Capítulo 30

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"As pessoas só ficam realmente interessantes quando começam a sacudir as grades de suas gaiolas."  
Alain Botton.

Era possível perceber a correnteza de sentimentos que Mark nutria por aquela garota à sua frente somente pelo modo como analisava cada movimento dela, mas também era nítido o quanto estava ressentido com os últimos acontecimentos. Marion entendia perfeitamente o motivo do ressentimento, mas ainda não conseguia compreender sua presença em Los Angeles.

— Desculpa te seguir até aqui. — Ele respondeu, desviando seus olhos do chão. — Depois de tudo o que ocorreu, eu precisava te ver... E te falar uma coisa.

— O que houve? 

— Eu sei que você está com o Nicolas, mas... — O rapaz calou-se, tentando buscar palavras adequadas para aquele momento.

— Mas o que, Mark? — Indagou, curiosa. — Se for sobre seus sentimentos, como eu já disse...

— Não é isso! — Alertou. — É sobre aquela noite que Olga foi assassinada. Você não foi a única que teve uma discussão com ela.

— O que quer dizer com isso?

— Nicolas discutiu com ela e com o Alexander naquela noite, antes de subirmos para o seu quarto. — Ele suspirou, demonstrando o nervosismo de estar falando aquilo. — A Olga estava bêbada, e quando Nicolas chegou na república, ela jogou-se em cima dele, e eles discutiram muito.

Mark estava nervoso ao contar aquilo, e seu nervosismo era perceptível para Marion. Ao mesmo tempo que ele falava, parecia que uma eletricidade passeava por todo seu corpo, fazendo com que fosse impossível manter-se quieto. Desde quando havia começado a justificar o motivo de estar ali, seus pés batiam incessantemente no chão, e suas mãos deslizavam constantemente pelos cabelos loiros e sedosos.

— E Alexander? — Marion questionou, ainda que estivesse confusa, tentava ter compaixão pelo rapaz à sua frente.

— Naquela noite, o Alexander falou umas besteiras. Te chamou de mentirosa. — O jovem ponderou. — Nós dois discutimos verbalmente com ele, mas foi Nicolas quem lhe deu um soco. — Admitiu. — Algumas pessoas interviram, mas Nicolas falou que se ele fizesse mais alguma coisa, ele iria matá-lo. Não sei se foi no sentido figurado, mas somente eu ouvi. Logo após, subimos para o seu quarto.

— Nicolas não mataria...

— Você não sabe. — Interrompeu. — Isso é uma atitude suspeita. A polícia deveria saber. — Pronunciou, com a respiração ainda ofegante. — Você não pode levar a culpa por isso. Por ele.

— Mark, como você veio até Los Angeles? — Marion questionou, apreensiva.

— Dirigindo.

— E você veio apenas me falar isso? — Ela questionou, confusa. — Você poderia falar por telefone.

— Eu precisava ver se você estava bem. Precisava olhar em seus olhos. — Especulou, deslizando as mãos sob o rosto da jovem. — Eu precisava ouvir sua voz, sentir seu cheiro. — Seus olhos começaram a marejar, e um sorriso triste tomou conta de seus lábios. — Eu não consigo te esquecer, mas respeito sua escolha. — Afirmou. — Eu sabia que hoje iria ter esse pronunciamento, e achei que poderia falar com a sua família para poder te ver. Foi uma surpresa te encontrar aqui.

— Mark, obrigada por tudo. Mas meus sentimentos não mudaram. — Marion encarou o rapaz com pena, e ele assentiu.

— Tudo bem. — Emitiu um sorriso triste, e despejou um beijo em sua bochecha. — Nem os meus.

A Morte Te SegueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora