.junte todos os pedaços que for encontrando
gostaria de poder te beijar
1
— Você sabia que — Oli havia acabado de entrar em meu quarto. Estava fazendo as malas quando ouvi o barulho da porta abrindo, esta que eu sempre deixava destrancada pelo começo da noite, anunciando sua chegada. Ele não olhou em volta, muito menos percebeu o quão ocupada eu estava, apenas encarou uma das pilhas dos livros franceses e não tardou a continuar: — se afogar em água salgada é diferente de se afogar em água doce? Demora muito, e ela puxa o sangue das células para os pulmões. Você, basicamente, se afoga no próprio sangue.
Não era como se eu não estivesse acostumada com as suas milhares de informações esquisita — Oliver vinha me contando sobre coisas inimagináveis desde que nos tornamos amigos —, porém ainda me surpreendia com a capacidade que ele tinha de mastigar as palavras e as jogar de uma vez. Ele, que com o tempo vinha perdendo o sotaque, falava tão rápido quanto Anne Shirley. Se juntasse os dois, acontecimento engraçadíssimo em minha opinião, seria impossível interrompê-los.
Desta vez eu estava preparada!
— São dez minutos de pura dor — finalizei, soltando um risinho sem graça. Água doce, água salgada, me remetiam ao poema de mamãe, que me remetia ao mar. E o mar, em questão, se tornava praia e me fazia lembrar de Gilbert Blythe.
Gilbert Blythe e sua maneira esquisita de me arrastar até a água. De dizer que se ele era louco, podíamos ser loucos juntos. De ficar tão bonito mesmo sem os suspensórios e os botões da camisa abertos. De me abraçar e me jogar contra a maré congelante. Gilbert Blythe e sua risada suave enquanto nadava. Seu riso, seus olhos. Gilbert Blythe e seu sorriso bonito, certeiro e devastador que me corroía a alma e me matava durante a noite. Gilbert Blythe e suas mãos em minha cintura. Seus dedos grandes e finos sobre o tecido do meu vestido. Suas palavras. O fato de eu me encaixar nele. Gilbert Blythe e o meu primeiro beijo roubado. Beijo este que havia se tornado dele, totalmente.
Mas no que estava pensando? Eu só poderia ser estúpida!
Balancei a cabeça rapidamente, me recusando a lembrar dele.
— Dez minutos? Dessa eu não sabia, você me pegou de surpresa — ele sorriu envergonhado, passando os dedos longos pelo cabelo castanho. Eu deveria me concentrar em Oliver, apenas nele e em seu jeito bonitinho de fingir não notar as coisas. — Tem algo que você não saiba?
— Tem muitas coisas que eu não sei, Oliver.
Coisas que eu tinha o prazer de desconhecer.
— Por isso não gosto de conversar com você — ele diz, bufando. Elliot passa as mãos pelas bochechas rosas, como eu costumava fazer, e se joga na cama. Amava a maneira com a qual as coisas fluíam entre nós. Não tínhamos vergonha um do outro. Era satisfatório. — Você é aquele tipo de pessoa inteligente que não admite isso, é mesquinho.
ESTÁ A LER
blue boy, gilbert blythe
FanfictionMe perdi em meio as suas palavras, reparando na forma em que seus olhos se comprimiam quando dizia algo. Adorava passar aquele tempo com ele, porque eu o enxergava de verdade - através dos seus olhos, como mamãe diria -; via alguém além do garoto tr...