— Você é a única pessoa que existe no mundo que eu posso desabafar e também é a primeira e me apedrejar  – jogo as palavras enquanto Carlos acende um cigarro — Sei o quanto estou errado e não preciso de alguém reforçando isso o tempo inteiro.

— Sou seu amigo e só quero o seu bem. Nada além disso – exclama depois de assoprar a fumaça do cigarro que acabara de tragar.

— Mas quem decide o que é melhor para mim não é ninguém além de mim mesmo.

— Seu humor está amargo ou realmente queria me dizer essas coisas?

— Um pouco dos dois.

— Converse comigo – pede ele me dirigindo o olhar — Sou seu amigo a muitos anos e nunca o vi numa situação semelhante, minha impulsão é te aconselhar a permanecer na vida que tem. Está em um casamento estabilizado, com filhos lindos, tem uma boa vida e eu não consigo entender como permitiu que algo que deveria ser secundário tivesse tanto poder sob você.

— Eu não permiti isso, não quis que fosse assim. As coisas começaram e saíram do controle sem que eu pudesse perceber.

— Se hoje fosse obrigado a escolher entre Lorena e seu casamento. Qual seria sua escolha?

Viro um pouco do líquido dourado que queima minha garganta assim que ingerido, nenhuma resposta me vem a cabeça enquanto começo a me torturar pensando na possibilidade apresentada no questionamento de Carlos.

— Eu não sei.

— Se a resposta fosse sua família você não teria dúvidas e me diria de imediato.

— Eu jamais abandonaria minha família, meus filhos são o que mais amo na vida e eu amo minha esposa, mas...

— Mas? – me interrompe.

— Meus casamento hoje é uma parceria, somos companheiros e amigos. Dividimos angústias, felicidades e estamos juntos para qualquer situação, seja ela feliz ou não – passo a mão pelo meu rosto enquanto profiro as palavras — Mas não somos mais homem e mulher desde muito antes de Sabrina aparecer na minha vida.

— O que quer dizer com isso?

— Não há mais paixão, tesão, vontade. O que há é um amor fraternal.

— Pensa em deixar sua esposa?

— Não – respondo de imediato — Não.. não sei. Eu não conseguiria.

— A quanto tempo não dormem juntos Luigi?

— Aproximadamente dois meses.

— Uau – exclama Carlos aparentemente surpreso — Você nunca me contou essas coisas.

— É algo muito pessoal e intimo, mas estava saturado e precisava falar sobre isso.

Encerramos nossa conversa assim que Michela aparece nos chamando com um sinal da mão, caminhamos até a sala de jantar e todos já estão acomodados em suas respectivas cadeiras. Me sento no topo da mesa e logo o jantar é servido, os presentes conversam entre si animados e eu permaneço em silencio perdido com meus demônios internos.

O jantar chega ao fim, todos se despedem e Carlos me lança um olhar confidente antes de sair pela porta juntamente com sua família.

— Crianças, hora de dormir – fala minha esposa enquanto os adolescentes já estão jogados no sofá cada um com seu celular.

— Eu tenho 16 anos, não sou mais criança — salienta Antonela enquanto os irmãos já estão subindo as escadas.

— Ok menina de 16 anos, já pra cama pois amanhã tem aula cedo.

A garota se levanta a contragosto e segue os irmãos pisando firme no chão.

— Ela tem a personalidade da sua mãe – exclama Michela tirando de mim uma leve gargalhada.

— Sem dúvidas minha filha é a cópia fiel da minha mãe – falo entre risos.

— Vamos nos deitar amore mio? – fala carinhosamente.

— Vou assistir algum filme antes de me deitar.

— Esta bem – responde ela fazendo menção a virar as costas, mas então a mulher da meia volta — O que está acontecendo com você?

— Nada – falo subitamente.

— Está diferente nos últimos dias – indaga me fazendo engolir seco — Nós podemos conversar sobre tudo, sabe disso não é?

— Sim, eu sei. Mas realmente não está acontecendo na..

— Soube que Sabrina voltou para a cidade. É isso Luigi? – me interrompe.

— O que? Claro que não!

— Me fale a verdade, por favor. É ela outra vez? É outra pessoa? – seu questionamento faz com que meu corpo se petrifique — Independente do que for podemos conversar sobre isso, ajustar algo que esteja ruim em nosso casamento e tentar buscar uma solução, mas preciso que seja sincero, eu já o perdoei uma vez e não farei isso novamente. Estou te dando a chance de saber qualquer que seja a verdade por você e se o fizer, iremos recomeçar.

As palavras parecem implorar para serem libertadas por mim, a verdade se concentra na ponta da minha língua e preciso me forçar para não a expor.

— Não há nada – é apenas o que me permito dizer.

—Tudo bem. Não demore, está tarde.

Minha esposa se aproxima e deposita um beijo terno em meus lábios antes de finalmente me dar as costas e subir as escadas. Assim que ele some do meu campo de visão me jogo no sofá atordoado com a respiração descompassada e o coração apertado.

Sinto meu celular vibrar em meu bolso pego o aparelho e sorrio quando noto que se trata de uma mensagem dela, abro a mesma e vejo uma foto dela com Amora na praia em que estivemos ontem, em seguida uma foto minha e da cachorra aparece o que faz com que um sorriso ainda mais largo se forme no meu rosto.

“Ela amou a praia! 😆” – digita abaixo das fotos que acabara de mandar.

“Não é só ela que parece estar feliz nessas fotos.” – respondo.

“O meu sorriso entrega o quanto fui feliz na manhã de ontem. Obrigada por tanto, amo você.
Boa noite meu amor.”

Bloqueio a tela do celular assim que leio sua mensagem e tombo minha cabeça para trás.

Estou entre dois âmbitos importantes da minha existência, perdido nas minhas vontades e na minha estabilidade, falta algo em cada um dos lados, mas além de tudo meu coração palpita pra que eu me entregue e viva plenamente o que ele tanto almeja e em contrapartida a razão me condena por ser tão irracional e irresponsável.

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É gente... estamos quase nos aproximando do fim, viu?

Votem e comentem MUITO!!
Volto ainda essa semana.. amo vocês.

Beijo e cheiro. Até logo!

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