Um ano. Um ano desde que nos casamos e afundamos na praia do farol, felizes da vida.
Era uma manhã de domingo. O sol estava nascendo, fazendo sua presença sobre as nuvens alaranjadas e rosadas que beijavam o oceano lindamente. Estávamos sentados sobre a manta enquanto Alexis e Louisa corriam atrás de Liam pela areia.
— Eu tenho um presente de casamento. — Disse, deitada com a cabeça em seu ombro.
— O quê? O seu só chega segunda. — Disse, amuado.
— Não tem problema. — Balancei a cabeça. — Quando eu reencontrei o colar, comecei a escrever um livro sobre nós. Todos os momentos mais importantes para nós. Eu terminei o último capítulo há uma semana. Deve haver um epílogo, mas quero que leia.
— Escreveu sobre nós? — Ele abriu um breve sorriso doce. — Eu quero ler. Quero ler agora!
— Pedi para Maia imprimir e encadernar. Nada demais, mas eu queria que você fosse o primeiro a ler.
Tirei o manuscrito de dentro da mochila colorida de Lou e estiquei minha mão para ele. Jonah pegou e avaliou a capa translúcida flexível e a espiral negra. Encarou o título visível pela transparência da capa e sorriu.
— "Onde o oceano não nos alcança". — Repetiu em um murmúrio. — Eu gosto.
— Eu imaginei que fosse gostar. — Sorri. — Você devia voltar para casa para ler.
— Eu irei. Espero por vocês mais tarde. — Beijou meus lábios. Eu poderia morrer com seus lábios nos meus. — Eu te amo, Kaya.
— Eu te amo, Jonah.
Antes de voltar para casa, deixei Alexis em sua casa, no apartamento onde ela e Maia moravam no centro da cidade, ainda que passassem a massiva parte das semanas conosco.
Eu e Louisa almoçamos no centro comercial com Ali, como planejado. Às três, estávamos no carro, voltando para casa com calma após o encontro com Ali. Estacionei na garagem e, ao adentrarmos, lá estava o meu homem, sentado no sofá com o manuscrito em mãos, chorando feito uma criança.
— Ele chora demais para um cara desse tamanho. — Louisa revirou os olhos.
— O que eu te disse? — A repreendi.
— Que garotos também podem chorar. — Deu seu braço a torcer. — Eu vou subir. Vamos, Liam. — Chamou e então desapareceu pelas escadas rapidamente.
— Tudo bem, Jonah? — Sentei-me ao seu lado.
Inesperadamente, seus lábios tocaram os meus com tanto amor, que o ar escapou inteiramente dos meus pulmões. Suas mãos grandes seguravam meu rosto próximo do seu. Eu podia sentir o gosto salgado de suas lágrimas misteriosas.
— Amor? — Chamei-o, afastando levemente nossos rostos. — O que houve?
— É só que eu te amo. Eu te amo tanto, Kaya Morgan. Isso, o que você escreveu sobre nós dois e sobre todos os que amamos... isso foi incrível. — Beijou-me repetidamente. — Você é extraordinária. Eu tenho uma tremenda sorte de ter você. Esse livro é a mais linda declaração de amor. Nada que eu faça nesse mundo jamais será capaz de mostrar todo o amor que eu sinto por você, mas você foi.
Acariciei seu rosto com barba rala, bochechas coradas e olhos olhados. Esse livro é uma carta aberta de amor. De todo o amor que sinto por ele e todo o amor que jamais fui capaz de sentir por qualquer outro homem ou mulher que já pisou nesta terra. Meu coração pertence a este homem antes mesmo que eu sequer tenha tido ciência do que era amor. Nossas linhas haviam sido cruzadas antes de nosso nascimento, para sempre. E por mais que as infinidades tenham tamanhos divergentes, o nosso infinito que dizer para sempre. Quer dizer eternidade.
Agora que termino este livro e finalmente estou na última fase de publicação, vos digo: o amor é a coisa que mais vale a pena na existência. Ele nos resgata de onde quer que estejamos e é o que nos leva mais perto de um paraíso só para pecadores. O meu amor estava destinado ao de Jonah. O amor de Jonah estava destinado ao meu. Sempre fomos um para o outro e nenhum tempo indeterminado, marido agressivo, pais controladores, mortes indesejadas e nem mesmo mil oceanos seriam capazes de desatar os nós que as nossas linhas da vida cruzadas há mais tempo que o próprio tempo criaram. É assim que o amor é: irregular, imensurável e doce. Ele precede todas as nossas noções e nossos sentidos. Nada no mundo seria capaz de descrever o que sinto há tantos anos, mas esse livro foi uma tentativa. E ainda que eu não consiga agora, tenho a eternidade e muito mais para mostrar ao homem que amo até onde esse amor vai.
Fim.
YOU ARE READING
Onde o oceano não nos alcança.
RomanceKaya Morgan é uma jornalista e escritora que vive com a filha e o marido na cidade pacata de Baydale. Em certo momento de descoberta, decide escrever sobre a história de amor que marcou a sua vida, retomando os pontos mais memoráveis do romance que...