha frente sem esboçar qualquer expressão, nas minhas costas podia ouvir sua voz, Zeke estava conversando com Levi? á distância?
Sentia meu corpo imóvel, assim como da primeira vez que fui enviada aos caminhos por culpa do Zeke. Mas consigo levar as mãos para tampar os ouvidos quando o rugido de um titã ecoa por toda a extensão, aquilo me deixou perplexa!
Depois de meses de treinamento, eu era acostumada com o rugido do titã de ataque, era como ver a fúria da humanidade encarnada... mas nada se compara ao que acabei de ouvir, só pelo seu timbre podia imaginar seu tamanho, esse titã vai muito além do titã colossal, queria poder o ver...
Me viro na direção do rugido e mas só consigo ver o esqueleto de um titã, pareciam ser costelas, havia muito vapor envolvendo seu corpo, não pude vê-lo por completo mas algo chama minha atenção, no topo do que parecia ser a coluna do titã vejo um corpo, ou pelo menos metade dele, saindo de dentro dos ossos, como se fosse uma extensão.
Reconheço o cabelo loiro e a barba, ele estava despido, e acenava para o alto, como se quisesse chamar a atenção de alguém. Mais uma vez aquele titã ura, mas ele parecia estar atrás de mim, então não é o mesmo titã em que Zeke estava.
porem seus gritos não parecem ser de fúria como eram os do titã de ataque, parecia mais como... angustia, era como se estivesse sofrendo. Os gritos do titã chamam a atenção do loiro, que se vira na direção em que eu estava e sorrir, antes de uma figura descer do céu e decapitar sua cabeça com um golpe rápido e preciso, tenho plena certeza que aquele era o Levi.
Enquanto observo o crânio decepado caindo entre os ossos daquele titã anormal, também podia ouvir os rugidos nas minhas costas ficando cada vez mais altos, cada vez mais fortes, ele parecia sentir raiva, mas ao ouvir seus passos esmagando o chão quando começou a correr, foi que fiquei com medo e lagrimas tomaram os meus olhos, eu não podia me virar mas tinha certeza de que seria esmagada.
- Não precisa chorar... não é culpa sua! – alguém segura minha mão. Essa voz eu reconheço, era da Ymir.
Fecho os olhos e quando os abro novamente, volto para onde estávamos, Zeke estava na minha frente, seus olhos pareciam perdidos e meio que inconsciente ele esboçava um sorriso tímido de felicidade.
Como já havia imaginado entrar nos caminhos em contato com ele é uma avia de mão dupla, ele provavelmente também tem visões, não sei se são as mesmas que as minhas, mas ao julgar pela sua reação não posso dizer que ele tenha visto o momento de sua própria morte, ele não é do tipo de ficaria feliz com algo assim.
Solto sua mão, recolhendo a minha com o punho fechado, e isso o faz despertar de seu transe, ele me encara por um segundo e então olha para a própria mão logo em seguida a guardando no bolso do casaco.
- Tem algo a mais que queira tratar? – ele nega, ainda parecia estar inerte em seus pensamentos – vou voltar para as muralhas então. Aproveitarei que está anoitecendo, é a melhor chance que tenho de voltar com vida!
Me preparo para acionar o dmt e pular da muralha quando sou barrada. Ele se coloca a minha frente me olhando de cima, com ar de superioridade.
- Você deve ser a minha melhor chance de me aproximar do Eren. Depois de hoje não confio que vai voltar para as muralhas sem tentar se suicidar – arregalo os olhos, por um segundo fico sem reação – eu vou garantir que chegue em segurança, depois disso, vai depender de você!
Assim que ele pula da muralha começo a sentir um formigamento por todo meu corpo, a transformação se inicia, a sensação dos raios caindo ao que o corpo do titã é formado... por que me sinto ainda mais conectada aos caminhos depois daquele dia?!
Alcanço os ganchos do meu equipamento e me preparo para subir no ombro do titã. Assim que a transformação acaba, ele ajeita a postura me revelando o bestial, no breu noturno aquela aberração conseguia ser ainda mais assustadora, um brilho assassino em volto de seus olhos faz meu estomago estremecer.
- VAMOS!
Apesar de já ter ouvido sobre um diário que Hange encontrou em uma de suas expedições, onde continha o relato de um titã com habilidade de fala, aquela foi a primeira vez que ouvi a voz de um. Com um timbre greve e roufenho, sua voz ressoava me causando arrepios de nervoso.
Subo em seu ombro, usando os ganhos para me prender a ele, uso os pelos do pescoço do titã pare me segurar e assim seguimos por quilômetros. O titã caminhava lentamente, da para notar que ele não era feito para lutas corpo a corpo, muito menos deveria ficar na linha de frente, mas sei exatamente o quanto essa besta fera é perigosa.
Quando chegamos a shinganshina imaginei que seria deixada ali, mas ele escalou muralha e continuou seguindo em frente. Alguns titãs puros apareceram durante o caminho, a maioria apenas nos observava de longe, e os poucos que tentavam investir contra nós, eram esmagados.
[...]
Ainda estava escuro quando avistei a muralha que rodeava o distrito de Trost, havia algumas poucas luzes no alto, os soldados da guarnição devem estar em ronda. A essa distância acho difícil que nos vejam, mas se continuar se aproximando os tremores de terra vão chamar atenção.
- Aqui está bom! – grito e acerto sua orelha com o meu gancho.
Ele para logo em seguida, ouço o som de abertura e vejo um pouco de vapor, o loiro havia saído da carcaça do titã.
- Espero que cumpra com a sua parte do acordo – ele diz simples, tirando os óculos do bolso do casaco e o limpado com o tecido de sua roupa – seria um desperdício apostar tão alto em você e não receber nada em troca...
- Não se preocupe... Prometo que vou permanecer viva tempo o suficiente para ver sua cabeça ser arrancada do seu corpo!
- E quem vai corta-la será você?! – ele debocha.
- Pode ter certeza que será um imenso prazer!
- Vai me deixar chateado desse jeito, pensei que estávamos nós dando bem, majestade.
Seguro com firmeza a trava dos meus ganchos, ficar tempo a mais aqui é ridículo e perigoso. Dou um passo a frente e então me vem a mente que posso exigir algo em nosso acordo.
- Uma última coisa, se quiser prosseguir com nosso trato. Se voltar a pisar em meu território, sem permissão, eu vou perfurar seu peito e mutilar seu corpo!
- Não seria a primeira vez! Você está começando a se tornar repetitiva.
- Mas essa é a melhor parte... Você se regenera! é por isso que eu posso continuar te machucando, de novo e de novo. Seu corpo vai se reconstruir, mas a dor que você vai sentir será a mesma, como se fosse a primeira vez... Estamos entendidos, macaquinho?!
- Sim.
- ótimo...Ficarei aguardando seu contato!
Haviam poucos pontos onde poderia usar de apoio para o DMT. Não tinha construções próximas. Só algumas árvores rodeavam o território até chegar a muralha. Mas era tudo o que eu tinha naquele momento.
Me lanço do ombro do titã rapidamente, mesmo com dificuldade, em minutos estava ao pé da muralha. Depois de escalar esperei até um momento de distração dos guardas da guarnição, então me infiltrei em Trost, mas isso não antes de dar uma última olhada para trás e ter certeza de que no meio daquele breu o titã bestial não poderia ser visto.
Oi oi oi
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