Capítulo 5

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You don’t know me You don’t even care

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You don’t know me You don’t even care... oh yeah She said, you don’t know me You don’t wear my chains...
Augustana, “Boston”

Um dia após o outro. Um dia após o outro. Um dia após o outro.

É assim que a vida segue, enquanto você sofre, ri, chora, ama, perde. Ela não para. Algo que aprendi ao longo desse último mês é que o tempo não é médico, ele é ilusionista. Nós não nos curamos conforme a vida passa, só nos iludimos achando que vai chegar aquele dia em que tudo será mais fácil. Então continuamos à procura do momento em que ficaremos bem, tendo a sensação de que estamos melhorando, quando na verdade só seguimos vivendo.

O tempo é capaz de desfocar as nossas dores e nos distrair com a vida que segue, mas a dor nunca some por completo. Nós a colocamos em um arquivo do coração e evitamos mexer nela.

É o que penso balançando meu pé para lá e para cá, como um pêndulo, enquanto a terapeuta do grupo de apoio a pessoas que perderam alguém tenta fazer um garoto novo falar.

Meu avô nos obriga a vir às reuniões toda terça-feira à tarde. Nós, os netos, porque minha mãe segue em uma rotina particular, que envolve ficar a maior parte do tempo no quarto.

O garoto novo estava conversando com Lamar na hora do intervalo, enquanto eu falava com César ao telefone. Meu irmão tem um instinto acolhedor e não consegue ver pessoas sozinhas sem se aproximar.

César vem nos buscar mais tarde, já que Lamar caiu com a moto na semana passada e ela está no mecânico. Como ele não se machucou, não foi difícil esconder o fato de minha mãe. Afinal, ela está tão alheia que, mesmo que visse a moto toda estourada, não perceberia.

Sei que ela ouviu minha discussão com meu irmão, mas infelizmente nem isso foi capaz de fazê-la reagir. Quase morri quando o vi chegar em casa com a roupa rasgada. Ele prometeu ter mais cuidado, e eu prometi não contar nada ao vovô, pelo menos naquele momento.

Volto a atenção para o garoto moreno à minha frente.

— Prefiro não falar hoje.

A pior frase que ele poderia escolher em uma terapia.

— Por que não fala um pouco sobre você? Qualquer coisa — a terapeuta insiste, e vejo meu irmão lançar um olhar incentivador ao garoto, como se ele mesmo falasse muito por aqui.

O jovem hesita, mexe na manga da camiseta comprida, dá de ombros repete:

— Qualquer coisa?

— Sim.

— Só estou aqui porque me obrigaram. — Ele não diz isso com raiva, mas de forma tão espontânea que me rouba um sorriso. É o primeiro que confessa o que todos nós pensamos. Ninguém quer estar aqui, porque comparecer implica ter perdido alguém.

As Batidas Perdidas do CoraçãoWhere stories live. Discover now