7.

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Como Luci ainda não estava com o braço realmente bom para voltar a tocar, fui pedida para estar novamente no Bay Palace tocando para os ricos e os cientistas comuns. Passei grande parte da noite procurando Jonah com os olhos, mas apenas tive vista de Maia em um belo vestido vermelho. Mesmo sem me conhecer pessoalmente e eu fazer ideia de que ela sabia que eu existia, parou ao lado do piano e disse:

— Você é mais bonita pessoalmente e olha que eu te achei linda na foto. — Disse.

Olhei ao redor para ter certeza de que ela estava falando comigo. E estava.

— E pelo o que parece, não só escreve bem, mas é uma pianista extraordinária.

Franzi o cenho, confusa. Essa era a forma que eu reagia diante de elogios: duvidando. Não acreditava inteiramente na possibilidade de, além de bonita, ser talentosa. Por isso imaginei que Maia estivesse se dirigindo a qualquer pessoa no salão, menos a mim.

— Eu estou falando com você, Kaya. — Revirou os olhos.

— Bem, obrigada. — Sorri imersa em vergonha.

Maia então apenas parou para me ouvir tocando, em silêncio. Ela tinha os mesmos olhos tristes de Jonah, mas os seus não eram inocentes como os do irmão e muito menos sorriam. Para ninguém. Nunca vi os olhos de Maia felizes desde o dia em que a conheci e até hoje espero ansiosamente pelo momento em que terei o prazer de presenciar isso. Os problemas de Maia eram maiores que eu imaginava e futuramente, cada um deles se tornaria um peso maior que seria capaz de aguentar sozinha e sóbria. A mulher no vestido vermelho e com o cabelo curto era consequência direta da negligência de pais que só te veem como um investimento e nada além disso. Por mais que ela também fosse uma mulher que deu errado e não cedeu à premissa da rendição para a qual todas nós éramos criadas, arrumadas e educadas, não soube lidar com isso. Por vezes eu acreditava que Maia preferia ter dado certo, pois ao menos assim conseguiria fingir ser feliz da forma que sua mãe fingia ser com a vida falsa que vivia, visto que não era capaz de encontrar felicidade alguma em como estava. A culpa não era, certamente, da sua liberdade, mas de a terem deixado achar, por muito tempo, que havia algo de muito errado em ser livre.

— Jonah não veio? — Indaguei.

Não achava pertinente vomitar minhas convicções sobre ela. Era mais fácil falar sobre qualquer coisa senão o porquê da primogênita sempre estar tão deprimida.

— Ele estava resolvendo algumas pendências com o pai dele.

Maia disse como se não fosse seu pai e ela realmente não o via dessa forma. Enxergava Lorenzo Santori como progenitor e homem que só simplesmente pagava a sua faculdade. Nada além disso. Às vezes eu invejava Maia e Jonah por terem pais, mas alguns anos depois descobri as atrocidades cometidas por Lorenzo, além de ter sido vítima de uma delas. Eram essas as ações responsáveis por manter Maia distante o suficiente para não sequer chamá-lo de pai, senão pelo nome. Quando soube de tal realidade vivida pela filha mais velha da família Santori, fui grata por jamais ter tido pai e, principalmente, por ser filha de Christie Morgan e de mais ninguém no mundo. A verdade é que não estamos aptos para viver vida alguma além da nossa. Temos a exata quantidade de fardos e felicidades que somos capazes de levar para a nossa vida. Nada mais e nada menos.

— Pediu para que o encontrasse na escadaria da frente. Estará lá te esperando.

Sorri abertamente para Maia antes que desaparecesse pelo salão sem dizer mais uma palavra. Ela não tinha facilidade em falar com as pessoas e nem queria. Éramos muito parecidas nesse quesito.

Quando fui liberada pelo senhor Orson, não hesitei em correr até a saída do hotel. Fazia três dias que não encontrava Jonah, pois ambos estávamos ocupados em nossos estágios. Eu sentia falta de conversar com alguém e de, principalmente, conversar com ele. Esperava ansiosamente pelo momento em que o encontraria.

Onde o oceano não nos alcança.Where stories live. Discover now