Onde o oceano não nos alcança.

26.

Um mês após a morte de Lorenzo, Jonah me convidou para um encontro. Um encontro oficial. Eu perguntei se podia escolher o lugar e fazer uma surpresa para Jonah, que apenas aceitou. Louisa passara o dia na casa de Clarice com Alexis e ambas dormiriam lá, o que nos dava a noite juntos.

Subi até o sótão empoeirado e abri as janelas que davam para uma espécie de pequeno deque abandonado que não usávamos desde que a morte de minha mãe. A vista da lua e das ondas quebrando na areia seria a vista do encontro perfeito. Abri uma mesa de madeira dobrável esquecida no sótão e duas cadeiras também dobráveis. Limpei cada uma das peças para que ficassem imaculadas. Estiquei uma toalha de mesa sobre a superfície de madeira com calma e arrumei os pratos da minha melhor louça que trouxera dentro de uma cesta de piquenique. Organizei as taças, os pratos e as flores compradas mais cedo no centro da cidade. Um lindo buquê de amarílis brancas, minhas flores favoritas. No jardim da casa de Clarice, havia algumas amarílis, então imaginei que Jonah também fosse gostar. Pendurei luzes quentes com demasiada dificuldade, contudo o resultado fora extraordinário. Nosso encontro seria lindo.

Vesti o meu vestido mais justo, do azul escuro que se equiparava aos lindos olhos de Jonah, e o par de sapatos mais bonitos, raramente usados. Arrumei meu cabelo curto e vesti um pouco de maquiagem nos olhos, que ressaltavam o verde claro do meu olhar. O batom vermelho deixava meus lábios mais atraentes e maiores. Eu estava linda. Olhei-me de relance no espelho e surpreendi-me com a figura que pairava ali, esperando pelo homem que tanto amava.

Já pronta, fui para sala esperar. Minhas mãos transpiravam e o ar saía pesado pela minha boca, como se eu fosse uma adolescente apaixonada nervosa para o primeiro encontro. Ainda que eu e Jonah tenhamos passado por diversas situações e nos reencontrado depois de onze anos, todo o amor por ele que existe dentro de mim é o mesmo amor que eu sentia com dezoito anos. O amor era mais intenso naquele instante, como uma mulher de trinta anos, contudo, eu ainda era eu e ele ainda era ele e isso era o suficiente para fazer meu coração bater descompassado. O suficiente para me deixar tonta com a ideia de algo dar errado. Engoli o nervosismo a seco, limpei as mãos ociosas na saia do vestido e levantei-me para beber água no mesmo instante em que o soar de um bater na porta se vez ouvir pela sala.

— Você consegue, Kaya. — Eu disse a mim mesma.

Caminhei até a porta em passos compassados e quando essa fora aberta, meu coração errou a batida ao menos quinze vezes em um segundo. Ele estava absurdamente lindo.

Vestia calças escuras e uma blusa social branca que acentuava muito bem seus músculos. Mexia nervosamente nos óculos em seu rosto e sorria. Um sorriso ansioso. Ele estava tão nervoso quanto eu para aquilo. Para um encontro oficial.

— Oi. — Disse sorridente. — Você está... meu deus, Kaya, está espetacular. — Passou a mão pela boca.

— Você também, devo dizer. — Não conseguia conter meu sorriso. — Agora entre. O penne está quase pronto.

— Você cozinhou? — Disse surpreso.

Bem, eu tentei. Aprendi uma receita na internet que consistia em colocar o penne para cozinhar e preparar um molho fácil. Dorei o alho, fritei um pouco de bacon, refoguei cebola, tomate e pimentão com um pouco de azeite e especiarias. Fiz um molho de tomate com tomates de verdade, comprados frescos na feira daquela manhã. Depois disso, adicionei o molho ao refogado com um pouco que creme de leite, pimenta do reino, a minha preferida, e adicionei um pouco de queijo. Parecia cheiroso e delicioso, melhor que se eu comprasse pronto. O aroma inebriava todos os cantos da casa e, pelo visto, os sentidos de Jonah também.

— Como isso está cheirando bem...

— Eu tentei. — Sorri.

Ele me seguia até a cozinha, onde o macarrão terminava de cozinhar no molho para absorver o gosto. Jonah erguei a tampa translúcida da panela e o vapor subiu até seu rosto, embaçando seus óculos.