{6ª semana de aula – Sábado}
Bárbara Passos
19:20h
─ Eu tô com saudade. – Victor disse, debruçado em cima de mim.
Ele estava me esmagando.
Ri de tanta manha para uma só pessoa.
Era um sábado à noite, e Crusher decidiu dar uma festa esta noite.
Victor ficou de me buscar, e ele chegou faz pouco tempo.
Semana passada, nós não nos vimos, e ele estava me falando a semana inteira dessa festa. O plano é irmos para a festa daqui a poucos minutos, e quando formos embora, eu vou para a casa dele, durmo lá, e amanhã de tarde ele me traz de volta.
Porém, ele não repetiu isso para mim uma única vez, ele ficou falando disso a SEMANA inteira.
Eu me contentava em rir com toda aquela empolgação. Ele não gostava que ficassemos sem nos ver por muito tempo, e quando isso acontece, ele fica muito ansioso a semana toda.
Acho que acabamos criando uma dependência nesse relacionamento. Ele não consegue me deixar de lado, e eu também não.
Não consigo contar nos dedos quantos beijos, abraços, carícias e palavras carinhosas eu ganhei, apenas nesse tempo que ele chegou.
Ele amava toque físico, amava eu estar presente, e isso se tornava ainda mais especial para ele, quando eu parava tudo o que eu estava fazendo para ficar com ele. Isso fazia ele se sentir especial.
─ Não é justo eu ficar sem te ver a semana toda, não é justo! – ele dizia, com a voz abafada pelo meu pescoço. Ri com seu comentário.
─ Amor, eu vou dormir na sua casa hoje! Calma! – eu pedi, ainda rindo.
─ Eu sei, mas eu fico estressado quando eu não te vejo. – ele disse, enquanto apoiava seus antebraços na minha cama, me dando um pequeno tempo para respirar.
Segurei seu rosto, deixando um selinho em seus lábios.
Ele sorriu igual uma criança sorri comendo doce, logo me beijando mais vezes.
Ele abraçou a minha cintura, começando a deixar beijos leves por todo o meu rosto.
─ Eu te amo amo amo amo amo amo amo amo amo amo amo amo. – ele dizia, e cada espaço entre um "amo" e outro, era um beijo diferente no meu rosto.
Eu ri com todo aquele carinho.
─ A gente tem que ir. – eu disse, ainda rindo.
─ Foda-se aquela festa. Eu quero ficar com você. – ele disse, voltando a se deitar por cima de mim e me abraçar.
Ri com toda aquela situação. Em alguns casos igual esse, ele agia como uma criança. Era cômico como ele me pedia as coisas, seus sorrisos bobos e infantis...
Eu me sentia muito bem com todo aquele carinho.
Logo, ele saiu de cima de mim e se deitou ao meu lado, apoiando o braço sobre minha cama, e sua cabeça sobre sua mão. Me virei também, encarando seu rosto.
E ele ficou ali, olhando para o meu rosto.
Depois de alguns minutos em silêncio, ele segurou meu queixo levemente, enquanto intercalava seu olhar entre os meus olhos e os meus lábios.
Logo, ele se aproximou e juntou nossos lábios em um beijo lento.
Não tinha como mentir, senti saudade desses momentos juntos, à sós.
Ele levou uma mão até minha cintura, a segurando firmemente, enquanto eu deslizava minha mão por seu pescoço.
O clima todo foi atrapalhado pelo meu pai batendo três vezes na porta.
─ Vocês não iam pra festa não? – meu pai perguntou, do lado de fora.
Victor se levantou em meia fração de segundo, rapidamente passando as costas da mão em seus lábios para retirar todo o batom borrado que eu havia deixado nele. Seu cabelo estava uma bagunça, e seus lábios estavam vermelhos. Era meio óbvio que estavamos nos beijando antes do meu pai atrapalhar.
─ Já estamos indo, eu decidi retocar a maquiagem. – eu disse, mentindo.
Victor deu uma risada silenciosa, enquanto ia ao banheiro limpar a boca.
Retoquei o meu batom e peguei minha bolsa.
Logo, Victor veio até mim e abraçou a minha cintura. Passei meus braços por seu pescoço, enquanto ele deixava um beijinho leve em meu pescoço.
─ Eu te amo. – ele disse.
─ Eu também te amo. – eu respondi, deixando um beijo em sua bochecha.
─ Desculpa agir igual uma criança de 5 anos, mas eu tava com muita saudade. – ele disse, fazendo uma cara de derrotado. Ri com suas caretas.
Victor não era de perder a pose, ele sempre se mostrou o homem da relação. Sempre me agradando, cavalheirismos, flores, abraços....
Mas eu gostava quando ele se mostrava frágil. Era fofo ver como ele se rendia.
─ Vem, vamos pro carro. – ele disse, entrelaçando sua mão com a minha, e logo abrindo a porta do meu quarto.
─ Espera! – eu pedi, o virando de frente para mim. – Seu cabelo tá uma bagunça.
Ele riu, logo se abaixando um pouco para eu ajeitar.
Passei minhas mãos entre os fios, arrumando todas aquelas mechas.
No final, deixei um selinho em seus lábios.
Então, saímos do quarto e descemos as escadas, entrando na sala da minha casa, onde minha mãe e meu pai assistiam televisão.
─ Até que enfim! Pensei que tinham ido pela descarga da privada. – meu pai disse, debochadamente. Ri com suas palavras.
─ Eu volto amanhã. – eu disse, me aproximando e dando um beijo na bochecha da minha mãe e em seguida do meu pai. – Amo vocês.
─ Tchau filha, se cuidem. – minha mãe disse, enquanto sorria.
─ Eu não quero ver marcas no pescoço dela amanhã, ouviu Victor? – meu pai disse, olhando meu namorado por cima do óculos. Victor gelou, arregalando os olhos. – Eu estou brincando idiota.
Victor voltou a respirar normalmente, e nós rimos de sua cara de pálido.
Logo, ele puxou a porta da minha casa, esperou eu sair e fechou de novo.
Meu namorado foi até a porta do passageiro, a abriu para mim e fechou assim que eu entrei. Ele entrou pelo outro lado. Colocamos o sinto de segurança e ele deu partida no carro.
Victor pegou a minha mão e entrelaçou com a sua, enquanto dirigia.
─ Meu Deus, nossa viagem tá chegando. – ele lembrou.
─ Verdade né! Eu tô muito ansiosa. – eu disse, imaginando como seria ficar 5 dias só com Victor.
─ Eu também. Tem muita coisa que a gente pode fazer! Podemos passear nos jardins, ir na hora do chá, ver as crianças brincando, ficar no quarto, comer... – ele foi citando o que lembrava. – Tem a piscina também...
─ Como você sabe desse hotel? Tipo, eu nunca nem tinha ouvido falar. – eu disse.
Ele deu um sorriso fraco, enquanto virava a esquina.
─ Meus pais me levaram lá no meu aniversário de 7 anos. Foi o meu último aniversário com um pai que prestava, depois meu pai perdeu a maioria. – ele disse.
Fiquei alguns minutos em silêncio.
Não deveria ser fácil voltar naquele lugar, e sentir todas as memórias voltando à tona.
Entendo ele. Não consigo voltar para Santa Catarina. Eu surtaria.
Me aproximei um pouco, deixando um beijo no canto de sua boca, logo vendo um sorriso se formar em seu rosto.
─ Obrigada por me levar com você... – eu agradeci.
─ Eu nunca levei ninguém lá, além dos meus pais. – ele disse. – Eu quis comemorar nosso aniversário lá, porque é um lugar incrível, não só em conforto, mas tem uma vibe muito boa... Tem umas casas na árvore, com pontes interligando todas... Eu brinquei muito lá, os monitores são incríveis e muito simpáticos. É um lugar muito especial pra mim, e eu quis te levar lá, para viver isso comigo, porque, sinceramente, eu acho que você é a pessoa mais especial que já entrou na minha vida....
Corei com aquelas palavras.
Ele me acha especial...
Guardei aquelas palavras com carinho na minha memória.
─ Você também foi a pessoa mais especial que eu já encontrei. – eu disse, sorrindo.
Victor parou o carro no sinal, e logo veio até mim, deixando um beijo na minha testa.
Depois, ele voltou a entrelaçar nossas mãos.
Eu adoro estar com ele. Passa uma paz muito boa. Ele tenta me fazer esquecer dos meus problemas.
Outro dia, eu estava contando para ele do meu antigo relacionamento com Alex, e a cada coisa que eu contava, ele tentava me incentivava a passar por aquela situação tranquilamente, e me assegurava que ele nunca ia fazer nenhuma daquelas coisas.
Era bom ter um porto seguro como aquele. Eu sabia que se eu precisasse, ele pararia tudo o que estivesse fazendo pra me ajudar, e eu faria a mesma coisa.
Podia ficar ao lado dele o dia inteiro, que não me incomodaria, e na verdade, eu estaria até feliz de estar ao seu lado, mesmo não fazendo nada por horas e horas.
Não era só um namoro, era uma conexão além disso. Tinha uma amizade e sinceridade inexplicáveis. Como construímos tudo isso em menos de 3 meses desde que nos conhecemos? Bom, isso eu também não sei, mas sei que isso foi muito saudável para mim. Ele me ajudou a me reerguer, e estava lá para segurar a minha mão sempre que eu precisei.
Eu tenho medo disso acabar, tenho medo de ter que ver Victor ir embora da minha vida, igual a minha irmã foi.
Eu amo ele. Amo esse garoto, e eu estou disposta a fazer qualquer coisa para continuar ao seu lado.
Me despertei de meus pensamentos com Victor buzinando 3 vezes na frente do portão de Crusher.
─ EU JÁ VOU SEU RASCUNHO DO DEMÔNIO. – ouvimos Crusher gritar, logo vindo abrir o portão.
Victor riu com a reação de seu amigo, e eu ri também.
Logo, meu namorado foi estacionar o carro em algum lugar disponível. Depois, me ajudou a descer do carro, igual ele sempre fazia quando saiamos.
Em pouco tempo, estavamos dentro da casa de Crusher. Victor passou seu braço por meu pescoço, enquanto conversávamos sobre a viagem do dia 09/03.
Faltavam apenas alguns dias, e nossa ansiedade estava a milhão.
Eu mal podia esperar.
Sentamos em um sofá próximo dali, e repousei a minha cabeça sobre seu ombro, sentindo carícias pelo meu cabelo.
─ Quer beber alguma coisa? – ele perguntou.
─ Um refri tá bom. – eu disse.
-─ Beleza, vou buscar e já volto. – ele disse, me dando um selinho e logo sumindo no meio das pessoas.
Peguei minha bolsa, desbloqueei meu celular e logo entrei no Instagram.
Vi alguns stories dos meus amigos, parentes, cantores, entre outras pessoas que eu seguia.
Sorri ao ver que Victor tinha postado stories. Ele postou uma foto nossa no meu quarto, enquanto ele estava com todo aquele drama. Curti os stories, sentindo orgulho de ter alguém como ele.
Eu ainda continuava a encarar aquela foto, quando senti alguém se aproximando.
─ Por que você não me escolhe? – Chase perguntou, com uma voz mansa.
Chase Rodriguez.
Hannah Barker.
A garota mais doida, sincera, marrenta, brava e linda que você poderia conhecer.
Desde muito pequeno, eu sempre sofri muita pressão da minha família. Meu irmão mais velho é muito inteligente, e eu não sirvo pra muita coisa. Com isso, a maioria dos investimentos de dinheiro, atenção e carinho, foram todos para o meu irmão, e não para mim.
Sempre senti uma carência desse carinho familiar, sempre senti falta de ter um apoio extra.
Eu sempre tentei achar motivos para comprovar para mim mesmo que eu era suficiente. Sempre quis ver os defeitos de outras pessoas, para poder ressaltar as minhas qualidades.
E, o resultado foi: eu fiz bullyng com outra pessoa para poder provar alguma coisa para alguém.
E essa pessoa foi o Arthur.
Passado isso, eu entrei no Ensino Médio.
Já havia virado um hábito destruir o psicológico de outras pessoas para tentar reconstruir o meu.
E, um dia, eu prendi um nerd qualquer no armário, e o deixei ali.
Até que, eu senti uma porrada batendo contra o meu olho. O impacto foi tanto, que eu caí no chão.
─ VAI PRA PORRA SEU METIDINHO DE MERDA! QUEM VOCÊ PENSA QUE É PRA FAZER ISSO COM ELE? – eu ouvi uma garota gritando.
E, quando eu finalmente consegui enxergar alguma coisa, eu vi >>> ela <<<
Uma garota baixinha, forte, de cabelos castanhos, olhos cor de mel e uma personalidade tão forte e complicada, que era quase difícil ver ela de bom humor algum dia.
Eu não conseguia reagir. Ela era a pessoa mais bonita que eu já tinha visto na minha vida.
Então, ela tirou o garoto de dentro do armário, perguntou se ele estava bem, e quando foi embora, ela se voltou para mim. Ela certou minhas partes intimas com um chute muito bem dado. Eu quase fui castrado naquele dia.
E então, veio a diretora.
─ De novo arranjando confusão Hannah? Vou precisar te dar outra suspensão? – a diretora perguntou, de braços cruzados.
E, logo eu levantei, do jeito que pude.
─ F-foi minha culpa. – eu disse. – E-eu coloquei um garoto dentro do armário, ela só estava o defendendo.
A diretora nos olhou por cima dos óculos, e logo me pediu para acompanha-la.
─ Valeu. – eu escutei a morena dizer, bem baixo.
Não era a intenção dela que eu ouvisse. E eu resolvi deixa-la pensar que não ouvi.
Hannah. Um nome que combinava muito com ela.
Fomos nos aproximando, mas não como amigos, e sim porque ela defendia as pessoas que eu tentava zoar.
E depois de um tempo, ela acabou me puxando para um canto na hora da saída, e me bateu até eu sangrar.
─ ACORDA SEU FILHO DA PUTA! PRA QUE FICAR FAZENDO ISSO COM AS OUTRAS PESSOAS? – ela disse, nada gentil, enquanto socava ainda mais a minha cara.
E naquele dia, eu comecei a chorar em sua frente.
Ela parou de me bater, e me olhou, confusamente.
Com os olhos com marcas roxas, bebendo aquela água ruim do bebedouro, eu expliquei tudo. Desabafei tudo que eu nunca tinha dito a ninguém.
Sentia confiança naquela garota. Senti que ela era uma pessoa com quem eu podia contar.
E daquele dia em diante, eu precisei levar mais alguns socos, mas viramos amigos.
Ela entendeu o meu lado, e eu entendi o dela.
Não demorou muito para a amizade passar para um rolo de adolescentes. Uma ficada ali, outra aqui, mas nada sério.
E um dia, eu subi até a janela de sua casa, entrei na casa, e pedi para aquela menina ficar comigo. A pedi para ser a minha garota. E ela aceitou.
Depois daquele dia, eu nunca mais zoei ninguém. Éramos o par perfeito. Sempre estavamos juntos, perambulando pela cidade. Ela com aquelas piadas ruins, tropeçadas horrorosas na calçada, e um humor 100% quebrado.
Ela tinha vários problemas de saúde, por ser muito estressada e nervosa. Então, ela sempre brincava que se ela morresse, ela voltaria reencarnada, só para puxar o meu pé de madrugada.
Em uma noite de outono, estavamos no meio da rua. Conversávamos e riamos sobre tudo e qualquer coisa. Era um dos momentos mais felizes da minha vida, e logo, ele se transformou no pior.
Um carro em alta velocidade veio, e acertou Hannah em cheio.
Eu consegui sobreviver, mas ela não.
E assim, fomos separados.
Eu comecei a ficar louco depois disso. Eu acreditava que ela estaria em algum lugar, como ela sempre prometia.
Quando eu cheguei na nova escola, no 3º ano do Ensino Médio, e eu encostei meus olhos em Bárbara, eu não podia acreditar se realmente era aquilo que eu estava vendo.
Parecia Hannah, sua fisionomia me lembrava ela.
Na verdade, eu não sei se eu estava delirando o suficiente para achar isso ou realmente estava sendo um idiota de acreditar naquilo.
Eu ultrapassei todos os limites possíveis, e queria me resolver.
Queria tentar melhorar. Queria parar com todos aqueles remédios. Queria me curar, sendo que eu sabia que a minha única cura estava nos céus, ou seja lá aonde.
Hannah, onde quer que você esteja, eu estou gritando por você, então, por favor, me responda.
Bárbara Passos
─ Por que você não me escolhe? – Chase perguntou.
Eu o encarei por alguns momentos. Era sério que ele estava me perguntando aquilo?
─ Chase... – eu tentei dizer, mas ele me interrompeu.
─ Não entendeu quando eu te chamei de Hannah Montana naquele intervalo, né? – ele perguntou, se sentando ao meu lado no sofá.
─ Não. – eu respondi.
─ Hannah Barker. Minha namorada. – ele disse, olhando para as próprias mãos e sorrindo fracamente. – Ex, na verdade. Ela morreu em um acidente de carro, e eu estava ao seu lado quando aconteceu.
Permaneci quieta.
É agora que a merda começa?
─ Ela era muito estressada, não tinha admiração pela vida. Por causa de estresse, tinha vários problemas de saúde, e sempre brincava que ela voltaria como um fantasma, para me xingar e puxar o meu pé. – ele explicou, e não consegui conter a risada na última frase. – Depois que ela morreu, comecei a ficar doido. Queria encontrá-la, acreditava que em algum lugar, ela estaria viva. Quando eu entrei na escola, você foi a primeira garota bonita, de cabelos escuros e personalidade marcante que eu encontrei. Achei que fosse Hannah me mandando algum sinal. Eu estou em desespero, Bárbara. Preciso daquela garota socando a minha cara de novo.
Tinha sentido.
O luto pode machucar de diversas formas, assim como a pessoa machucada poderia reagir de milhões de jeitos diferentes.
Chase é o tipo de pessoa que não quis acreditar nos fatos, por isso endoideceu. Os fatos sempre serão verdade. Por mais que ele a procure, eu não sou a Hannah.
Eu não enfrentei esse sentimento. Eu deixei vim, como uma onda do oceano grande e forte, batendo contra o meu corpo e me arremessando no meio do mar.
Entendo a dor dele. Entendo que essa dor pode colocar para fora o pior de nós. E entendo que esses sentimentos soltos podem ferir outras pessoas.
Sei disso por causa de Victor. Muitas das minhas inseguranças já nos fizeram brigar, e até mesmo dar um tempo...
Essas memórias de acontecimentos tão pesados, como um atentado ou acidente de carro, fazem as vozes de nossas cabeças mandarem corrermos agora.
Estou rezando para que sejam humanas.
─ Olha, eu te entendo. – eu disse. – Quando eu tinha 15 anos, minha irmã desapareceu durante um atentado, e eu também estava presente. Foi horrível. Se eu fechar os olhos e relembrar aquele dia, consigo sentir sua mão escapando da minha.
─ Olha, eu sei que você namora, e sinto que mais uma vez eu consegui atrapalhar as coisas. – ele disse.
─ Chase, todos temos dores. Eu sei o quanto o luto dói. Sei o quanto é pesado sentir a ficha cair. – eu disse. – Eu perdoo você, por mais que eu tenha me sentindo muito incomodada com toda essa situação...
─ O que eu faço? – ele perguntou, depois de algum tempo em silêncio. – Não consigo esquece-la, qualquer garota me lembra ela, eu não consigo esquecer...
─ Crianças pequenas também me fazem lembrar de Lizzie, mas você precisa entender que isso passou, você precisa deixar as folhas velhas caírem, para que novas possam nascer. – eu disse.
─ Obrigado, Bárbara. – ele disse. – De verdade.
─ Estou fazendo o que uma pessoa comum deveria fazer. – eu disse.
E assim, ele se levantou, e foi embora.
Suspirei, aliviada.
Menos um peso, menos um peso...
Victor Augusto
Eu estava encarando aquela situação já fazia alguns minutos.
Ouvi a história toda. Sou fofoqueiro? Sim, foda-se.
Em alguns momentos, eu senti vontade de jogar aqueles dois copos de refrigerante na cabeça de Chase, mas entendo a história dele.
O que me deixou realmente orgulhoso, foi a posição da minha garota.
Ela agiu tão bem... Sem demonstrar pena, mas sem ser grossa. Ela expôs os fatos para Chase, e ele entendeu.
Espero que tenha ido embora, mas dessa vez, para sempre.
Alguns minutos depois que ele foi embora, eu voltei para o sofá, deixando os dois copos em cima da mesinha, e logo puxando a cintura de Bárbara para perto do meu corpo, e matando a saudade que eu estava de seus lábios.
Ela mal entendeu o que estava acontecendo, mas sabia quem estava a beijando naquele momento.
Com uma mão, eu segurava sua cintura, e com a outra, eu segurava o seu rosto.
Quando o ar faltou em meus pulmões, me afastei de seus lábios, unindo nossas testas e encarando aqueles olhos tão perfeitos...
Amo essa garota. Amo sua personalidade, amo seu corpo, seu cheiro, suas roupas, seu humor, tudo.
O pacote completo.
─ Oi pra você também. – ela sussurrou, me fazendo rir.
─ Vem cá, me abraça. – eu pedi, logo sentindo seus braços passarem por meu pescoço, e os meus automaticamente se entrelaçaram pela sua cintura. – Eu te amo.
─ Eu também te amo.
{......}
Arranquei a minha camiseta assim que entrei no quarto, logo observando Bárbara ir até o meu closet e pegar um moletom meu, com uma bermuda minha e um par das minhas meias.
Olhei para ela, com os olhos estreitos e apertados intencionalmente, e logo que ela viu a minha cara, começou a rir. Não me segurei também.
─ Amor, eu já te disse que eu gosto das suas roupas... – ela disse, me abraçando.
─ Eu sei, tanto é que estão faltando 6 moletons, 3 pares de meias e 2 calças de moletom, além das 9 camisetas. – eu disse.
─ Você contou tudo o que eu roubei de você? – ela perguntou.
─ É que quando eu fui organizar o meu armário, eu vi que estava faltando algumas coisas, né dona Bárbara? – eu disse, a encarando feio, mas de brincadeira. Ela riu.
Bárbara ficou na ponta dos pés e me deu um selinho demorado.
Enrolei meus braços por sua cintura, fazendo ela ficar mais perto, e não permitindo que ela saísse dali.
─ Eu.... Vou..... Pro banheiro. – ela disse, entrei beijos curtos.
─ Tá bom. – eu disse, me soltando de seu corpo.
Bárbara sorriu, caminhando até o banheiro, e logo fechando a porta do cômodo.
Me joguei em minha cama, esperando pacientemente Bárbara sair do banheiro.
Fiquei pensando em toda aquela conversa de Chase e Bárbara. Fiquei com uma pontinha de ciúmes? Sim, sou ciumento mesmo, mas entendo ele.
Nada se compara a uma morte tão trágica igual a dele, claro. Eu não imaginaria perder Bárbara, mas quando meu pai foi embora, também doeu muito. Doeu se sentir rejeitado. Não sinto raiva dos meus "irmãos", eles não têm culpa nenhuma, eu tenho raiva do meu pai... Não entendo porque ele fez aquilo, não entendo porque ele nos deixou desse jeito, da noite para o dia. Na manhã de Natal, estava tudo bem, e na noite, expulsei ele de casa.
Ouvi meu celular tocando, e peguei o aparelho para saber quem era.
É como dizem: é falar no demônio que ele aparece.
Chamada de vídeo recebida de "Pai"
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Não queria atender. Não queria ter que escutar aquela baboseira toda de novo.
Se bem que, se eu recusasse, estaria sendo igual a ele.
Preciso ser a pessoa que faz diferente...
( X ) Aceitar
Chamada aceita
00:01
─ Oi Victu! – eu ouvi aquela voz dócil de uma criança de 3 anos saindo do telefone.
Não consegui conter o sorriso.
─ Oi Adam. – eu respondi.
─ Porque você nunca vem pala a nossa casa? – ele perguntou, fazendo um beicinho dramático.
─ O seu pai não te disse? – eu perguntei. – No final desse ano eu vou me mudar para a sua casa.
─ MENTILA! – ele gritou, empolgado. Não consegui conter a risada.
─ Verdade. – eu disse.
─ A Babi vem também? – ele perguntou.
Sorri, me lembrando que ela iria comigo. Lembro até hoje do dia que fizemos todos esses planos...
─ Vai, ela vai sim. – eu disse, ainda sorrindo. – Cadê o seu irmão?
─ Ele tá com a mamãe. – ele disse.
─ E porque você tá com o celular do seu pai monstrinho? – eu perguntei.
─ Pulque ele não tá perto. – ele respondeu, sorrindo malandramente.
─ Adam, Adam... – eu disse.
Adam sempre foi o gêmeo mais pilantra. Anthony é muito quieto, calado, não gosta de socialização. Adam é totalmente o oposto. Se você falar bora, ele vai.
Eu lembro quando eles nasceram. Meu pai tinha acabado de sair de casa, e ainda estava com raiva de mim. Kelly foi quem ligou para mim no dia, e mostrou os dois recém-nascidos.
Meu pai só não tomou iniciativa quanto a me contar que eu teria 2 irmãos por pura birra dele. Ele é adulto, deveria se comportar como um...
─ Tá bom criatura, solta o celular. – meu pai disse, pegando o aparelho da mão de meu irmão. – Oi Victor...
─ Oi pai... – eu respondi.
Queria sentir felicidade ao receber sua ligação, queria poder sentir o que eu sentia antes dos 7 anos, queria que ele fosse presente.
Sinto falta dele, mas não desse pai, e sim do meu pai de antigamente. Ele me entendia, me levava à casa mais distante da cidade quando eu estava triste, me levava para tomar sorvete depois da escola, e sempre cuidou muito bem da minha mãe.
Eu lembro quando eu comecei a namorar com a Suellen. Esse começo não era muito bem um namoro, era mais um rolo mesmo. Perguntei a ele como fazer, o que fazer, já que eu gostava muito dela. Ele nem ouviu, muito menos se importou.
Com Bárbara, esse sentimento foi ainda pior. Era uma coisa inexplicável, queria estar perto o tempo todo, queria ela para mim. Cheguei a quase apertar o botão de chamada de voz no contato do meu pai, só para poder falar de homem para homem o que eu estava sentindo, e também o quanto ela era incrível.
Eu não tive isso. Aprendi a conversar com as garotas que eu gostava na marra, dando com a cara no muro. Aprendi a ser o homem que meu pai deixou de ser. Aprendi a cuidar da minha mãe e da minha família, aprendi a como tratar uma namorada e como cuidar dela, aprendi a trocar lâmpadas, concertar o carro, cortar a grama...
Mas, o que tudo isso adianta, sendo que tudo o que eu queria, era que meu pai tivesse me ensinado a ser assim?
Era tão difícil? Eu era tão idiota assim?
─ É essa semana aquela viagem que você vai fazer com a Bruna, né? – ele diz.
─ Bárbara pai, Bárbara. – eu disse.
─ Isso, Bárbara... – ele respondeu.
─ Sim, é essa semana. – eu respondi à sua pergunta.
─ Vai leva-la aonde? – ele perguntou.
─ No Toriba. – eu disse. – Aquele hotel que vocês me levavam quando eu era menor.
─ Ele é ótimo. – ele disse.
─ Sim, eu gosto muito de lá... – eu disse.
─ Por que escolheu ele? – ele perguntou.
─ É um lugar muito especial para mim, tenho boas memórias lá. E além de toda a estrutura e conforto que ele oferece... É perfeito para nós. – eu respondi.
─ Entendi. É, eu também gosto de lá, foi uma boa escolha.... – ele respondeu.
─ PPPAAAIIII, O ADAM DEIXOU OS TALHERES CAÍREM! – Anthony gritou, de longe.
─ Oh meu Deus, eu tenho que ir, tchau Victor. – ele respondeu, logo encerrando a chamada.
─ Tchau. – eu respondi.
"Pai" encerrou a ligação
10:30 minutos
Aquilo me irritava.
Eu estava me abrindo, contando para ele uma coisa muito íntima minha, e do meu relacionamento. Basta a porra de um talher cair, para que ele já me deixar de lado.
Foda-se. Não vou mendigar seu carinho, muito menos seu amor. Sempre foi assim, o que mudaria agora? E por que mudaria?
Saí de todos aqueles pensamentos com Bárbara se aproximando devagar, abrindo o cobertor, e logo se deitando por baixo dele.
Ela me encarou com aqueles olhos enormes e lindos que ela tinha. Me encarou como se quisesse me olhar para sempre.
─ Você está bem? – ela perguntou, passando levemente a mão pelo meu rosto.
─ Sim, sim. – eu respondi.
Bárbara deu um fraco sorriso, logo se aproximando um pouco mais e passando os braços por meu pescoço. Passei os meus por sua cintura, logo a abraçando.
─ Saudade de dormir agarrado com você. – eu disse, fechando os olhos e aproveitando aquela sensação maravilhosa.
Bárbara riu, se ajeitando no colchão e deitando ainda mais perto de mim. Escondi meu rosto em seu pescoço, sentindo seu cheiro, e deixando beijinhos em toda a sua pele.
─ Eu te amo, minha garota. – eu sussurrei perto do seu ouvido, logo sentindo um sorriso se formar em seus lábios.
─ Eu também te amo. – ela respondeu, sussurrando.
Aquela voz, aquele sussurro....
Às vezes eu pensava que tudo o que eu precisava era ela ali, comigo, sem mais ninguém. Sem pensamentos intrusivos sobre o meu pai, sem memórias me caçando, apenas eu, e a minha garota.
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Eu voltei, amém.
Esse capítulo é um dos melhores que eu já imaginei e escrevi.
Eu não tava preparada para o Adam invadir a fic 🤧
E eu também não estava preparada para Victor manhoso 🤧🤧
E MUITO MENOS PRA ESSA HISTÓRIA DO CHASE VIADO 🤧🤧🤧🤧🔫🔫🔫🔫🔫🔫
Vey, linda a história dele... Eu só queria que a Hannah estivesse viva...
Tiveram dó do Chase?
Esse último pedaço do cap, em que Babictor dorme junto ------------------------- 🦋🦋🦋🦋🦋🦋
Bom fadas, foi isso!
Amanhã é meu aniversário :)
Tô feliz :)
Até a próximaaaaa <33333