𝟎.𝟏𝟒 'violino

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.realmente, eu não gosto da natureza humana a menos que esteja toda temperada com arte

realmente, eu não gosto da natureza humana a menos que esteja toda temperada com arte

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pessoas não deveriam se acostumar com absurdos como esse
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estou indo embora, querida. toronto me aguarda. me visite quando quiser, ames. você sabe o endereço.

katty.

O bilhete caiu de minhas mãos em direção à escrivaninha. A semana passou e com isso as aulas voltaram. Katherine partiu dias atrás e já estava morrendo de saudade de sua presença e dos cabelos ruivos esvoaçantes. Voltou para sua cidade natal, em algum lugar no leste de Toronto, e deixou para nós beijos e abraços e lamúrias. Ela fazia falta.

Eram sete da manhã quando me levantei e encarei o papel de cartão novamente. Com falta de ânimo para me levantar da cama, que naquele instante era tão confortável, comecei a devanear.

Pensava em como o feriado havia sido agradável: Gilbert me beijou tantas vezes na noite de véspera de natal que comecei a sentir falta do gosto doce de seus lábios. Eles eram tão macios e convidativos. E Blythe era tão gentil e educado e inteligente e bonito - nessa mesma ordem - que me derreti ali mesmo. Entreguei seu presente na tarde do dia vinte e cinco - a reação foi divinamente fofa - e ganhei, em troca, um arco de violino.

Céus, ele havia se lembrado.

- Toque para o mundo, Amélia.

Anne me entregou biscoitos deliciosos e lhe presenteei com um dos clássicos de Jane Austen - Orgulho e Preconceito -, pedindo apenas para que absorvesse o calor das palavras de Elizabeth Bennet e imaginasse a dança cruelmente linda entre ela e o senhor Darcy. Creio nunca tê-la visto tão feliz quanto naquele momento, faltava sair pulando por Avonlea. E aquilo me deixou tão feliz, que fiz questão de ressaltar o quão lindo era o seu sorriso. E a Shirley de bochechas coradas se autodeclarou a garota mais extasiada da ilha.

- Levante-se, Mélia! - Evangeline invadiu o quarto, vestida com lindas vestes amarelas, cantarolando o meu nome repetidas vezes. De certo que, com todo o orgulho que sinto em relação a minha irmã, seu humor matinal era a coisa que mais me chamava atenção na pirralha. Ela conseguia ser a pessoa mais feliz do mundo e mesmo assim não irritava à ninguém. Elétrico e mesmo assim contagiante. - O dia está lindo, não acha?

As cortinas foram abertas com brutalidade. Ignorei todos os elogios que um dia fiz àquela criança intrometida. Em instantes, eu a odiei por adentrar o quarto e trazer a luz solar junto consigo.

- Não acho que vou para a escola hoje - reclamei. Puxando a coberta mais para cima, fingi tossir. - Estou doente.

Eva, com seu gênio forte, puxou o tecido que cobria o meu corpo e me encantou com um sorriso maldoso.

blue boy, gilbert blytheOnde as histórias ganham vida. Descobre agora