19.

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— Kaya. — Chamou Ágatha, minha chefe. — Minha sala.

Levantei-me e caminhei até sua sala de paredes de vidro.

— Sei que esse não é o seu tipo de matéria, mas preciso que vá ao aquário. Estão precisando atrair mais pessoas para o visitarem; precisam de dinheiro. Nos pediram para colocar isso no jornal.

— Eu não escrevo esse tipo de matéria. Por que eu? — Indaguei.

— Não temos mais ninguém disponível hoje e você é a única que consegue fazer isso rápida e perfeitamente.

— Tudo bem, mas eu não sei nada sobre biologia marinha. — Suspirei.

— Vão mandar um cientista para lá e te ajudar em um tour. Preciso dessa matéria até amanhã.

— A terá pela manhã.

Saí do prédio e fui de carro até o aquário da cidade. Era lar dos animais em reabilitação e dos que não tinham mais como voltar ao mar, caso contrário, morreriam. Era aberto para a visitação, pois não recebiam tanto dinheiro quanto a universidade e o instituto. Se estavam perdendo dinheiro, uma matéria no jornal da cidade ajudaria na divulgação e eu, modéstia parte, era extremamente persuasiva com as minhas palavras.

Cheguei ao aquário e caminhei até a recepção.

— Bom dia. Sou Kaya Morgan, jornalista do Bay Journal. — Disse à recepcionista.

— Estávamos esperando por você. O acompanhante responsável pelo seu tour deve estar a caminho. Você pode esperar ali. — Disse e apontou para os bancos do hall.

Sentei-me e aproveitei o breve tempo de espera para ler. Estava lendo Sylvia Plath, Ariel. Amava — ainda amo — seus poemas. Achava a literatura de Plath fascinante, ainda que demasiado melancólica e mórbida. Mesmo assim, lia seus livros. Ariel me foi indicado por Ali, apaixonada pela literatura feminina quase tanto quanto eu. A apresentei várias escritoras e ela a mim, como uma troca de literatura que provocava experiências únicas. Nossa amizade se fortaleceu pela literatura e ela, como escritora publicada, inspirava-se não tão somente nas grandes e conhecidas mulheres, tanto quanto nas pequenas e quase que invisíveis, como eu. Eu escrevi narrativas durante todos aqueles anos, mas as deixei guardadas, morando em cartões de memória e cadernos guardados em caixas. Esse é o primeiro livro que escrevo sem o intuito de esconder do mundo; sem vergonha de ser lida como o livro que sou.

— Plath e sua atração pela morte. — Alguém disse.

Fechei o livro e ergui o olhar. Jonah.

— O que faz aqui? Está me seguindo? — Questionei.

— Sou seu guia. — Sorriu.

— Você não tem que, não sei, colocar um jaleco, olhar coisas pelo microscópio e escrever artigos científicos?

— Essa é a sua visão estereotipada de um biólogo marinho? — Gargalhou. — Estamos desenvolvendo alguns estudos, mas eu quero mesmo dar aula na universidade. Tenho uma entrevista na sexta.

— Um homem intelectual. Sabia que teria um futuro brilhante.

Levantei-me e parei à sua frente. Um homem bonito e bem vestido falando sobre a literatura de Plath e sobre sua entrevista para professor universitário. Excitante. Jonah era apaixonante e deveras excitante. Isso era incontestável.

— Eu esperava o mesmo de você. Não me decepcionei nem um pouco. Você é bem sucedida e independente.

O sorriso de Jonah escondia algo por trás. Coisas que eu ainda não era capaz de desvendar. De qualquer jeito, apreciava-o.

Onde o oceano não nos alcança.Where stories live. Discover now