- As Baixas da Batalha -

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— Algo que você vai adorar. Tem a ver com ossos retorcidos... — As palavras maldosas de Borbon causaram uma pequena, quase imperceptível, expressão de temor no rapaz.

— Borbon está tentando assustá-lo, não vamos te machucar — disse Mercel. — Um príncipe ferido não nos seria útil para nada. Nós o traremos água e comida durante o tempo que ficarmos aqui, depois decidiremos o que fazer com você.

— E para deixar claro, se você gritar por ajuda de alguém na estalagem, nós enfiaremos um pano na sua garganta — salientou Roren. — Então se comporte e todo mundo fica feliz.

Dito isso, Mercel virou-se e saiu pela porta. Roren lançou um olhar de desprezo no menino e logo seguiu os passos de Mercel. Borbon foi o último.

— Ei! — Finnan o chamou antes que ele deixasse o cômodo. — Eu quero ir no banheiro.

— Cague aí mesmo. — E assim fechou a porta, trancando-a em seguida.

No andar de baixo, o restante do grupo descansava e fazia o que lhe parecia mais adequado a se fazer. Laurelia rezava aos Seres Aliais pela vida de seu filho, ela sentou em uma mesa nos fundos do restaurante e por lá ficou rezando sozinha. Adilan ainda demonstrava certa dificuldade em acreditar no que havia acontecido, não apenas pelo estado de seu irmão, mas também pelo ocorrido em si, algo muito inesperado e surreal. Eurene e Devin estavam sentados um ao lado do outro numa mesa, a garota usava um pano molhado para limpar o corte na bochecha do menino. Porém, Devin estava tão coberto de sangue que um banho completo seria necessário. Eurene não estava muito diferente do irmão, seus braços e cabelo também exibiam aquela sujeira vermelha e mal cheirosa.

Em meio ao silêncio no local, os passos dos três cavaleiros descendo a escada ressoou em seus ouvidos.

— Amigos — Mercel dirigiu-se aos três jovens nas mesas. — Quero avisá-los que o príncipe de Vordia será mantido amordaçado no quarto usado por mim e Roren. Vocês não devem entrar lá para vê-lo ou ajudá-lo em nada, deixem que nós nos responsabilizamos por isso. Também quero pedí-los que não falem sobre isso com ninguém, nem mesmo com as mulheres que trabalham nesta estalagem.

Eurene e Adilan entreolharam-se, mas não havia o que contestar. Os dois juraram que não falariam no assunto com ninguém.

— Idarcio ainda está lá em cima? — perguntou Mercel.

— Sim, e minha mãe está ali no canto rezando — respondeu Adilan apontando para os fundos do restaurante.

— É o melhor a se fazer no momento, para os que têm fé nos Seres.

— Só pode ter sido uma intervenção divina mesmo, para eu ter saído viva da luta contra aquele soldado.— Eurene possuía calmaria em sua voz, um certo alívio por dizer aquilo.

— Você se saiu muito bem, Eurene — disse Mercel. — Não só sobreviveu como também derrotou seu oponente. 

— Obrigada, mas não sinto nenhuma vontade de festejar minha vitória. O ambiente aqui está péssimo.

— Eu podia ter vencido ele se eu estivesse com uma espada — disse Devin com a cara fechada. Era notável seu incômodo por ter o rosto sendo cuidado pela irmã na frente de tantas pessoas.

— Não poderia, não — retrucou Eurene.

— Tem sorte de ainda estar vivo, Devin. Se não fosse um último esforço de Talion, você certamente estaria morto agora. — Eurene escutou as palavras que Mercel dirigiu ao menino e refletiu sobre elas. Por um momento, sua mente imaginou como estariam as coisas para Devin se não fosse a intervenção de Talion naquela hora desesperadora.

A Pretensão dos CavaleirosWhere stories live. Discover now