O Lado Mais Sombrio de Nova I...

By saraleao16

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"Uma cidade, cinco adolescentes, um assassinato. A elite nova-iorquina nunca se mostrou muito mais do que ape... More

DEDICATÓRIA
PRÓLOGO
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AVISO

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By saraleao16

N/A: (Não faço a mínima ideia do porque, mas eu simplesmente, amo esse capítulo. Aproveitem!

Com amor, Sara.

PS: tem aviso importante no final, não deixem de ler!!)



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Certo, dizer que eu estava ansiosa era eufemismo comparado ao que eu sentia quanto ao dia de hoje.

Em uma escala de um a dez referindo-me a probabilidade do quanto essa noite poderia ser um total fiasco, talvez um onze seria o ideal.

Sei que pareço uma pessimista rabugenta que somente vê o lado negativo das coisas quando falo dessa forma, mas, eu lhes garanto, não sou assim, não na maior parte do tempo, pelo menos.

Sempre, sem exagerar, sempre consigo ficar animada e empolgar os que estão ao meu redor em situações em que há mais malefícios do que benefícios, esse é o meu dom. Nunca precisei disso, nunca precisei alguma motivação a mais por eu estar dando conta de mim mesma. É ultrajante, eu sei. Todavia, reconheço que, agora era eu quem precisava de alguém para levantar o meu astral.

Perdi a conta de quantas hipóteses de como essa noite poderia acabar, no sentido ruim, eu já havia criado. E ainda são duas da tarde! Levando em conta que o evento começa apenas às oito da noite, estes simples pensamentos me fazem aparentar ser uma paranoica compulsiva, o que eu, definitivamente, não sou.

Tenho total consciência de que estou sendo lógica demais, um realismo exagerado, a fixação tendenciosa pelos pensamentos negativos sendo maior do que o otimismo que agora havia sido encurralado no fundo do meu subconsciente.

Sabia que precisava relaxar. Estava tensa demais para uma adolescente que não devia ser muita coisa além de impulsiva e inconsequente.

Forcei-me tanto a parar de escutar meu coração e emoções, recusando-me a deixar que o meu lado sentimentalista e emocional falasse mais alto – já que eles sempre tiveram essa predisposição a me controlar – que, agora eu percebo, acabei me esquecendo de como e quando devo usá-los, tendo o lado arguto e coeso mais presente do que deveria, sem contar a inclinação que ele possui de aparecer na maior parte dos momentos em que ele, certamente, não deveria, justamente nas ocasiões em que eu precisava ser um pouco mais instintiva, tendo este lado pensante sempre ligado de forma maçante e azucrinante durante todas as vinte quatro horas do dia. Consequentemente, logo que tento usar essa parte sensitiva do meu cérebro, falho miseravelmente. O que instiga, como se fosse um gatilho, a sensação de apavoramento e pânico, fazendo-me sentir daquela forma horrível como se tudo fosse sair do meu alcance, do meu controle.

-Filha...? – Meu pai estala seus dedos na frente do meu campo de visão. – Ashley?

-Ah, oi, pai. – Meus olhos recobram o foco e minha mente se dispersa novamente.

-Você estava me ouvindo? Parecia distraída... está bem? – Ele pergunta, colocando seu IPad, onde resolvia alguns negócios, apoiado em sua perna.

-Estou bem sim, eu acho que só viajei, foi mal. – Sorrio para que ele veja a sinceridade em minhas palavras. – O quê disse?

-Perguntei se estava animada para hoje à noite. – Relembra-me.

-Oh, desculpa, eu não tinha ouvido. – Explico. – Não tenho sequer palavras para descrever como estão minhas... emoções para hoje. – Tento falar o máximo da verdade. E com certeza era verdade que eu não sabia ao certo como descrever minhas expectativas para esta noite que poderia ser tão promissora ou tão arriscada.

-Estou extasiado, mais do que os outros anos. Vai ser um pouco diferente, eu sinto.

-Vai ser mais importante, pai. – Reflito sob a suas palavras. – Com segundas intenções além de festejar. – Meu tom muda para algo um pouco mais sério e eu nem percebo o que soltei até escutar sua voz respondendo a minha última afirmação.

-Não queria que fosse assim, mas é a nossa única alternativa. Precisamos de pessoas interessadas em nosso hotel de novo. – Pelo menos ele acredita que são essas as únicas segundas intenções que haverá nesta noite. Pode se dizer que há terceiras intenções envolvidas. – Precisamos que confiem em nós. A mídia transmitirá, e milhares de pessoas assistem todos os anos. Precisam ver que nada mudou, que temos tudo sob controle.

-Eu sei, pai, e o senhor está fazendo, e fará mais tarde, um ótimo trabalho. Fique tranquilo que não o incomodarei um segundo sequer.

-Você nunca incomoda, filha, mas obrigado, temos que fazer tudo o que está em nosso alcance, não é?

-Como bons Scott's.

-Como bons Scott's – Ele reafirma, sorrindo para mim.

-Seria incrível se a tia Daph estivesse aqui, ela poderia nos ajudar em tudo isso.

-Eu a convidei, mas pelo visto ela precisa adiantar o trabalho dela para poder ter férias no Natal e Ano Novo.

-Oh, entendo.

-Que horas vai começar a se arrumar? – Pergunta, intercalando seu olhar entre o IPad e eu, que me sentava em uma poltrona semelhante à sua em sua frente.

-As quatro. Marquei salão junto com a tia Lauren e Audrey. Acredito que haverá outras mulheres que irão no evento se arrumando ali também, inclusive. Iremos fazer cabelo, unhas e maquiagem, é claro, e provavelmente estaremos prontas, tipo, totalmente prontas, umas sete e pouco, o que nos dará algum tempo caso tenha algum imprevisto. – Sempre deixem alguns minutos de sobra para eventualidades que possam ocorrer. Dica de ouro. – Depois são os detalhes finais e por fim ir até o evento. Se não estou enganada, vamos eu, tia Lauren e Audrey na mesma limusine, Robert já terá ido até o evento, então o senhor não ficará sozinho. – Olho para cima pensando se me esqueci de algo, e percebo que não, estava tudo em ordem. – Só isso, pai. Tudo cronometrado.

-Vou me arrumar uma seis, eu acho. Tomarei um banho, farei a barba, colocarei o terno e chegarei mais cedo no hotel para verificar como está a decoração do salão e dar os toque finais. – Meu pai diz sendo completamente o contrário de mim: simplista.

Odeio coisas que são demoradas, extremamente complexas e que acabam enrolando, contudo, para me arrumar, há uma exceção. Sinceramente, não vejo problema algum e despejar todo o meu tempo para que, no final, eu esteja parecendo uma deusa grega, não que eu não seja diariamente, mas gostaria de ficar ainda mais neste dia tão especial e aguardado.

-Posso ver o seu vestido, filha? – Meu pai pergunta com aquela carinha de cachorro pidão que nunca funcionou com ele, mas de vez em quando eu finjo funcionar para agradá-lo.

-De maneira alguma! – Nego imediatamente. – Apenas hoje a noite, pai.

-O quê?! Eu que te criei! – Ele argumenta e eu não consigo deixar de rir. Na verdade, é bem fácil me fazer rir.

-Golpe baixo. – Cruzo os braços. – Mas de qualquer jeito, sem exceções, até para a pessoa que me criou.

-Isso é uma crueldade. Acha certo fazer isso com o seu próprio pai? Um idoso. Sangue do seu sangue! – O mais velho faz o seu drama e eu gargalho com suas caretas e imitação de choro.

-Eu nem deixei minhas amigas verem! – Mostro a gravidade de seu pedido.

-Está bem, entendi agora. – Ele cede.

-E o senhor se chamou de idoso. – Falo tentando conter ao máximo o riso.

-Eu não vejo o vestido e você esquece isso, o quê acha?

-Feito. – Sorrio satisfeita. – Agora eu vou para o meu quarto assistir alguma série enquanto não da o horário de ir para o salão.

-Certo, querida, estarei aqui, tentando resolver esse probleminha da bolsa de valores. – Sua voz demonstra cansaço e puro tédio, mas bem, é isso que ele faz e, na maior parte do tempo, gosta de fazer, embora eu saiba que as vezes pode ser bem chato, como isso que ele está fazendo neste exato momento. Bem, sua profissão, e qualquer outra, possuem o lado bom e o ruim.

-Não canse demais, lembre-se de hoje a noite. – Falo como um lembrete ambulante.

-Não irei, obrigado. – Diz olhando para mim que estava com um pé em cada degrau da escada de mármore que havia em nossa cobertura, a mão posicionada no corrimão de vidro.

Assinto e sigo para o meu quarto, onde posso ficar completamente a vontade da forma mais confortável possível.

Praticamente jogo-me na minha cama e pego o computador que permanecia intacto na escrivaninha ao lado da minha cama. Seleciono o aplicativo da Netflix e noto que este é um daqueles momentos no qual você só precisa de seu filme ou série de conforto, conseguindo, finalmente, relaxar e tirar a mente desse universo desafiador, sem graça de vez em quando, e cheio de dores, em outras palavras, do mundo real.

Bem, para mim, o filme, no caso, que me ajudaria a tirar todo o estresse era, nada mais, nada menos, do que o clássico romance de Jane Austen, Orgulho e Preconceito. Céus, essa é a melhor obra de arte já criada na humanidade. Nunca vi tamanha perfeição acumulada em uma única só obra como esta.

Eu só queria um Sr. Darcy em minha vida.

É isso, eu confesso. Podem me julgar, me processar, mas, mesmo que no fundo, mesmo que não queiram admitir, sabem que eu estou certa.

A cena do primeiro baile do filme havia acabado encerrar com aquela cena icônica onde Elisabeth escuta Darcy falando que ela é "razoável" e que detesta dançar, e depois eles entram em uma mini discussão sobre como demonstrar o amor já que Elizabeth disse que os poemas não são algo assim tão bom, o que eu aposto ter sido um desaforo naquela época, e, portanto, Darcy lhe pergunta como então demonstrariam o afeto e ela simplesmente diz "Dançando, mesmo que a parceira em questão seja apenas razoável". Tá, ok, eu posso ou não ter decorado essa cena. Enfim, acho que já reconheceram qual é, e em qual momento estávamos quando sou atraída por um barulho que meu celular faz, indicando que uma notificação havia chegado, retirando-me da fantasia que o filme havia, praticamente, imposto a mim. É impossível não ir para outra época quando se assiste um filme ou lê um livro que não se passe no seu século, as vezes eu imagino como eu seria se fosse de outra época.

Continuando...

Percebo que havia me esquecido de tirar a vibração do meu celular para assistir o filme em completa paz, contudo, ao imaginar que a mensagem possa ter vindo de Audrey, não me arrependo de ter me esquecido deste pequeno detalhe, já que, afinal de contas, eu encontraria Audrey e sua mãe para irmos ao salão juntas em um hora, e algum imprevisto poderia ter acontecido, fazendo com que nossos planos fossem alterados, e, pensando dessa forma, pondero como seria maravilhoso eu saber antecipadamente.

Vocês já me conhecem o suficiente para saber o quanto eu prezo pela ordem e padronização dos meus atos.

Entretanto, o que mais me chamou atenção quando desbloqueei o meu celular, foi o fato de a mensagem ter vindo de um número desconhecido. Não era algo incomum, sempre recebo mensagens de pessoas que não faço a mínima ideia de quem são, a maioria de operadoras de telefone oferecendo novos pacotes, é tãoirritante. De qualquer maneira, estava parcialmente acostumada com esse tipo de coisa, por conseguinte, não hesitei em abrir a mensagem e ver o que era, certa de que a próxima coisa que eu faria seria apagá-la, bloquear o contato que me enviara e denunciar como spam.

Todavia, não foi bem assim que as coisas se seguiram.

Era ele.

Era o "Cavaleiro".

Era ele quem me importunava mais uma vez.

Justamente neste dia. É sério isso? O dia mais feliz do ano, e o dia que, até agora, mais estava me proporcionando ansiedade devido aos acontecimentos futuros que nesta noite ocorrerão.

Sinceramente, não fiquei tão tremula quanto geralmente ficava, claro, estava enfurecida e, levemente, assombrada pelo fato de que agora ele não só sabe o meu endereço, como também o meu número, mas minha pele não havia empalidecido e somente as minhas mãos, e uma pequena parte do meu corpo, suavam diante da nova ameaça.

O quê raios ele quer agora?

"Olá, meu pequeno Peão, como está? Sei que somente pela forma como me dirigi a você já sabe quem sou, portanto, não é necessária nenhuma apresentação.

Só queria lhe perguntar como está com este dia que finalmente chegou, e também lhe desejar um feliz Dia de Ação de Graças adiantado! Sei o quanto ele é especial para você pela simbologia da sua mãe, por isso estou aqui falando com você. Me importo com o seu bem-estar e em como você deve estar lidando com tudo o que está acontecendo a sua volta."

Que baboseiras são essas?

Ele se importa?

Esse cara tem mais loucura em si do que todos os pacientes do manicômio de Nova Iorque.

Volto meus olhos para a mensagem que fazia meus olhos arderem.

"Brincadeirinha.

Claramente não me importo. Como eu já disse, você é apenas o meu Peão diante de tantas outras peças. Enfim. Vamos ao que interessa, mas, antes de lhe dizer o que você deve estar se roendo para saber, o quê achou da mensagem? Decidi inovar um pouco, sabe? Para me parecer mais com você e nosso querido amigo, a Torre, que são adolescentes e super ligados em tecnologia. Contudo, confesso que prefiro as cartas, elas dão um ar mais medieval e intimidador, tipo, como eu consegui entrar na sua casa e deixar um pacote na sua cama sem que você visse?

Espero que seja este o efeito que eu cause em você e na nossa Torre."

Pode acreditar, não é só isso que você nos faz sentir.

"Infelizmente não consegui entregar-lhe hoje, mas por isso estou aqui, via virtual.

Soube que vocês conseguiram descobrir quem é o assassino, mas também sei que não possuem prova alguma e que hoje tentarão conseguir alguma declaração.

Sim, eu sei de tudo.

Bem, eu quero que vocês tenham cuidado, porque nada pode dar errado, entende? Eu não tolerarei erros e quero que estejam cientes disso quando forem agir, e falem pros seus amiguinhos ficarem espertos, não são eles que estão sendo ameaçados, mas por causa deles vocês, que estão sendo ameaçados, podem se prejudicar. Sim, já sei do ocorrido de segunda-feira quando vocês foram apagados pelos nossos rivais.

Um passarinho também me contou que nossos oponentes não estão atrás do assassino, estão o encobrindo. E eles o protegerão o máximo que puderem, isso inclui eliminando a concorrência, no caso, vocês. Então, sinto muito se forem sequestrados ou morrerem. Não era a minha intenção.

Disse que os ajudaria quando pudesse e até agora eu cumpri minha parte, só quero ver se vocês cumprirão a parte de vocês.

Estejam cientes que essas pessoas poderão atrapalhar vocês esta noite, não sei quem são, não sei quantas são e até onde eles iriam, por isso, olhos e ouvidos bem abertos.

Bom, era só isso. Façam o que tiverem de fazer, só me tragam o alvo.

Encarecidamente, Sr. Edison, o Cavaleiro."

Lágrimas caem pelas minhas bochechas diante do terror das ameaças.

Por deus, eu preciso parar de chorar.

Detesto chorar e isso é uma coisa que eu tenho feito demais recentemente.

Infelizmente, é inevitável diante do terror das falas proferidas por esse lunático que não me persegue só por suas mensagens, mas também nos meus sonhos e em minha imaginação e em praticamente qualquer outro minuto.

Estou me tornando alguém paranoica, penso que qualquer um que cruza comigo na rua pode ser o Cavaleiro.

Eu desconfiei de uma atendente de loja que me conhece há tempos!

Em que momento eu me tornei assim?

Quando recebi a mensagem, eu admito, achei que lidaria de uma melhor forma, mantendo a calma, respirando profundamente, tendo domínio sobre o meu arredor, coordenando de forma sincronizada os meus pensamentos a ponto que eu não estivesse tendo uma crise como estou agora. Pensei que, a este ponto, já deveria ter me acostumado com essas cartas, com essas falas repugnantes e com o tremor que percorre a minha espinha cada vez que eu recebo aquele maldito pacote com a fita vermelha. Todavia, agora eu compreendo, jamais me acostumarei, e eu não tenho que me acostumar com isso, céus, eu estou sendo ameaçada. Ameaçada! Isso não é normal, eu jamais poderia achar isso normal. É horrível, cruel, viril. Se um dia eu achasse, significaria que eu me perdi completamente de mim mesma, que eu desisti, perdi as esperanças. Esse seria o único motivo.

Eu sei que não posso mudar o que está acontecendo, sei que não tenho esse poder e liberdade, odeio isso, mas, nas coisas que eu não posso alterar, eu posso, ao menos, manipular para que se torne suportável. Entretanto, nem isso eu tenho conseguido fazer. As vezes imagino que, se eu simplesmente soltasse tudo isso para algum responsável, algo, instantaneamente, melhoraria. Honestamente, eu só queria alguém com mais poder para calar a boca do maníaco que tem me atormentado.

Eu só preciso de um minuto de paz. Um único minuto seria o suficiente.

Sinto como se minha mente fosse como um labirinto, cheio de passagens obscuras, armadilhas e truques feitos, especialmente, para me tirar do caminho correto. E, no meio de tudo isso, há o meu subconsciente, o personagem preso dentro dessa encruzilhada, procurando uma saída, procurando uma parede que não seja um beco sem saída, querendo, com todas as suas forças, sair daquela prisão imposta por si próprio.

Eu não precisava estar sofrendo dessa forma, eu só tinha que controlar, eu só tinha que tomar posição e liderança, isso se chama inteligência emocional, mas, meu Deus, eu não consigo. Eu simplesmente não consigo.

Estou sufocada. Completamente sufocada. Meus próprios pensamentos estão me engolindo aos poucos, me abafando, me calando. Se eu pudesse contar ao meu pai... tenho certeza de que ele saberia o que fazer, o que dizer, teria todos os passos projetados em sua mente brilhante, mas não posso lhe contar, uma mínima palavra poderia lhe ser mortal, e não seria eu quem arriscaria perder tudo o que me restou. Nem ao menos com Audrey eu tenho como falar.

Não há ninguém. Todos sendo ameaçados e, com total certeza, pensariam como Andrew. Afinal, "É só levar a polícia".

Como eu queria que fosse fácil assim.

Passo a mão violentamente por toda a extensão do meu rosto. Secando a pele agora molhada pelas gotículas salgadas de água que foram derramadas pelo pavor que preencheu cada milímetro do meu coração atordoado.

E então, simples assim, tenho a decisão mais estupida de toda a minha vida. Mas é o que dizem, não? Momento extremos pedem medidas extremas. Nesse caso, medidas desesperadas de pura insanidade e impulsividade.

Acho que achei a adolescente interior inconsequente que habita dentro de mim, bem lá no fundo.

Quando me dou conta de minhas ações, é tarde demais, meus dedos já haviam clicado no botão do celular e a chamada já apitava.

Não se passaram dois segundos antes de eu escutar aquela voz familiar do outro lado da linha.

- "Scott? O quê você quer? É sobre a mensagem do Cavaleiro? Porque se for, eu também recebi, e de fato, temos que falar sobre ela". – O garoto diz rápido ao atender a chamado.

E isso foi o necessário para que a força que eu fazia para segurar todas aquelas lágrimas, segurar todas aquelas emoções, se partisse e revelasse tudo o que eu sentia.

- "Ashley? Você tá chorando?" – Ele pergunta, dessa vez mais suave e um com um pouco mais de perplexidade, sendo notável a surpresa de sua constatação pelo seu tom de voz.

-Jacob... olha, eu nem sei por que eu te liguei, tá? Eu só... tô muito assustada, e com medo, e com raiva desse desgraçado e eu quero que isso pare, quero que pare por tudo nesse mundo. Por favor... – Desato em lágrimas, sussurrando o último pedido.

Acho que eu acabei de piorar tudo pelo simples fato de ter falado sobre esse assunto com o Beaumont. Se eu tivesse ficado quieta eu, provavelmente, teria esquecido em poucos minutos e tudo estaria bem. Mas não, eu não poderia ficar quieta, eu precisava me abrir com alguém, e a única pessoa que poderia saber sobre isso era Jacob. Justamente ele precisava que ser o único?

-Olha, foi mal, Beaumont, eu surtei e... e eu... – Me perco em minhas próprias palavras, não sabendo o que lhe dizer ou como lhe explicar o que havia acabado de acontecer.

- "Você só tinha a mim para conversar, eu sei." – Diz de uma forma muito mais séria do que eu pensei que ele diria.

-É, acho que sim. – Fungo, ainda tentando controlar meus olhos que não paravam derramar essas malditas lágrimas e a minha garganta que ainda soluçava de vez em quando e tinha essa voz embargada de alguém que tem chorado há dias, o que não está muito longe da verdade e só me faz detestar ainda mais essa pessoa que me transformou em alguém que chora com frequência.

Quem é essa e o que ele fez com a Ashley imponente e que não se intimida com nada?

- "Pode falar". – Ele diz e eu, mesmo sabendo que ele não veria minhas expressões, franzo o cenho, confusa.

-Falar o quê? – O questiono.

- "Eu sei que você está doidinha pra desabafar sobre tudo o que está pensando, o que, conhecendo você, deve ser muita coisa."

-Só um pouquinho.

- "Fala logo. É uma oportunidade única, não serei assim tão legal de novo."

-Devo me sentir lisonjeada, pessoa mais legal do mundo?

- "Primeiramente, deve. E, segundamente, de certa forma, entendo o que está passando e sei que, para alguém como você, deve ser difícil não poder falar com o papai"

-Meu Deus. – Falo em falsa surpresa, arfando pelo telefone.

- "O quê?" – Seu tom muda para um minimamente mais preocupado.

-Você é o ser humano mais idiota que existe!

- "Agora estou reconhecendo a minha adorável nêmeses." – Diz em uma risada abafada. – "Só solta o que pensa, Ashley."

-Tá, quer saber? Vou falar o que eu penso. – O que antes era tristeza, acaba se convertendo em raiva de um minuto para outro, borbulhando sob a minha pele agora quente e pulsante.

- "O palco é todo seu, loirinha" – Céus, esse garoto parece realmente se divertir quando eu estou com raiva.

-Eu penso que esse cara é um babaca manipulador que está usando a gente pelo simples fato de ser um covarde que não tem coragem suficiente para ir atrás do assassino que ele quer procurar. Por isso, pôs tudo nas costas de dois adolescentes de apenas 17 anos que não estão conseguindo conciliar tudo isso, essa pressão, escola, amigos, ameaças, investigação, prazo até o Natal... junto com uma boa saúde mental, e, como se não fosse possível piorar, ele vem com essas drogas de cartas que nos azucrinam, nos deixando ainda mais temerosos pela missão que vem mais a noite e ainda mais fadados ao desastre, que, pelo visto, será iminente. Ah, não deixando de citar o fato de que agora, efetivamente, tem alguém no nosso radar tentando nos tirar do jogo, estando livre para as interpretações que você quiser. Divertido, não? Nada como mais um feriado em Nova Iorque. – Vou cuspindo tudo o que ficara entalado por tanto tempo. – Mas isso importa para ele? Claro que não. O maldito insiste em fazer tudo no seu tempo, e em troca, caso não o obedecêssemos, morte é o que nos espera, como se já não estivesse outras pessoas querendo fazer o mesmo conosco. – Rio de forma sarcástica e irritada. – Por favor, quando ele tiver coragem de mostrar o rosto, ou pelo menos dizer o verdadeiro nome, poderá vir falar comigo, caso contrário, ele não tem o direito de influenciar em todas as emoções que ando sentindo. Esse pavor, esse pânico, pela morte que espreita em nossas portas, vai acabar nos consumindo, e por culpa de quem? Do miserável. – Solto todo o ar que prendia enquanto exprimia todas essas palavras para fora da minha mente, juntamente das lágrimas de nervosa que não hesitaram em escorrer pelo meu rosto vermelho e quente de raiva.

A irritação, porém, agora se esvaia e um respiração ligeiramente ofegante tomava conta do meu sistema.

- "Olha só, a princesinha do Uper East Side finalmente desabou seu ódio. Pensei que nunca veria algo assim." – Jacob diz em tom provocativo. Estava quase me esquecendo que ele ainda estava naquela chamada, falo sério.

-Não me provoca, Beaumont.

- "Voltamos para os sobrenomes? Interessante..." – Ele ri abafado. – "Odeio ser estrega prazeres, mas, depois de tudo o que eu ouvi, posso dizer que você o odeia mais do que me odeia."

-Bem, você nunca me ameaçou, e eu não tenho medo de você, então, sim, com 100% de certeza eu o odeio mais.

- "Eu poderia ser considerado o vencedor do debate do Sr. Ross, você começou a odiar pessoas demais, meu amor."

-Sem chances, Jacob. Eu ainda vou te detonar, e você sabe disso.

- "Como pode maltratar a pessoa que fez você parar de chorar?"

-Cala a boca, ok? Eu disse que surtei. Isso foi somente um acidente.

- "Acidente, huh?"

-Sim. – Reafirmo, acenando freneticamente com a cabeça em sinal positivo, embora eu soubesse que estava praticamente fazendo isso para mim mesma.

- "Certo, certo. Vou falar isso para você na próxima vez que você quiser gritar comigo sobre outras pessoas e um desses "acidentes" acontecer."

-Não haverá próxima vez, Beaumont, aceite. – Digo, como se estivesse o esnobando. – Mas obrigada. – É inevitável ficar sem graça diante do agradecimento que digo ao Jacob. Ao Jacob Beaumont!

- "De nada, meu amor. E bem, você e eu sabemos que haverá próximas vezes, não sabemos?" – Pode ter soado como uma pergunta, mas tenho certeza de que é uma afirmação para Jacob e, se eu responder qualquer coisa, entrarei em sua armadilha. – "Sabe que, no final, nós dois sempre acabamos juntos, de uma forma ou de outra" – Sua voz adotou um novo tom agora, um mais firme e rouco, suas palavras saindo quase como que uma intimação.

-Está errado.

- "Eu sou um Beaumont, eu nunca erro." – Eu apostaria minha bolsa da Chanel da coleção de primavera de 2021 que ele está sorrindo de canto neste exato momento, seus lábios se curvando em algo entre o que é maroto e o que é malicioso.

-Ok, Sr. Perfeição, continue pensando assim e veja o que a vida lhe trará, só depois não diga que eu não avisei.

- "Não se preocupe, Scott, no final veremos quem tinha razão."

-Tchau, tchau, Jacob. – Vou encerrando a ligação.

- "Até a noite, loirinha, vá preparada para tudo o que poderá acontecer."

Preciso admitir, não sei ao certo o que ele quis dizer com essa frase que a princípio parecia tão inofensiva. Ainda assim, algo me dizia que ela possuía mais de uma interpretação.

-Eu sempre estou preparada, Jacob. Até lá. – Finalizo a ligação e clico no botão vermelho que apresentava em minha tela.

Mesmo que eu já tivesse saído da ligação há pelo menos sete minutos, continuava ali, sentada na mesma posição, pensando sobre o mesmo assunto que havia surgido em minha mente há sete minutos atrás: o quê foi essa ligação?

Foi um momento... estranho. Não sei como descrever. Primeiro eu chorei enquanto Jacob ouvia, o que foi patético e humilhante para mim.

Como eu pude deixar algo assim acontecer? Eu sou estúpida?

Depois, ao invés de caçoar de mim, que era o que eu achei que ele faria, ele sugere algo que, no final, se mostrou bastante eficaz e, de certa forma, me ajudou a tirar um pouco do fardo que machucava minhas costas exaustas. Literalmente gritei com ele como se fosse o tal do Cavaleiro, me segurando ao máximo para não usar todas as palavras que eu havia pensado em usar contra aquele psicopata. Por fim começamos a... discutir? O que foi bem aleatório, mas reconfortante. Somos os mesmos de sempre, e isso é bom, é algo que eu estou acostumada, algo dentro da rotina. Não tem a ver com os assassinatos, nem com luto, nem com o cara que está nos perseguindo, e também não envolve as outras pessoas que, pelo o que eu entendi, também querem nos matar. Não, não tinha nada a ver com os acontecimentos irregulares que tenho testemunhado. Aquilo simplesmente era um pedacinho do que era a minha vida antes do acidente de Rose.

Só há uma minúscula coisa que eu não entendi:

Por que eu sentia tanta falta disso?

Antes de eu me envolver em tudo isso, eu detestava brigar com Jacob, quero dizer, eu tinha um certo prazer em irritá-lo e vê-lo enfurecido, mas não é como se eu amasse o fato de ter alguém me odiando. Contudo, agora me pego percebendo que, coisas como esta, eram, de algum estranho jeito, importantes para mim a ponto de me fazer sentir saudades, o que é, categoricamente, inusitado e atípico.

Isso acabou me fazendo esquecer, mesmo que momentaneamente, tudo o que estava acontecendo ao meu redor.

Honestamente, estou começando a achar que foi tudo planejado por Jacob, digo, essa última discussão foi planejada por ele. Ele entende o que eu estou sentindo, o mesmo admitiu, afinal, está passando pelo mesmo e tem sentimentos, eu acho. Mas, por causa disso, talvez ele soubesse exatamente como agir. E foi o que ele fez, agiu da melhor forma o que, verdadeiramente, me ajudou.

E acreditem, não há ninguém mais atônito com essa reflexão do que eu.

Só nos resta saber o porquê ele ter feito isso com alguém como eu. Não estou me desprezando, claro que não, mas, Jacob e eu temos um histórico de jamais fazermos algo um pelo outro que não seja para o mal mútuo, à vista disso, é no mínimo previsível que eu vá estranhar ou me sentir mexida quando algo dessa magnitude acontece, não é? Tipo, esse sentimento de estranheza não significa nada, é só algo novo, algo que instigou um outro lado que eu não conhecia, um lado... amigável, isso, amigável, eu e Jacob nunca fomos amigos, e, por estarmos sendo cumplices nisso, eu fiquei desse jeito, não?

Não?






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AVISO!


Gente, vim aqui só passar para avisar algumas coisas que eu acredito estar um pouco pendentes ainda. 

Primeiramente, me perdoem por não estar conseguindo postar os capítulos tão regularmente, minhas aulas voltaram e eu estou no Ensino Médio, para quem não sabe, portanto, temos várias atividades diariamente em relação a escola, e isso tem consumido todo o meu tempo. Somente de final de semana eu tenho conseguido escrever, e, algumas raras vezes, durante a noite. Sendo assim, peço que tenham paciência.

Segundamente, em contra-partida ao primeiro fator, relativamente, estarei postando uma vez por semana, provavelmente às segundas-feiras, se der tudo certo. Caso eu não poste, saibam que é porque o capítulo provavelmente está sendo revisado ou não foi concluído, tenho o costume de sempre revisar mais de uma vez, por isso, pode haver uma incidência de atrasos por este motivo. Mais uma vez, lhes peço sua paciência. Tenho certeza de que entenderão e, além disso, acrescento: esta história só está levando tempo por requerer mínimos detalhes para uma boa leitura e desenvolvimento, tudo isso, especialmente, para vocês, meus amados leitores.

Em suma, é isso, obrigada pela atenção e até os próximos capítulos. 

Com amor, Sara.

<3

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Adolescência pode ser a fase mais divertida da vida, mas, quando algo sai fora do programado, ela se transforma em algo bem difícil. Julia não sabia...