— Por aqui — Jeffrey gritou, tomando a frente, como se fosse o líder.

Henrique podia ver a ambição nos olhos do irmão, mesmo nos mínimos detalhes. Eram ferozes e ardiam toda vez que fixavam sobre si, como uma navalha afiada o dilacerando sempre que se encaravam.

— Quem te colocou no comando? — refutou, passando por Jeffrey e esbarrando no seu ombro.

Garret olhou de um para o outro, mas permaneceu calado, enquanto observava Henrique tomar a dianteira e puxar a flecha da aljava em suas costas. Ao seu lado, agora estava o irmão do meio, a raiva exalando e misturando-se com o calor e umidade da floresta.

— Você vê porque temos que fazer o que combinamos? — Jeffrey rosnou em baixa voz para que Garret escutasse.

— Tem certeza? — O caçula conseguiu achar o seu próprio som após alguns segundos, um calafrio percorrendo a sua espinha e o estômago embrulhando com o que poderia ocorrer daqui algumas horas.

Jeffrey olhou para ele, o lábio subindo levemente com escárnio e seus passos se atrasando para permitir que Henrique continuasse a andar e ficasse longe deles.

— Quem será você, irmão? Henrique terá Ílac e eu, Medroc. Quer continuar sendo uma marionete do nosso pai? Quer voltar a ficar trancafiado na prisão pútrida matando os restos do nosso pai? Nosso próprio sangue? — A sobrancelha de Jeffrey se arqueou e Garret teve certeza que agora vomitaria, porém, não podia. Seu pai o treinara tanto para que fosse forte, por isso colocar a sua bile para fora não poderia ser uma opção. — Você será um nada para ele como sempre foi. Ou já esqueceu o que ele fez com você? É isso o que quer?

— Claro que não! — Dessa vez uma fúria volumosa e incandescente explodiu dentro de Garret, fazendo com que fechasse os punhos e empurrasse Jeffrey, enquanto as lágrimas acumulavam nos cantos dos seus olhos.

Era como se um tornado passasse e roubasse todo o oxigênio, ele não conseguia respirar, não quando as lembranças dos bebês mortos e apodrecidos ainda assombravam as suas narinas. Era como se tivesse perdido no tempo de novo no meio da escuridão, sem saber o dia que conseguiria sair daquela prisão.

Garret sentiu uma dor escaldante no lado direito do seu rosto, seus olhos se abrindo e vendo seu irmão o sacudir.

— Eu preciso de você, não deixe que o pai te domine. Não aqui. Nós podemos ser donos da nossa própria história, Garret, fazer um novo caminho. Mas antes... precisamos acabar com ele. Depois de termos tudo em nossas mãos, nosso pai terá o que merece. Você está dentro ou não?

Garret havia sumido... de novo. Sua mente era um reboliço que ele tentava disfarçar com risadas e gracejos, mas não com Jeffrey. Nunca com Jeffrey. O único que o compreendia e o ajudava.

— Seremos sempre nós — Garret recitou, estendendo a mão.

— Nós juntos para sempre. — Jeffrey repetiu, trazendo a cabeça do irmão para o seu peito e dando-lhe um beijo em sua cabeça.

Ambos voltaram ao caminho disposto da estrada principal. Jeffrey conferiu todas suas armas e equipamentos, assim como Garret. O plano já estava sendo cozido há tempos e esse era o dia perfeito. Os demais soldados sempre ficavam para trás, dando o espaço solitário que precisavam para não ter testemunhas.

— Vocês vão ficar aí? — Henrique surgiu por detrás de uma das árvores, voltando para encontrar os irmãos. — Não podemos nos afastar, estamos perto da área das hienas.

Jeffrey abriu um sorriso, passando por ele e acelerando o seu andar.

— Está com medo, irmão? — falou mais alto, abrindo os braços e correndo agora de costas.

Trono de SangueWhere stories live. Discover now