Poder

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Enquanto meus amigos ficavam com medo de serem vistos por alguém da escola ou mesmo por um de nossos professores, eu estava tentando imaginar como seria esse feitiço de retirada do bloqueio dos nossos poderes, eu não estava com medo das pessoas que pudessem nos ver, mas sim morrendo de medo de como será. Nunca tinha visto algo do tipo antes, e muito menos sabia que todos os livros de ficções e fantasias na verdade eram reais, só esse pensamento já me fazia retrair e querer voltar para casa, porém não adiantaria mais, pois meu destino foi traçado e terei que enfrentar essa nova realidade.
Minhas reflexões não me fizeram perceber que já tínhamos chegado ao apartamento, ao entrarmos ficamos esperando na sala a espera de um dos meninos nos chamarem.  Com isso crescia ainda mais em mim, a ansiedade e o nervosismo, eu não sabia o que aconteceria após ou mesmo durante a quebra do feitiço que tinha sido colocado em nós. Quando percebi já estava sentada no sofá a espera de Hugo terminar os preparativos. Ana chamou a minha atenção perguntando:
- Você está nervosa, Jade? Por que eu estou. - Ela passava as mãos uma na outra, demonstrando um nervosismo excessivo. Acho que nesse momento nossas fichas caíram e percebemos que isso era real, e que era algo muito sério, essa cidade precisava de nós e de nossa ajuda para acabar com o mal que Cristian e Hugo falou tanto.
- Estou sim. Mas se acalma Ana, tudo ocorrerá bem, não se preocupe, eles sabem o que estão fazendo. - Disse enquanto passava uma das minhas mãos nas costas dela para acalma-la. Ana suspirou algumas vezes com os olhos fechados, Caio ficava observando nós duas sem dizer sequer uma palavra, enquanto Cristian saia e entrava do quarto vários vezes, até que ele saiu junto com Hugo, nos perguntando:
- Qual das duas vai primeiro? – Olhou para mim e Ana, tentando descobrir quem seria a primeira a começar. Ana me olhou receosa, percebi que ela não queria ficar sozinha então falei:
- Eu acho melhor as duas fazerem juntas. Ou isso pode atrapalhar? – Cristian franziu a testa e olhou para Hugo que ficou em silêncio por alguns minutos, sua expressão era de analise e de seriedade, olhou para nós e respondeu:
- Nesse caso, teremos que ter mais de um Mist para ajudar, Cristian ia ficar de fora desse feitiço, mais já que desejam fazer juntas. – Ele falou olhando para nós, depois para Cristian que acenou aceitando em ajudar. Ana suspirou aliviada e perguntou:
- Está tudo pronto, podemos começar? – Hugo sorriu para ela e pegou a mesma pela mão dizendo que estava tudo pronto e só precisava de nós, Cristian me olha e eu entendo que era para ir junto, mas antes mesmo de entrar olhei para Caio e ele falou:
- Não se preocupe Jade vou ficar bem aqui. – Ele ainda se mantinha sentado com pequeno sorrio no rosto, mas eu não queria que ele ficasse sozinho, me virei para Cristian e pedi:
- Deixa-o vir conosco, já que ele é nosso guardião ele precisa estar por perto. – Meu olhar implorava para ele deixar, ele aceitou e chamou Caio para assistir, ficando perto dele e dando algumas instruções que eu não conseguir entender por estarem falando baixo. Ao terminar de falar entramos no quarto, Ana e Hugo já estavam dentro mais cada um em seu devido lugar.
Hugo começou a explicar para nós duas como deveria ser, dizia que precisava que nossa mente estivesse preparada para receber o poder e se tivesse algum bloqueio teríamos que libertar mentalmente, e que estaríamos de costa uma para outro sem darmos as mãos, pois isso poderia influenciar na retirada do feitiço. A cada palavra que ele dizia, meu coração acelerava mais, eu não sabia o que viria daqui em diante, só queria poder ficar calma nesses momentos estranhos que se passa comigo, queria poder ser forte o bastante para saber enfrentar meus próprios medos e receios. Me pergunto se conseguiria ajudar essa cidade, pois sei que psicologicamente não estou preparada para qualquer ataque, tanto físico quando mental. Enquanto eu pensava Hugo nos direcionava ao centro do quarto, ficamos alguns metros de distância uma da outra, para não atrapalhar nossa concentração enquanto eles faziam o feitiço.
“Não estou preparada para isso.” Pensei comigo, e Ana cochichou um boa sorte, mas eu estava tão nervosa que não conseguia responder nada, minhas mãos estavam frias e suavam, minha respiração estava descontrolada e eu sabia o porque, mas queria ter um alto controle sobre mim mesma. Fui tirada dos meus pensamento por Cristian que começou a falar:
- Hugo não disse para vocês, mas esse feitiço costuma machucar, mas isso vai depender de vocês quererem ou não sentir dor. Sejam fortes e boa sorte. - Olhei em sua direção assustada e disse:
- O que? Porque você não falou isso antes? - Perguntei desesperada, e antes mesmo de eu poder sair do meu lugar Hugo respondeu:
- Não falei para não preocupar vocês meninas, e Cristian sabia muito bem disso, mas enfim, já está na hora Jade, precisamos começar. - Ele estava apressado para acabar com isso logo e eu estava praticamente atrapalhando, resolvi ficar quieta e esperar que esse feitiço terminasse logo. Hugo e Cristian se posicionaram em seus devidos lugares, Caio ficou sentado em um canto do quarto, só se ouvia nossas respirações, Hugo estava em minha frente me olhou e sorriu me passando força, respirei fundo e fechei meus olhos, enquanto ele pronunciava o feitiço e com ajuda de Cristian dizendo:
- Infectumque reddet, quod factum est, et ostendam vobis potestatem. – Eles repetiam mais e mais, e meu corpo começou a ficar quente, tentei manter a calma e controlar minha mente, mas cada vezes mais esquentava, comecei a queimar, eu não sabia o que se passava em meu corpo, só sabia que isso aumentava, e não cessava era algo contínuo. Comecei perder o foco e gritar de dor, era algo insuportável, eu sabia que aquilo podia ser meus poderes reagindo, mas era doloroso demais, então gritei:
- MEU CORPO ESTÁ PEGANDO FOGO, DÓI MUITO. - Me ajoelhei e já não conseguia ouvir os meninos falarem qualquer coisa, não sabia o que se passava comigo e muito menos ao meu arredor, meu peito parecia que ia derreter, meus olhos ardiam, não consiga sentir minhas mãos. Eu respirava com dificuldade, mas me forcei a controlar minha mente que estava totalmente descontrolada e ai consegui ouvir o que se passava no ambiente, ouvi Caio gritando para Hugo parar, Cristian continuava a pronunciar as palavras como Hugo, e eu só conseguia urrar de dor. Cristian que estava do meu lado falou:
- Jade você esta deixando a dor te controlar, e impedindo que seu poder venha, não é para ser doloroso. Controle essa dor. - Eu não queria ouvi-lo, queria acabar com essa dor logo, estava sem paciência, mas não adiantaria nada deixar de escutar, acabei cedendo e comecei a procurar de onde essa dor estava vindo, a procura parecia uma eternidade, sentia que estava em todos os lugares do meu corpo. Por fim encontrei-a no meio do meu peito e me aprofundei mais nela, e cada vezes mais a dor enlouquecedora aumentava, mas não desisti, ela parecia uma bola de fogo branca, eu queria entrar mais nela e quando cheguei dentro dela, perdi a consciência, acordei em uma escuridão total, comecei a chamar pelos meus amigos, por Cristian e Hugo, mas não apareceu ninguém. Olhei para os lados a escuridão era total, até que bem ao longe tinha uma pequena luz branca que brilhava bem fraca, me levantei e corri para a direção dela vendo uma pequena bola que brilhava em prata em sua volta.
Fiquei receosa de tentar toca-la, mas parecia que seu brilho me chamava, então levantei minha mão direita tremula e ao invés de tocar peguei-a, mas não sabia o que poderia fazer com ela, fiquei alguns minutos olhando para aquele objeto brilhoso que parecia que flutuava no ar, eu precisava de ajuda, mas tudo estava escuro menos aquela esfera brilhante. Resolvi explorar aquele lugar utilizando aquela bola como luz, eu vagava e vagava na escuridão sem um destino. Meus pés já estavam doloridos então resolvi parar e sentar e em voz alta falei:
- Quero saber o que é esse lugar? – Levantei minha cabeça para cima, meus olhos acostumaram com a escuridão e pela pequenina luz que tinha em minhas mãos. Mas ouvi ao fundo uma voz suave dizer:
- Coloca no coração, a bola, coloca no coração. – Pulei rápido para ver se tinha alguém por perto, mas não havia ninguém, e comei a pensar: “o que poderia acontecer de errado se eu colocar essa bola perto do meu coração?” “Talvez eu pudesse morrer, sim, mas prefiro fazer o teste a ficar aqui esperando por algo acontecer”. Olhei para aquele objeto e comecei leva-lo ao rumo ao meu coração, quando eu o encostei ele começou a virar uma pequena fumaça brilhosa que entrava em mim, e eu sentia algo diferente dentro de mim, uma força tão grande que parecia palpável, algo inexplicável fluía de mim e comecei a perder a consciência de novo, dessa vez eu comecei a ouvir algumas pessoas em minha volta falando e me chamando:
- Jade, Jade... – Ouvia meu nome em vozes diferentes e repetidamente, ao abrir meus olhos eu vi Ana e Caio ajoelhados ao meu lado me encarando, Cristian estava agachado procurando pulsação em mim, e Hugo respirava aliviado ao me ver acordada, tentei me levantar mas não tinha forças, então perguntei:
- O que aconteceu? – Olhei para Ana que estava do meu lado chorando, ela balançava a cabeça não conseguia falar nada, então Caio disse:
- Você desmaiou por causa da dor e estava a uma hora desacordada, pensei que você tinha morrido garota. – Ele respirava aliviado depois de ter falado, concordei com a cabeça entendendo o que tinha acontecido e me recordava dos minutos que foram para mim àquela dor, e falei:
- É normal acordar em um lugar escuro e achar seu poder em formato de bolinha branca brilhosa, fiquei um bom tempo naquele lugar, até que algo ou alguém pediu para coloca-la perto do coração. – Expliquei para todos que me encaravam, Hugo franzia as sobrancelhas e falou:
- Não costuma ser comum, mas cada um tem uma experiência. – Enquanto ele sinalizava para Cristian me levantar. Fui levada para a sala e sentada no sofá, sentia meu corpo pesado, não sentia mais dor, e sorri por isso. Virei para o rumo de Cristian e sussurrei:
- Estou com sono, quero dormir. Leva-me para o hotel, por favor, chega de emoção por hoje. – Sorri sentindo meu corpo ficar mais pesado, ele virou para os outros e falando com eles, todos concordaram e Cristian colocou-me em sua costa, enquanto os outros vinham atrás de nós.
Saímos do apartamento, senti o vento soprar em meu rosto, eu estava quase sendo vencida pelo sono, mas me forçava a ficar acordada querendo ver à cidade em festa, ao passarmos por algumas pessoas eu via a cidade cheia de fadinhas dançando ao som da música, ao olhar para outro local, eu via uns duendes bebendo algo se juntando em uma dança holandesa e cantava desconexos a música, quando eu olhei para o céu vi algo que parecia ser de outro mundo, parecia parte da terra que flutuava em cima da cidade, e suas luzes chamativas brilhavam, um ser desconhecido passou perto de mim, sorrindo e brincando comigo, ele era azul e lilás que se mesclavam parecia mais ser da água, mas a cidade nem era rodeada de água, mas eu apreciava sua beleza e suas brincadeiras.
Chegamos ao hotel, todos que trabalhavam lá eram diferentes, alguns tinham asas, outros tinham a mesma cor do ser que vi a alguns minutos atrás, eu parei de prestar atenção neles e fiquei pensando que aquilo ainda podia ser algo da minha cabeça, nos corredores tinham desenhos divertidos de águas que se mexiam, aquilo atiçava meu sono ainda mais, comecei a vagar entre o sono e a realidade. Quando fui posta em algo fofo, me aconcheguei e acabei sido vencida pelo sono.
Fui acordada por Ana, me levantei me esforçando um pouco para tentar entender onde eu estava, até que percebi o lugar era o hotel, mas com algumas diferenças parecia mais vivo, mas chamativo, mas com seu toque de rústico, era belíssimo. Ana já tinha separado minha roupas, uma calça legue preta e a blusa de frio preta, resolvi tentar despertar e entrei no banho quente que estava perfeito naquela temperatura, comecei a recordar do sonho que tive da cidade que era um lugar totalmente diferente e mais bonito do que eu conhecia, “pensa aquela imagem de manhã” pensei comigo, sorri e esfreguei minhas mãos no meu rosto tirando toda cara amassada que eu provavelmente estava. Com muito custo saí do banho e fui me arrumar. Ao perceber que eu não sabia onde iriamos, perguntei:
- Aonde vamos Ana? – Ela me olhou e sorriu dizendo:
- Vamos começar nosso treino hoje, se esqueceu? – Me olhou sorrindo com deboche, balancei a cabeça negando, fingir estar indignada, para ela não encher minha cabeça de ladainha e resolvi voltar a me arrumar.
Quando terminei de me arrumar sem fazer qualquer barulho para não acordar Poliana, Ana já estava fora do quarto, então saímos pelos corredores do hotel sem falar nada e encontramos Caio no meio do caminho, eu nem tinha visto que horas era e acabei por perguntar:
- Que horas são? – Ana pegou seu celular no bolso e falou que era cinco para seis da manhã, enquanto saímos do corredor vimos o povo trabalhando em suas funções no hotel, eles não tinham aparência de seres humanos, eles tinham uma beleza que eu não sabia explicar, cada um que passava do meu lado eu ficava chocada com grandiosa beleza deles. Quando fui conversar com Ana, acabei prestando atenção nela, sua beleza tinha se realçado, seu rosto tinha um brilho diferente, ela me pareceu feliz, cheguei perto de Caio e disse:
- Ana está muito diferente, sua beleza realçou, não consigo parar de olhar para ela. – Ele riu do meu comentário e falou:
- Olha quem fala, Jade você se olhou no espelho hoje? Você está com uma beleza sub-humana. – Virei-me na direção dele, eu não tinha me olhado no espelho e reparado minhas feições, por fim deixei de lado o que estava pensando.
Saímos do hotel, as ruas estavam lindas tinha muito verde ao redor, as construções eram as mesma, mas com algumas variações, as ruas tinham também casas pequeninas, me lembrei de ter visto seres parecido com gnomos de jardins, fiquei admirando a cidade que já tinha me acostumado antes, mas isso era melhor ainda, suas casinhas eram coloridas, e tinham pequenos jardins na frente delas, enquanto caminhava observando não percebi que tinha esbarrado em um gnomo que gritou:
- Olha para onde anda Mist. – Ele estava nervoso, olhei para a criatura e me desculpei ficando agachada para ficar menos possível intimidadora para ele, ajudei a se levantar e o mesmo me olhava com cara de bravo, era fofo e engraçado ao mesmo tempo, mas não ousei rir, eu tinha uma breve impressão que ele podia me bater. Ele saiu sem olhar para trás e fiquei por um tempo na posição onde estava o observando ir embora, quando não o vi mais decidi voltar a realidade e ir na direção dos meus amigos que estavam um pouco a frente de mim. Olhei para o céu me lembrando dos pedaços grandes de terra flutuantes e ao olhar bem para eles percebi que tinha algumas ligações de raízes longas entre os pedaços de terra ao chão, são as casas das fadas, eu sorria em ver a beleza daquela cidade que parecia ser tão cinzenta sem graça e agora tão colorida e brilhante. Sem eu menos perceber uma pessoa chegou perto de mim e perguntou:
- A cidade não é tão sem graça, não é? – Olhei para saber quem era, os olhos de Cristian acompanhava onde eu estava olhando, ele sorria, como se estivesse feliz por ver todos os dias essa vista magnifica e nada realista, sorri junto com ele e respondi:
- Realmente a cidade não é nada sem graça. Ficou feliz e triste ao mesmo tempo, feliz por poder apreciar esse deslumbre, e também triste por seres humanos normais não poderem ver essa cidade exótica e maravilhosa com suas várias estruturas diferentes. – Ele me encarou e concordou com minha resposta, e em seguida falou:
- Você viu só essa parte das casas das fadas, e dos gnomos, você tem que ver a cidade dos nascidos do mar. É algo extraordinário e diferente. – Ele ria e andava, me obrigando a se juntar a ele.
Quando eu ia falar apareceu um ser diferente que nunca tinha visto, parecia um ser humano, mas tinha caldas de peixe ele flutuava em minha volta sorrindo para mim, sua pele era de um azul claro e os olhos de um profundo azul como do mar, ele não tinha orelhas, no lugar delas tinham pequenas barbatanas, mansinhas gesticulava um comprimento, sua calda era longa. Ele colocou seu rosto na minha bochecha abraçando em seguida. Cristian parou e olhou para nós dois falando:
- Interessante, está espécie é como se fosse os protetores dos nascidos do mar, eles não são escolhidos para os seus donos, mas eles próprios tendem a escolher os donos, dizem que eles tendem a ter uma conexão profunda com seus escolhidos. O interessante é que ele tem mais de cem anos, e nunca tinha escolhido alguém até hoje. Ele acabou escolhendo você, nunca tinha presenciado um Aquilon escolher um Mist, eles costumam escolher os filhos do mar. Antes que me pergunte os filhos do mar, são filhos de humanos com os nascidos do mar. Difícil agora para entender, mas quando você aprender sobre os Mists, as fadas, gnomos e os nascidos do mar vai acabar sendo fácil de entender, eles tem alguns nomes para cada espécie que existe no mundo deles, o nosso só existe os Mist, mas o deles tem vários. – Ele terminou de falar me deixando ainda mais curiosa sobre cada espécie das fadas e dos nascidos do mar. O ser ficou no meu ombro, eu percebi que tinha me afastado demais dos meus amigos.
Minha mente estava tão embaralhada que eu não conseguia acompanhar decentemente um raciocino, tinha tanto para aprender, eu precisava manter minha mente calma, porém estava animada para aprender tudo sobre esse mundo, do qual agora faço parte.

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