22.

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Depois do encontro que tive com Ali naquela tarde e dela me contar o que ouvira no café, busquei Louisa e voltei para casa imersa em frustração. Tanta que nem sequer fui capaz de cozinhar. Deixei Louisa assistindo TV enquanto andei alguns quarteirões até o Bar do Mar para comprar a janta. Mesmo que Collin não estivesse em casa, comprei-lhe um talharim com molho à bolonhesa, sua comida favorita. Na verdade, toda e qualquer massa era sua favorita. Acho que fora culpa de seu tempo estagiando na Itália depois de se formar, por um ano. Até ele fora embora de Baydale por um instante, mesmo que somente para respirar durante um ano e depois afundar na areia movediça que banha a costa dessa cidade.

Até ali, ainda não havia aprendido a gostar de Baydale. Ainda não havia encontrado um bom motivo para amar a cidade, a não ser o fato de que Louisa a amava. Isso, ainda que uma enorme coisa, não me era o suficiente. Porém, ainda que eu já tivesse dinheiro o suficiente para ir para a capital, Gaya, por exemplo, eu não era capaz de abandonar a casa onde cresci, todas as memórias contidas nas paredes, a colina do farol, as manhãs de domingo na praia com minha filha e seu cachorro, os túmulos de minha mãe e minha avó e, acima de tudo, de abandonar Jonah e nossa história. Algo em mim implorava para que eu tivesse esperança. Esperança nele, em nós e no destino. Em mim.

Voltei para casa com algumas sacolas e Lou estava chorando no sofá. Quando ouviu o barulho da fechadura, correu até mim. Ouvi um estilhaçar contínuo vindo da cozinha e larguei as sacolas sobre o aparador de madeira no corredor da entrada.

— Eu tranquei a porta, Louisa. — Murmurei para ela. — É um ladrão?

— Não, mamãe. É o papai. — Ela sussurrou, assustada. O rostinho imerso em lágrimas, olhos inchados e roendo as unhas.

— O que houve?

— Ele chegou bêbado demais dessa vez, mamãe. Ele me perguntou se você me deixou sozinha para sair com o Jonah. Eu disse que você foi buscar o jantar e ele me chamou de mentirosa. — Chorou mais.

Foi a gota d'água. Ver minha filha chorando porque seu pai a chamou de mentirosa. Uma garotinha de dez anos de idade sendo abordada tão bruscamente pelo pai alcoólatra foi o que despertou em mim a noção de que eu estava vendo as coisas de maneira errônea. Ficar com Collin fazia mal à Louisa e não bem, como imaginei. Aquilo a estava destruindo.

— Pegue a chave e me espere no carro, já de cinto. — Balbuciei, nervosa. A entreguei a chave do carro que estava em meu bolso e caminhei até a cozinha.

Collin estava quebrando pratos contra meu piso de madeira. Pronunciei um "Collin" mais como um sibilo e ele se virou. As pupilas dilatas, os punhos cerrados e a postura imponente. Ele não era tão mais alto que eu e, certamente, não tão mais forte. Eu poderia lhe acertar facilmente com um golpe e derrubá-lo, se juntasse toda a minha força. Era o que faria logo.

— Você estava com ele. Meus amigos me contaram que te viram com ele hoje. — Sua fala saiu enrolada.

— E isso feriu seu ego frágil? — Eu disse com escárnio bem em seu rosto, pisando naqueles cacos com meus chinelos.

— Você é uma puta, Kaya. — Gritou. — E a Louisa será igual a você.

Minha mão acertou em cheio sua face quando ele mencionou minha filha. Minha.

— Não ouse dizer isso da minha filha, seu merda. — Eu disse entredentes.

— Você está me traindo com aquele merdinha? Está me traindo? — Berrou. Juro que senti as estruturas da casa tremerem.

— Não! Eu não estou! — Manti minha voz em um tom ameno.

— Eles viram. Eles viram você com ele no elevador. Eles viram ele pegando sua mão, sua vadia.

Onde o oceano não nos alcança.Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin