Capítulo 14

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Trust I seek and I find in you Every day for us something new Open mind for a different view And nothing else matters

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Trust I seek and I find in you Every day for us something new Open mind for a different view And nothing else matters.
— Metallica, “Nothing Else Matters

Enquanto Shivani abraça minha cintura, bato os olhos no retrovisor da moto e me surpreendo por estar com um sorriso bobo nos lábios.

Tem algo nela. Algo que não entendo. Por mais que a gente saiba pouco a respeito um do outro, me sinto à vontade de uma forma incomum.
Por trás daquele tom zombeteiro, do nariz empinado e do desejo de ter sempre a última palavra, existe uma garota que mexe comigo.

Eu a sinto ajeitar as mãos na minha cintura, e cada músculo do meu abdômen se retesa, como se eu fosse um garoto bobo que nunca tivesse sido tocado.

Preciso de autocontrole sobre-humano para não parar no primeiro motel e transar com Shivani.
Talvez, se eu fizer isso, essa fixação irracional passe.

Estar aqui, nesta noite, com ela na garupa, é a maior prova de que não estou batendo bem.

Ela não é problema meu e, ainda assim, não consigo não me importar. E nem posso mais dizer que é por me lembrar minha irmã, pois estarei mentindo. É por querer mesmo, por querer sentir Shivani. Senti-la sob mim na cama, sobre mim, debaixo do chuveiro... Ah, meu Deus...
Não estou regulando bem. Essa garota tem “problema” tatuado na testa.

Quando já estou há uns dez minutos pilotando, paro a moto de repente. O corpo dela é impulsionado contra o meu e quase esqueço por que parei.

— Preciso do seu endereço. — Sei que é nos Jardins, porque Krystian me disse, mas prefiro omitir essa parte.

Ela fala normalmente, mas sinto como um sussurro em meu ouvido.
Retomo o caminho, ciente de que tenho duas escolhas: Me afastar de vez ou pegar essa menina de jeito.

🎸

Paro a moto e Shivani desce na frente da casa dela. Eu achava que ela era rica, mas, pela altura dos muros e pela guarita que se acende logo em seguida, começo a pensar se não tem um castelo lá dentro.

Ela tira o capacete, me entrega, se vira para o segurança que abriu a janela e faz um sinal com a mão.
Imediatamente a janela se fecha outra vez.

Tanta ostentação me faz lembrar das razões para ficar longe, mas aí ela diz:

— Obrigada por estar lá. — E me desmonta. — Não sei o que eu faria se você não tivesse chegado.— É um custo tão grande para ela assumir isso que contenho um sorriso. — Eu poderia derrubar mais um ou dois, mas do jeito que você fez, acho que não — ela brinca e ajeita a boina no cabelo, que está um pouco bagunçado, deixando-a sexy de um jeito que ela nem imagina.

— Às ordens — respondo, ligando a moto outra vez.

— Você está bem? — A pergunta me confunde, então ela completa: — Você brigou. Eu estava tão nervosa que não vi tudo. Você se machucou?

— Não apanhei. Só bati.

— Você parecia saber o que estava fazendo.

— E sabia mesmo. Luto jiu-jítsu há muitos anos.

— Que estranho — ela diz, franzindo a testa e virando para o lado para me olhar direito. — Você não tem aquelas orelhas horríveis de lutador.

Ergo a cabeça com uma gargalhada.
Shivani e Lamar falam tudo que pensam.

— Eu me cuido. Uso protetor de orelha e dreno a lesão, se acontecer. Mas é raro, porque não costumo me machucar. — Estou me gabando mesmo, mas é verdade.

— Ok, Super-Homem — ela zomba, sorrindo.

— O Super-Homem é muito certinho pra mim. Não rola — balanço a cabeça como se tivesse me ofendido, porém também sorrio. — Mas, se jogar uma kryptonita vermelha, aí a coisa fica boa.

Por algum motivo que não imagino, ela fica vermelha. Muito vermelha e bastante sem jeito, então mudo de assunto.

— Ah! A moto do seu irmão estava na garagem do meu prédio quando eu saí, então não precisa se preocupar que tenha acontecido alguma coisa com ele no caminho. Ele deve ter ido de táxi. Vocês gostam disso. — Não resisto à provocação.

— Eu não estava preocupada com isso. O Lamar não dirige se sabe que vai beber. Ele nunca arriscaria se machucar ou machucar alguém — ela diz e aperta os lábios, provavelmente se lembrando do que aconteceu com a minha família. É oficial. Somos bombas explosivas um para o outro. Que facilidade para dizer a coisa errada! — Sinto muito — ela completa.

— Tudo bem. É bom saber que o moleque é responsável. E por que você foi de táxi hoje? — quero saber, enquanto enfio a mão no bolso da calça para pegar um cigarro.

— Não sei dirigir. Quando cheguei na idade de aprender, meu pai ficou doente e... — ela desvia o olhar e desisto de fumar.

— Sinto muito.

Parece tão comum sentir muito entre nós.

— Obrigada. Espero que o meu irmão chegue logo. Se ele chegar na sua casa primeiro, você pede para ele me ligar, por favor?

— Claro.

— Vou entrar. Obrigada mais uma vez — ela diz, mas não dá um passo.

— Vou indo — digo, mas não me movo. Shivani está olhando para o lado e vira o rosto devagar, cruzando o olhar com o meu. Expectativa.
Tem um metro de distância entre nós e posso ver refletida nela a mesma expectativa que se agita em mim.

Eu devia correr com a moto e ir embora. Colocar uma distância segura entre nós, mas não consigo. Estou preso a este bendito momento, esperando por uma ação dela. Nunca esperei pela ação de uma mulher. Nunca.

Uma porta imaginária se abriu entre nós. Não sabemos como começou ou quem a abriu. Simplesmente está escancarada e cabe a nós lidar com isso. Ou fechamos ou entramos.
Não há meio-termo.

— E a jaqueta? — ela pergunta, e posso vê-la hesitar entre ir e vir.

Shivani aperta minha jaqueta em volta do corpo. Estou lá e estou aqui, a um passo. Ela sabe.

— Me devolve na próxima — arrisco. Está nas mãos dela agora.
Ela fecha os olhos por dois segundos.
Está pensando. Está pesando.
Está decidindo quanto quer arriscar.

— Ok... — ela diz e anda rapidamente em direção ao portão, sem olhar para trás.Fico olhando até que ela entre.

É... Parece que não vou me afastar.

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“Confiança eu procuro e encontro em você/ Cada dia para nós é algo novo/ Mente aberta para uma visão diferente/ E nada mais importa.”

As Batidas Perdidas do CoraçãoWhere stories live. Discover now