Imortal

By FlviaRolim

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[Vencedor do prêmio Wattys 2015 na cateogoria "Os Mais Populares"🎖️] ESTÁ SENDO REESCRITA E REVISADA. A his... More

Prólogo
Conhecendo o Desconhecido
Visita Noturna
Saltos no Vazio
Compromissos
Nada Mal Para Um Imortal
Rompendo Relações
Knockout
Fugindo das Lendas e Caindo na Realidade - Parte Um
Fugindo das Lendas e Caindo na Realidade - Parte Dois
Lago, Floresta e Culpa: Combinação Perfeita - Parte Um
Lago, Floresta e Culpa: Combinação Perfeita - Parte Dois
Xeque-Mate
Eu Escolho a Eternidade - Parte Um
Eu Escolho a Eternidade - Parte Dois
O Baile de Máscaras - Parte Um
O Baile de Máscaras - Parte Dois
O Baile de Máscaras - Parte Três
Fragmentos
Causa Mortis - Parte Um
Causa Mortis - Bônus
Causa Mortis - Parte Dois
O Outro Lado da Moeda
Emboscada - Parte Um
Emboscada - Parte Dois
Angustia Existencial
Dave Miller
Finalmente Pronta
Alguma Coisa no Caminho
Outro Amanhecer - Final
Epílogo
Amores Imortais
Prévia - Eterno
Eterno está no ar
Bônus - Christine
1 anooooooo!!!!!
Arthur e Victor (Bônus - Um ano de Wattpad)
Revelação da Capa
VERSÃO ANTIGA (RASCUNHO) X VERSÃO ATUAL (PRIMEIRA EDIÇÃO)

Perdoe-me Por Dizer Adeus

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By FlviaRolim

Na mesma noite, Victor me levou até a sala do conselho. Paramos de frente para uma enorme porta na cor mogno, com detalhes que aparentemente pareciam ter sido esculpidos a mão. Empurrou a porta com força e me guiou para dentro do lugar. Era, simplesmente, magnífico.

Parecia uma sala de reunião, com uma enorme mesa no centro e várias cadeiras ao redor. Havia quadros que cobriam metade das paredes e pude perceber, mesmo não tendo muita noção, que eram peças verdadeiras de arte. Em cima da mesa, haviam vários papeis e alguns computadores portáteis, para que houvesse conferencia entre o conselho principal e as filiais. Simplesmente, a evolução chegou também ao nosso mundo.

Todos que faziam parte estavam ali. Além deles, Susan, que seguia uma sessão de hipnotismo com Ethan, para tentar descobrir quem foi que a transformou.

— Alguma coisa? — Perguntou Victor quando nos aproximamos. Indicou uma cadeira e tomou o assento ao lado do meu. Não o da cabeceira, como era de costume. Os outros estranharam aquela atitude.

— Sim — respondeu Amira. Os cabelos loiros estavam completamente soltos e ondulados. Já a havia visto daquela forma, mas estava ainda mais bonita. — Descobrimos que foi uma mulher, mas estava encapuzada. Não foi possível ver o rosto.

— Isso explica porque ouvi uma voz feminina em minha cabeça, me mandando atacar a Alice — Susan virou-se para mim e fez uma cara de culpada. Pisquei um olho para ela.

— Conseguiram identificar a quem pertence a voz? Alguém conhecido? — continuou Victor a perguntar. Segurou minha mão por baixo da mesa.

— Não senhor. Não consigo saber de quem é, mas não me é estranha — respondeu Ethan. Havia se levantado, quando entramos e permanecia encostado em uma das vigas da parede, ao lado de Tom.

— Continue tentando descobrir, meu amigo, é muito importante para chegarmos ao traidor. Por falar nisso, algum suspeito?

— Negativo — respondeu Sean. Estava sentado de frente para mim. Usava um terno cinza e por baixo uma camisa branca. Os cabelos estavam mais arrepiados. Haviam sido recém cortados. — Estou de olho em todo mundo, mas até agora nada fora do normal — o conselho inteiro se calou. Até que o silêncio foi rompido por ele, outra vez. — Como você está, minha senhora?

— Bem, eu acho — respondi forçando um sorriso. — Um pouco angustiada com a minha "morte", mas bem. Não sei onde estava com a cabeça para concordar com isso. — Encostei na parte acolchoada da cadeira.

— É necessário — falou Tricia. Até o momento estava calada. Usava um vestido branco, feito em tecidos finos e mangas esvoaçantes. Caiu perfeitamente em seu corpo esbelto.

— Preciso ver minha família.

— Sem chances — concluiu Amira.

— Por favor, eu imploro.

— Vou precisar que você preste atenção — Victor puxou sua a cadeira e me virou para que ficasse de frente para ele. — Não sou eu que estou dizendo que não pode e nem os outros. É toda a experiência que adquirimos ao longo dos séculos. Tente entender isso: Não posso permitir.

— É a minha família. Preciso dizer adeus — sussurrei, embora quisesse gritar. As emoções continuavam confusas, tinha que aprender a controlá-las.

— Você vai acabar matando todos, Alice — retrucou de uma forma calma, mas senti a tensão em suas palavras. — Lembra-se do que ocorreu com o homem, na sala de doação? Vai ser pior do que aquilo, pode apostar.

— Susan conseguiu ficar em minha presença quando tinha pouco mais de uma semana de transformada. Também consigo — olhei para a morena encostada na parede, ao lado da porta. — Me ajuda.

— Não olhe para mim — respondeu e estreitei os olhos. Traidora. A minha amiga sorriu. — Foi difícil para mim, Alice. Tive que ficar sem respirar e, para a sua sorte, havia acabado de me alimentar.

— Pronto. É isso! — Levantei da cadeira. — Me alimento e vou falar com eles.

— Isso não vai dar certo — Victor levou as mãos até o rosto e depois passou-as em seus cabelos loiros. Respirei fundo e me abaixei de frente para ele. Os olhos verdes encontraram os meus e sorri. Alisei sua bela face e isso fez com que inclinasse a cabeça levemente, apreciando a caricia.

— Vem comigo. Se eu perder o controle, você me tira de lá, antes que faça uma besteira — puxei suas mãos e as beijei. — Por favor. Preciso disso — Victor me encarou por alguns segundos. Alisou meu rosto e soltou um suspiro longo.

— Está bem. Vou com você — Os membros do conselho começaram um burburinho.

— Não concordo com isso. Soltar um recém-nascido, no meio de cinco humanos é esperar que se comporte como tal. É chacina, na certa.

— Tricia... — repreendeu Victor.

— Não, ela está certa em falar — concluiu Sean. — A definição é exatamente essa. Alice mataria a família sem pensar duas vezes e você sabe disso, Victor. Além do mais, não sabemos nada sobre a espécie dela, o que sabemos são apenas teorias. Não é como se estivéssemos lidando com um modificado ou mesmo um comum. É uma incógnita. — Ergui uma sobrancelha ao ouvi-lo falar assim. Parecia que dava uma bronca em seu mestre, por ter interferido na repreensão de Tricia.

— Sei disso, Sean — respondeu sem ser grosso. — Vou leva-la, mas será nas minhas condições.

— E quais seriam? — perguntei de maneira aflita

— Você vai ficar perto de mim, o tempo inteiro. Se disser que é hora de irmos, você aceita sem pensar.

— Está bem. Pode ser assim.

— E... — Começou a falar e respirou fundo. —... não abrace ninguém.

— É uma despedida. O mínimo que posso fazer é dar um abraço em meus pais e irmãos.

— Não serei rápido o suficiente para impedir que você abra um buraco na jugular de um deles, se você estiver abraçada. Ainda mais que não estou cem por cento.

— Então venha comigo, Sean — virei para olhá-lo e Victor o encarou também.

— Senhora, não acho...

— Está decidido — respirei fundo. — Sean vem comigo, enquanto vocês preparam o que deve ser preparado. Se eu tentar morder algum deles, Sean me impedirá. Está bom para você? — encarei Victor que mantinha o cenho franzido. Levantou uma sobrancelha para o homem que apenas ergueu as mãos no ar, dando-se por vencido.

— Cuido dela, senhor. Não a deixo fazer nenhuma besteira — os olhos azuis me encararam sem esboçar reação. Sean ainda era indecifrável para mim, mas era o melhor amigo que eu tinha e uma pessoa que podia contar sempre que precisasse.

O carro parou em frente à casa dos meus pais e soltei o ar dos pulmões. Estava apreensiva. Bebi quatro bolsas de sangue, mas ainda me sentia estranhamente faminta. Sean havia me dito que aquilo era normal em recém-nascidos, mas mesmo assim me preocupei.

— Ainda podemos dar a volta — comentou quando me viu encarar a casa por um tempo longo demais.

— Não posso fazer isso. Preciso dizer adeus.

— Você pode se preparar e voltar quando tiver mais algumas semanas.

— Victor está programando tudo para três dias, não está? — Assentiu. — Por isso estou aqui. Se tiver que me passar por morta, preciso dizer que os amo — respirei profundamente.

— Podemos falar com Victor e pedir para que isso seja adiado.

— E quando começarem a ir no hospital e descobrirem que não estou mais lá? Ou me fazer uma visita, em meu apartamento, e encontrar o lugar mais limpo possível? Vão ficar desesperados. Não é justo.

— Olhe nos meus olhos e diga que pode encarar sua família e que não é um risco para todos — eu observava, até então, o painel iluminado do carro de Sean. Mas assim que falou, minha atenção voltou-se para ele.

— Sei o que sou, está bem? Mas é justamente por isso que tenho você aqui. Não vai me deixar fazer nada de mal — sorri para Sean que concordou.

Abri a porta do carro e desci rapidamente. Olhei para a casa antes de caminhar em direção a ela. Quando dei por mim, Sean seguia ao meu lado, conforme havia prometido.

Parei de frente para a porta e respirei profundamente, levando meus dedos até a campainha, mas não apertei.

— Prenda a respiração. A senhora consegue — Sean me deu força e chamei. O barulho dos sinos tocou alto. Minha mãe adorava ouvir aquele som e por isso o escolheu como campainha.

Demorou alguns segundos antes que a porta fosse aberta e uma das gêmeas viesse atender. Tinha exatos dez anos e já era uma linda menina. Os cabelos loiros estavam bem curtos e a letra "M" estava pendurava em seu pescoço.

— Lice? — perguntou surpresa, paralisei. Imediatamente parei de respirar. A outra gêmea chegou momentos depois. As diferenças entre elas estavam começando a aparecer. Isso percebi no fato de Dianne manter os cabelos ainda compridos. Parou quando me viu. Na verdade, deu alguns passos atrás antes de sair correndo para o andar de cima.

Enquanto via Dianne correr, Meredith me abraçou com força e eu não sabia o que fazer. Minha garganta já estava queimando desde o momento que apareceu na porta, mas suportava. Tinha que aguentar.

Abaixei-me, mesmo Sean balançando a cabeça negativamente. Não confiava em mim para fazer aquilo, mas pouco me importei. Retribui o abraço que minha irmã confiou a mim, embora tivesse ficado completamente paralisada ao ouvir o sangue correndo pelas veias do pequeno pescoço.

Lentamente fui me aproximando ainda mais, daquela pele rosada, enquanto meus lábios separavam-se. Parei apenas quando Sean tocou em meu ombro e me tirou do devaneio. Me amaldiçoei por ter pensado em fazer algo.

— Oi Meredith — respondi me afastando e alisando o rosto dela. — Como você está?

— Bem — Me respondeu no momento em que minha mãe apareceu no meu campo de visão.

— Filha, o que faz aqui? — perguntou surpresa e preocupada. Não havia nada sendo comemorado ou marcado para que eu aparecesse lá, apenas tinha simplesmente decidido ir.

— Eu disse que ela viria — Comentou a minha irmãzinha. Acariciei os seus cabelos loiros.

— Oi mãe — sorri para ela. — Não posso mais vir matar a saudade daqueles que amo?

— Claro que pode. Só fiquei preocupada... — Me puxou para perto e me aninhou em seus braços. A minha respiração ainda se mantinha presa. Não poderia correr o risco. Embora não estivesse dando muito certo.

Os vampiros têm certa dificuldade em controlar e identificar o que é presa e o que não é. Ter o controle total é algo para poucos de nós, especialmente para os novatos. Por isso pedi para que Sean estivesse ao meu lado. Era um vampiro de quinhentos anos e, mesmo não tendo uma conexão mental comigo, me ajudava no autocontrole. Mesmo que o meu instinto estivesse gritando e me mandando atacar cada um ali dentro.

Minha mãe se afastou e olhou de mim para o vampiro ao lado. Sorriu.

— Mãe, esse é o Sean. É o braço direito de Victor e um grande amigo — apresentei e ele segurou a mão de minha mãe, beijando-a em seguida. Ela corou violentamente. Não pude deixar de rir.

— É um prazer tê-lo aqui, Sean. Por favor, entre — deu espaço para o homem que virou as costas quando passou pela porta. Minha mãe me encarou com uma cara engraçada, mexendo os lábios e perguntando onde havia encontrado esses cavalheiros. Percebi Sean sorrindo disfarçadamente.

— Papai e o Alex? — perguntei mudando de assunto.

— Seu pai ainda não chegou do trabalho. Tem estado ocupado demais esses dias — aproximou-se da escada e gritou: — Alex, desça aqui. — me olhou novamente. — Você está linda.

— Obrigada — respondi sorrindo.

— Nunca mais soube nada de Victor. Como ele está? — cruzou os braços e se aproximou de mim outra vez.

— Não tenho tido notícias dele, nos últimos tempos — respondi.

— Vocês não estão mais juntos? — me perguntou. Sean me olhou de soslaio quando percebeu a demora da resposta.

— Não — respondi seriamente. O vampiro virou o corpo, completamente, para mim. — Não estamos mais.

— É uma pena. Eu o adorava — Suspirou. — Alex! — Gritou uma segunda vez.

— Calma, dona Linda, estou aqui — respondeu meu irmão. Parou na escada ao me ver. — Lice?

— Olá, maninho — respondi sorrindo, antes que me segurasse nos braços e me rodasse no ar.

— Que saudade estava de você. Não respondeu minhas mensagens no celular.

— O perdi — respondi rapidamente. — Desculpe.

— Sem problemas. Que loucura foi essa de ficar três meses sem aparecer por aqui? A mamãe quase surtou — abaixei o olhar, não sabia o que responder. — Como anda o hospital? Steve disse que não aparecia há quatro dias.

— Estou tentando achar uma coisa melhor, mas já conversei com o Steve. E você, como vai a faculdade?

— Difícil. Estava estudando quando a mãe chamou. Tenho prova de Farmacologia em dois dias. Estou ficando louco — me aproximei dele e o olhei nos olhos. Os meus ficaram negros e claros enquanto o encarava.

— Você é um homem esperto, vai aprender tudo o que ler e vai tirar a nota máxima na prova e em todo o curso — os meus olhos voltaram a cor natural quando me afastei.

— Mas quer saber, irmãzinha? Vou aprender tudo o que ler. Você vai ver, vou tirar a nota máxima nessa prova e em todas as outras que estão por vir. Estou confiante.

— Assim é que se fala — sorri. Olhei para a minha mãe. — O que há com a Dianne? Me viu e correu lá para cima.

— Não sei — me respondeu seriamente. — Vou ver.

— Não, deixa que eu vou — respondi. Encarei Sean que me dizia, com o olhar, para não subir. Não poderia me acompanhar. Forcei um sorriso, mas o esgar não convenceu. — Qualquer coisa eu chamo.

Assentiu com a cabeça, antes que minha mãe o convidasse a se sentar no sofá e emplacasse uma conversa sobre cavalheirismo.

Subi as escadas lentamente e segui para o quarto das gêmeas. Bati na porta uma vez, mas não obtive licença para entrar. Bati uma segunda vez e nada. Na terceira não bati mais. Forcei a maçaneta e a porta se abriu.

Assim que entrei, segurei um sapato que voou em direção a meu rosto. Não sei como consegui ser tão rápida, mas quando menos esperei, ele estava em minhas mãos.

— Saia daqui — Arremessou o outro par e, novamente, o segurei antes que me atingisse.

— Dá para parar de me jogar coisas? O que há com você?

— Monstro! — gritou e me calei. Observei minha irmã se encolher, encostada na parede. Soltei os sapatos no chão e fechei a porta.

— O que sabe sobre isso? — perguntei, ainda de longe.

— Sinto que você não é mais você — me encarou enquanto me sentava na cama. Estava há pouco mais de dois metros de mim.

— Então esse é o seu poder? Justo igual ao da vovó — respondi com as vistas baixas. Dianne fungou e percebi que chorava. — Não se preocupe, não vou te fazer mal.

— Quero a minha irmã de volta. Não quero você.

— Sou a sua irmã e por favor, não me trate assim. Se soubesse o que realmente aconteceu...

— A vovó me disse.

— Não acredite no que a vovó diz. Ela não entende e é uma mentirosa.

— Como não? Me disse que isso ia acabar acontecendo. Que você ia sumir e que quando aparecesse saberia que não era mais a minha irmã.

— Dianne... — Antes que pudesse concluir, me jogou um colar e o segurei. Imediatamente minha mão começou a queimar e soltei o objeto. A marca da corrente ficou estampada em mim. Era feito de prata.

— Está vendo? A Alice conseguiria segurar essa corrente por quanto tempo fosse necessário. Aquele monstro fez isso.

— Não...

— Ele é um monstro sim, igual a você! — Dianne gritou e, ao ouvi-la, um arrepio me subiu pela espinha. Estava me contrariando e eu já perdia a paciência. Me afastei o máximo que consegui, me encostando na porta.

— Não sabe de nada! — falei alteradamente. Minhas mãos começaram a tremer e precisava me acalmar. Para que isso acontecesse respirei profundamente e esse foi meu erro. O cheiro de Dianne me atingiu como se houvesse me dado um soco. A minha garganta começou a queimar de uma forma quase desesperadora e, inevitavelmente, a minha forma vampírica apareceu. Minha irmã se encolheu ainda mais onde estava. Sabia que faltava nada para que a atacasse e entrei em completo desespero.

— Ataque — mandou a voz em minha cabeça. Arthur.

— Não — respondi, mas falei alto.

— Sou o seu maker, Alice. Mando e você obedece — o vi, em minha frente. Vestia uma calça jeans surrada, uma camisa preta por baixo de uma camisa verde, que estava aberta. Me olhou fixamente antes de me mandar atacar, outra vez, minha irmã. — Faça, agora.

— Não — rosnei. Fitei Dianne que me mirava com os olhos verdes arregalados e focados em mim. Fechei os meus em uma tentativa de autocontrole. — Some daqui, Arthur.

— Como se fosse fácil me mandar embora — Aproximou-se, ficando de frente para mim. — Estou aí dentro. Não há como evitar.

— Vai a merda — mandei e ele sorriu, mas então desapareceu e parei de ouvi-lo. Consequentemente, a vontade de atacar a minha irmã se foi. Tornei a prender a respiração. Me aproximei lentamente e sentei, novamente, na cama. — Eu ia morrer. Victor me salvou — ela franziu o cenho. — O irmão dele, Arthur, tentou me matar e a única forma de sobreviver era me transformando. Não queria que soubessem, por isso vim me despedir. Não posso mais ver vocês, não posso mais trabalhar no hospital, não vivo mais no apartamento — olhei para minhas próprias mãos. — O mundo em que vivo agora não é mal. Não escute o que a vovó fala. Ela não entende e não sabe de nada — levantei minhas vistas enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas. — Sinto muito, irmãzinha. Não queria que acabasse assim.

— O que vai fazer? — perguntou.

— Eu te amo, Dianne. Nunca acredite no contrário — levantei da cama e segui na direção da porta.

— Lice — me chamou e ponderei antes de virar. Quando o fiz, ela pulou em meus braços. — O que quer que esteja pensando em fazer, não faz.

— Me desculpe por fazer isso. Eu imploro. Não me odeie — apertei a minha irmã contra mim, o máximo que eu pude. — Um dia você vai entender.

— Desculpe ter falado tudo aquilo, Lice. Não sabia — a soltei e ela enxugou meu rosto.

— Não se preocupe, irmã — alisei seus cabelos loiros e beijei sua testa. — Imploro que não conte nada do que eu disse a ninguém e não fale o que sou hoje.

— Não falarei, Lice — respondeu-me. Sorri antes de levantar e sair do quarto. Desci as escadas e me encostei na parede. De olhos fechados.

— Porque disse que não estava mais com Victor? — falou a voz masculina e foquei no dono dela. Sean estava ao meu lado e falou em um sussurro. Graças a minha nova audição aprimorada, consegui ouvir.

— Porque Victor me disse que a minha morte seria um suicídio. E tinha que ter um porquê.

— O fim do relacionamento é a razão.

— Exato — respondi olhando para baixo.

— Ei, querem comer alguma coisa? — minha mãe apareceu na porta.

— Não mãe, já estamos indo. — A expressão dela mudou. O sorriso que estava enfeitando seus lábios, se desfez. Me aproximei e beijei a bochecha dela. — Eu te amo, Linda Baker. Nunca esqueça disso.

— Sei que ama, mas amo mais — me apertou em um abraço de urso.

Me despedi de todos e segui para fora da casa, dando de cara com meu pai que acabara de colocar o carro na garagem. O abracei também, em minha despedida, e me precipitei para dentro do carro enquanto soltava a respiração.

— Meus parabéns, senhora. Se saiu muito bem. Nem precisou de mim.

— Claro que precisei. Me senti mais confiante tendo você comigo. Sabia que se tentasse alguma coisa, você não deixaria acontecer. Isso foi essencial.

— Fico feliz em ter ajudado. Eu acho — me respondeu seriamente antes de arrastar o carro e seguir para a mansão.

Cruzamos a porta e Victor veio ao nosso encontro. Passou a mão em minha cintura e me aproximou. Beijou meus lábios bem devagar, queria que eu sentisse a pele de sua boca contra a minha. Mas não só a proximidade, queria que o toque dele fosse algo a me deixar de pernas bambas. E, depois de ser transformada, era exatamente assim que me sentia. As pernas pareciam gelatinas.

— Ela não jantou ninguém? — perguntou quando me separou dele e olhou Sean de soslaio. Dei um tapa em seu braço.

— Se comportou direitinho — respondeu o homem. Victor alisou meu rosto carinhosamente antes de sermos interrompidos. — Mestre, preciso ver você sabe quem. Possivelmente não volte antes do nascer do Sol.

— Então procure um lugar para se abrigar, meu amigo. Não quero ter que ir caçar suas cinzas na Bellona Avenue.

— Não se preocupe. Me viro.

— Dá um beijo na pequena por mim — Sean assentiu antes de deixar a mansão novamente. O barulho do carro acelerando foi perceptível.

— "Você sabe quem"? — perguntei e Victor arqueou uma das suas sobrancelhas. — "Dá um beijo na pequena". Perdi alguma coisa?

— Longa história.

— Tenho a eternidade — Victor sorriu e beijou meu pescoço tão sensualmente como só ele conseguia ser.

— Mas quero fazer outra coisa agora e conversar não está incluso no pacote — falou ao meu ouvido e sorri, mas fomos interrompidos por Tricia com um pigarrear.

— Alice, poderia me acompanhar, por favor? — falou parada logo atrás de Victor. Me desvencilhei dos braços dele e a observei.

— O que houve? — o meu vampiro perguntou seriamente.

— O conselho já decidiu aquilo que a Alice irá ter que fazer. Queremos dar a ela a missão.

— Não pode ser depois? — Victor questionou.

— Não senhor — respondeu. — É importante que saiba agora.

— Está bem — o olhei quando segurou minha mão e seguimos os três para a sala do conselho. Os outros três membros estavam ali. Sean havia saído e os dois últimos que faltavam acabaram de entrar. Assim que passei pela porta, as cadeiras voltaram-se para mim, como se eu fosse uma celebridade e eles o meu público.

— Decidimos a sua missão — pronunciou-se Ethan, de braços cruzados.

— Então me digam — pedi.

— Você estará no grupo de caça, pelos próximos meses. Sua missão será matar o quanto de modificados conseguir — Amira pronunciou-se, levantando da cadeira. — Ultimamente tem sido difícil atingi-los, já que temos um informante entre nós.

— E como posso fazer para mudar isso? Não sei quem é o informante.

— Victor nos disse que você tem uma ligação mental com Arthur. Poderia usar isso ao nosso favor.

— Não tenho controle sobre isso. Aparece quando bem entende. Como isso seria usado em prol do clã?

— Vamos ter que te ensinar a controlar isso, Alice — Victor finalmente falou. Estava calado desde quando chegamos.

— Sério? Por favor, me digam como. Porque quase matei minha irmã agora há pouco. Arthur mandou — todos me encaram de uma forma assustada.

— Temos que fazer alguma coisa urgente, Victor. Ela pode surtar, a qualquer momento, e querer matar a todos nós. A segurança do clã em primeiro lugar — Amira falava alteradamente, no mesmo instante em que os outros começaram a discutir entre eles. Tricia me defendia, dizendo que era forte e que não precisavam se preocupar. Tom estava buscando uma saída, mas só via a minha partida da mansão como escapatória. Ethan permanecia ao lado de Tricia naquilo.

— Silêncio! — gritou Victor e estremeci. — Não precisam me lembrar que a segurança é em primeiro lugar. Alice faz parte desse clã e deve ser protegida a qualquer custo — respirou profundamente, recompondo-se e fazendo sua forma vampírica desaparecer. A respiração estava acelerada, enquanto retomava o controle. Os outros membros do conselho se calaram. Victor virou-se para mim, permanecia extremamente sério. — Porque não me contou que ele tem entrado em sua mente?

— Porque só foram duas vezes. Aquela que te disse e essa agora — respondi ainda sem o encarar. Victor segurou meu queixo e me fez enxerga-lo.

— Como conseguiu não cumprir o que ele mandou?

— Simplesmente disse que não iria fazer — respondi sustentando seu olhar.

— É obvio que pelo fato dela ter dois Makers, o controle dela é maior. Se fosse apenas modificada, seria impossível controlá-la — falou Tricia —, mas acredito que já sei como poderemos fazer você deter as investidas de Arthur.

— Como? — perguntei.

— Victor pode tentar te controlar e você o impedir. Como um treinamento. É praticamente igual a Arthur e detém cinquenta por cento de você.

— Você fala assim e me sinto uma mercadoria.

— Não tenho outra forma de falar, Lice — a mulher aproximou-se de mim. — Entenda que isso nunca aconteceu antes. Não sabemos com o que estamos lidando e não há garantia de que vá dar certo, mas vamos tentar. Está bem? — sorriu e assenti.

— Obrigada.

— Okay! — Victor afastou-se. — Podemos tentar isso, mas antes vamos colocar o plano da morte da Alice em prática. Temos que fazer isso rápido.

— Concordo — comentou Amira. — Antes temos que falar com algumas pessoas. Precisamos controlar um dos médicos do hospital e o legista. Não vai ser nada bonito se eles me abrirem.

— Como assim? Abrirem você? — perguntei.

— Mais uma vez terei que usar o seu rostinho lindo, Alice — me respondeu voltando a sentar na mesa e colocando os pés em cima dela. — E o que fazem com pessoas mortas? — deu uma pausa, para que alguém respondesse. Como não houve ninguém, Amira continuou. — Necropsia.

— Porque não posso fazer isso? — os encarei.

— Primeiro, você é uma recém-nascida — começou Tom a falar e me virei para encará-lo. — Segundo, o vampiro fica ainda mais instável com as emoções a flor da pele. Imagine você dentro de um caixão e ouvindo sua família e amigos chorarem? Você pode perder o controle e se levantar. Daí, boom... a morte de mentirinha vai por água abaixo.

— É aconselhável que uma vampira controlada faça isso — concluiu Ethan.

— Controlada e que saiba mutar — Tricia também voltou a falar.

— Resumindo: Amira vai em seu lugar — finalizou Tom.

— E que médico seria esse? — perguntei e Victor me olhou.

— Steve seria o mais indicado — balancei a cabeça negativamente.

— Steve está com o coração fraco. O operei. Se souber que morri, pode...

— Não temos outra opção — concluiu.

— Vou falar com ele. Vou pedir, pessoalmente, a sua ajuda.

— Alice... — me chamou Victor, mas o interrompi.

— Está decidido — falei firmemente e os membros do conselho encaram o nosso líder. Não pude conter as lágrimas. — Ele é como um pai para mim e se morrer por causa disso, nunca vou me perdoar. Steve vai entender, tem a mente aberta.

— Tudo bem. Vamos conversar com ele então — Victor beijou a minha testa.

Respirei fundo quando parei de frente para a entrada do hospital. Victor me puxou e me apertou fortemente em seus braços. Era para me acalmar visto que não conseguia parar de tremer.

Segurou em minha mão e me arrastou para dentro do hospital. Se tinha um lugar onde um recém-nascido deveria passar longe, era ali. O cheiro de sangue estava em todas as partes e me pus a imaginar como Ethan, Andrei e Victor conseguiram andar ali sem demonstrar fraqueza.

Andrei era mesmo enfermeiro do Saint Agnes e via cada coisa durante o expediente que me perguntava se ele nunca atacou nenhum paciente que chegou com hemorragias. Era algo extremamente tentador. Prendi minha respiração imediatamente.

Passamos por um homem com uma fratura exposta e senti minha garganta arder desesperadamente. Reparei em sua roupa ensanguentada enquanto Victor me puxava ainda mais para perto, me imobilizando em um abraço apertado.

— Acalme-se. Você consegue — sussurrou para mim.

— Não depositaria muita confiança em mim, se fosse você. Estou quase perdendo o controle — respondi e Victor me largou, segurando meu rosto com as duas mãos e me colocando contra a parede do corredor. Olhou em meus olhos e permaneceu seriamente.

— Quem é você? — franzi o cenho sem entender a pergunta. — Me diga, por favor, porque você não é a Alice. A mulher que conheci era forte, não se deixaria levar por isso aqui.

— A Alice que conheceu está morta. Morreu naquele apartamento.

— Não. Ela ainda está aqui, não amaria outra mulher que não fosse ela — Victor me beijou. — E eu amo você. Então seja forte e isso vai acabar logo. Entendeu? — Os olhos verdes me miravam, esperando uma resposta e assenti. Recebi outro beijo rápido e um sorriso simples nos lábios vermelhos. — Então vamos logo.

Tornou a me arrastar pelo corredor e me fez parar de frente para uma porta onde estava escrito "Dr. Steve Maurer". Ergueu sua mão e bateu na porta.

— Entre — mandou a voz de dentro da sala. Segurei a maçaneta e a abri. Steve parecia ter visto um fantasma. Levantou-se, rapidamente e paralisou. — Alice.

— Oi, Maurer — respondi, chamando-o pelo sobrenome. Sempre o chamava assim quando tinha feito alguma coisa e me sentia culpada. Havia desaparecido do hospital, há quatro dias, e não respondi a nenhuma ligação dele. Estava preocupado.

Aproximou-se rapidamente de mim e olhei para Victor, antes de sentir os braços do médico ao redor de mim. Era um abraço de preocupação e de alivio, ao mesmo tempo. Retribui com a mesma intensidade, sem respirar.

— Menina, você quer me fazer enfartar uma segunda vez? — me perguntou enquanto se desvencilhava e seguia na direção de Victor, para apertar-lhe a mão.

— Desculpe, Steve — respondi encarando-o. — Vou lhe explicar tudo, mas precisamos conversar um assunto extremamente importante agora.

— O que está acontecendo? — nos indicou duas poltronas e nos sentamos.

— É complicado lhe contar sobre isso e peço, por tudo que é de mais sagrado, que me escute com atenção e acredite no que tenho para dizer.

— Alice, você está me deixando nervoso — rebateu e encarei Victor rapidamente. Me lançou um olhar sereno, como se me mandasse continuar. Encarei minhas mãos e elevei minhas vistas até Steve outra vez.

— Sou uma vampira — falei de uma vez e Victor levou a mão ao rosto. Especialmente quando Steve começou a rir. Gargalhar, para falar a verdade. — O que é engraçado? — perguntei dando um tapa no braço do vampiro ao meu lado, já que entrou no embalo de Steve e ria com ele.

— Só você mesma para me fazer tão bem, menina. Meu Deus! Você é a melhor — Steve enxugou as lágrimas do rosto e paralisou quando me viu mudar de forma, em sua frente. Meus olhos se tornaram a mescla dos meus dois criadores. As presas duplas fizeram minha boca ficar um pouco mais inchada do que era o normal.

O homem, na minha frente, empurrou sua cadeira para trás e se levantou rapidamente. Tamanho foi o susto que teve.

— Que merda é essa? — falou exaltadamente.

— Vou precisar que se acalme, Steve — mandei. — Não pode ficar assim, sabe disso — comecei a me aproximar dele. — Não vou te fazer mal. Juro. Só preciso da sua ajuda.

— Você é mesmo uma... — o interrompi.

—... vampira? Sim, eu sou — encostei em sua mão e a segurei forte na minha. — E preciso de você, mais do que nunca precisei em toda a minha vida.

Steve se afastou novamente e ficou nos encarando por um longo minuto. Inúmeras coisas passavam por minha cabeça, naquele momento, e estava começando a ficar desesperada. Victor sabia disso, de modo que se levantou e me envolveu em seus braços, para me acalmar. O médico deu a volta na sua sala e parou encostado em uma das paredes, olhando para nós dois de uma forma assustada. Aos poucos, a feição foi se desfazendo até que pareceu entender. Respirou profundamente e se aproximou, bem devagar.

Estendeu a mão para mim e a encarei por um tempo. Assim que a peguei me puxou, novamente, para um abraço. Acariciou minha cabeça e depois a beijou demoradamente.

— Te conheço desde pequena, menina. Não vai ser por causa disso que vou te abandonar — me respondeu quase em um sussurro. — Em que precisam de mim?

Perguntou por fim e desabei a chorar. Não importava o que eu era ou como era. Steve me aceitou daquela forma, tal qual um verdadeiro pai faria.

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