16.

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Aquele ano foi um dos piores da minha vida. Pensei que, aos vinte e oito, estaria com uma carreira fortalecida, apenas, mas não. Eu tinha uma filha de sete anos, o um marido constantemente bêbado no sofá, contas a pagar e o mais difícil de tudo: eu tinha que lidar com o luto. Luci começou a desenvolver problemas respiratórios que a mataram em pouco tempo. Ela estava em idade avançada e os problemas começaram a aparecer.

— Estou feliz, Kaya. — Luci disse quando deitada na cama.

— Está morrendo e está feliz? — Respondi, incrédula.

— Sinto falta da minha filha. — Murmurou. — Poderei reencontrá-la.

— E como eu fico sem vocês duas? — Disse com a voz embargada pelas lágrimas.

— Você fica bem, querida. Estou cansada demais para me forçar a viver muito além do que já vivi. É hora de descansar.

— Eu sei. — Continuei chorando. Minha voz estava dilacerada, em frangalhos.

— Eu queria te pedir algo.

Luci pegou minha mão.

— Seja feliz, Kaya. Se separe de Collin e vá em busca de um amor de verdade. Você está se prendendo a ele por causa da Lou e eu sei que ela não quer isso.

— Você quer que eu lide com a sua morte e com um divórcio ao mesmo tempo? Está me superestimando.

— Quando se divorciar dele, vai entender que não é difícil carregar um término desses. É difícil continuar com ele. — Assentiu.

— Eu te amo, Luci. — Beijei sua testa. — Depois falamos disso.

— Tudo bem, meu amor.

Não haveria um depois. Essas não foram as últimas palavras que me disse, mas foram as palavras que eu melhor devia ter ouvido. Acreditei que poderíamos conversar sobre isso quando ela melhorasse e voltasse para casa. Luci não voltaria nunca mais.

Josie veio da Argentina com Clara para o enterro na semana seguinte. Elas ficaram por uma semana e me ajudaram a colocar tudo no lugar.
Na manhã de domingo após a morte de Luci, fomos as quatro à praia. Clara brincava com Lou, cabisbaixa, enquanto eu e Josie observávamos.

— Não tem porquê ser forte dessa vez como foi com a mamãe. Nunca a vi chorar por ela, mas pode chorar pela vovó. — Josie disse e pegou minha mãe.

— Não preciso ser por vocês, mas preciso ser por ela. — Disse olhando para a minha filha. — Não sei ser mãe sem Luci. Não sei ser ninguém sem ela. — Balancei a cabeça.

— Faz anos que não te vejo e você continua sendo chata. Continua deixando de viver e fazer o que quer para preservar os outros. — Revirou os olhos.

— Com a Louisa é diferente. Quando tiver filhos, vai entender. — Afirmei. — Ela é tão nova para passar por tanta coisa.

— Kaya, eu não consigo imaginar como é estar dentro de você. — Josie bufou. — Abria mão dos aniversários, não se deixou abalar pela morte da mamãe por minha causa, teve que lidar comigo e Luci mal conseguindo olhar para você por parecer com ela, desistiu da faculdade por minha causa, deixou o único homem que amou para que ele tivesse o futuro dos sonhos, se casou com um homem que odeia porque ele é pai da sua filha e agora a nossa avó morreu e você não se deixa derramar uma lágrima sequer porque não quer preocupar a sua filha, que certamente é mais madura que você. — Dissera.

— Faria absolutamente tudo outras mil vezes, se necessário.

Josie ficou de joelhos sobre a manta, de frente para mim.

Onde o oceano não nos alcança.Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt