𝟏.𝟎𝟑 'sobre coisas que queimam o âmago

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.odeio coisas que estremecem; odeio coisas escorregadias. odeio delírios e misturas. a campainha está a tocar e vamos chegar atrasados. temos de poisar os brinquedos. temos de entrar ao mesmo tempo

 temos de entrar ao mesmo tempo

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casa
1

Enquanto seu âmago queimava em ansiedade, Amélia não pode deixar de se sentir decepcionada quando viu o quão diferente a casa estava. A sensação de mudança foi inevitável, e mesmo assim desanimadora.

O pai abria a porta, animado e assoviando, tão pouco detalhista que não correu os olhos pela fachada e pelo jardim florido como a filha fez. As paredes não eram mais daquele amarelo falhado e sim de um rosa salmão que não combinava em nada com as cercas azuis e com as petúnias nos canteiros embaixo das janelas. Havia uma tela de proteção a frente da porta que destrancada com a mesma chave velha. O mesmo deck de madeira, mais brilhante, provavelmente recém polido, porém nenhum dos sapatos de sair do lado de fora.

Até mesmo a sala estava diferente! Não havia mais o tapete feio-confortável com as cores de uma abelha, mas sim um sem graça e felpudo tapete também salmão. Mais flores decoravam o cômodo, e isso era bonito. Mamãe deveria ter bordado mais durante os cinco meses em que estiveram fora, porque todas as almofadas agora tinham fronhas diferentes. Nada como era antes.

Era como estar em casa mas não reconhecê-la.

Amélia se sentiu desconfortável por um instante.

Ela havia passado tanto tempo longe que agora não conseguia se adequar ao silêncio daquele lugar.

— Onde está todo mundo? — perguntou.

— São duas horas — Richard disse, olhando o relógio de bolso como se fosse óbvio. — Sally e Margot devem estar fazendo compras, Evangeline, provavelmente, está brincando com alguma daquelas crianças, Joseph deve estar fazendo o que vocês jovens costumam fazer.

O que nós jovens costumamos fazer?, pensou.

— Posso ir até Green Gables?

— Se prometer arrumar suas coisas quando voltar...

— Não posso prometer isso. Sou a pessoa mais procrastinadora que conheço.

— E teve a quem puxar, não é? — ele perguntou retoricamente, largando as malas no chão e se jogando no sofá. Margot o mataria se o visse com as botas em suas almofadas.

eles
2

Ela o encontrou — ele e boa parte de seus antigos amigos — perto da prefeitura. Havia decidido seguir um caminho paralelo ao habitual, apenas para poder relembrar de seu antigo lar, quando os viu jogando algo na neve. Foi impossível não sorrir e não gritar o nome de Joe alto e claro. E quando ele largou tudo, pouco se importando com a partida, e correu para tê-la em seus braços, nada mais importou.

blue boy, gilbert blytheOnde as histórias ganham vida. Descobre agora