Sinto uma pontada forte nos meus olhos por conta da claridade, minha cabeça parecia que ia explodir. Meu corpo estava completamente dolorido, olho para mim mesma por debaixo das cobertas e percebo faixas e curativo por todo meu tronco.
Havia também um pouco de vapor saindo por entre os curativos, acho que devo agradecer a habilidade de regeneração que o cristal me fornece, se não fosse por isso provavelmente estaria morta.
Eu não me lembro de muito do que aconteceu depois que consegui voltar para as muralhas. Só ouvi Hange e Levi comentando sobre o meu estado e o quão crítico era, na verdade a tenente e o capitão estavam brigando entre si, mas eu estava tão exausta naquela momento que não consegui me manter consciente.
Minha energia se esgotou no momento em que criei aquele maldito martelo, uma arma daquelas exigiu muito de mim, mas por sorte ainda consegui dar um golpe com ela.
Quando achei o portador do bestial já estava no meu limite, tudo que queria era completar minha missão de matar aquele homem e então estaria pronta para cair ali mesmo e me deixar ser devorada por algum titã puro.
Mas aquelas alucinações que tive, as memórias do futuro, elas me deixam confusa. Depois daquilo eu não tinha ideia do que fazer, então por conta das minhas condições físicas e mentais, decidi voltar para as muralhas.
Assim como havia feito com o Reiner e com aquela mulher portadora do quadrúpede, também fiz com o tal do Zeke. Vejo que seu braço decepado já havia crescido alguns centímetros, e o ferimento de sua garganta já estava quase cicatrizando.
É estranho o quanto ele se regenera mais rápido que os outros dois. Com dificuldade, cravo seu corpo em um tronco de árvore próximo de seus companheiros. Dessa vez meu cristal saiu fino em comparação com os que criei anteriormente, apresentava rachaduras, também parecia quebradiço, mas foi o melhor que consegui naquele momento
Eu sabia que não tinha como levar qualquer um deles comigo, mal sabia se conseguir chegar até Shiganshina com vida. Meu gás estava no limite, não tinha lâminas e não conseguia utilizar o endurecimento nas condições atuais.
Se ao menos alcançasse a muralha e conseguisse contar o que aconteceu aqui ao Levi, ele poderia ir buscar aqueles três.
Mas meu gás acabou a quilômetros de Shiganshina, tive uma queda brusca por conta disso. Caminhei a pé até chegar ao muro, não dava pra usar o DMT, então procurei uma abertura no portão externo, qualquer brecha que tivesse tamanho humano e por sorte eu a encontrei.
Tive que retirar meu equipamento e joga-lo para dentro do portão antes de passar, a abertura era estreita, mesmo com minha baixa estatura tive dificuldade para atravessar a barreira de cristal que Eren criou com seu titã.
Depois de atravessar, pego meu equipamento e começo a o arrastar para dentro do distrito, caminho nas ruas destruídas e abandonas pelo tempo, em meio as ruínas da antiga cidade. A fumaça que o colossal havia criado intoxica minhas narinas, preenchendo meus pulmões e dificultando minha respiração.
Assim que vejo algumas pessoas próximas os telhados, vasculhando as casas, deixo meu equipamento de lado e caminho o mais rápido de posso em sua direção.
Os pirralhos percebem minha aproximação e avisam Hange e Levi. Para minha felicidade o capitão vem ao meu encontro de pressa, sinto os braços de Levi me segurarem e então minhas forças se esvaem.
Me recordo do capitão me carregando até o topo da muralha, Hange também estava ali conosco, as expressões de ambos não eram boas, a discussão deles começa logo depois do moreno me colocar deitada em um saco de dormir.
Minha audição foi a primeira a desaparecer, logo seguida dos meus movimentos e da minha visão. Minha consciência ficou inerte até esse momento, quando abri os olhos e a primeira coisa que reconheci foi o teto da enfermaria.
Ouço passos ao longe e logo o som do trinco da porta se abrindo, o ranger da madeira velha ao ser arrastada, e novamente passos.
- Sopa de novo não! – reconheço a voz de Sasha – não tem pelo menos um pedacinho de carne pra acompanhar?
- Enquanto não se recuperar vai comer só o que é oferecido pelo médico! – uma voz masculina a responde, mas não sei identificar que era.
- Eu me recupero na mesma hora se me der carne...e talvez algumas batatas... – ela fazia aquele som de salivação enquanto mantinha aquela conversa.
- Chega disso, garota. Desde que você acordou nós dois temos essa mesma conversa todo dia.
- Eu sei, me desculpe. É que já faz quase cinco dias desde que voltamos da missão, e eu não aguento mais comer sopa em todas as refeições. Isso não é vida!
- Logo você vai receber alta. Não se preocupe. Seu ferimentos foram graves, mas conseguimos te recuperar quase cem por cento.
- Doutor... E quanto a S/n? O estado dela é tão grave quanto disseram?
- Quando o reconhecimento chegou aqui todos vocês foram trazidos direto para as enfermarias. Mas os médicos não queriam aceitar essa garota, ela estava claramente morta. Se não fosse por seus oficiais, principalmente aquele baixinho do Levi, essa menina já estaria em um caixão a dias.
- Não pode ser! Eu tô vendo ela daqui a S/n tá respirando, ela tá viva, só tá desacordada por causa dos ferimentos graves.
- Sasha, os seus ferimentos foram graves. Os ferimentos dessa garota... Vão muito além do conhecimento médico que temos atualmente. Ela teve queimaduras de segundo e terceiro grau espalhados pelo corpo inteiro, isso sem falar na mão esquerda que estava totalmente necrosada quando fizemos o primeiro enfeixamento a cinco dias, pensamos que seria melhor amputar o membro, mas a comandante Hange nos impediu.
O que esse homem diz é verdade? Eu cheguei aqui nessas condições ? Até onde me lembro, eu estava bem, só um pouco cansada e com dores no corpo, usar as habilidades daquela forma foi imprudente.
Eu sabia que estava me machucando, que usar minhas habilidades seria como uma espada de dois gumes, pude vencer meus inimigos usando força brutal, mas também acabei comigo mesma.
- Mas foi uma sorte aqueles dois terem se intrometido nos cuidados que demos ela. Assim como Eren consegue regenerar seus ferimentos graças ao poder de titã, a S/n tem algo parecido com isso, e muito mais lento, porém os resultados estão sendo satisfatórios. Veja ossos, músculos, tendões, ligamentos, tecido, cartilagem e pele estão sendo reconstruídos dia após dia. Tenho certeza que logo ela irá acordar e retornará para o reconhecimento.
- Espero que sim... Depois dessa missão só sobraram dês membros do reconhecimento, perder a S/n logo agora seria terrível.
O medico e Sasha continuam conversando por algum tempo, mas o peso sobre os meus olhos aumenta e eu acabo dormindo novamente.
[...]
Quando acordo mais tarde naquele dia, já estava escuro do lado de fora da enfermaria. Tenho forças o suficiente dessa vez para obrigar meu corpo a se sentar na cama. Observo ao redor do quarto e em outra cama não muito longe da minha vejo Sasha dormindo tranquilamente.
A dor que sinto no momento em que tento me levantar era alucinante, me dava ânsia, corroía meus ossos me fazendo cair de joelhos no chão frio de pedra. Me arrasto do jeito que consigo para fora daquele quarto, procurando um local específico, a sala onde ficavam os remidos, ervas e elixires curativos.
As ataduras presas as minhas pernas dificultavam minha mobilidade. Adentro a pequena sala e procuro em algumas gavetas, até achar uma caixa com lâminas, uso uma delas para retirar os tecidos que envolviam meus membros, tenho medo de ver os tais ferimentos graves do qual aquele medico havia dito mais cedo, porem já não havia mais nada, externamente eu estava totalmente curada.
Porem a dor que eu sentia não condiz com o que vejo, procuro os tais medicamentos, e em alguns fracos reconheço os nomes, escolho aquelas do qual eu tinha conhecimento básico de seus efeitos e faço uso dos mesmo. Tenho total noção que as doses que ingeri são muito acima do que um especialista me recomendaria, mas tudo o que quero é que essa dor desapareça.
Entre anestésicos, analgésicos e neurolépticos, finalmente consigo acalmar aquela sensação de morte, foi como magica, toda dor e culpa que estava sentindo desapareceu. Meus corpo relaxa e então vou escorregando ate estar totalmente deita no chão daquela pequena sala, observo as tabuas de madeira do teto se movimentando em uma linda e calma dança.
- Eu tô chapada – deixo sair um riso baixo – que sensação encantadora!
A cada segundo meu corpo parece ficar ainda mais dormente, tudo parecia ficar lento e calmo, não havia barulho algum, nem ao menos as batidas do meu coração eram mais audíveis.
[...]
Sinto uma pontada forte na minha cabeça por conta da luminosidade solar, minha visão estava irritada . O dia já havia amanhecido, e eu não fazia ideia de como voltei para o quarto.
Meu corpo já não sentia mais dores e os curativos não foram refeitos. Me levanto a procura de Sasha, dessa vez estou me sentindo disposta a conversar com a garota, talvez descobrir o que aconteceu nos dias em que estive desacordada.
Mas quem eu realmente encontrei ali não era a garota da batata. A figura com uma expressão saudosa estava sentada em uma cadeira ao lado da cama onde meu corpo repousava. Seu olho castanho claro estava tristonho e claramente cansado, seu cabelo amarrado em um rabo de cavalo estava oleoso e sujo.
Percebo que seu olho esquerdo ficou gravemente ferido devido a explosão causada pela transformação de Bertolt, então agora ela usa um tapa-olho, e sobre ele os velhos óculos ovais de lentes grossa.
- Hange? – a chamo, já que a mesma parecia um pouco aérea e fora da realidade.
Ela vira o rosto em minha direção e da um pequeno sorriso, se levantando da cadeira e se sentando próxima a mim na cama.
- Fico feliz em finalmente te ver acordada! – ela me abraça com cuidado, provavelmente estivesse com medo de me machucar – como você está? Os médicos nós avisaram que você foi encontrada em uma área restrita, e estava dopada.
- Tenho que me desculpar por isso, acordei no meio da madrugada com muita dor e não quis incomodar ninguém – passo as mãos sobre o rosto limpando algumas gotas de suor – tenho um leve conhecimento sobre fármacos, então só usei aquilo que precisava para aliviar a dor.
- é melhor que pare de mentir! – Hange me encara com seriedade – os médicos fizeram um relatório de tudo o que foi usado. Aquelas drogas, nas quantidades usadas por você, seriam letais para qualquer outro ser humano!
Hange aparentava estar cada vez mais nervosa, ela segurava os meus ombros enquanto grita comigo, me questionando o motivo da minha ação. Vejo algumas lágrimas sobre seus olhos e a expressão de raiva crescendo.
- Peço perdão, tenente – digo com os olhos baixos – não era minha intenção te deixar preocupada.
- Preocupada? S/n, eu me senti culpada todos esses dias pelo estado em que você estava. Se eu tivesse ido atrás de você naquela hora, te impedido de ir atrás daqueles três, você não teria ficado nesse estado. Levi e eu achamos que você iria morrer, que não conseguiríamos voltar a Trost a tempo para te dar suporte médico.
- Novamente peço desculpas, tenente – Hange da um suspiro longo e se afasta, levantando e caminhando pelo quarto. eu não tinha o que falar para ela, não podia contar a verdade sobre o que aconteceu.
- Você provavelmente não saiba disso, mas apenas dês soldados voltaram daquela missão, eu me tornei a 14° comandante do reconhecimento. Então desde que voltamos de Shiganshina, a tenente e também a segunda no comando da tropa, se tornou você!
Aquela informação não era nova para mim, eu só não queria a aceitar. Hange continuou me contando sobre os acontecimentos da missão, sobre o Erwin e a escolha que o Levi havia feito, de como a própria Hange e muitos outros discordaram da decisão do capitão em escolher Armin como portador do colossal no lugar do Erwin.
Ela também falou sobre o porão de Grisha Yeager, dos três diários que foram encontrados lá e das informações que eles continham. Hange enaltecia maravilhada algo chamado de fotografia, nela continha a imagem de Grisha, sua primeira esposa e seu primeiro filho, a família que ele tinha no mundo exterior.
Soube que assim que chegamos todos foram trazidos para a enfermeira, mas que Mikasa e Eren foram rapidamente tratados e em seguida levados para a prisão para cumprir pena por sua insubordinação a Hange e Levi.
A o que parece os garotos estão lá a cerca de quase nove dias. Mas provavelmente amanhã eles serão soltos para comparecer a uma audiência na corte, coisa que eu também devo comparecer.
Depois de toda uma atualização geral da nossa situação nas muralhas, ela também me avisou que meu relatório será dado oralmente durante a audiência. Até mesmo a rainha História participará dessa reunião.
- Então mais uma vez minha lealdade será posta a prova? – pergunta um tanto receosa.
- não precisa enxergar dessa maneira...- Hange fazia uma expressão difícil de se ler, ela estava claramente me escondendo algo – você já teve uma audiência antes, quando teve que expor suas habilidades, mas não demos a eles nada que realmente as explicasse de onde elas se originaram. Você saiu das muralhas, passou horas do lado de fora e voltou literalmente próxima da morte.
Absolutamente nada do que eu contar vai fazer sentido para eles, como vão entender que eu podia ter capturado os inimigos, mas escolhi deixá-los para trás porque tive uma visão de mim mesma junto a Eren e seu irmão em um futuro variante.
- Todos nós queremos entender o que aconteceu com você. Mas pelo menos por hoje, você deve descansar e se preparar para amanhã. Tenho certeza que vai dar tudo certo!
Hange se vira para ir embora, mas a algo que preciso saber e ela nem mesmo tocou no assunto.
- Comandante, se me permiti um última pergunta, aonde o capitão Levi está? – levanto meu olhos em sua direção e ela me encara de volta – se ele estava tão preocupado comigo, então por que ele não está aqui?
- A morte do Erwin abalou a todos nós, mas pelo que parece o Levi foi o mais afetado, ainda mais com tantas pessoas questionando a decisão dele. O seu estado anterior também não ajudou, assim com eu, ele se culpou pelo que aconteceu com você. E também outras verdades tem se revelando, isso abalaria qualquer um – ela diz simples, mas a algo me incomodando em sua resposta.
- O que está escondendo de mim, Hange? – a questiono e ela mantem um olhar sério na minha direção.
- Eu não sei, S/n. A verdadeira questão é: o que você tem omitido de nós todo esse tempo?!
Depois de sua fala Hange me dá as costa, ao sair do quarto ela bate a porta com toda a força. Havia algo acontecendo e muito provavelmente meu pescoço está em risco.
Obrigada por ler até aqui!!!
prometo que estou tentando publicar uma vez por semana
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Juro que a fic tá tão boa quanto REALIDADE DESEJADA
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