28.

52 9 0
                                    

Naquele dia, deixamos Clarice na estação de trem para que fosse para Gaya pegar o avião para Amsterdam, para ficar com Maia.

— Vovó, traga a mamãe de volta, por favor. — Pediu Alexis, chorando. — Por favor.

— Eu irei, meu amor. Prometo. — Abraçou a neta com.

Após sua despedida de Alexis, Louisa e Jonah, a mulher se virou para mim com seus olhos negros intimidantes, mas a expressão suave e receptiva, como quem diria coisas gentis.

— Cuide deles. Confio em você. — Segurou meus ombros com suas mãos delicadas.

— Eu irei. E você, tome o mundo nas mãos. Tenha coragem. — Dei um sorriso ameno para ela.

— Eu terei por mulheres como você e Maia. — Inclinou seu corpo esguio para abraçar o meu. Seu abraço de mãe me lembrava como era ser abraçada por Christie, então o prolonguei e ela não viu problema algum nisso.

E então ela se foi. Adentrou ao trem e deixou nós quatro com peitos vazios, já sentindo sua falta. A mulher que Clarice se deixou ser após seu sopro de liberdade era a mais agradável existente. Era como minha mãe. Lembrava-me dela.

Enquanto as meninas corriam pela rua com as outras crianças das casas vizinhas, Jonah se sentava ao meu lado gradativamente com duas canecas verdes de café. Após me entregar uma delas, passou o braço sobre meu ombro e pressionou os lábios em minha têmpora por alguns segundos carinhosamente. No mesmo instante em que me levei a caneca à boca, meu celular tocou em meu bolso. Usei minha mão livre para puxá-lo do jeans e o nome da minha advogada, Aileen, brilhou na tela. Atendi imediatamente, sabendo que aquelas eram notícias sobre o divórcio.

— Oi, Aileen. Notícias? — Murmurei.

— Sim, Kaya. Ótimas notícias, por sinal. Collin finalmente assinou os papéis do divórcio. Ainda há burocracias para serem resolvidas, principalmente sobre a guarda da Louisa, mas, bem, você está divorciada. — Sua voz soava empolgada como nunca. — Parabéns, Kaya.

— Obrigada, Aileen. Obrigada! — Exclamei, em uma empolgação infinitamente maior que a sua.

Desliguei o telefone e olhei para Jonah com olhos brilhantes. Ele estava curioso, perdido em tamanha animação que eu transbordava.

— O que houve?

— O que houve é que eu sou sua. Completamente sua. — Beijei-o. — Tudo entre mim e Collin terminou. A única coisa que existe entre nós é Louisa e nada além disso.

— Ele assinou os papéis?

— Sim. — Meu sorriso se alargou. — E nós dois vamos nos casar.

— Nós vamos. — E então o belo sorriso de Jonah, o maior que ele tinha, se fez presente. Era como a visão do paraíso. — Não vejo a hora de você ser minha esposa, Kaya Morgan.

— E eu...

Antes que eu pudesse terminar minha frase, um carro familiar adentrou à rua. Louisa arregalou seus olhos verdes como os meus, olhando para mim. Eles estavam repletos de pavor, de um medo singelo. Engoli a seco, sabendo que aquela não era a minha hora de sentir medo de Collin, porque ali estava seu carro atravessando a estrada até, enfim, estacionar diante de mim e Jonah, ainda sentados estáticos nos degraus de madeira da varanda.

— Eu quero que leve a Louisa. — Sussurrei para Jonah, que esbanjava um semblante de completa confusão, alheio aos acontecimentos daquele instante.

Minha filha partira, correndo, em minha direção. Rodou seus braços ao redor do meu pescoço, apertando-o com força. Eu podia ouvir seu coração bater forte, fora de ritmo. Ela estava com medo de ele tentar encostar em mim de novo e, é claro, de ele dizer as coisas tenebrosas que ousou na última vez.

Onde o oceano não nos alcança.Where stories live. Discover now