𝟎.𝟏𝟗 'latente

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Foi Billy quem disse isso. Entrando, com uma arma enorme, acompanhado de Moody Spurgeon, ele sorria como o verdadeiro idiota que era.

— Raposa? Que raposa?

— A que tem um rabo negro e está roubando as galinhas — Moody respondeu calmamente.

— Não tem nenhuma raposa aqui, então é melhor você guardar essa arma — Gilbert disse. — Eu gostaria de viver pra conhecer a professora nova.

Assim que terminou de falar, a porta se abriu e uma mulher loira entrou na sala. Carregando uma imensidão de coisas, um globo terrestres escorregou de suas mãos e rolou pelo piso de madeira, parando, apenas sobre o sapato lustroso de Billy Andrews.

Ela sorriu de maneira divina e lançou o trocadilho:

— Acabei de colocar o mundo aos seus pés, não foi? — O sorriso que Anne deu para a nova professora foi grande o suficiente para me contagiar também. — Bom dia a todos!

Num uníssono, a sala respondeu com um bom dia bem humorado.

— Aqui está, senhorita — Billy extendeu o globo para a professora.

— Meu nome é senhorita Stacy. Por favor, coloque essa arma lá fora. A sala não é lugar para armas.

— Claro, eu já estava indo fazer isso. — Isso em fez franzir o cenho. Billy estava mesmo sendo gentil com alguém?!

Soube que iria gostar da Senhorita Stacy nesse exato momento, acredito eu. A missão de fazer Billy calar a boca me parecia impossível — uma proeza nunca antes realizada —, mas ela conseguiu e ainda o fez abaixar o tom.

— Ah, que espaço ótimo! com tantas janelas... adoro ver a natureza. — Anne sussurrou um "ela parece minha alma gêmea!". Passei a mão pelas bochechas, num gesto envergonhado, e sorri cautelosa para a mulher. Meu rosto queimou ao tempo que os olhos atentos passeavam pela sala de aula. Ela parecia maravilhada com cada um dos míseros detalhes que lhe eram apresentados; como se nunca tivesse visto nada parecido antes. — Muito bem, vamos nos conhecer uns aos outros. Se levantem, por favor.

O casaco de lã deslizou pelos braços esguios da professora.

— Ela não está usando o espartilho!

— Movam todas as carteiras para os cantos, e vamos sentar no chão. Vamos formar um círculo e nos apresentar.

— Ai, meu deus — Anne se virou para mim, completamente extasiada. Ela dava pulinhos animados enquanto empurrava a mesa para o canto junto a Diana. — Estou tão animada! a escola finalmente vai se tornar o lugar que eu sempre sonhei que seria.

vergonha de nós dois
2

não gostava do frio, nunca gostei. era algo que havia percebido desde que desembarquei novamente em avonlea. acho que o clima havia se tornado mais denso do que me lembrava, ou então havia me acostumado com o calor de todas as outras cidades que visitei. e, quando nevava, parecia que, eu não sei, nada restava. era apenas vazio e... bom, consequentemente nada.

havia apenas calor quando nos encontrávamos. quando Amélia entrava e sorria para mim, quando eu podia segurar suas mãos e imaginar o momento em que finalmente diria sou seu, inteiramente seu.

e a quem eu queria enganar? eu amava cada parte de seu ser. cada mancha, fio de cabelo. tudo.

e realmente não sei como nós dois funcionávamos; ela era completamente radiante, e eu sempre preferi ficar no anonimato. Amélia era toda feita de luz, e tinha medo de que não houvesse ao menos um feixe de energia em mim. e, apesar de tudo, do oposto, ela trazia o melhor de mim.

blue boy, gilbert blytheWhere stories live. Discover now