Capítulo 40 - Parte II

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Há apenas duas certezas na vida. Uma corresponde ao passado, outra ao futuro. Você nasceu. E um dia morrerá. Duas verdades universais que acompanham a vida de um ser humano e que fogem do seu controle.

Evelyn nunca teve medo da própria morte. Sua vida era um colapso de acontecimentos que resultaram num propósito: zelar por Ílac e por sua família. Era por isso que respirava e era essa ânsia que fazia com que seu coração ainda batesse dia após dia.

Contudo, o ar cheirava a morte crua, mesmo que ainda não fosse a sua. Os gritos dos homens penetravam em seus ouvidos como uma música abafada, bloqueada por um alvo maior. Sua armadura que era cinza, tornou-se um escarlate vivo, já não sabia o que era seu e o que era do inimigo.

Um corte, uma ferida, uma pancada... tudo isso era inútil porque, apesar de não ter medo da morte, Evelyn ainda não poderia morrer. E era essa convicção que a guiava cada vez que sua espada era enfiada no peito de um soldado ou que a lâmina afiada arrancava a cabeça do seu algoz, ou mesmo quando precisava pisar nos corpos pelo chão para avançar, mal sabendo se era um dos seus ou não.

O ar rarefeito cheio de abutres prontos para devorarem a carniça dos mortos já os cobriam haviam dias. Ela sabia que nada estava ganho, mas avançaram. A cada dia, ainda com toda perda, o reino prosseguia contra Medroc, pouco a pouco conquistando terra e empurrando o inimigo para trás. Ílac ainda se mantinha de pé. Era o que importava, afinal. Isso e destruir o rei Garret, que escondia-se atrás das suas tropas como um covarde.

Às vezes Evelyn se retirava com o seu pelotão para um breve descanso, apenas porque seu corpo físico estremecia com a dor e a exaustão. Ela jamais seria a rainha que se esconde, mas os homens precisavam de energia e, por isso, se revezam nas batalhas, a fim de permanecer de pé. E quando a noite caísse, como um acordo mútuo entre os reinos, ambos se afastavam, recolhiam seus mortos e voltavam ao alvorecer.

E ali estavam novamente, o sol mal despontando e o sangue já cobrindo toda a campina. Na noite anterior, ela havia mandado os arqueiros cobrirem as laterais do campo sangrento, aproveitando as árvores da floresta ao fundo ao seu favor. Isso antes de entrar na tenda e ter Elijah se derramando nela. Sem juras, apenas carne e sons. Toda noite era a última noite. Até que o amanhã não existisse mais.

Um espião havia falado que o rei de Medroc apareceria em campo hoje e Evelyn estava pronta para vê-lo. Seu corpo comichava com o ódio que latejava como uma coceira sarnenta, terrível e desesperadora que precisava ser saciada. Ela transpassou sua espada no peito de outro soldado inimigo e ele caiu ao chão. Mas ainda não era Garret.

Garret, o rei de Medroc.

Garret, que outrora já fora seu cunhado.

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