O Delator de Copas - Jikook

Por Posionevil01

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⊰LIVRO FÍSICO PELA EDITORA YELLOW (link na bio) ⊱ [CONCLUÍDA] Park Jimin é o único médico da família, na verd... Más

𝐂𝐎𝐍𝐒𝐈𝐃𝐄𝐑𝐀𝐂𝐎𝐄𝐒
𝐀𝐧𝐭𝐞𝐜𝐞𝐝𝐞𝐧𝐭𝐞𝐬 𝐂𝐫𝐢𝐦𝐢𝐧𝐚𝐢𝐬
Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Prefácio
Capítulo Um - II
Capítulo Dois - II
Capítulo Três - II
Capítulo Quatro - II
Capítulo Cinco - II
Capítulo Seis - II
Capítulo Sete - II
Capítulo Oito - II
Capítulo Nove - II
Capítulo Dez - II
Capítulo Onze - II
Capítulo Doze - II
Capítulo Treze - II
Capítulo Quinze - II
Capítulo Dezesseis - II
Capítulo Dezessete - II
Capítulo Dezoito - II
Capítulo Dezenove - II
Capítulo Vinte - II pt. I
Capítulo Vinte - II pt. II
Prefácio
Capítulo Um - III
Capítulo Dois - III
Capítulo Três - III
Capítulo Quatro - III
Capítulo Cinco - III
Agradecimentos
Epílogo
Bônus
Versão Física
Bônus - Jungkook e Yoongi

Capítulo Quatorze - II

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Por Posionevil01

Olá! Deixe seu voto e comente o que mais gostar!!

ATENÇÃO: aproveitem todas as migalhas Jikook, porque é o que temos para hoje. kkkk

#NaoConfieNasCartas

#FantasmaPark


Capítulo Quatorze

──────⊱◈◈◈⊰──────

"Não posso fazer isso disse trêmulo, com medo de sua própria sombra, escondendo as mãos entre as coxas num ato de claro nervoso.

Você já fez muita coisa para amarelar agora. Ou se esqueceu do que meu pai está fazendo por você? Ele caminhou pausadamente até o sofá que o outro estava sentado, assim, ocupou o lugar ao lado e apoiou a canhota na nuca alheia.

Isso é demais. Eu não consigo.

Tudo bem... Suspirou e afastou-se minimamente, tirando o celular do bolso. Vou avisar El Capo que temos mais um covarde na família.

Não! Por favor prostrou-se de joelhos no chão, encostando a testa sobre um dos joelhos do outro em clara súplica. Assim, com lágrimas nos olhos e coração quase saindo pela boca, continuou: Eu faço. Faço o que você quiser.

Hm, ótimo empurrou o outro com desdém antes de ficar de pé e abrir um sorriso. Beomgyu já está pronto, você já sabe o que deve fazer hoje às vinte da noite, tudo parece ótimo. Finalmente vou me livrar daquele desgraçado..."

[...]


Seu mundo estava parado, mas ao seu redor tudo se movimentava como nuances de uma tela pintada de mal gosto.

O gosto ferroso amargou seu paladar quando tossiu forte. Cada tosse arrancando de si grunhidos de dor. Sua visão estava turva demais e seus ouvidos não conseguiam identificar cada som naquela mistura desesperada. Não sabia mais onde estava, mas sentiu mãos firmes tentando fazê-lo se soltar de algo, ou melhor, de alguém. Então, quando finalmente piscou, o horizonte diante seus olhos não era escuro, na verdade era tão claro que machucou seus lumes sensíveis atingidos pela secura. Tinha algo em seu rosto, ele não conseguiu identificar também, nem mesmo os rostos sobre ele. Sua cabeça estava uma bagunça, porém não estava barulhenta como comumente, só estava borrada, tudo estava muito borrado.

— Não podem ir mais rápido?

— Sinto muito, senhor Kim, estamos indo o mais rápido possível.

Ele piscou mais uma vez, o teto não era o mesmo, mas ainda era claro demais. Por mais que sua visão doesse, não conseguiu desviar sua atenção, porque de alguma forma sentiu-se confortável no espaço tão claro, era como se ele tivesse passado tempo demais no escuro, desesperado por luz. No entanto, algo o forçou a fechar os olhos, não queria, mas não conseguiu controlar o peso de suas pálpebras, então ele caiu na escuridão mais uma vez.

Quando abriu os olhos novamente, não sentia parte de seu corpo, embora conseguisse se movimentar, ainda que minimamente. Suas orbes escuras vasculharam todo o espaço possível, então como se estivesse tirando abafadores dos ouvidos, o som baixo do beep tornou-se sensível a sua audição. Pendeu sua atenção morosamente pela parede azul clarinho em sua frente e então viu um homem sentado, braços cruzados e expressão distante. Num instante, tudo começou a tomar forma e espaço em sua mente, ele lembrou-se de Sammy, lembrou-se de seu filho sorrindo, em seguida seus pensamentos foram preenchidos pela transfiguração da imagem de Santiago. Lembrou-se de apanhar, lembrou-se das chantagens, do plano e de Yeonjun.

Yeonjun.

Sentiu vontade de sentar-se naquela cama de hospital e chamar por Taehyung que finalmente o olhou com uma expressão estranha. Desde quando ele tinha chegado ali? Se Yeonjun entrou na frente de uma bala por ele, por que ele estava numa cama de hospital? Não parecia certo.

Taehyung aproximou da cama em que ele estava e apoiou as mãos no ferro lateral, antes de fechar os olhos com força e pender a cabeça entre os braços. Jungkook não entendeu aquela ação, mas quando Taehyung voltou a encará-lo estava com um sorriso pequeno.

— Ye... jun... — Tentou falar, mas sua voz não parecia querer colaborar consigo. Estava fraco. — Yeonjun.

— Ele passou por uma cirurgia, tudo ocorreu bem, o projétil não comprometeu nenhum órgão vital, ele só perdeu muito sangue, por isso está bastante fraco e ainda não acordou — Taehyung explicou baixinho, parecia cuidadoso com cada palavra. — Lisa está com ele, os pais dele também.

Ele fechou os olhos e deixou que o ar escapasse por seus lábios. Estava aliviado. Yeonjun estava vivo. Ele achava que ele tinha uma maldição, achava que todos que ele permitia amá-lo, de alguma forma perdia a vida depois. Era por isso que tinha tanto medo, por isso quis morrer. Sammy também o amava.

— Inspetor? — Seu peito começou a doer e seus olhos secos foram cobertos pela fina camada de lágrimas. As emoções oscilando da maneira mais desordenada. — Eu falhei com você.

— Não... Você não falhou comigo, na verdade, eu falhei com você, Jungkook. Eu sou o inspetor chefe, eu deveria ter olhado um pouco mais a fundo. Deveria ter percebido.

Taehyung não tinha porque pedir desculpas, ele tinha certeza disso. Não tinha como o mais velho perceber. Engoliu a seco.

— Eu sou filho do Santiago... O que vai acontecer?

— Não pense nisso agora. Você também passou por uma cirurgia, Jungkook.

Encarou o rosto do mais velho, a dúvida no centro de sua testa.

— Você estava com uma fratura em uma das costelas e uma hemorragia interna — o inspetor explicou, enfiando as mãos nos bolsos. — Eu não sei o quanto tem suportado por todos esses anos, mas...

Ele viu Taehyung assentir retoricamente e morder o lábio antes que prosseguir:

— Mas tudo isso vai acabar, Jungkook. Eu não vou permitir que Santiago continue isso, continue machucando você.

Assim que o inspetor terminou de falar, ele sentiu um nó na garganta, esteve esperando ouvir aquilo por tanto tempo que quando finalmente ouviu, agarrou-se naquelas palavras e decidiu nunca soltá-las. A porta do quarto foi aberta, ele movimentou a cabeça concisamente em direção à porta e então viu a figura de Lalisa. Assim que ela o viu, caminhou rapidamente em sua direção e inclinou o corpo sobre o seu de modo inesperado.

— Eu estava preocupada, seu idiota! — Ela resmungou com a voz chorosa.

E, por mais que seu peito estivesse doendo por causa do peso alheio, ele não fez nada, seu corpo estava paralisado, mas dessa vez não era por causa da cirurgia. Ele era filho de um mafioso e ele era um mafioso. Ele tinha os traído, tinha delatado sobre suas vidas e mesmo assim, mesmo depois de tudo, Lalisa o abraçou da mesma forma que o abraçou no Rock's Bar. A mesma Lalisa que ele fez chorar, também chorou ao abraçar mais uma vez. Ele sentiu o mesmo calor, a mesma sensação de acolhimento. Então, embora nada pudesse fazer, conseguiu sussurrar:

— Me desculpe — pediu ele.

Lalisa afastou-se de seu corpo e arrastou as mãos sobre os olhos inchados. Em seguida, ela o olhou com um sorriso pequeno nos lábios e deu um saquinho fraco em um de seus ombros.

— Que bom que está vivo — sibilou gentilmente. — Quando tudo isso acabar, vamos beber no Rock's Bar até amanhecer o dia.

Taehyung riu ao seu lado, ele não conseguiu conter-se também, então riu. Apenas se permitiu rir, embora de seus olhos escorressem finas lágrimas. Sorrir. Ele não se lembrava mais de quando fez algo assim de forma tão natural.

O celular de Taehyung tocou, ele viu o inspetor fechar o sorriso e encarar o visor. Ah, é mesmo... Daeha ligaria para o inspetor a qualquer momento, ele precisava avisá-la que não precisaria mais fazê-lo, ele mesmo contaria tudo.

— É Jeon Seokjin.

Pai...

Ele tinha avisado a seu pai que provavelmente só voltaria no dia seguinte, mas era de se esperar que seu velho ficasse mais preocupado depois do assassinato de sua mãe.

Taehyung afastou-se da cama, indo para um dos cantos do quarto para atender a chamada, mas Lisa ficou ao seu lado, segurando sua mão. Segurando sua mão defeituosa sem se importar com cada cicatriz ali.

— Lisa?

Ela meneou a cabeça.

— Santiago não sabia — ele começou um pouco arrastado. — Enquanto eu fazia Yeonjun de refém, eu ouvia Santiago através de uma escuta. Quando dispararam, ele perguntou o que estava acontecendo, sua reação indicou seu desconhecimento sobre o ato.

— Alguém tentou te matar sem as ordens dele... Você tem alguém em mente?

Ele encarou o teto mais uma vez e então suspirou.

— Min Yoongi. Não é uma acusação, mas... Antes de tudo, Yoongi é meu irmão.

Confessar aquilo o deixava com uma sensação ruim.

— Nós sabemos, Jungkook — ela sorriu complacente, como Jiwon sorria para ele sempre que o via doente.

Ele reparou nisso quando encarou a mulher com rapidez, buscando uma explicação.

— Estivemos trabalhando sem parar todo esse tempo e pegamos a câmera de segurança do carro que você usou com Yoongi no dia em que vocês foram no galpão. Nós sabemos sobre as ameaças e sabemos sobre os planos de Santiago, ou parte deles — movimentou a cabeça em incerteza.

Fazia sentido.

— Então... Vocês sabem que não nos damos bem, Min Yoongi e eu. Aquele dia ele tentou me matar e por não conseguir, jurou tentar outras vezes, agora temo sobre seus atos.

— Eu não duvido de suas palavras, mas Yoongi estava conosco quando fomos resgatar você e o Yeonjun.

— Mas isso não garante que ele não tenha planejado algo antes, não é? Yoongi possui um temperamento forte e impulsivo, ele age movido pelas emoções mais do que qualquer pessoa — e ele antes de qualquer um sabia daquilo.

— Se Yoongi resolveu agir sozinho, talvez tenhamos mais um problema para lidarmos — Lalisa cruzou os braços e suspirou demoradamente. O cansaço era explícito em sua expressão. — Ei? Por que se arriscou durante a ligação?

— Você descobriu? — Arqueou as sobrancelhas. — Você ouviu a mensagem?

— Claro que ouvi, Jeon! — Ela fez um bico quase desdenhoso antes de abrir um sorriso. — Descobrimos o espião. Fomos até o apartamento do Jimin, descobrimos uma escuta dentro da armação do quadro dado pelo melhor amigo dele — estalou a língua em negação. — Jimin oppa chorou tanto...

Pela visão periférica, ele viu a expressão empática dela, engoliu a seco, não queria ser descoberto pelos olhos dela, não queria que ela notasse o quanto doeu imaginar Jimin chorando, porque era uma coisa totalmente diferente de quando o médico descobriu sobre ele. Quando Jimin o viu, o olhar foi duro e as lágrimas que este derramou mais tarde foram resultado de raiva e frustração, mas até onde sabia, Jung Hoseok e Park Jimin conheciam-se há anos, a dor jamais poderia ser comparada.

E pensar que ele tinha confiado seu filho nas mãos de Hoseok... Ele não sabia mesmo um terço dos planos de Santiago.

— Taehyung ligou para ele quando chegamos no hospital, ele — ela parou de falar assim que o inspetor se aproximou mais uma vez.

— Seokjin estava preocupado porque você não tinha chegado em casa ainda — o mais velho falou movendo o celular em sua mão. — Eu contei parte da situação e pedi que ficassem em casa, mas ele é, não surpreendentemente, teimoso. Então, mandei uma viatura da polícia para ir buscá-lo.

— Isso é péssimo, Taehyung — murmurou, apertando o cenho. Contudo ele sabia que não poderia controlar seu pai.

— Então, Lalisa e eu vamos voltar para a Unidade — Kim prosseguiu antes de olhá-lo. — Não vamos pedir que coopere conosco nesse estado, Jungkook, mas peço que se recupere rápido para poder nos ajudar — parou de falar quando pareceu buscar as palavras certas, então por fim concluiu: — Até porque, você é o detetive profile da equipe Alfa, não pode ficar fora de cena por muito tempo.

Mesmo que soubesse que as palavras de Taehyung eram um gentil ato de encorajamento, ele permitiu-se sorrir minimamente.

— Obrigado.

Ele viu Taehyung acenar com a cabeça antes de tocar o ombro de Lalisa e seguir rumo à porta, porém, assim que o mais velho a abriu, ele lembrou-se de algo.

— Kim?

Taehyung cessou os passos, bem como Lisa, então ambos viraram-se em sua direção.

— Quantas horas?

— São nove e quinze da manhã, Jungkook — foi Lisa quem respondeu.

— Daeha, a governanta de minha casa, irá ligar mais tarde. Pedi que ela te ligasse se eu não aparecesse em vinte e quatro horas — com um pouco de esforço, conseguiu sentar-se na cama, antes de descansar as costas no travesseiro. — Dentro do meu closet, atrás dos cabides de minhas camisas há algo que talvez possa ajudá-lo com a investigação.

Taehyung assentiu fraquinho, quase retórico antes de dizer:

— Você estava deixando tudo para trás, não é mesmo?

Aquela pergunta o acertou em cheio.

"Me mate"

— Eu

— Não pense nisso de novo e se pensar, eu irei fazê-lo ficar, ainda que eu tenha que te bater — Lalisa adiantou-se, certamente frustrada.

Yeonjun e ela pareciam mesmo irmãos. Assim, assentiu.

[...]

Quando deixou o quarto de Jungkook, Taehyung estava menos cansado do que esteve horas atrás, do que dias atrás, tudo porque ver Yeonjun e Jungkook bem foi como tirar um peso de suas costas, mesmo tendo tanta coisa para fazer, ele sentia-se um pouco mais motivado.

— O que vamos fazer agora?

— Vou conseguir um mandado judicial para entrar na casa de Jung Hoseok — respondeu a Lalisa que caminhava ao seu lado pelo corretor da UTI.

— Posso conseguir isso. Vai te poupar tempo.

— Agradeço. Então, você cuida disso. Vamos até a Unidade pegar os crachás, vou marcar uma reunião às quinze, já que a conferência de Namjoon será às vinte.

— Vamos levar Namjoon hoje?

— Não. Se nos movermos diante a mídia, ao prender Namjoon vamos colocar a população a duvidar de todo o corpo hospitalar, mas se o pegarmos longe das câmeras teremos tempo para elaborar todas as ideias e justificativas para a imprensa — ele explicou coçando a sobrancelha esquerda com o indicador. — Ele não vai poder sair do país de qualquer forma.

— Não podemos expô-lo nessa conferência, podemos?

Ele soprou um fraco riso.

— Não, não podemos.

— Então, o que vamos discutir na reunião?

Ele parou de andar e virou-se para a mulher.

— Minha ideia é passar um plano falso para Yoongi. Vamos falar sobre pegar Namjoon na conferência, bem como Santiago. Tenho certeza que Yoongi irá notificá-los e vamos saber sua localização por causa do crachá — ele já tinha explicado sobre. — Provavelmente Santiago não vai comparecer e vai agir de alguma forma. Quero manter Jungkook, Yeonjun e Jimin seguros durante isso, então precisamos localizar Santiago de alguma forma e emboscá-lo.

— As localizações que temos e a residência dele parecem improváveis. Ele não vai se esconder em um lugar óbvio — ela tinha razão.

— Eu estava buscando uma forma de resolver isso o mais rápido possível, já que Santiago não faz absolutamente nada usando o próprio nome. Não há filmagens, não há um veículo suspeito e não há compras.

— Ele é como uma pessoa fantasma.

— Diria parasita. Ele possui um exército justamente para isso. Ele consegue comandar diretamente sem estar exatamente direto — suspirou endireitando as costas, passando o olhar para a porta do quarto onde Jungkook estava. — Mas tenho um palpite sobre o que precisamos. Depois de marcar a reunião, vou até a residência de Jungkook.

— Então vamos economizar tempo. Essa conferência tem papel importante para nosso plano, não é mesmo?

— Você tem razão.

Retomou seus passos e dirigiu-se ao hall do hospital onde a equipe policial estava. Quando Yeonjun foi baleado, por causa do desconhecimento do ato, o motorista do carro que levou Jungkook assustou-se e fugiu, já o outro motorista, responsável pelo carro que transportava os homens cobaias de Santiago disparou sem ordem e tentou fugir da mesma forma. Foi tudo muito rápido, os policiais acertaram os pneus antes que o carro tomasse velocidade, garantindo a sobrevivência dos passageiros, em seguida, ele passou a ordem para que os homens procurarem o suspeito que tinha Jungkook na mira, enquanto isso, ele e Min Yoongi cuidaram para que o motorista não tentasse outra fuga.

Nesse tempo, Lalisa chamou uma ambulância e foi até Jungkook.

Por mais que ele estivesse tentando manter-se focado em seu trabalho, era a vida de seu amigo que estava em jogo. Por outro lado, ele percebeu a frieza de Yoongi. O hacker não disse uma só palavra, mas garantiu que ajudaria os policiais a procurarem pelo suspeito que atirou primeiro. Desde então, os dois não tinham se visto ainda.

Até ele entrar no hall.

Min Yoongi estava mais afastado, encostado em uma parede, cabeça baixa e mãos engolidas pelos bolsos dianteiros da calça. Naquele momento, parecia que o que passava dentro da mente dele era muito mais relevante do que o exterior.

— Inspetor? Como eles estão? — A policial Hirai caminhou em sua direção, preocupada.

— Yeonjun ainda não acordou — ele passou o olhar para Yoongi quando notou o mais novo olhar para o lado de modo discreto. — Jungkook também não — mentiu.

— Deus...

— Mas as cirurgias ocorreram tudo bem. Eles vão acordar a qualquer momento, então não precisa se preocupar — Lisa garantiu, entendendo rapidamente o raciocínio do mais velho.

Depois de pedir a guarda integral dos respectivos quartos de ambos membros da equipe Alfa, ele foi até Yoongi e o segurou pelo ombro.

— Imagino que esteja assustado com tudo isso, sim?

Yoongi o olhou por alguns instantes e então voltou a olhar para o chão.

— Fiquei com medo do pior... — Murmurou quase num choramingar.

Se Yoongi ainda estava atuando, então provavelmente não tinha certeza sobre até onde eles sabiam.

— Inspetor, posso saber uma coisa?

O mais novo levantou a face mais uma vez, parecia realmente confuso. Taehyung assentiu, tirando a mão do ombro alheio.

— O Jeon Sunbaenim fez o Yeonjun de refém, eu não sabia sobre a situação até você ligar nessa madrugada, mas estou bastante chocado com tudo.

— Sim — fez menção para que continuasse.

— Por que você ainda se preocupa com ele?

De todas as perguntas que ele imaginou, não cogitou aquela. Ele esperava por algo como: Por que Jungkook não está preso? Ou: Por que Jungkook pegou o Yeonjun de refém? Mesmo que ele soubesse que Yoongi sabia as respostas para aquelas perguntas, a pergunta feita realmente parecia genuína.

Ele pensou um pouco e então soltou o ar de seus pulmões naturalmente.

— Porque sou o inspetor chefe, Yoongi. Sou responsável pela minha equipe antes de ser responsável por um caso. É por isso que eu sou o líder.

Ele viu Yoongi pestanejar algumas vezes, como se estivesse processando sua resposta, então por fim assentiu e não disse mais nada.

— Vamos nos reunir na Unidade às quinze. Vou apresentar nosso plano para conseguir solucionar esse caso. Esteja lá.

— Sim, senhor — juntou as mãos nas laterais do corpo e fez uma mesura de noventa graus.

Quando Taehyung finalmente pensou que deixaria o hospital, em frente à enorme construção ele viu Jeon Seokjin sair da viatura e caminhar em passos largos até ele.

— Meu filho? Como ele está?

— Está bem, aparentemente — respondeu sem qualquer formalidade, o mais velho não parecia preocupado com isso. — Identifique-se na recepção, vão informá-lo o quarto.

— Certo.

Ele viu Seokjin correr para as portas de vidro do hospital e então quando voltou o olhar para a viatura, fez um sinal para o policial.

— Dia cheio, não é mesmo? — Lisa comentou.

— Só quero encerrá-lo logo.

Ele falou com o policial que dirigia o carro, então pediu uma carona. Lisa ficou em sua casa, já que estava no meio da rota e ele, ao invés de voltar para sua casa pouco visitada por ele nos últimos dias, desceu na casa de sua mãe antes de pedir que o policial o esperasse.

Nunca pensou que um dia se cansaria daquilo. Seu irmão, ao contrário dele, saiu de casa muito cedo, claro que teve o apoio financeiro de Haesoo, mas de qualquer forma, ele demorou um pouco mais para deixar a asa da juíza e mesmo tendo casa própria, sempre fazia visitas quando tinha tempo, em contrapartida, Jimin pouco aparecia por ali, sua presença era uma certeza apenas nos natais, contudo, os últimos dias têm estado tão estressantes que estava cansado daquele trajeto, estava cansado de ir até aquela casa por obrigação. Esse era mais uma coisa que o motivava a finalizar aquele caso.

— Oi, Tae.

Estranhou. Foi seu irmão quem o atendeu. Não precisou de muito para adivinhar a causa, provavelmente seu irmão estava o esperando.

— Vim vê-lo — era verdade. Ele podia ter ido diretamente para a residência de Jungkook, mas pensou em Jimin.

Seu irmão não podia sair daquela casa, mas ele sentia-se angustiado demais para não fazer nada a respeito.

— O Yeonjun acordou? — Jimin fechou a porta e caminhou ao seu lado.

Sim, ele sabia que seu irmão era altruísta e genuíno, sabia que este estava preocupado com Yeonjun, mas no fundo ele sabia que as respostas que o mais novo mais ansiava, eram de perguntas que ele não as fariam.

— Ainda não. Mas o Jungkook acordou.

Quando parou de andar, ele viu Jimin sentando em um dos sofás antes de seu peito subir e descer metodicamente.

— Que bom.

Se sua audição fosse um pouco melhor, tinha certeza que poderia ouvir os batimentos cardíacos de seu irmão.

— Estou indo na casa do Jungkook, preciso pegar uma coisa que ele deixou para mim — a atenção alheia caiu sobre ele como um flash. — Estava pensando se você não queria ir junto. Sabe, o Sammy deve precisar de algum apoio nesse momento. Seokjin está no hospital.

— Se não for muito arriscado, eu quero.

Ele assentiu.

— Certo, vamos em uma viatura, está aí fora.

Jimin levantou-se num sobressalto.

— Eu só vou pegar um sobretudo.

Seu irmão não deu tempo para responder, apenas correu rumo às escadarias e subiu pulando alguns degraus. Um sorriso solto dançou em seus lábios ao testemunhar todo aquele esforço. Seu irmão namorou um cara por sete anos, em todos esses sete anos, ele nunca o viu se entregar de forma tão impensada.

Seu irmão era prudente, apesar da teimosia e era um homem maduro e bom. Porém, apesar dele não conhecer o tipo de relacionamento que havia nascido entre Jimin e Jungkook, ele reconhecia a forma como o primeiro parecia se importar um pouco mais, de forma mais intrínseca. Ele não era capaz de descrever, ao contrário do relacionamento com Minho, que sempre foi comportado, policiado e muito bem pensado. Jimin e Minho era um casal metódico, fazia tudo o que qualquer casal comum faria, mas com Jungkook...

Com Jungkook ele via seu irmão agir antes de pensar, via seu irmão ignorando o duvidoso, colocando suas emoções diante sua razão.

Quando o assunto era Jungkook, ele via as emoções nos olhos de seu irmão, por mais que da boca saíssem palavras de sensatez geral.

Por isso sorriu. Não sabia como ficaria a relação de ambos, mas ele queria encerrar aquele caso para deixar as alternativas em aberto. Queria que Jimin e Jungkook estivessem livres para todas as próprias decisões sobre aquilo, sem que os olhos confessassem algo que não condiz com o que a boca conclui.

— Vamos! — Jimin pulou o último degrau e veio até ele.

— Vamos.

Ele tomou todo cuidado antes de sair, buscou por qualquer pessoa suspeita, a rua do condômino estava fazia, com exceção aos seguranças que rondavam toda a entrada. Abriu a porta da viatura e deu passagem para que Jimin entrasse, em seguida fez o mesmo e passou o endereço para o policial.

A viatura era blindada, ele não teria tanta coragem de tirar seu irmão de casa, se não fosse por isso — e não que isso fosse ajudar muito, mas ele estava contando com um trajeto tranquilo.

— Posso esperá-los aqui fora — o policial disse quando estacionou.

— Obrigado, Sungwoo.

Jimin e ele deixaram pegadas sobre a neve para trás quando atravessaram a entrada e subiram no alpendre da residência. Bastou um toque da campainha, então a porta foi aberta, revelando a que ele julgou ser Daeha.

— Jimin! — Ela saudou com um sorriso grande, os olhos redondos transformando-se em meias luas.

— Você está ótima, Dae — seu irmão abraçou a mulher, antes dela dar passagem. — Daeha, esse é meu irmão.

— Não sabia que era irmão do inspetor Kim, se bem que eu o vi juntos no funeral da senhora Jeon — ela fechou a expressão, pensativa.

— Acho que esta é a segunda vez que venho aqui, o Jungkook não costuma fazer convites — ele adiantou-se e pelo sorriso constrangido da mulher, ela sabia que ele não estava fazendo humor. — Hm, acho que você soube sobre o acidente do Jungkook, Jeon Seokjin deve ter dito.

— Ele disse. Como o senhor Jungkook está?

— Muito bem, não se preocupe — ele já tinha dito aquela mesma frase tantas vezes naquele dia que começou a ficar preocupado com a veracidade dela. Coçou a sobrancelha e retomou: — Ele contou-me que deixou um aviso para você, mas como está no hospital, pediu que eu viesse buscar.

— Ah, claro. Posso acompanhá-lo até seus aposentos.

— Obrigado.

— Jiminnie!

A voz infantil soou por toda sala com tamanha empolgação. Foi inevitável, todos viraram o rosto para a criança no topo da escada.

Sam...

— Sammy — Jimin sorriu tão bonito, que as bochechas ganharam uma coloração rósea.

Seu irmão caminhou em passos largos até a escada e subiu os degraus dando pulinhos sutis. Era impressionante, cada vez que ele via aquela criança, mais desacreditado ficava sobre o Mutismo Seletivo. Para ele, era quase impossível viver num mesmo lugar onde todos os dias acordava ao lado do silêncio perturbador. Ele não conseguia imaginar metade do desespero de Jungkook, mas só a parte que tinha idealizado o mataria por dentro.

— Ele frequentemente fala sobre o Jimin — a mulher disse com um sorrisinho tímido, como se estivesse contando um segredo.

Ele não soube bem como reagir, talvez fosse porque passou tempo demais esperando conhecer realmente a criança do Jungkook, talvez fosse porque estava tão tímido quanto a mulher e ainda, talvez fosse porque não conseguiu desviar o olhar da cena bonita composta por seu irmão sentado ao lado de uma criança que parecia se entender perfeitamente com o mais velho citado.

Talvez aquela não fosse uma paixão triste como seu irmão pensava e talvez, o pior não fosse ter aprendido a amar o filho de Jungkook, como ele sugeriu uma vez. No fim, ele não tinha que opinar sobre aquilo, apenas assistir em silêncio. Ele acompanharia o amor e felicidade de seu irmão em silêncio.

— Vamos até o quarto do Jungkook, sim?

Ele acompanhou Daeha, quando chegou no degrau em que Sam estava sentado, interrompeu os próprios passos e abaixou-se ali com um sorriso nada confiante. Ele viu a criança virar o rosto em sua direção e em seguida, agarrar o braço de Jimin num abraço tímido.

— Ei, Sammy, você se lembra do tio Tetê? — Jimin perguntou baixinho e esperou por uma resposta. Esta veio de forma positiva depois de um tempo. — Não precisa ter medo, o papai Jungkook e eu gostamos muito do tio Tetê.

— Sabia que o seu papai Jungkook é muito forte, Sammy? Mas é bem teimoso também — coçou a nuca, não sabia bem o que dizer. — Você se parece muito com ele, os olhos e a boca são os mesmos.

— Eu sei... — Sammy murmurou reticente e baixinho.

— O tio Tetê é um pouco tímido, Sammy, mas ele é bem divertido, porém agora ele precisa fazer uma coisa no quarto do papai.

— Você sabe onde fica o quarto do papai Jungkook? — A resposta era óbvia, mas mesmo assim perguntou na intenção de interagir um pouco mais.

— Sei.

A voz era tão fofa que ele se segurou para não se jogar naqueles degraus e descer rolando.

— Pode me levar até lá?

Ele viu Sammy mexer os pés antes de encarar Jimin com olhos grandes.

— Jimin vai também?

Soprou um riso e então ficou de pé.

— Sim, o Jimin vai também.

Levou cerca de cinco segundos para ele ver a criança dar de ombros e ficar de pé. Jimin o seguiu e o segurou pela mão, assim, deixaram que o mais novo entre eles os guiasse confortavelmente pela própria casa.

[...]

Sammy sabia que o pai estava machucado. Jimin soube disso quando abraçou o garotinho e ouviu a vozinha levemente rouquinha dizer:

"Você só vai vir me ver quando o papai ficar machucado?"

Sentiu uma dor no peito e o amargo efêmero de seu âmago subiu até seu paladar, causando um gosto ruim na boca. Era difícil encarar aquela pergunta e aqueles sentimentos quando não podia explicar toda a situação e ainda que explicasse, a psique de Sammy ainda não podia entender a gravidade. Contudo, ele não podia vacilar ali, o cérebro maduro era o dele, por isso respondeu:

"Me desculpe por isso, você tem razão, Sammy. Vou me certificar de te visitar até quando seu papai não estiver machucado. Mas pode demorar um pouco, você me espera?

Hm... Só um pouquinho."

Estava com tantas saudades. Nunca parecia o bastante. Queria ter mais oportunidade para voltar ali, para ver os sorrisos de Sammy, para falar com Daeha. Mas tudo era questão de circunstância, aquela não era a mais adequada.

Parados em frente à porta do quarto de Jungkook, assim que Sammy abriu e empurrou a porta, ele quase pôde ouvir a voz de Jungkook contra seu ouvido.

"Homem invasivo..."

Jungkook o chamou daquela forma tantas vezes que ficou guardado em seu interior.

O quarto estava organizado como sempre e o cheiro ainda era o mesmo. Ainda o causava arrepios e batimentos acelerados.

— Você pode me mostrar o closet, Sammy?

Ouviu Taehyung perguntar num tom mais suave e doce. Sammy soltou sua mão e caminhou em direção à porta. Talvez aquela criança já estivesse mais confortável na presença de seu irmão. Assim, juntou as mãos em frente ao corpo e olhou ao redor. Tudo estava perfeitamente organizado, exceto a poltrona posta em um dos cantos. Sobre ela havia um blazer jogado. Não soube bem o porquê, apesar de ser médico, mas suas pernas o guiou até a poltrona meticulosamente. Engoliu a seco e sentou-se na beiradinha do assento.

De repente, não ouviu mais a voz de seu irmão ou as respostas monossilábicas de Sammy, seus olhos não conseguiram parar de encarar aquela peça e sua mão a pegou sem qualquer ordem sua. Preferia culpar a súbita vida própria de seus membros do que culpar o seu cérebro por aquilo. Então, quando seu dedos tocou o tecido e o puxou sorrateiramente para sobre seu colo, o perfume alheio entrou por suas narinas e perfumou seus pulmões. Inconsciente do que estava fazendo, iria levar o tecido até o nariz, antes não fosse o pequeno papel que caiu bem sobre seus pés.

Apertou o cenho e encarou o blazer. O que estava fazendo? Seu rosto pegou fogo apenas por cogitar a possibilidade de ter sido pego por seu irmão. Assim, balançou a cabeça e pegou o papel mal dobrado. Sabia que não deveria ser tão invasivo, porém, quando se deu conta, já estava abrindo.

Novas Palavras Para Um Cara Invasivo:

Arritmia

Eudaimonia

Inefável

Acabou rindo daquilo. Nunca pensou que Jungkook pudesse fazer daquilo algo tão importante a ponto de escrever em um papel e agora que sabia disso, não conseguia se sentir tão mais digno que um tolo. Tolo. Era isso que ele era. Um tolo apaixonado. Mordeu o inferior e guardou o pequeno papel no próprio bolso, afinal de contas aquilo era para ele.

— Parece que Jungkook deixou muita coisa para mim.

Ele levantou a expressão, fechando o sorriso ao encarar o irmão. Taehyung estava segurando um pendrive.

— Não peguei o resto porque não quis que... — Discretamente meneou a cabeça na direção de Sammy.

Ele rapidamente entendeu.

— Você poderia...

— Claro — assentiu com pressa. — Sammy, onde a Algodão Doce está? Queria vê-la antes de ir embora.

A criança expressou algo animado, era muito bom ver que Sammy estava se esforçando também, apesar de todos os pesares. Sammy era uma criança forte, com certeza. Sua mão foi puxada, o pequeno Jeon o levou rumo à saída, porém antes de saírem, Jimin observou um comportamento inesperado.

Sammy parou de andar e virou-se para Taehyung.

— Ei, tio? — Chamou num tom mais sério. Quase da mesma forma de quando soltou as primeiras palavras em sua frente.

— E-Eu? — Taehyung gaguejou, apontando para o próprio peito, naturalmente surpreso demais.

— Fecha a porta quando sair, tá? — Tombou a cabecinha para o lado e continuou encarando o mais velho.

Jimin se segurou para não rir.

— Claro, eu vou fechar sim. Com certeza. Não se preocupe.

Taehyung quase se curvou para a criança. Foi mesmo cômico. Assim, deixaram o quarto e consequentemente um Taehyung abobalhado.

Algodão Doce não estava no quarto de Sam como ele suspeitou, na verdade ela estava num cercadinho dentro de um cômodo que ele nunca tinha visto antes. O cômodo não estava fechado, provavelmente para o fácil acesso da criança, de qualquer forma era bem limpo e vazio demais.

— A Algodão fica aqui às vezes — Sammy contou, abaixando-se ao lado do cercadinho.

A cachorrinha correu em sua direção, porque obviamente se lembrou dele. Fez um carinho no pelo macio e limpo, mas seu momento não durou muito tempo, já que ela escolheu ir brincar com Sammy.

Ter a Algodão era mesmo uma sorte — concluiu observando o sorriso grande do menor.

— Sammy, por que o espaço está vazio?

— Papai tirou as coisas para ter mais espaço para Algodão e eu brincar. É que — sentou-se no chão, esticando as perninhas abertas e parou de mexer no animalzinho. — É que eu fui brincar com Algodão na sala, mas acabei quebrando um vaso, aí eu chorei muito porque cortei o pé e porque fiquei com medo do papai ficar bravo.

Ele sentou-se de frente para o menor e ajeitou a franjinha cheia. Sammy já estava precisando cortar o cabelinho, provavelmente Jungkook não teve tempo para isso ainda.

— Mas seu pé ficou bom?

— Uhum. Papai fez um curativo.

— Sammy... Você já viu o papai Jungkook bravo alguma vez?

Ele negou rapidamente.

— E por que ficou com medo dele ficar bravo? — Não era mais o psiquiatra de Sam, mas sua curiosidade era inegável.

— Não sei, não — pareceu reflexivo, enquanto segurava os dedões de cada pé.

— Não precisa ter medo do papai, tudo bem? — Sorriu afável, pincelando o narizinho redondo. — O papai Jungkook é seu amigo.

— Igual você, né?

Mordeu o inferior contendo um sorriso largo demais e então puxou a criança para o próprio colo, o abraçando cuidadosamente.

— Sim, igual o Jimin.

O menor envolveu seu pescoço e deitou a cabecinha sobre seu ombro. Sammy era tão doce e carinhoso, doía tanto pensar que este viveu no silêncio por tanto tempo.

— Jiminnie — murmurou. — Ontem o papai estava triste e chorou.

A comichão subiu em sua garganta e seus olhos arderam involuntariamente. Mas ele não podia chorar, precisava ser forte porque Sammy precisava daquilo naquele momento. Sabia que expressar suas emoções era necessário, mas ele queria que Sammy realmente se apoiasse nele, para que assim ele pudesse dizer que tudo ficaria bem.

— É que o papai ia sentir muito sua falta.

— Quando ele vai voltar para casa?

Perguntas de crianças eram as mais difíceis de responder. Ele pestanejou.

— Assim que o médico deixar.

— Quando o médico vai deixar? — A voz estava se tornando chorosa.

Fechou os olhos.

— Eu não sei, bebê.

Sammy afastou-se ficando de pé e com o rostinho corado, esfregou um dos olhinhos.

— Não sou mais bebê — reclamou num muxoxo.

— Ah, então o que você é? — Tentou engolir o nó em sua garganta e segurou o menor pela cinturinha.

— Garotinho.

Soprou um riso e assentiu. Provavelmente Jungkook o chamava daquela forma.

— Que tal tirarmos fotos para mostrar ao papai? — Ele sabia que provavelmente não poderia ir ao hospital, mas talvez seu irmão pudesse mostrar a Jeon.

Sammy concordou com um pequeno sorriso, ele tirou o celular do bolso e ficou de pé. Fotografou Algodão, Sammy, Sammy com a Algodão e ele com Sammy e Algodão. A última foto não estava em seus planos, então ficaria com ela, Jungkook não precisava ver.

Batidas na porta aberta o fez virar-se. Seu irmão estava encostado no batente, os encarando.

— Já terminou?

— Precisamos ir.

Voltou a encarar Sammy e o pegou no colo.

— Jiminnie precisa ir agora, Sammy.

— Por que?

Caminhou rumo à porta e encontrou o olhar incisivo de seu irmão, então passou por ele e engoliu a seco.

— Porque o Jimin precisa voltar para casa.

Sammy o abraçou e por fim murmurou apenas um:

— Uhum.

A parte mais difícil foi entrar no carro e não olhar para trás, e não olhou porque sabia que se o fizesse, seria ainda mais difícil.

Apertou seu celular sobre o próprio colo e encostou a testa contra o vidro da porta.

— Poderia me fazer um favor, Tae?

— Posso...

— Poderia mostrar algumas fotos para o Jungkook se for visitá-lo mais uma vez?

Ele ouviu seu irmão suspirar ao seu lado, mas manteve-se vigiando o horizonte borrado do lado de fora.

— Eu preciso ir para a Unidade, mas posso te dar vinte minutos.

— Sério? — Passou sua atenção para o mais velho numa fração de segundos. — Digo, eu não quero atrapalhar seu

— Minha preocupação agora é sua proteção, Ji. Só quero que fique seguro.

— Obrigado, hyung.

A excitação culminava em seu peito, mas sentiu-se um pouco constrangido por estar sorrindo tanto, então tentou se conter em prol de sua autopreservação e esperou silenciosamente até o hospital. Quando chegou, notou não ser o Ajou. Era um hospital bem menor, mas não era importante naquele momento.

Viu seu irmão falar algo na recepção, em seguida fez um pequeno gesto em sua direção para segui-lo. Ele tinha notado dois policiais no hall e novamente viu mais dois, cada um na frente de uma porta.

— A recepcionista disse que Seokjin ainda está no quarto, mas você pode bater. Eu vou ver Yeonjun.

— Eu vou ser breve — ele só notou seu irmão carregando uma sacola ecológica naquele momento. Supôs que lá estivesse as coisas que pegou no quarto de Jungkook, Daeha deve ter ajudado-o.

Taehyung fez um sinal para o policial na frente da porta do quarto em que Jungkook estava e então caminhou em direção ao outro.

Ele foi até a porta estimada e usou os nós dos dedos para dar algumas batidinhas. Quando a porta foi aberta, não conseguiu escapar da sensação nostálgica, mas seu peito apertou-se quando viu apenas a imagem abatida de Seokjin.

— Doutor Park?

Ele se sentiu um pouco sem jeito, nem mesmo estava no Ajou, então não poderia haver outra justificativa para ele estar ali, se não fosse para ver Jungkook.

— Eu vim... Eu vim para ver o seu filho.

Ótimo. Sentiu-se um adolescente.

— Digo, se ele quiser me ver.

Seokjin virou o rosto sobre o ombro e depois voltou a olhá-lo.

— Vou deixá-los sozinhos.

— Obrigado — fez uma mesura. Quando entrou no quarto, fechou a porta com cuidado, na verdade estava buscando alguma coragem para encarar Jungkook e ele nem sabia por quê.

Mas quando finalmente olhou, viu o rosto abatido alheio sustentando um pequeno sorriso, quase inexistente em sua direção. De qualquer forma, era bom. Era bom saber que ainda podia vê-lo.

— Eu te disse para tomar cuidado — ele quem começou, com as costas postas contra a porta. — Eu não trouxe as luvas vermelhas hoje.

O sorriso que era mínimo, cresceu consideravelmente.

— Que péssimo, Park. Agora serei vítima de hipotermia e terei uma morte nada digna.

— Não brinca com isso não — pediu, o cenho apertado e a voz comovida. Aproximou-se da cama e sentou-se no banquinho posto ao lado.

Olhando de perto, ele só sentiu vontade de tocar a face de Jungkook para saber se era mesmo real. Porém, não fez isso, na verdade ele optou por segurar a mão alheia.

— Quando reclamei mentalmente que só te via durante a noite, eu não estava esperando te ver durante o dia estando nessas condições — Jungkook confessou, as sobrancelhas juntas formando um semblante pensativo.

— É que dessa vez não foi você que correu até mim.

— Me desculpe por quebrar o ciclo.

— Você é absurdo, Jeon... — Confessar aquilo fez ambos rir, mas ele também se lembrou de algo em seu bolso. — Fui até sua casa, eu vi o Sammy.

No mesmo instante em que mencionou a criança, ele notou a expressão de Jungkook mudar de forma drástica e significativa e a forma como os olhos escuros fugiram para o mais longe possível dos seus, ele soube que havia algo de errado naquela reação evasiva. A mão que tinha usado para pegar o celular estagnou, talvez não devesse mostrar as fotos ainda.

— Como ele está?

Pelo tom culpado, Jimin também conseguiu deduzir que aquela era a primeira vez que perguntava sobre o filho desde que acordou.

— Como qualquer filho que ama e se importa, ele o espera em casa de modo ansioso — baixou o olhar para as mãos unidas e a sombra de um sorriso elevou os músculos de suas bochechas —, e está preocupado com o fato de que eu só o visito quando você se machuca.

O silêncio os envolveu como um cobertor grosso, ele encarou bem as várias deformidades da mão maior segurada pela sua e também viu o pequeno coração de copas ali tatuado. Arrastou o polegar sobre a tatuagem fazendo movimentos circulares sutis, então no minuto seguinte, sentiu-se fora de lugar, algo em seu peito o deixou constrangido demais, assim, soltou a mão alheia e arqueou as sobrancelhas quando pestanejou.

— Ele sente sua falta — Jungkook disse depois de um tempo, ainda encarando um lugar distante. — Acho que ele carrega gente demais em seu peito para tão pouca idade e eu quase aumentei seu fardo.

Ouvir aquilo o balançou sem tocá-lo diretamente. Ouvir aquilo só o fez sentir ainda mais vontade de chorar, porque havia muito em sua cabeça, tanto que transbordava até seu coração. Ele não tinha se esquecido do medo que sentiu ao saber que Jungkook estava sendo ameaçado, nem do risco que Yeonjun correu, nem da traição de Hoseok. Tudo estava tumultuado e ele não estava conseguindo enfileirar para pensar sobre cada um vez por vez.

— Você não tem culpa.

— Tenho mais culpa do que pensa. Você não pode ver o que eu vejo.

— Mas o que vejo é bastante claro para mim — refutou, teimoso. Jungkook o olhou, parecia prestes a rebater, porém desistiu no meio do caminho. Ele estava fazendo de novo, fazendo a mesma coisa que fez antes de Jungkook ser baleado. — Me desculpe.

— Você pede desculpas, mas não vai parar de insistir, não é?

Sentiu seu rosto ficar quente. Jungkook tinha o pego em flagrante.

— É só que... Eu tenho uma perspectiva sobre você bem melhor do que como você se enxerga.

— E é por isso que você está aqui — sorriu pequeno e enigmático.

— Precisa parar de tentar me manter distante durante o dia e correr para meus braços durante a noite — soltou os ombros e permitiu-se aproveitar aquele brilho sutil e raro nas orbes escuras do outro.

— Me desculpe.

— Você pede desculpas, mas não vai parar de insistir, não é? — Cerrou os cílios até a metade de sua visão e lançou o sorriso mais travesso. Ele viu Jungkook rir e negar com a cabeça.

Jogar as palavras de Jungkook contra ele era quase um hobbie e ele não tinha percebido isso até fazê-lo de novo. Por fim, tirou o celular do bolso, bem como o pequeno papel.

— Fui ao seu quarto, achei um blazer jogado sobre a poltrona e apenas por curiosidade, o peguei. Foi então que esse papel caiu dele e ainda por curiosidade, o li. Porém, com propriedade eu o guardei para mim — disse de uma só vez.

— Homem invasivo...

— "Novas Palavras Para Um Cara Invasivo" — ele leu num tom quase diplomático, então encarou Jungkook que o olhava, ainda que as bochechas estivessem rosadas. — Você escreveu para mim, não é?

— Você sabe a resposta, não tente me fazer amaciar seu ego.

— Quanto orgulho... — Fingiu estar ofendido, mas sua expressão boba o entregou. — Eudaimonia. Você me disse o que era isso na noite do dia trinta e um.

— Você provavelmente acha que sabe o que é arritmia, mas terei que corrigi-lo.

— Pois bem... — Endireitou a coluna, pronto para ouvir.

— Arritmia é: complicação pós-operatória.

Deus! Jimin não conseguiu segurar a gargalhada. Desse modo, riu alto, tombando a cabeça para trás e cobrindo a boca com uma das mãos. Quando Jungkook o contou sobre o que eram as "complicações pós-operatórias" ele não teve clima para encarar a confissão com mais suavidade, mas naquele momento, enquanto aquele homem quebrado dizia indiretamente que o mau funcionamento do sistema elétrico do seu coração era causado por ele, ele não conseguiu conter sua felicidade.

Quando caiu na mira dos olhos alheios mais uma vez, amainou o sorriso largo, um pouco confuso sobre a forma profunda que era observado.

— Já recebi muitos elogios — ele começou quase tímido. — Mas ninguém nunca disse que eu era a causa de seu aceleramento cardíaco anormal.

— Você gostou? — O tom genuíno o pegou de surpresa.

Então do modo mais paciente e gentil, respondeu:

— Sim, eu gostei muito.

As bochechas de Jungkook ficaram ainda mais calorosas, mas dessa vez não foi por causa de algo que disse e sim pelo que ambos ouviram.

Beep. Beep. Beep.

Cento e cinquenta batimentos por minuto, ele conferiu no monitor.

— Que traiçoeiro... — O mais velho comentou. — Me sinto nu, não que eu, praticamente, já não esteja...

Jimin riu de novo. Por causa de tanta perturbação ele nunca achou que pudesse ter uma conversa tão boa com Jungkook. Geralmente tudo era coberto pelo peso de suas sanidades, pelo peso de suas obrigações e deveres. Conversando com Jungkook daquela forma, ele soube que poderia passar anos daquele jeito e nunca se cansaria.

— Se te conforta — finalmente disse —, você também causa anormalidade em meu funcionamento elétrico cardíaco.

Jungkook apenas continuou olhando com olhos cheios de brilho, totalmente o contrário de quando chegou ali.

Ele abriu a galeria do celular e então entregou para o outro.

— Tirei fotos do Sammy e da Algodão Doce. Acho que ele precisa cortar o cabelo.

Jungkook levantou o braço com certa dificuldade e pegou o aparelho, não escondendo o sorrisinho nos lábios pálidos assim que viu a primeira foto.

— Ele está sorrindo — murmurou encarando a tela do celular. Em seguida, Jimin viu Jungkook perder o sorriso gradativamente, não sabia porquê, mas viu os olhos do moreno enchendo-se de lágrimas.

Jungkook retomou:

— Eu tinha desistido... Eu fui um péssimo pai de novo, Jimin. Acho que nunca vou aprender.

— Você nunca desistiu dele, só tinha desistido de você mesmo — para ele aquilo era óbvio. Ele conheceu de pertinho o amor que Jungkook nutria pelo filho, da mesma forma que viu de pertinho a forma como Jungkook se machucava.

Jungkook nunca desistiu do filho, apenas achou que não suportaria mais a si mesmo.

— Você é um bom pai, Sammy sabe disso.

Batidas na porta o fez virar o rosto.

— Ji, precisamos ir.

Era Taehyung.

Ele ficou de pé e esperou pelo celular, mas assim que olhou para o aparelho viu Jungkook encarando a foto que ele tinha tirado com Sammy. Ele tinha se esquecido, mas era tarde demais para voltar atrás.

— Obrigado por ter ido até ele — devolveu o celular.

Jimin guardou o aparelho no bolso e assentiu.

— Fique bom logo, sim? Você ainda não me disse o que significa Inefável.

Jungkook ajeitou o pescoço e suspirou.

— Eu vou tentar, Park.

— Você é mesmo um absurdo, sr. Jeon. 

Notas:

Eu tinha me esquecido completamente que hoje era dia de atualização. Final de período está me consumindo, não sei nem mais meu nome e ainda faltam duas semanas de pura dor e sofrimento. 

Jun não morreeeeu!!! 

Eu estou escrevendo tanto relatórios e artigos que eu nem sei o que escrever aqui nessas notas. Mas eu espero que vocês estejam gostando, eu particularmente amo essa cena dos Jikook porque é natural, sem tanta dor. 

Esse capítulo foi bem "suavinho" para compensar o próximo kkkkk No próximos vamos ter: Taehyung ouvindo os áudios que Jungkook gravou sendo torturado por Santiago, Tae descobrindo coisas, Tae lendo a cartinha de despedida que Jungkook deixou para ele, convocação de toda as equipes necessárias para pegar Santiago, Jun acorda, Jungkook lendo a cartinha que Jiwon escreveu sobre ele (muita dor e sofrimento), Jungkook indo ver Jun, Jungkook tímido, Daeha ligando para Tae, Jungkook ouvindo tudo, Jungkook fugindo do hospital e por fim... LALISA.  

Meu Instagram: autoravssouza_

Até sexta que vem, hehe. 

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