O Lado Mais Sombrio de Nova I...

By saraleao16

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"Uma cidade, cinco adolescentes, um assassinato. A elite nova-iorquina nunca se mostrou muito mais do que ape... More

DEDICATÓRIA
PRÓLOGO
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AVISO

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By saraleao16

Capítulo maiorzinho porque eu tenho estado, e vou continuar, bem inativa. 

Infelizmente, até as férias, eu não tenho previsão de postar com frequência, portanto entendam que estou tentando ao máximo escrever, mesmo que o mínimo para vocês. 

Gosto de estar, a pelo menos, dois ou três capítulo adiante do que vocês estão lendo; enquanto estão lendo o 31, já estou terminando de escrever o 34, e depois reviso mais uma vez o capítulo que postarei no dia, por esse motivo as postagens são lentas, porém de qualidade. 

Enfim, espero que aproveitem, esse está muito bom e acho que vão gostar, e até mesmo rir durante ele. Sinto muito pela demora, mas é assim que vai ter que ser, por causa da escola e tudo mais. É isso gente.

Com amor, Sara.





Aproximo-me agilmente, e, talvez, até mesmo, brutalmente, do buffet, pegando a primeira taça que não contivesse algo alcoólico, virando-a de uma vez e ingerindo o fluido como se tivesse ficado anos sem beber qualquer coisa. A bebida gelada descendo cortante pela minha garganta completamente seca, meus dentes sensibilizados pelo conteúdo gélido e uma pequena tose sendo causada pelo líquido que agora eu reconhecia como água com gás.

Certo, aquilo não foi, nem de perto, o suficiente para acalmar meus nervos que, no momento, estavam a flor da pele, deixando as palmas das minhas mãos suadas e a minha respiração descompassada. Tudo por causa dessa maldita missão.

-Uau, loirinha. Vai com calma.

Espio com um olhar de soslaio pelo meu ombro, reconhecendo imediatamente de quem era aquela voz que ressoava atrás de mim. Confesso que, o que acabou com seu disfarce foi o apelido, apelido que um dia eu tanto odiei, mas que agora acabou se tornando, estranhamente, familiar aos meus ouvidos.

Viro-me e dou de cara com aquele par de íris esmeraldas, reconhecíveis a quilômetros.

-O quê quer, Jacob? – Questiono, ainda segurando a taça que já estava vazia e não havia mudado o meu estado em, absolutamente, nenhum aspecto. Minha garganta continuava seca e meus lábios quase sem cor, a única coisa que disfarçava isso era o batom, que me dava uma tonalidade de uma pessoa saudável e em seu perfeito estado emocional, algo que, neste instante, eu não poderia me orgulhar de ser.

-Sempre tão hostil. – Morde o interior de sua bochechas esquerda. – Relaxe, Scott. – Fala, a ironia não sendo tão clara dessa vez, mas eu aposto que estava presente, em algum lugar.

-Era só isso?

-Só vim dizer que, se você quiser relaxar de verdade, uma água com gás não é a resposta.

-Eu não bebo álcool, Beaumont, se é o que estava insinuando. E eu não falaria com um assassino estando bêbada. Vê quão burro isso soa? Embriaguez te faz soltar as palavras antes mesmo que tenha pensado nelas. – Ressalto algo que, pelo menos para mim, estava mais claro do que água mineral cristalina sem gás.

-Acha mesmo que eu não sei? – O Beaumont é capaz de inverter a situação, fazendo com que fosse eu quem parecesse tola proferindo aquelas palavras, não ele por as ter insinuado, que foi como eu interpretei. – Se lembra que fui eu quem sugeriu que o alcoolizássemos para obter respostas? De qualquer forma, jamais diria para você beber algo. Sei que é inocente demais para tomar qualquer coisa mais forte que água com gás.

-Não sou tão inocente quanto você diz, Jacob. – Cruzo os braços, negando a afirmação que tanto me tirou do sério, chegando a até me distrair do porquê, primeiramente, estava falando com ele. – Posso não ter as experiências adolescentes normais e nojentas como ficar de ressaca ou vomitar no banheiro de uma festa, mas sei o que há mundo afora, sinto muito se decido não as usufruir. – Replico sua fala.

-Quer sair da defensiva? Isso te deixa vulnerável e eu sei que você consegue se sair melhor.

-E qual o problema, hum? Eu estou nervosa, estou preocupada, e, consequentemente, estou vulnerável, não sei o que aquele homem é capaz de fazer. – Aproximo-me para conseguir mostrar quão irritada eu estava e também para não ser ouvida por ninguém ao nosso redor. – Acho bom vocês terem um excelente plano de fuga caso dê tudo errado porque, eu posso até estar de corpo e alma nessa missão, mas não porei minha vida em risco, assim como eu sei que você não porá a sua. Faria o mesmo ou até pior caso estivesse em meu lugar. – Afasto meu cabelo do rosto, colocando-o atrás das orelhas, como se assim eu fosse encontrar um pouco mais de ar.

-Plano de fuga? – É a primeira vez que Jacob fala, inteiramente, sério nessa conversa, não aparentando ser nenhum tipo de brincadeira de mal gosto.

-Criaram um, não é? – Indago-o expressamente.

Ele junta os lábios, formando uma linha reta na região de sua boca, franzindo de leve o cenho e tirando as mãos dos bolsos da calça.

-Ah, não, não, não. Não me diga que não pensaram em nada. Por favor não me diga. – Massageio as têmporas, fechando meus olhos enquanto tento imaginar que isso não está realmente acontecendo, desejando ser tudo apenas um mal-entendido.

-Certo, eu não digo. – Ele da de ombros, ainda satirizando a situação.

-Oh, legal. – Sorrio de orelha a orelha para o garoto. – Eu vou morrer. Vou morrer, e é isso. Essa noite eu morro. Fantástico! – É visível o meu estado ofegante e cheio de pânico; meu peito subindo e descendo pela falta de oxigênio que me foi roubado assim que eu soube da inexistência de uma forma de escape. Como eles não pensaram que algo poderia dar completamente errado? Como?!

Por exemplo, sei lá... e se a droga de um assassino tentar me matar a sangue frio no meio de um corredor vazio e tenebroso, deixando meu corpo apodrecendo na escada de emergência durante dias até eu ser dada como desaparecida e, por fim, como morta. Na melhor das hipóteses.

-Ashley, você não pode surtar, não agora, me entendeu? – Jacob segura meus ombros, em seguida me guiando para longe do buffet, lugar em que havia o maior conglomerado de pessoas. – Quer fazer o favor de se recompor? – Praticamente ordena em voz firme e autoritária.

-É fácil falar, não é? – Viro-me enraivecida para ele, mas, vendo sua total falta de comoção, desisto de tentar fazê-lo ver o que eu sinto e penso sobre tudo isso. – Só me dá um minuto, tá legal? – Digo, me desvencilhando dele e andando em círculos naquele mesmo local.

-Céus Ashley, cadê aquela mulher que me socou, hein?

-Eu não tenho medo de você, é tranquilo ir contra alguém que você não se sente intimidada.

Tá, isso, talvez, não seja completamente verdade, mas era, pelo menos, parcialmente real, o que já ajudava o suficiente, e ele não sabia disso, o que era um enorme ponto positivo.

-E por que tem medo dele?

-Ah, por que você acha? Talvez por ele ser um assassino?! – Arregalo os olhos com sua pergunta estupida.

-E daí? Um assassino, mas um assassino burro e ingênuo ao ponto de ter sido pego por adolescentes. – É... – Ele confia em você. Use isso ao seu favor. Manipule a situação para que ela se torne favorável para você, ok? Sabe fazer isso. Já te vi fazer, e sei que vai ter de fazer de novo.

-Tá. Ok. Acho que consigo.

-Acha, não. Você precisa conseguir. Não é hora para covardia, loirinha.

-Eu não sou covarde. – Nego imediatamente.

-Então não haja como se fosse.

Embora suas palavras tenham me incomodado, profundamente, até que foram boas, era, estranhamente, o que eu precisava ouvir. A minha raiva precisava se transformar em sede de vingança, se transformar na Ashley estrategista e calculista, aquela que possui todos na palma de sua mão. Ela já tem Richard como um de seus fãs, se lembra de como ele fazia tudo por ela quando era criança simplesmente por ser adorável, ela conseguia fazer isso de novo.

-Se te fizer sentir mais segura, pegue isso. Provavelmente não precisará usar, está trabalhando com os melhores e estaremos por perto. – Jacob diz, ainda me encarando nos olhos, o que me faz ficar, por uns dois segundos, relativamente, confusa. – Mas, qualquer coisa, é só usar, sabe usar um canivete, não sabe? – Meus olhos vão de encontro a sua mão que está baixa para que ninguém visse a pequena arma branca que ele me entregava.

-Sei. – Respondo, ainda estática pela possibilidade de eu precisar usá-la.

-Uma coisa é saber usar, outra é ter coragem para o fazer. – Ele enfatiza.

-Eu consigo, Jacob.

-É melhor mesmo. – Ele mostra, silenciosamente, como abri-la de forma rápida para que eu não me perca caso tenha que fazer uso da faca de dois gumes. – Lembre-se, não acerte no pescoço ou no peito, você pode acabar o matando e isso vai dar um problema imenso, vão entrar na justiça e a repercussão vai ser gigantesca. De preferência, nos braços ou nas pernas, me ouviu? – Fala como se eu não fosse capaz de entender as instruções mais simples como esta.

-Sim. – Assinto, ainda encarando a lâmina não muito grande – quase do tamanho da palma da mão de alguém da minha idade – e, mesmo assim, não deixando de ser boa o suficiente para causar um bomestrago. – Por Deus, Jacob, por que carrega isso? _ Questiono-o, não segurando minha curiosidade.

-Me preparo para qualquer coisa, meu amor. – Fala como se não fosse algo estranho, e até suspeito. – E eu acho que agora você já pode ir. – Ele diz, olhando por cima do meu ombro e encarando alguém no meio da multidão.

-Ele está ali? – Pergunto, não tendo a coragem necessária para encará-lo ainda.

-Está. Eu já vou para o meu lugar, vim mais para te entregar isso. – Se refere ao canivete. – E nos avise quando estiver realmente agindo e em que lugar está, ok?

-Pode deixar. – Afirmo freneticamente.

-Não hesite em machucá-lo, se necessário. – Me alerta mais uma vez. – Caso não consiga, me imagine no lugar dele, sei que você sempre quis me esfaquear.

Rio por entre os dentes de forma abafada por sua fala. Eu realmente já havia pensado em diversas forma de... vocês sabem, fazê-lo sumir da face da Terra, portanto, eu não poderia discordar do que ele acabara de dizer

-Não hesitarei. – Sorrio de canto e ele faz o mesmo, quase que orgulhoso pela forma como eu voltei a agir, a minha personalidade voltando ao normal e deixando de ser aquela coelhinha assustada que não consegue andar sozinha.

-Nos vemos no local marcado. – Ele pisca em minha direção antes de voltar-se e seguir rumo a escadaria pela qual todos adentramos o salão de eventos.

Certo, eu confesso, estou começando a achar que Jacob pode ter sérios problemas de bipolaridade. Os sinais são evidentes, não há como discutir. Indubitável de acordo com a forma que nos tratamos.

Primeiro somos inimigos mortais, ele me odeia ao ponto de querer me fazer todo tipo de mal; em seguida nos tornamos parceiros, aliados, unidos com o proposito de cessar com as ameaças que assolam não somente nós dois, mas também nossas famílias e amigos; depois há esse sentimento de cumplicidade, onde procuramos nos ajudar e até mesmo somos amigáveis um com outros; em seguida ele meio que sente uma espécie estranha, bizarra e incompreensível de... desejo por mim? Onde quase me beija e por fim age como se nada tivesse acontecido, para que, agora, voltasse a agir como um amigo...? Céus, eu não entendo mais nada que está acontecendo. Já não consigo acompanhar a velocidade dos estados diferentes que estamos adquirindo a cada dia. Nunca sei como agiremos. É tudo tão imprevisível. Fora do meu controle. Isso me irrita, porém, de algum modo que eu desconheço, acaba me intrigando. O que é totalmente incomum. Não sou familiarizada, nem um pouco, com coisas assim tão abstratas e incertas. Evitei isso a minha vida toda. E é por isso que continuarei evitando. Não ficarei confusa por Jacob. Não será um Beaumont quem me desestabilizará.

"Eu: Já estou me aproximando do alvo, por favor, fiquem atentos e em posição.

Não tô a fim de morrer."

Envio a mensagem que escrevi durante o pequeno percurso até o centro do salão, de onde eu tinha um visão privilegiada de tudo e de todos. Rapidamente, percebo todos estarem on-line na espécie de bate-papo que Audrey, os meninos e eu havíamos criado – e quando digo que "havíamos criado", me refiro somente à Andrew – para nos comunicarmos em situações, literalmente, como esta.

"Jacob: Relaxa, loirinha. Já te disse, está trabalhando com os melhores."

"Audrey: E quando ele diz isso, quer dizer que você está trabalhando com A melhor."

"Andrew: Vocês, literalmente, não estariam aqui se não fosse por mim, contudo, acho que isso faz de mim O melhor."

"Nick: Querem parar de mandar mensagem? Eu não sei desligar as notificações do meu celular e a Ash precisa se concentrar para falar com a droga de um assassino."

"Eu: Obrigada, Nick. Me desejem sorte."

"Audrey: Quebra a perna!"

Rio através da tela.

"Jacob: Que droga, Audrey, quê isso?"

"Andrew: Por Deus... onde eu me meti?"

Nem eu sei, Andrew... Nem eu sei.

Suspiro, desligando o celular e tirando qualquer notificação que pudesse chegar. Não posso arriscar, de forma alguma.

Guardo-o na bolsa e encaro de frente o meu desafio. Não adiantaria desistir agora, e, além disso, eu não sou de recuar. Nunca fui e nunca serei. Sem contar, é claro, que a Ashley extremamente resoluta, segura de si e, levemente, arrogante, batia na porta e já era hora de deixá-la entrar.

Estava tudo pronto. Eu só precisava dar o primeiro passo. Simplesmente andar em direção ao assassino de uma das melhores e mais queridas pessoas que eu já conheci em toda a minha vida.

Um arrepio percorre toda a minha espinha ao colocar meu pé esquerdo na frente do direito, andando pouquíssimo centímetros em direção a ele, cada vez mais perto da morte e ainda mais longe do que eu antes julgava ser o "confortável". E é assim que a minha caminhada em direção a Richard White, o bastardo que matou Rose Stanford, se inicia e se prolonga.

Está noite poderia acabar de diversas formas. Com uma confissão, com um assassino algemado, com uma prisão, uma vitória, uma derrota, um novo assassinato. Ou talvez acabaríamos saindo com mais dúvidas e perguntas do que entramos. Quem sabe? E eu precisava estar disposta a tudo para alcançar meus objetivos.

Avisto o homem esguio, alto, mas não tão acima da média estadunidense, na faixa dos quarenta ou cinquenta, eu acho, seus cabelos grisalhos já davam cor a idade, revelando que as rugas que possuía não eram apenas por estresse, e as olheiras eram marcas dos anos. Ou também poderiam ser as marcas deixadas pela culpa e pelo remorso do assassinato de uma de suas melhores colegas de trabalho, a quem brutalmente e friamente matou e ainda teve a audácia de chorar em seu velório.

Iremos acabar de uma vez por todas com a farsa desse otário.

-Sr. White! – Finjo trombar com ele como uma pretensão para se iniciar uma conversa.

-Srta. Scott! Como está grande. – Ele exclama aperta minhas mãos de leve, sinal que teria me feito, até dias atrás, sentir carinho, mas que, agora, só me causava repulsa. – A senhorita nunca mais apareceu.

-É o senhor que está muito ocupado. – Brinco de volta, forçando o melhor sorriso possível. É necessário que eu use toda a minha boa-educação e simpatia que aprendi com o meu pai – um negociante nato – e com a minha própria experiência na sociedade cheia de magnatas e filantropos em que vivo. Acreditem, a sutileza, a graça, e uma boa lábia, conquistam tudo o que quiserem. O poder não vem só do conhecimento, nos dias de hoje, comunicação é poder.

-Oh, você sabe que para velhos amigos eu sempre tenho tempo. Quando quiser, passe e me dê um "oi" em meu escritório na gerência.

-Ah, falando nisso, me lembrei mesmo que, se eu não me engano, ontem eu havia visto algo no setor financeiro da gerência que eu achei particularmente estranho e precisava lhe avisar já que você é o chefe e tudo mais, e também porque eu não queria incomodar o meu pai. – A isca foi lançada.

-O quê a senhorita viu?

-Não é algo em si, mas é que eu reparei em algumas falhas que precisavam ser reparadas o quanto antes possível, para o bem do hotel.

-Que tipos de falhas? Poderia especificar, querida?

-Senhor, eu de verdade não sei explicar, não é muito do meu conhecimento. Olha, se quiser, eu posso te mostrar agora mesmo para que no início da semana já possam corrigi-las. – Forço o meu maior entusiasmo ao "encontrar" uma solução para o nosso problema.

-Acha que agora é o melhor horário, senhorita? Não quero ser rude e sair de um evento no qual eu represento grande parte dos funcionários e da gestação para fazer algo que outras pessoas podem ver como grosseria.

-Não se preocupe, Richard.

Dica importante, as pessoas amam ouvir o som do próprio nome saindo pelos lábios de qualquer outra pessoa.

-Tenho certeza de que não acharão, são coisas muito simples que o senhor terá apenas de anotar para que possamos resolvê-las. Não demoraremos mais que cinco minutinhos. – Acrescento rapidamente, procurado tirar todos os seus questionamentos, antes mesmo de serem feitos.

É óbvia a sua hesitação. Ele está travando uma espécie de batalha interna, um conflito onde precisa se decidir se aceita me acompanhar ou não na emboscada que preparamos para ele, mas que ele tem total inocência.

-Sendo assim, não tem como recusar. – Ele abre um sorriso acolhedor, mas eu vejo que por trás destes dentes branquíssimos e alinhados, a um nó em sua garganta que o está fazendo ficar, ligeiramente, ofegante, seu nervosismo é visível, e pequenas gotículas de suor já apareciam na região de suas têmporas.

-Perfeito. – Sorrio da forma mais ingênua e, até mesmo, infantil, que pude. Precisava que ele ainda me visse como aquela criança que ele tomou conta tantas vezes quando nem sequer era gerente e atuava apenas como um garçom que fazia uns "bicos" ao olhar a filha de seu chefe. Antes de se tornar um assassino. Se ele me visse dessa forma, criaria um apelo emocional, seu lado sentimentalista falaria mais alto, e, em qualquer hipótese negativa, haveria menos chances de ele tentar causar qualquer dano a minha vida tendo uma ligação afetiva.

Ele pede licença as pessoas que estavam na mesma roda de conversa que ele antes estivera, e me segue para o lugar de encontro, o lugar onde a cilada perfeita estaria a sua espera.

Aproveito que estou caminhando um pouco mais a frente dele, e mando uma mensagem em nosso servidor para saberem que estou vindo, torcendo para que se preparassem da melhor forma e permanecessem em constante alerta a partir do momento que eu adentrasse a sala.

-É por aqui, Richard. – Aviso, olhando para trás por alguns segundos, certificando-me que ele continuava me seguindo e que ainda caia na farsa. Pelo visto sim. – Como o senhor e a sua esposa estão? Faz tempos que eu não a vejo. – Comento, procurando manter uma conversa bem-humorada e afastar qualquer pensamento sombrio que ele possa estar tendo, redirecionando para algo que ele, aparentemente, se importa.

-Ela está muito bem, obrigado por perguntar.

-Fico feliz, e Jeremy? – Questiono, relembrando-me de seu filho de oito anos.

-Está cada vez maior. Aposto que não o reconheceria se o visse agora.

-Acho que não, a última vez que o vi ele tinha quantos anos? Uns cinco, seis?

-Acredito que sim. – Ele sorri. – Lembro-me que você tinha quase essa idade quando a conheci.

-Caramba, sim! Como o tempo passa rápido. Tipo, eu me recordo perfeitamente da gente brincando de esconde-esconde no hall. Me desculpe por todo o trabalho que eu dei para o senhor quando criança. – Sorrio, uma pontada de dor sendo direcionada a minha mente ao mencionar uma fase tão maravilhosa, tão pura..., mas que agora havia acabado.

-A senhorita nunca deu trabalho. Sempre foi muito educada, e de resto, não se preocupe, crianças foram feitas para brincar e não se preocupar com as consequências.

-Então eu diria que eu aproveitei muito bem a minha infância.

-Pelo o que eu acompanhei, sim, aproveitou. A senhorita era uma criança tão ingênua, inocente... genuinamente pura. – Fala em tom nostálgico. – E está se tornando uma mulher muito inteligente e astuta, assim o seu pai.

-Obrigada, senhor. – Agradeço-o, levemente desconfortável, mas tranquilizada com a visão da porta que precisávamos entrar bem a minha frente.

-De fato se tornou alguém esperta... – Ele continua, o que me faz forçar um sorriso ao encarar sua face, um dia tão familiar, mas agora amedrontadora. – Porém, acredito que tenha muito a aprender.

-Concordo plenamente, mas, pelo menos, é com os nossos erros que se aprende, não é mesmo? – Tento continuar aquela conversa de uma forma descontraída, da mesma forma como eu continuaria caso não soubesse de tudo o que o monstro ao meu lado fez.

-De fato, Ashley, nossos erros podem nos ajudar, mas eles geram consequências.

-Aonde o senhor quer chegar com isso? – Não consigo esconder a sobrancelha franzida e a expressão de alguém que sabe as segundas, e até as terceiras, interpretações que uma única frase pode possuir.

-Acho que sabe muito bem. – Seu sorriso deixa de ser apenas um gesto de gentileza para algo que se mistura entre loucura e maquinações cruéis.

Droga.

Só continue Ashley, só continue. Você ainda não perdeu o controle.

-Não, senhor, não sei. – Procuro, disfarçadamente apertar o passo. Se estiver dentro da sala, os meus riscos serão bem menores, embora eu consiga me proteger com o canivete... o canivete! Céus, eu ainda estou com ele! Por que eu ainda não o peguei e fiquei pronta para qualquer suposto ataque?

-Como eu disse, Ashley. – Meu nome soa repulsivo pelos lábios desse covarde. – Você é esperta, mas ainda tem muito o que aprender. Como por exemplo, já devia saber que esse canivete que segura não irá me ferir. – Maldição, eu tô ferrada. – E que, alguém como eu, sempre tem um plano B, um plano C, e por aí vai. – Suas palavras são tão afiadas quanto a melhor navalha, e causam tanto medo quanto uma bomba.

Vamos, Ashley, você consegue fazer isso. Que se dane o que esse vagabundo diz.

É isso, ele só diz, ele não faz.

-Ainda não acredita em mim? – Acho que ele percebeu meu peito estufando e minha posição ereta, suponho que ele esperava uma reação de maior pavor e pânico.

Continuo impassível diante de seu olhar sátiro. Negando-me a recuar um passo sequer.

-E agora? – Ele abre o único botão de seu paletó e mostra o que estava preso em sua cintura. – Acredita em mim, hum? – O objeto preto mortal estava delicadamente posto em um coldre preso em sua cintura.

E desse modo, assim tão rápido, em um piscar de olhos, minha face muda completamente. Aquela coragem toda se esvaindo em um estalar de dedos.

Talvez eu não consiga...

-Senhor, o quê...? – As palavras mal saem pelos meus lábios, ainda presas em nó feito na minha garganta.

-Sabe reconhecer uma arma de fogo, não sabe? – Ele da um passo em minha frente, o que me faz dar outro para trás. – Eu sei de tudo, Ashley. Por que acha que precisei apagar vocês no outro dia? – Então foi ele...? – E mesmo assim. – Ele ri histericamente, feito um completo louco. – Mesmo assim conseguiram me descobrir. Eu soube então que estariam se movimentando hoje a noite. Desde o início do evento eu sabia, eu só precisava esperar o momento em que você e os seus amiguinhos agiriam. – Mais um passo em minha direção e eu finalmente sinto a porta de madeira tocar as minhas costas no momento que eu tento recuar.

Ufa. Graças a Deus.

A porta para a sala seria a minha saída e salvação. Se eu encontrasse os outros, talvez poderíamos resolver isso. Eles poderiam ligar pra polícia, ou simplesmente me tirar da mira desse lunático. Eu só não queria morrer.

-Eu sei que vocês planejaram uma armadilha para mim, uma confissão, não é? Sei que descobriram que eu assassinei Rose. Sei que Jacob e Audrey estão envolvidos, sem contar com um garoto Thompson e Nick Willians. – O pavor vai aumentando com cada revelação e afirmação, cada vez mais e mais.

Como ele pode saber de todos eles? Como pode saber os nomes? Fomos assim tão burros, tão inexperientes e iludidos?

-E tenho total ciência de que você está no comando dessa várzea toda. Você e o Beaumont, estou errado? – Meus olhos se arregalam e colocaram da minha pele se esvai, estupefata demais com as informações que ele profere, informações que ninguém sabe além de Jacob e eu. Jacob já disse que não contou para ninguém, e eu quero acreditar nele, embora eu saiba que ele não é confiável ou leal, e bem, eu sei que eu não contei para ninguém, portanto...

-E o quê espera de mim falando essas coisas? – Questiono, segurando com força a maçaneta da porta que, no momento, é a minha única esperança.

-Eu espero que você tenha noção do quão a frente eu estou. Não adianta vocês tentarem, jamais conseguirão, entendem? Jamais! – Ao ouvir seu grito autoritário, viro o meu rosto, mordendo o lábio inferior, e deixando deveras aparente quão assustada eu estou. – Agora, eu quero que você abra essa porta e me guie até a suposta armadilha que programaram. Fingiremos que essa conversa não aconteceu e eu fingirei cair na armadilha, e depois, eu matarei Jacob e você, e talvez seus amigos possam ser efeitos colaterais.

Minha boca permanece entreaberta, o pânico invadindo cada célula, cada nervo, a palidez tomando conta de minha face assim como a morte eminente fará. Sinto como se minhas pernas pudessem falhar a qualquer momento, e as minhas mãos tremulas revelam ainda mais o meu estado de espírito.

-Fará tudo como eu pedi?

Não respondo a sua pergunta, pergunta que mais soou como uma ordem misturada de uma ameaça.

Não quero dizer sim, não posso dizer sim. Eles são inocentes, eu sou inocente. Não fizemos nada. Não podemos morrer. Não queremos morrer. Eu não quero! Que droga. O quê eu faço? O quê eu faço?

Por Deus, que droga eu devo fazer?

Serei eu a culpada pela morte de todo que eu amo?

Talvez o problema não estivesse no destino, no universo, e sim em mim. É só alguém cruzar o meu caminho que acaba morta. O problema sou eu. Minha mãe morreu por causa de mim; Rose me conheceu, dois anos depois, morta; meus avós nos recebiam todos os anos nas férias de verão, justamente quando eu fui sem meus pais, o que acontece? Os dois morrem. Um débil mental começa a nos ameaçar, eu coloco um monte de pessoas – pessoas que eu amo – no meio, e agora o quê? A droga de um assassino ameaça matar todos eles, incluindo a mim.

Seria esse o destino de todos que se aproximassem demais?

Eu viveria assim para sempre?

-Precisa de um incentivo, Ashley? Certo. Te darei um incentivo. – Ele aponta a arma para a minha testa.

Sinto uma lágrima quente e solitária escorrendo pela minha bochecha esquerda. Meus lábios tremem um contra o outro, minha visão está embaçada, e a minha voz embargada demais para que eu tenha condições de respondê-lo.

Cinco adolescentes mortos ou apenas um?

O quê é melhor?

Eu, ou todos nós?

Eu sei exatamente o que fazer.

Giro os meus calcanhares, virando-me em direção a porta de madeira que selaria o meu fim, ou início...

-Não pense em fazer nenhuma gracinha. – Sinto a ponta da arma na minha lombar, descompassando a minha respiração e deixando-me ofegante.

Está tudo bem, Ashley.

-Chame-os. – Richard sussurra em meu ouvido, causando arrepios amedrontados.

-Gente, pode vir. – Aviso em alto e bom tom, esperando que todos escutassem e atendessem ao pedido que, mesmo eles não sabendo, soava como uma súplica para mim.

Ao escutar uma movimentação, noto que era hora de agir.

Eu disse a Jacob que quando o momento chegasse, não sentiria medo, não hesitaria, jamais recuaria.

-Ele está armado! Tá armado! – Grito, em seguida.

Eu reagi.

Senti, contudo, milissegundos depois, alguém apertar o meu braço da forma mais bruta e rude já conhecida, repreendendo a minha ação no mesmo instante e me fazendo compreender a consequência de meus atos. Aquele momento parecia passar em câmera lenta, já que, logo, na maior velocidade que conseguiria, consigo, enfim, cravar o canivete dado por Jacob na coxa do homem que se tornou um monstro irreconhecível. Tirando dele um grito dolorido, mas que soou como a mais bela sinfonia harmoniosa, uma prazer obscuro latejando pelas minhas veias, e até gostando da dor que causei a Richard White, um assassino psicopata que vai ser compensado por tudo o que fez.

Por Deus, eu esfaqueei uma pessoa!

Céus, o quê eu fiz? Eu posso ser presa. Presa!

Eu nunca, em realidade alguma, nem mesmo na hipótese mais inimaginável, pensei que faria algo assim, e, bem, cá estou eu, encarando o sangue que havia se fixado em minhas mãos pelo corte provocado por mim mesma.

Quem é essa Ashley e o que ela fez com a garota que eu conhecia?

Mesmo com a dor que, eu aposto ser, sufocante e aterrorizante. Richard, de algum modo, consegue se manter em pé mais uma vez, como se tivesse sugado toda aquela dor e, a partir de agora, estivesse saboreando-a.

Esse homem é louco!

A arma, ainda em suas mãos, é levada até diante de meus olhos, tendo o bico dela diretamente apontado no meio de minha testa.

-Como ousa, sua vadia?! Achou mesmo que podia me vencer no meu próprio jogo? – Ele grita, as mãos tremulas enquanto seguram o gatilho da arma que está, literalmente, decidindo o meu destino. Se ele ao menos parasse de tremer esses dedos duvidosos, eu não estaria com tanto medo de ele acabar puxando o gatilho e eu acabar morta e ensanguentada no chão de um depósito do meu próprio hotel. – Vocês todos. – Ele grita sem direção, olhando para todos os lados de forma frenética. – Saiam já das sombras! – Nada acontece. – Vai ser assim, então? Querem do jeito difícil, huh? – Ele ri histericamente, algo que está entre o que é perverso e o que é insano. Quando sinto seu braço indo de encontro com o meu pescoço, percebo o que ele fará.

Perfeito, agora eu sou a moeda de troca.

-É melhor você saírem antes que eu atire nela. Acho que não querem uma bala perfurada no meio desses olhinhos tão brilhantes. – Praticamente berra contra o meu ouvido, apertando ainda mais o seu braço contra as minhas vias respiratórias e me fazendo tossir pela falta de ar que tanto procuro enquanto me debato sobre seus braços, sua raiva transparecendo sem qualquer temor.

Como eu disse para Jacob minutos atrás, eu vou morrer, fantástico!

A este ponto, era impossível segurar as gotículas de água que escorriam pelos meus olhos diante do terrível fim que esta "reunião" poderia encontrar.

-Estamos aqui. Estamos aqui. – Nick fala com tranquilidade, seu cabelo loiro desgrenhado surgindo das sombras e se revelando logo a frente de Jacob e Andrew, que permanecem impassíveis atrás dele. Suas mãos levantadas acima da cabeça mostram sua "rendição".

Não é possível que agora eles irão desistir. Depois de tudo o que eu fiz. Será que não perceberam que eu sabia das consequências de meus atos e mesmo assim decidi agir contando que eles se apegariam a essa chance e acabariam com essa história de uma vez por todas?
-Faremos o que quiser. – Ele diz e então, vejo-me procurando pela minha melhor amiga que ainda não deu as caras.

Se eu fosse morrer, gostaria de ao menos me despedir dela. Ou talvez, seja melhor que ela não veja tudo isso e esteja em algum outro lugar escondida, bem e a salvo. Jamais deixaria que, por minha culpa, ela saísse ferida de algo.

-Mas você precisa soltá-la. – Nick conclui.

Ele estava realmente barganhando a minha vida? Bem, não irei reclamar.

Apesar de meu rosto estar inexpressivo, as lágrimas que caem e gelam as minhas bochechas, são incontroláveis. Eu só queria que isso tudo desse certo e no fim desta noite eu pudesse dormir em minha cama, viva.

-Richard, você sabe quem somos, sabe que somos ricos, influentes, poderosos. Conseguiremos tudo o que quiser, dinheiro, estabilidade, alto-cargo, educação para o seu filho, proteção... – É a vez de Jacob tentar negociar, tomando a frente de Nick e trocando de lugar com o mesmo.

-Acham que eu quero algo? – Ele mais uma vez aperta sua pegada em meu pescoço, deixando-me nas pontas dos pés ao procurar por oxigênio. – Na verdade, eu quero algo sim.

-É só dizer, eu consigo te dar. – Jacob concorda, se aproximando lentamente de onde estávamos, criando uma distância um pouco menor entre a vida e a morte.

-Eu quero a Ashley morta. – Ele diz, e, mesmo que eu não consiga o ver, sei que deve estar sorrindo da forma cínica como o lunático que é.

-A gente podia reconsiderar os termos, não acha? – Jacob sugere, ou melhor, demanda, sua voz inabalável e sua expressão pacífica apesar do pavor que corria pelos meus olhos e eu o tentava transmitir.

-Reconsiderar? Reconsiderar?! – Richard exclama em completa incredulidade. – Puxa... eu só queria duas coisas, e uma você já me negou?

-Diz a outra, talvez haja um acordo. – O garoto dos olhos de esmeralda da de ombros como se estivesse fazendo um simples acordo de quem leva mais laranjas em uma feira cheia de promoções.

Olá?! Vocês estão discutindo sobre a minha vida!

-O quê acha de fazermos uma troca, hum? A sua vida pela dela... – Senhor White se pronuncia, colocando todas as apostas na mesa e esperando, com um olhar travesso, a resposta de Jacob.

-Oferta melhor. O quê acha de pararmos de colocar vidas no meio do negócio, hum?

-Ah..., mas aí perde graça, menino Beaumont.

Ótimo.

Eu morrerei hoje.

Jacob jamais – e quando eu digo "jamais", eu não estou fazendo mal uso – daria a sua vida pela de alguém, nem mesmo se fosse a pessoa que ele mais ama em todo esse mundo.

-Negócio fechado? – Richard afrouxa sua mão em mim e estende para Jacob.

-É, não vai rolar.

-Vai mesmo condenar a pobre moça a morte? Assim como uma ovelha para o abatedouro?

-Ideia melhor. – O moreno retruca.

-Não, eu tenho uma ideia melhor. – Richard mais uma vez pressiona a arma contra a minha têmpora direita e me enforca com seu braço esquerdo.

Sinceramente, já não sei se morrerei por um tiro ou por asfixia.

-Se vai me matar, mata logo, já deu de gracinhas. – Consigo dizer, as palavras entrecortadas e seguras pelas minhas cordas vocais que eram amassadas por esse brutamonte maldito.

Antes que ele possa replicar qualquer outra ofensa, e provável insulto, o barulho de algum vidro quebrando ecoa por todo o ambiente, atraindo nossa atenção e fazendo com que a mão que rodeava o meu pescoço se soltasse e desprendesse do meu corpo trêmulo e amedrontado. Mesmo que eu não quisesse demonstrar, e mesmo que eu tentasse me distrair o máximo possível com o humor sádico que aquela vozinha na minha cabeça conseguia criar, era inviável não sentir medo ou temer pelo meu futuro.

Uma outra mão desconhecida, segura o meu pulso com firmeza e me puxa com rigidez para a sua direção, afastando-me de Richard ao mesmo tempo que me fazia perder o equilíbrio pela rapidez e força do ato que pode ter salvado a minha vida, forçando-me a me encolher e fechar os olhos, receosa pela impreterível queda, e, permanecendo naquela posição por mais de cinco segundos, checando se realmente não tinha caído e batido com a cabeça.

-Eu não caí. – Concluo, abrindo um dos meus olhos e verificando o ambiente ao meu redor. – E nem morri. – Diga ainda mais perplexa.

-Eu disse que éramos os melhores. – Uma voz ressoa em meu ouvido, formigando o local próxima a minha orelha sentia por causa da respiração calorosa.

-Jacob... – Sussurro vendo que era ele quem havia me segurado daquela queda.

-De nada. – Diz em meio a um sorriso torto convencido.

-Sabe que quase me matou, não sabe?

-Quanto drama, loirinha. "Quase" é uma palavra muito forte. Eu tinha, eu tenho, tudo sob controle, meu amor.

-Ah sim, sim, foi super notável o seu controle, principalmente durante os minutos em que você barganhou a minha vida. – A raiva expele por entre as minhas palavras, tomando consciência total pela primeira vez do que ele havia feito.

-Primeiro, você me deve uma já que foi somente por causa das minhas incríveis técnicas de negociação que você está viva.

-O qu-.

-Caladinha. – Ele me corta antes mesmo de eu soltar uma palavra sequer. – Segundo, foi sensacional a emoção de barganhar sua vida. Tecnicamente, agora ela me pertence, já que eu a tirei da morte.

-Que raios você está falando, Beaumont? – Franzo as sobrancelhas indignada e confusa.

-Sinto muito, Scott. – O moreno me oferece um meio sorriso cínico. – Você fez um acordo com o diabo.

-Cala a boca, você é pior que ele. – Bato em seu ombro e percebo que ele ainda rodeia seus braços por mim desde o momento que me livrou da minha queda.

Um silencio estranho paira sobre o ar, ambos tendo reconhecimento da posição comprometedora que nos encontrávamos, principalmente devido aos últimos acontecimentos.

-Fui eu quem me salvei, ok? – Me desvencilho dele durante a minha fala, fazendo com que parecesse inconsciente. – Primeiramente, fui eu quem avisei sobra a emboscada que ele fez durante a nossa emboscada. Segundamente, fui eu quem arrisquei a minha vida, ou seja, eu salvei a de todos vocês. E, terceiramente, eu ainda consegui enfiar um canivete na perna daquele canalha. – Listo todos os meus feitos que nos levaram a este instante. – Céus, eu cravei uma faca em alguém! – A ficha cai ao pronunciar em voz altas palavras que eu jamais imaginei falar.

-Pra tudo sempre tem a primeira vez, não? – Uma terceira vez se junta a conversa logo atrás de mim.

-Audrey! – Me viro e vejo a minha melhor amiga, sã e salva. – Graças a Deus está bem. – A abraço sem me preocupar com o fato de a garota a minha frente não gostar tanto de toque físico.

-Claro que eu estou bem, fui eu quem estourei essa garrafa na cabeça desse filho da mãe. – Ela mostra o restante da garrafa de vidro que continuava sendo segurada pela mesma.

-Ah, meu Deus! Foi você?!

-Quem achou que tinha sido? Um fantasma? – Ela satiriza, até mesmo em uma situação como esta. – Bem, como eu disse, para tudo tem uma primeira vez. E, eu admito, essa primeira vez foi bastante prazerosa.

-Mas não queremos repetir isso de novo. – A relembro, esperando nunca mais entrar em um momento tão tenso e incerto como o qual acabei de experimentar.

-Talvez só mais uma vez...

-Audrey!

-Qual é? Eu só quero quebrar uma garrafa na cabeça de alguém de novo.

-Como se uma vez já não fosse o suficiente.

-Claro que não é. Além de que eu te salvei, portanto, você tem sim que ceder.

-Eu tenho que admitir, foi brilhante a sua ideia. – Andrew reconhece, mesmo que precisasse deixar seu orgulho de lado por três segundos.

-Sinceramente, por um minuto eu achei que não sairíamos dessa. Pensei de verdade que poderíamos te perder, Ash. Mas daí eu vi a Audrey se aproximando atrás de vocês e uma nova esperança surgiu. – Nick diz sereno, sendo honesto quanto a sua descrença que conseguiriam me salvar, e todos acabamos concordando com o loiro, nem mesmo eu acreditava que sairia com vida daqui.

-Que bom que eu não sai do meu esconderijo, não? – Ela sorri marota para Nick.

-E que bom que eu tenho você para confiar, porque se dependesse deles, eu estaria a sete palmos debaixo da terra. – Falo em tom irritado para os garotos que não tiveram a decência de criar um plano B caso tudo desse errado.

-No meu turno, você não morre. Já no deles... aí eu já não sei.

-Já deu de nos humilhar, não é? Eu até tentei conversar com o White. – Nick argumenta.

-Ok, você pode entrar para o nosso time. – Audrey, surpreendente, diz, fazendo com que ele ficasse alinhado ao nosso lado e passasse um braço por cima dos ombros de Audrey.

Por Deus, ela não recuou... nem um pouquinho!

Não fez qualquer expressão de desgosto, não tentou sair e nem quebrou o seu braço, o que é, no mínimo, impressionante. Ela simplesmente aceitou.

Audrey nunca foi tão carinhosa com alguém.

Quem é essa e o que aconteceu com a minha melhor amiga?

Ah, verdade, essa não é ela, essa é a Audrey apaixonada, uma flecha do cupido encravada de forma perfeitamente alinhada no centro mais profundo de seu coração.

-Sabe, não querendo estragar esse clima "Terceira Guerra Mundial" de vocês contra a equipe vencedora, mas... – Andrew nos interrompe. – O quê faremos com isso? – Ele segura a arma por seu cano, mantendo-a o mais afastado possível de seu corpo.

-Me dá aqui. – Jacob pede e todos o encaramos, desconfiados e suspeitosos. – Eu não vou sair atirando.

-Promete? – Andrew confirma, sua sobrancelha arqueada.

-Também quer fazer promessa de dedinho? – Jacob zomba, irônico.

-Se for necessário... – O morena franze os lábios, não descartando a possibilidade.

-Só me dá, Thompson. – Jacob, praticamente, toma das mãos do colega a arma de fogo, para que, em seguida, a abrisse e mexesse de forma estranha e que me deixou, ligeiramente, perdida. Ele aperta alguma coisa perto do gatilho e depois todas as balas começam a cair no chão. – Prontinho, essa arma é inútil agora que não tem balas. – Entrega de volta para Andrew.

-Onde aprendeu a manusear tão bem uma arma, Beaumont? – Audrey lhe indaga, curiosa.

-Sei mexer em uma arma desde os doze anos, Leblanc. – Afirma fazendo com que eu ficasse, levemente, chocada por tal revelação.

-Tá, mas a pergunta prevalece: o quê faremos com ela? – Andrew trás de volta o questionamento, porém, ninguém ousa abrir a boca. – Bom, a primeira opção é entregar para a polícia, o que é bem burro, já que teríamos que explicar de onde surgiu essa arma, e teria um problemão com a burocracia do porte de armas e de quem é, e, por sermos menores de idade, chamariam nossos pais, o que também seria vergonhoso e patético.

-Então, não, nada de polícia. – Nick diz, em suma.

-Basicamente. – Andrew encolhe os ombros, indiferente.

-E se nos livrássemos dela? – Audrey sugere. – Tipo jogando no mar?

-Isso é mais inteligente. – Concordo com ela.

-Ou poderíamos simplesmente ficar com ela? – Jacob toma voz.

-O quê? – Todos dizemos em uníssono.

-Fora de questão, Jacob.

-Pensa só, Andrew, com uma arma poderíamos nos defender em situações exatamente assim se ocorressem de novo, afinal, como vimos, essa missão está ficando cada vez mais perigosa e precisamos estar prontos.

-Imprevisível demais, não sabemos se faremos de novo, e é muito perigoso termos uma arma, e se alguém descobrir?

-Então a gente joga no mar. – Eu me oponho a ideia absurda de Jacob, faz sentido, por um lado, mas há muito mais contras do que prós.

-Acho que devemos ficar. – Nick replica.

-Isso não é um cachorrinho, não é como se pudéssemos decidir se ficaremos ou não com essa coisa... mortal. – Ele exclama apontando para o objeto. – Céus..., se a polícia, ou qualquer um em sã consciência, soubesse de tudo o que já fizemos, seríamos mandados para um reformatório juvenil, ou um manicômio, sabem disso, não? – Ele debocha da situação e ri falsamente do dilema em que nos encontrávamos.

-Andrew, pensa, olha o que acabou de acontecer, e se tivéssemos uma arma, as coisas poderiam ter sido bem diferentes, não acha?

-Quer saber? Eu cansei. Cansei. Não vou mais discutir com pessoas ignorantes e que não aceitam minha opiniões geniais. – Andrew perde a única gosta de paciência que ainda lhe restava. – Façam o que quiserem. Não irei mais opinar. Fiquem com a droga dessa arma também. Eu sou o único responsável e ciente das consequências, portanto, no final, serei eu quem direi "eu avisei". – O moreno bufa e cruza os braços revoltado com as opiniões alheias.

-Eu também sou responsável, ok? Eu também não quero essa arma. – Me defendo para Andrew.

-É... – Ele franze os lábios. – Mais ou menos. Depende do momento. – Fala altivo, fazendo com que eu o encarasse boquiaberta e abismada antes de revirar os olhos e virar-me para o outro lado, observando Nick, Jacob e Audrey que continuavam na discussão de ficar ou não ficar com aquela arma.

Nunca pensei que um objeto desses seria o motivo de tanta discórdia.

-Então a gente fica? – Jacob indaga e eu acho que nunca o vi tão animado, realmente parecia que estávamos falando sobre alguma animalzinho de estimação.

-Por que, ao invés de ficarmos brigando por essa coisa, não amarramos esse cara que vai acordar daqui a pouco e acabamos com tudo isso de uma vez por todas? – Audrey, de forma mui sensata, sugere. – Depois vocês podem voltar a discutir para saber com quem ficará a arma. – E assim, voltamos ao foco do que viemos, primeiramente, fazer aqui.

-Tem alguma corda por aqui, ou uma fita, algo que possamos prende-lo? – Nick pergunta a mim, movendo seu pescoço em minha direção.

-Sim, acho que naqueles armários deve haver. – Respondo indicando os armários citados.

Jacob e Andrew arrastam o homem até uma espécie de pilar que servia como suporte do aquecedor e que agora seria usado, pelo o que pude observar, como algo para segurar esse lunático que, literalmente, apagamos, mas sabem como é, não? Olho por olho, dente por dente. Agora sabemos, oficialmente, que foi ele quem nos apagou naquele dia, em uma sala não muito distante da que nos encontramos neste instante.

-Jacob. – Nick chama a atenção do amigo e, uma vez que vê que o Beaumont o encara procurando saber o porquê de ter sido chamado, ele joga em sua direção a fita isolante que serviria muito bem para prender o homem inconsciente.

Céus, em que universo eu teria imaginado que um dia usaria esse vocabulário. Soo como uma psicopata!

Audrey e eu nos escoramos em uma parede enquanto somente observamos o trabalho mais "pesado" dos garotos, dando-nos o luxo de não ter que tocar no assassino que foi posto sentado, desacordado, com as mãos presas atrás do pilar e a cabeça tombada para a frente.

-Precisaremos esperar até ele acordar. – Andrew diz cruzando os braços e caminhando em nossa direção.

-Audrey, quão forte bateu nele? – Nick questiona comprimindo os lábios e intercalando o olhar entre a morena e o Sr. White.

-Bem, eu quebrei aquela garrafa, então foi um pouquinho forte. – Ela gesticula com os dedos. – Só queria apagá-lo. – Ela encolhe os ombros, insensível quanto ao fato de tal ato que, na minha opinião, foi sensacional, mas arriscado.

-Vamos acelerar esse processo? – Indago-os, impaciente.

-Como quiser. – Nick da de ombros, deixando-me a vontade.

Como eu disse, estávamos em uma espécie de deposito, onde havia um pouquinho de tudo, desde ferramentas e coisas como fitas isolantes, até carregamentos de comidas e bebidas para o restaurante do hotel, foi assim que Audrey conseguia a garrafa de vidro e foi assim que eu também encontrei exatamente o que eu precisava.

Abro o pequeno, mas eficiente, objeto que havia pegado em uma das caixas de papelão, e jogo todo o líquido que continha ali dentro no rosto de Richard.

O homem, imediatamente, reage a água e a possível tentativa de afogamento, tossindo e piscando para afastar a água dos pontos que o irritavam.

-O-o quê...? – Ele se engasga novamente e tosse com severidade, afastando a água de sua goela. – Onde... vocês... o quê eu...? – Richard permanece desnorteado por alguns segundos, encarando freneticamente todo o ambiente a sua volta e sentindo pela primeira vez as amarras que prendiam seus braços. – Por quê...? – Seu olhar encontra-se com o nosso, tendo ciência completa do que estava acontecendo. – O que fizeram comigo, suas pestes?!

-Te prendemos, bobinho. – Audrey debocha em meio a um sorriso cínico.

-O que querem? Me soltem, agora! – Ele se debate no mesmo lugar, não sendo capaz de mover muito mais que suas pernas, permanecendo, ali, no chão, abaixo de nós, inferior a nós, assim como qualquer trouxa lunático deveria ser tratado.

-Só queremos saber de algumas coisas. – Move-me um pouco mais em sua direção, obviamente não tão próxima, jamais arriscaria a minha segurança, muito menos quando se trata dele.

-Nós perguntamos, você responde, nós não te machucamos e da tudo certo. Todos saímos felizes. – Nick fala autoritário escorado em uma prateleira, de certo modo, arrogante enquanto encara o homem que tanto nos deu trabalho e atrapalhou a nossa vida.

Nick, embora fosse uma pessoa doce e gentil, conseguiria, em qualquer instante, se transformar em um homem firme e intimidante, claro que era estranho para quem o conhecia, afinal, temos a recordação da pessoa com o melhor humor e mais descontraído, não do "policial mal".

-Acham mesmo que um bando de... crianças. – Ele cospe as palavras em repulsa, franzindo os lábios e nos encarando como se não fossemos merecedores do oxigênio que inspirávamos. – Vão conseguir me intimidar. Por favor, eu já vivi muito mais do que vocês imaginam. – White caçoa de nós, rindo abafado por entre os dentes.

Jacob então, toma atitude em relação ao comportamento do homem, impaciente com a ingenuidade dele ao se tratar de nós, adolescentes que já fizeram muito, muito mais mesmo, que qualquer pessoa, jovem ou velho.

Beaumont aproxima-se dele, as mãos em seus bolsos frontais e um sorriso desafiador surgindo em seus lábios. O garoto se volta para nós quatro uma última vez, seu olhar pedindo por um único mínimo sinal para que pudesse agir da forma como bem entendesse. Como nenhum deles expressava coisa alguma, eu mesma assinto para Jacob, sorrindo sorrateira para o mesmo, entendendo que teríamos que partir para outro tipo de conversa já que Richard não cooperaria.

Eu já disse, descobriremos o que aconteceu, custe o que custar.

Quando Jacob se volta para o homem que continuava no chão, sem entender o que acontecia e o porquê de todo aquele silencio e troca de olhares repentino, ele se inclina em sua direção e última coisa que noto foi o punho de Jacob se fechando e, logo em seguida, um soco certeiro sendo lançado na direção do rosto do nosso refém.

Meu olhar se encontra com o de Audrey que possui a mesma feição que a minha: boquiaberta e com os olhos arregalados, chocadas, mas não surpresas pelo ato de Jacob.

Isso foi muito bom, na verdade.

-Ou você começa a falar do jeito fácil, ou será do difícil. – Jacob diz agarrando a gola do homem que, mais uma vez, estava desnorteado. – A escolha é toda sua. – O garoto dos olhos esverdeados o solta de forma bruta e volta para o seu lugar perto de nós.

-Está bem! Está bem! A história toda, os motivos, é isso que querem saber, não é? – O interrogado consegue dizer após cuspir sangue da boca cortada, cortesia do Beaumont.

O soco de Jacob deve ser realmente forte.

-Pois bem. – Ele abaixa a cabeça, rendido, derrotado. – Vou falar o que precisam saber. Mas, antes, eu quero fazer um acordo com vocês.

Acordo? Que tipo de acordo?

Por que sempre há algo a mais?





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