𝟎.𝟏𝟗 'latente

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.este é o momento mais excitante que jamais vivi. adejo. ondulo. flutuo como planta no rio, deslizando para um lado, para outro, mas enraizada, de modo que ele possa aproximar-se de mim. 'venha', digo, 'venha.'

professora stacy1

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professora stacy
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Na primeiro manhã sem neve em Avonlea, fiz o que estava com vontade de fazer a tempos: entrei no galpão e retirei a velha bicicleta amarela. Sentei-me no banco, amaldiçoando o fato de estar de vestido, e rodei com a bicicleta pelo gramado de Blue Fences que começava a florescer.

O guidão parecia solto e a corrente enferrujada, e apesar de não me importar tanto quanto deveria na hora, soltei um suspiro sófrego, lamentando pelos longos dias que não pude correr com a bicicleta. Mesmo assim, agarrei-me a felicidade momentânea e desci a longa estrada de terra rindo e gritando como a tempos não fazia. Estou feliz, diria para qualquer um que perguntasse, e meu corpo está tão leve que posso voar.

As árvores carecas eram a única visão que tinha. Embaçadas como borrões, com um esplendor tortuoso. Passei tão rápido que os casarões se tornaram apenas riscos coloridos no meio da paisagem morta. As folhas grudaram em meus cabelos e os galhos arranharam minhas pernas — mas estava tudo bem. E, quando sozinha, sorri para as flores como se elas fossem minhas melhores amigas.

Joguei a bicicleta na grama morta e sem cor que assolava o terreno da escola. Encontrei com Anne e Diana na entrada; tarde demais para pegar o início da conversa, mas sabia que estavam conversando sobre a nova professora; ou algo sobre uma motocicleta surrealista, calças sem pudor, e péssimas impressões. Aparentemente, ela havia se atrasado para o chá da tarde com as mães progressistas, o que fez com que a senhora Andrews a odiasse — mas quem ela não odiava?

— Ela colocou a corda no próprio pescoço.

— Não a menospreze, você nem a conhece — Anne disse, exasperada. — Acho que ela parece espetacular. E eu vou ajudar a senhorita stacy. sei exatamente como é ser novo e ser muito julgado.

Sentei ao lado de uma garota que se apresentou como Sophia e abri o livro, sentindo o cheiro de novo. Não poderia sentar junto a Prissy esse semestre, uma vez que ela e as outras meninas mais velhas estariam iniciando um novo nível do curso.

Estava para começar O Corvo¹, mais um livro de Allan Poe² que me traria pesadelos em algumas semanas. Não ousei tocar na capa preta de desenho estranho durante a noite passada, muito menos quando acordei durante a madrugada o crepúsculo se alastrou, então carreguei o livro até a escola. Mamãe me recomendara a obra semanas antes de sairmos da Inglaterra, e, ainda que estivesse tão calada desde que Katty partira, me senti na obrigação de finalizar a leitura, ou ao menos começar, o quanto antes para poder distraí-la com perguntas ridículas.

— Aquela raposa? Em breve estará morta. Eu vou fazer um chapéu. — A frase esquisita e fora de contexto fez com que eu largasse a primeira página. Suspirei, em alívio porque temia me assustar durante a aula e em desânimo por adiar o processo outra vez.

blue boy, gilbert blytheOnde as histórias ganham vida. Descobre agora