Shivani acaba de perder o pai. Com a mãe em depressão, ela se vê obrigada a assumir o controle da casa com o irmão mais novo. Bailey teve o pai assassinado há alguns anos e agora viu quatro pessoas de sua família, incluindo a única irmã, morrerem em...
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Lights will guide you home Andignite your bones And I will try to fix you. — Coldplay, “Fix You”
Um grito histérico escapa dos meus lábios quando Bailey cai no chão, debatendo-se incontrolavelmente.
Rápido e precavido, Pepe pega o travesseiro e coloca sob a cabeça dele, virando-o de lado. Bailey se debate sem parar, e a cada espasmo meu coração se parte. Sinto que não há mais nada para se partir em mim. É terrível e doloroso admitir, mas, por um segundo insuportável, sei que eu lhe daria a droga, só para vê-lo bem outra vez.
— Vamos levar o Bailey para o hospital, Pepe. — Pego o telefone e começo a discar.
— Não, Shiv. É só a primeira noite. Se a gente internar o Bailey, na primeira oportunidade ele foge e volta a usar. É horrível, mas tem que ser assim. Ele tem que sentir a dor.
— Mas é perigoso... — sabina intercede.
— Já parou. — Ele passa a mão nos cabelos de Bailey. — Não foram nem trinta segundos de convulsão. Vamos observar a noite toda. A qualquer sinal de perigo, eu chamo uma ambulância. — Ele me olha diretamente. — Sei que você quer levar o Bailey, mas ele não nasceu pra ficar preso. Não dá. Não vai funcionar com ele.
A respiração de Bailey está agitada e aos poucos recupera o ritmo normal. Ele abre os olhos, confuso, e fecha outra vez, esgotado. Sabina e eu ajudamos Pepe a arrumar a cama e a deitá-lo.
Eu deveria ficar feliz por vê-lo calmo, mas tudo o que sinto é pesar. Sabina sai do quarto quando Pepe cobre Bailey, e eu a sigo.
— Desculpa por te fazer passar por isso, Sabina.
Seus olhos, normalmente tão vivos, estão preocupados.
— Eu falei com a Savannah.
— Quando?
— Agora há pouco. Liguei pra ela quando você foi pro quarto.
— O que ela disse?
— Ela não pode sair agora sem alertar os pais dela, mas vem amanhã bem cedo. Disse pra gente ligar se a coisa ficar feia. Ficou feia, né? Só que ela me falou que tem pior. — Ela rói a ponta da unha. Nunca a vi fazer isso antes. — Você não tem medo do pior, Shiv?
— Tenho mais medo de perder o Bay, Sabina. — Eu me movo enquanto falo, limpando a sujeira que a crise de Bailey gerou. Estou tão tensa que, se não me movimentar, vou ter uma crise de choro. — Sei que você está preocupada comigo. Sei que só quer o meu bem e que parece que longe do Bailey é um lugar mais seguro, mas eu preciso estar por perto. Por pior que pareça, sei que ele vai conseguir se eu ficar aqui.
— Vem comigo — ela diz quando coloco de molho os panos sujos no tanque da lavanderia. Em seguida, ela me guia até o banheiro e fecha a porta atrás de si. — Vai, toma um banho. Ele vai dormir agora.
— Como você sabe?
— Você é minha amiga. Não quero você com ele pelos motivos óbvios, mas, se era pra passar por isso, eu estudei. Agora é a fase do esgotamento. — Tiro a roupa e abro o chuveiro, sem me importar com a presença dela. — Ele parecia tão perdido, como se nem estivesse ali — Sabina diz, pensativa.
— É porque a dor é maior que ele, por isso ele precisa tanto da droga.
— Vou pegar sua roupa. Espera aí.
Sabina sai por pouco tempo e volta com meu pijama. As lágrimas escorrem pelo meu rosto e se misturam à água.
— Não quero que você se machuque. — Ela me passa a toalha quando fecho o chuveiro. Movo o braço e vejo seus olhos se arregalarem. O reflexo no espelho mostra uma marca arroxeada se formando onde Bailey bateu ao me jogar contra a parede.
— Não foi de propósito — defendo, vestindo a blusa.
— Eu sei, eu vi, mas mesmo assim... — Sabina morde o lábio inferior, nervosa.
— Por isso você chamou seu irmão.
— Só queria que vocês se entendessem. O Noah não pode viver de paixão enrustida, e você está arriscando tanto nesse relacionamento. A Savannah disse que é só o primeiro dia, como o Pepe já falou. Você acha que dá conta de passar por isso vários dias seguidos? E se ele te machucar? Eu mato esse cara, Shiv. Meu Deus, nem dá tempo do Noah matar. Eu arranco a cabeça dele. Estou avisando — ela diz, tentando segurar a fúria.
Eu a entendo — é difícil, parece horrível e incompreensível que eu esteja aqui lutando por um homem que está se perdendo em si mesmo e não deu nenhuma garantia de que vai melhorar. Mas, para mim, é cristalino: meu lugar é onde ele estiver.
— Eu não tenho escolha. Preciso cuidar dele. Ele não vai me machucar. Não vai.
— Vamos tentar, então. — Ela me abraça, ciente de que ele já me machucou e que mesmo assim não vou ceder.
— Você vai parar de tentar me convencer a deixar o Bailey?
— Se depois de tudo o que viu hoje você não desistiu, não tem mais nada que eu possa fazer. — Saímos do banheiro.
— Eu amo o Bailey, Sabina. Amo tanto que ver ele se machucando hoje me feriu mais do que qualquer coisa. Isso — toco o local que provavelmente vai ficar muito roxo amanhã — não é nada perto de ver ele ferido. A marca vai sair com o tempo. Mas e ele? Será que a marca que o Bailey tem no coração vai desaparecer também? Preciso que ele aguente. É mais do que salvar o Bailey, é salvar quem eu amo para que eu não desabe também.
— Eu preciso dela — escuto a voz de Bailey do quarto e corro para lá. — Não sou inteiro sem ela.
— Não vou te dar drogas, cara — Pepe insiste. Bailey continua deitado, sem forças para se mexer.
— Não, não das drogas. — Cada palavra é um esforço gigantesco. — Preciso da Shivani.
Sem que ele precise pedir duas vezes, entro debaixo da coberta, me encosto nele e o trago o máximo possível para perto de mim.
— Estou aqui, Bay. Estou aqui — digo entre lágrimas.
— Eu te amo, Shiv. Eu te amo tanto, tanto, tanto...
E, antes que eu possa responder, Bailey já está dormindo com os braços firmes em volta da minha cintura. Agarrado a mim, como se eu fosse a única pessoa que o prendesse a este mundo. Eu me permito chorar com a cabeça em seu peito, desejando, mais do que tudo, que meu amor seja suficiente para trazê-lo de volta.
⏭ ▶ ⏮
“Luzes vão te guiar até em casa/ E inflamar seus ossos/ E eu vou tentar consertar você.”