Capítulo 42 - Parte I

522 69 35
                                    

O fedor da morte estava no ar. A terra seca havia virado lama, molhada pelo suor e o sangue dos soldados abatidos. O sol havia feito a sua curva e, no final da sua claridade, a lua aparecia, dando sinais que a noite estava por vir.

Não haveria trégua dessa vez. Ninguém carregaria os mortos para suas covas e ninguém pregaria seus olhos para o descanso. Não quando Medroc se vitoriava, cercando o exército de Ílac.

Por um segundo, Elijah observava tudo em um processo lento, os homens caindo de um lado, do outro despedaçados. Por mais que ele lutasse e matasse sem cessar, eram muitos. Eles não teriam forças suficientes para durar por muito mais tempo. Doía-lhe pensar que talvez ele poderia ser o único ainda vivo, que a essa altura nem sabia onde estava sua rainha e nem mesmo sua filha. Que havia perdido não só a guerra, mas tudo o que significava para si.

Ele não desistiria. Que escrevessem em sua história que havia lutado até o fim. Contudo, não havia muito o que fazer quando o exército inimigo havia o rodeado. Sem rota de fuga, estavam presos numa redoma formada por um cerco humano de soldados prontos para matá-los.

Da colina Garret descia, o chofer medrockiano tocava alto, anunciando a vitória dos seus. Elijah sentia não só o gosto da derrota em sua boca, mas a dor do fim de um império... do seu lar. O que Medroc faria com Ílac? Qual seria o nível de destruição quando a família real Kreigh tornasse apenas uma lenda contada pelas gerações? Haveria mais por trás das páginas? Um dia haveria outra história que mostrasse a ressurreição de um império que amou e lutou por sua terra? Elijah não saberia dizer, mas esperava que sim.

― O que eles estão fazendo? ― o único homem de Elijah vivo perguntou ao seu lado, observando que o exército inimigo estava parando de lutar e apenas alternava entre rir, festejar e ameaçá-los.

O General respirou fundo, abaixando sua espada e observando em volta a formação em que estavam, embolados, os homens de Medroc afastando-se apenas para rodeá-los e manter os de Ílac no centro.

― Ele está brincando conosco ― Elijah murmurou, vendo o rei se aproximar, deslocando-se em sua direção. ― Garret poderia terminar isso agora se quisesse...

O amigo acenou em concordância.

Os dedos de Elijah apertaram com força o cabo da sua espada, ainda que seus músculos ardessem de exaustão. Ele precisava estar pronto caso Garret quisesse algum tipo de duelo. Ou o suficiente para lutar até morrer.

O cavalo do rei trotava ao mesmo tempo que o General caminhou por entre seus homens, abrindo espaço até que ambos se encontrassem.

― Aí está você! ― Garret sorriu ao avistar o homem que detinha a mais alta patente de Ílac depois da rainha. ― Estão prontos para se render? ― o rei de Medroc rugiu, erguendo sua espada ao céu. ― Vocês estão cercados e não há mais escapatória. Rendam-se, declarem-me como o seu rei e suas famílias serão poupadas.

Elijah encarou o inimigo, sua carranca aprofundando-se e o nojo tomando conta das suas entranhas. Ele juntou sua saliva e cuspiu aos pés do rei de Medroc, dando um pequeno chute na terra na direção do homem.

― Se tivermos que morrer com nossa terra, morreremos, Garret. Mas não é a mim que se deve pedir rendição. Eu não respondo por Ílac, Evelyn Kreigh sim.

O lábio do soberano se elevou e o rei lambeu os lábios com o olhar alucinado de emoção, ele tinha uma vantagem e Elijah percebeu instantaneamente.

― Eu acredito que ela está impossibilitada nesse momento. ― Garret riu, passando o dedo por sua espada enquanto o observava.

O corpo do general tremeu, mas não de medo. Era o ódio na sua forma mais pura e crua, fazia sua carne estremecer com a força que se segurava para não se jogar contra o rei de Medroc e esfolá-lo. Seria um erro, morreria antes que o alcançasse, mas o impulso era tão forte que uma parte da sua vivacidade apagou por ter que se impedir.

Trono de SangueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora