𝟎.𝟐𝟐 'uma parábola sobre um conto de abril

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o título desse capítulo vai começar a fazer sentido na segunda parte da história

.meu próprio cérebro é para mim a mais inexplicável das máquinas  sempre zunindo, sussurrando, planando rugindo mergulhando, e então se enterrando na lama. e por quê? para que esta paixão?

 e por quê? para que esta paixão?

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april
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"São muitos os meus defeitos, mas nenhum de compreensão, espero. Quanto a meu temperamente, não respondo por ele. É, segundo creio, um pouco ríspido demais... para a conveniência das pessoas. Não esqueço com facilidade tanto os disparates e vícios dos outros como as ofensas praticadas contra mim. Meus sentimentos não se manisfestam por qualquer coisa. Meu temperamento poderia talvez ser classificado de vingativo. Minha opnião, uma vez perdida, fica perdida para sempre."

Mais uma vez em Lotto's Eye, com xícaras de chá fumegantes e marcadores coloridos. Amália Rosenberg, a mais doce senhora da ilha, lia calmamente um dos trechos de orgulho e preconceito enquanto, em pequenas pausas, ria de alguns de meus comentários.

— Às vezes odeio Elizabeth Bennet — disse, mexendo nos brilhosos cabelos brancos. Quando perguntei o por quê, sua resposta foi acompanhada de um sorrisinho — Sinto que ela se apaixonou por Darcy no primeiro instante, e não percebeu. Ou foi burra demais, eu acho. São tantos sinais que os dois demonstraram desde inicio da narrativa; se amaram desde a primeira vez que se encontraram. Ardentemente. E, mesmo assim, preferiram manter o orgulho a cima de tudo. Principalmente ela, que sempre se recusou a acreditar na paixão de ambos. Isso é odioso. E irritante. — depois concluiu, como se deixasse de lado o pequeno rancor pela personagem: — E o pior: eles nunca se beijaram.

— Acho que o intuito era fazer com a Lizzy sempre fosse contra a ideologia dominante, fora que a ideia de casamento nunca passou pela cabeça dela. E o senhor Darcy era estúpido com ela. Sempre. Vivia chamando ela de feia ou desinteressante, com outras palavras. — pensei um pouco antes de finalizar: — Mas eles realmente se amaram. Ardentemente. Tanto quanto qualquer outro casal literário. Só foram um pouquinho mais devagar.

Ela riu, servindo-me outra generosa xícara de chá.

— Mas a falta de beijo foi um desrespeito enorme.

Com os dedos enrugados, ela pegou um dos biscoitos com gotas de chocolate e o enfiou na boca rosada. Eu estava começando a adorar Amália da mesma forma que havia adorado minha falecida avó. A senhorita Rosenberg era gentil, simpática e adorava discutir sobre os milhares de livros de sua pequena loja — você poderia pensar em qualquer romance, poesia ou suspense e, sem erro, ela saberia de cor e salteado todos os parágrafos. A leitora mais sagaz e perspicaz que eu já havia conhecido, era ela.

Retornando a leitura, Amalia fez alguns outros comentários — mas estava tão concentrada em beber o delicioso chá de camomila que me perdi em pensamentos improdutivos. Lembrei das telas que não haviam sido finalizadas, de middlemarch e de dançar com Gilbert na festa de tia Josephine. Engraçado como memórias são escassas e mais parecidas com a imaginação do que com reais lembranças. Me odeio por não saber explicar com exatidão o que aconteceu naquela noite.

blue boy, gilbert blytheOnde as histórias ganham vida. Descobre agora