Treinamento II

16 5 6
                                    

Eu estava encantada com meu novo protetor, queria saber mais sobre ele e o porquê não ter escolhido alguém da mesma espécie, todas essas perguntas me fazia ficar mais ansiosa para perguntar. Ele tinha interrompido minha conversa com Cristian roubando toda a minha atenção, não conseguir decifrar os olhos de Cristian, ele pareceu com “ciúmes” pensei comigo. Nós nem nos conhecemos direito para ele ter tal sentimento, “talvez ele esteja irritado por ter perdido a atenção de sua aluna para o protetor dela.” Resolvi tirar esses pensamentos, pois já estávamos dentro do apartamento dele, olhei para meu protetor e falei:
- Você tem um nome? – Virei para olhar seu rostinho que me encarava com um sorriso infantil, trazendo uma serenidade que me deixava relaxada. Ele olhou profundamente e eu ouvi sua voz de criança falar em minha mente:
“Não tenho, nossos escolhidos que colocam um nome em nós.” “Você gostaria de me dar um nome?” Olhei para ele sorrindo, fiquei alguns minutos pensando, mas não me veio nenhum nome legal para dar. Recorri à única pessoa perto de mim e perguntei:
- Cristian, você poderia me ajudar a dar um nome para ele? – Cristian virou na minha direção ficando bem perto e respondeu:
- Não. – Ele sorriu e eu fiquei chocada com sua resposta, olhei em seus olhos e disse:
- Larga de ser chato, você poderia ajudar. Mas já que não quer, vou perguntar para Hugo, talvez ele me ajude. – Enquanto dizia me afastava dele dando meu melhor sorriso sarcástico, ele estralou pescoço e franziu os olhos demonstrando estar desconfortável.
- Jade, por favor, precisamos começar com seu treinamento de feitiços que tal? – Eu continuava relutante, ele percebeu e suspirou frustrado e disse. – Está bem, vamos dar o nome no seu mascote e depois podemos começar? – Ele passou a mão em seu rosto com força.
- Qual é um nome ideal para a espécie dele? – Olhei para meu protetor que estava observando a gata do Cristian dormir. Voltei a olhar para o mesmo que estava pensando em algo, ele sorriu e saiu da sala e indo na direção do quarto de pintura, e em poucos minutos já estava de volta onde estávamos ele carregava com sigo um livro bem velho com cores azuis ainda vibrantes, e começou a dizer:
- Este é o livro de nomes que fora registrados pelos nascidos do mar, contém todos os nomes dos protetores deles. Podemos procurar um nome nele. – Cristian balançava o livro feliz por ter o encontrado. Suspirei e soltei um pensamento em voz alta:
- Achei que iriamos fazer um feitiço para achar um nome para ele. – Falei com tom de tedio, quando percebi me xinguei mentalmente. Ele olhou para mim e para o livro pensando em algo e disse:
- Nossa porque não pensei nisso. Já será um bom treino para você, apesar de que tinha escolhido outro, mas da para fazer isso Jade, é um feitiço muito,, muito pequeno, não da para avaliar um Mist com esse feitiço, mas serve. – Ele falou com voz cansada e me chamou para entrar no quarto de pinturas, fui observando e percebi um baú que não estava lá antes. Apontei para o mesmo e ele falou. – Esse baú tem itens restritos da biblioteca, como esse livro aqui que você acabou de ignorar totalmente. – Ele me olhou com firmeza me fazendo desviar rapidamente o olhar.
Cristian abriu o baú e sussurrou algo, em um piscar de olhos ele estava com um outro livro nas mãos. E disse:
- Esse é o livro que vamos precisar hoje, e já foi procurando o feitiço que faríamos para encontrar um nome para meu mascote. Achei! – Ele virou na minha direção mostrando-o, peguei já comecei a ler, era uma língua diferente, mas eu compreendia, acredito que seja porque eu sou uma mist com poderes desbloqueados, parecia um latim que não se falava a milhares anos, algo bem antigo. Abri minha boca para pronunciar, mas Cristian me interrompeu. – Você precisa do seu protetor aqui Jade, chame ele, mentalmente. – Ele estava com os olhos fechados e cruzou os braços escorando no baú.
Respirei fundo e fechando meus olhos chamei meu protetor  mentalmente para perto de mim, mas não sabia se tinha funcionado e ao abrir os olhos nada dele, Cristian esperava com paciência em quanto eu tentava de novo, e dessa vez ele me ouviu passando pela porta que estava fechada todo sorridente, sorri e disse para tentaria achar um nome para ele, fazendo um feitiço, ele ficou quieto e comecei a pronuncia.
- Cum in animo nomen revelare. – Nada aconteceu, disse de novo, e nada, fui tentar dizer novamente, Cristian me interrompeu falando:
- Jade, você está pronunciando errado o feitiço, é por isso não está dando certo, além do mais você esta muito afobada para que aconteça algo. Acalma-se primeiro e depois pronuncie como se fosse uma citação que você tem que fazer em uma apresentação acadêmica. – Ele gesticulou com as mãos mostrando como deveria respirar.
Eu realmente estava afobada queria que desse certo meu primeiro feitiço, mas nem tudo é do jeito que queremos. Decidi focar e fazer como ele tinha dito, meu protetor olhou para mi dando me animo ao sorrir, olhei de relance para Cristian que estava me observando e esperando uma atitude da minha parte, eu queria poder ler o seu pensamento, talvez tivesse a pronuncia correta. Voltei meu foco e comecei a pronunciar calmamente com olhar fixo no meu novo amigo, de repente uma escrita se formava no ar, toda pomposa e brilhante numa cor prata bem chamativo o nome LORCÁN e uma voz sussurrou seu significado que é pequeno feroz. Achei bem a cara dele, pois era um ser pequeno.
- Seu nome é Lorcán daqui para frente, não vou precisar mais te chamar de mascote ou protetor. – Ele dava piruetas no ar, parecia feliz pelo nome, fiquei pensando que realmente devia ser ótimo ter um nome depois de cem anos. Lorcán se movia tão rápido que era difícil de acompanha-lo, sua felicidade era notória naquele quarto, ele transpassava pelas paredes de um local para outro. Cristian chamou minha atenção.
- Esse feitiço é algo muito simples, vou passar alguns outros para você fazer ainda hoje, depois a levarei para o hotel para descansar um pouco, pois  o ritual de hoje vai tirar muito sua energia. – Olhei para ele dizendo:
- Nossa, super animador e motivador Cristian, você deveria ser um coaching motivacional. – Falei num tom de deboche revirando os olhos.
Ele me encarou, mas não disse nada enquanto abria baú em seguida pegou alguns livros, já tinham marcações nas paginas que foram escolhidas com os feitiços e me entregou, mostrando para que eu pudesse fazer alguns, o primeiro era de attraction, para atrair qualquer objeto que eu quisesse. Olhei para os lados e vi um pincel na banqueta perto de um quadro, respirei fundo e comecei a falar calmamente e mentalizar o objeto, mas não aconteceu nada, fiquei frustrada, queria poder fazer algo mas parece que esses feitiços simples não parecem ser tão simples como pensei que seriam. Cristian suspirou e passando a mão em suas bochechas  perguntou:
- O que está acontecendo com você Jade? Parece que não quer fazer os feitiços. – Ele não esbouçava qualquer expressão, já eu estava começando a achar que tudo o que falaram para mim não passava de um engano, eu poderia ser qualquer Mist.
- Cristian acho melhor pararmos por aqui, não estou conseguindo fazer o feitiço, estou muito ansiosa. – Olhei em sua direção sentada no chão me sentindo péssima por não conseguir fazer nada o que imaginei que faria, ele ainda me olhava, virou para o lado e começou a andar de um lado para outro pensando em algo, até que parou e disse:
- Vamos continue, você desiste assim tão fácil Jade, as coisas não vem de uma hora para outra, seu poder tem que ser conquistado. Você nasceu com ele, mas foi abafado dentro de si, você tem que acostumar com ele e ele com você. – Eu deitei no chão me recusando a fazer, eu parecia uma criança dando uma birra, mas não queria perder tempo em tentar algo que pode ser que nem funcione. Cristian chegou mais perto de mim e continuou com seu discurso. – Jade, você já fez um feitiço uns minutos atrás, para que desistir agora! – Ele tinha razão, me levantei respirei fundo e falei mais uma vez, e nada aconteceu, fui tentar de novo e ele me interrompeu. – Tenta falar fazendo movimentos com a mão ou mesmo olhando para o objeto. – Concordei resolvendo testar me virei já olhando para o objeto levantando a mão e pronunciando pela quinta vez no dia, o objeto se moveu quase caindo, mas me concentrei para que viesse para as minhas mãos, mas invés disso foi no rumo onde Cristian estava, ele desviou rapidamente, fiquei constrangida por ter atacado ele com um pincel.
- Meu Deus. Foi sem querer, era para estar em minhas mãos. – Falei frustrada por não conseguir controlar meu poder.
- Esta tudo bem Jade, vamos tentar outra coisa por enquanto, algo que não faça alguém se machucar.  – Ele pegou o pincel que estava no chão e o colocou onde estava e continuou. – Amanhã continuaremos, acho que depois do ritual de mais tarde você vai conseguir fazer os feitiços de forma perfeita, vou pegar pesado com você, pois acho que não temos muito tempo para treinarmos, vamos ter treino de manhã à tarde e de noite após o festival. – Não falei nada só o olhei, eu imaginava que as coisas iam ser puxadas de aqui em diante, agora é absorver tudo que for ensinado e quando a guerra chegar pelo menos terei algo para ajudar. Decidi sair do quarto, encontrei Lorcán todo esparramado no corpo da Luna que o olhava dormir, fui em sua direção e o peguei colocando no meu ombro.
- Vou voltar para o hotel, já escureceu e acho que preciso me preparar para mais tarde. – Me virei no rumo onde Cristian estava, o mesmo concordou e pediu para me levar, pois não achava bom eu andar sozinha pela cidade, concordei sem olha-lo tentando desviar a todo custo de seus olhos, ao sairmos o vento gelado daquele inverno nos abraçou dando boa vindas, eu amava o frio me fazia recordar da minha infância me envolvendo com a neve, pegue-me pensando como meus pais estão, e o que eles achariam sobre tudo que descobri. “Será que eles sabem?” pensei. Provavelmente um deles sabia, mas qual deles? Meu pensamento me bombardeou com lembranças e perguntas que talvez nem sejam respondias por agora, percebi que Cristian parou olhei para ele confusa sem saber o porquê ele tinha parado de andar.
- Chegamos, esta entregue. – Ele deu um sorriso me observando me vendo ficar surpresa, eu estava tão concentrada em minha mente que nem tinha percebido que já tinha chegado ao hotel, virei no seu rumo e agradeci me despedindo dele, fui dar um beijo em sua bochecha e consequentemente ele virou seu rosto para o meu e nosso lábios se tocaram por alguns segundos, me afastei rapidamente bem envergonhada pedindo desculpa descontroladamente, minhas mãos passava em minha nuca enquanto eu olhava para o chão. Cristian riu e disse que não havia problema nenhum e acrescentou. – Eu esperava te beijar hoje a noite, mas acho que antecipamos um pouquinho. – Ele estava tão perto de mim que eu consegui sentir seu perfume e seu hálito quente em minhas bochechas que ficavam cada vez mais ruborizadas.
Despedi rapidamente dele saindo de perto para não ficar ainda mais constrangida, nem ousei olhar para trás, não queria ver sua expressão, por mais que tenha sido por completo descuido, eu não conseguia para de pensar naquele simples toque, não era nada demais, mas para mim era muita coisa, eu não sou do tipo de garota que sai beijando os caras em minha frente, eu nunca namorei na vida, as coisas estão ficando tão confusas, eu preciso proteger criaturas, meus amigos, os Mist e eu mesma, São tantas coisas, não é hora de criar expectativas de um relacionamento agora. Meu coração batia tão rápido que me deixava sem ar, aquele momento foi tão diferente e inusitado que me fez rir e me achei boba por ter agido tão infantil em sua frente. Entrei no quarto rindo da situação ridícula que me encontrava a poucos minutos e não percebi que as meninas estavam no quarto.
- Jade o que você está rindo? – Poliana falou me assustando coloquei a mão no coração para tentar acalma-lo pelo susto que ele me vez passar.
- Poliana do céu, você quer me matar? Isso não se faz com qualquer pessoa principalmente quando ela está entrando em um quarto. Vocês podiam ter feito um barulho. Meu Deus! – Olhei na direção dela e da Ana que ria que nem boba.
Desculpa, achei que você tinha percebido nós duas. Mas agora fala o que você tanto estava sorrindo. – Ela me acompanhava com os olhos enquanto eu sentava em minha cama, respirei fundo tranquilizando e normalizando meus batimentos cardíacos.
- Simplesmente Poliana ao invés de eu beijar o rosto de Cristian, acabamos nos beijando. – Falei jogando meu corpo no colchão macio, olhei para elas que expressava surpresa e felicidade, pareciam crianças animadas para ter um doce. As meninas correram para minha cama me forçando a sentar, as duas dispararam a fazer perguntas e eu não conseguia concentrar em uma só. - Meninas calmem, responderei suas perguntas, mas uma cada vez sem atropela a outra, por favor. – Olhei para elas que estavam sentadas eufóricas. Ana foi a primeira a perguntar:
- Como assim você beijou o Cristian? – Ele chegava mais e mais perto, me fazendo revirar os olhos.
- Eu estava me despedindo dele, invés de só acenar um adeus resolvi dar um beijo em sua bochecha, mas na hora ele virou e acabou que fomos pegos de surpresa pelo beijo, mas eu diria que não era um beijo, beijo... Só encostamos nossos lábios. – Respondi sua pergunta olhando para qualquer lugar menos para ela.
- Jade, me conta qual foi à sensação? Eu acho que vocês tem um clima, mas não perceberam ainda. – Franzi as sobrancelhas tentando não ficar vermelha em lembrar.
- Não sei dizer ao certo Poliana, foi diferente, parecia que meu corpo dava choque. Não sei explicar e também foi rápido demais. – Abracei minhas pernas já visivelmente desconfortáveis, Ana voltou a perguntar:
- Ele falou algo? – Aquela pergunta me vez remexer um pouco na cama, lembrando-me do que ele disse para mim há pouco tempo. Abri minha boca algumas vezes tentando falar algo mais não me parecia ser razoável, mas eu não tinha opção, não podia mudar o que ele falou para mim.
- Ele disse que estava pensando em me beijar hoje à noite, mas acabou que antecipamos. – Virei meus olhos para elas que riam parecendo bobas, será que eu era a esquisita, não me sentia igual às meninas, mas sim envergonhada pelo o que fiz, por mais que ele me fazia sentir coisas que não sei explicar.
Eu desejava acabar logo com essa conversa, não estava preparada para falar sobre assuntos de relacionamentos em meio a turbilhão que preciso aprender, o futuro dessa cidade dependia não só de mim, mas te todos que estão me ajudando a aprender sobre seus mundos. Olhei para o relógio e percebi que já era hora de arrumar, falei para as meninas que iria tomar um banho e me arrumar para a continuação do festival sendo que era o terceiro dia, Hugo disse que a festa costuma ser cinco dias ou até mais. O banho estava quentinho, fiquei mais um tempo de baixo da água, quanto terminei sai do banheiro indo direto para minha mala pegar alguma roupa que me agradasse.
Cheguei perto de Ana sentando em sua cama esperando que Poliana entrasse no banheiro para que eu pudesse conversar sem que ela não ouvisse o que estávamos falando, pouco tempo depois Poliana foi tomar banho fechando a porta do banheiro. Olhei para Ana rapidamente sentindo que minhas respostas não seriam respondidas.
- Ana me conta sobre sua visita a fada mais velha? – Ela suspirou e disse que tinha acontecido muitas coisas e que iria me contar, mas em um lugar sem possibilidade de alguém ouvir  e que também precisava contar detalhes pois a historia era longa, e que só falaria depois do ritual que seria feito hoje a noite em meio a festa.
Nesse momento o poder de Hugo de ler mentes ia ser bem útil e eu não teria problema com a espera e ansiedade para saber o que aconteceu com ela na visita, só me resta esperar pelo momento em que ela ira me contar tudo. Concordei sem falar mais nada, pois não adiantaria, por fim resolvi terminar de me arrumar para mais um dia de festa que consequentemente não consegui ainda desfrutar dele.

The Enigmatic CityWhere stories live. Discover now