Capítulo 27

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"Qualquer um pode amar uma rosa, mas é preciso um grande coração para incluir os espinhos."
Clarice Lispector.

Nicolas sentia-se minúsculo no quarto de hóspedes destinado a ele, pois somente o quarto de hóspedes era equivalente a metade da casa em que ele morava com o seu pai. Após longas horas naquele cômodo, ele havia tomado banho na água corrente do chuveiro, e tentado dormir de todas as formas, mas após ser assombrado por sonhos terríveis com Marion sendo estrangulada pelo seu pai novamente, Nicolas havia desistido do sono.

O professor não conseguia tirar da cabeça aquele momento que presenciou na delegacia, e sua mente estava em um estado caótico ao ficar relembrando o momento. Para completar, Marion havia ficado diferente, o que para ele, era totalmente compreensível diante daquela situação. Porém, aquilo somente aumentava seu nível de preocupação.

Após um longo tempo raciocinando entre suas opções, e pela primeira vez em seus trinta e quatro anos de vida, pensando antes de tomar uma atitude, ele concluiu que deveria ficar ao lado da garota em um momento como aquele. Ela precisava do máximo de apoio possível, por mais que não soubesse como solucionar seus problemas.

Ao sair do quarto de hóspedes, localizado no primeiro andar, Nicolas subiu as escadas rapidamente, sem olhar para trás, tentando localizar o quarto de Marion. Para o seu infortúnio, todas portas eram iguais, em uma madeira escura, semelhante ao mogno, tornando impossível distinguir qual correspondia a jovem. No entanto, logo em frente à uma delas, o professor pode avistar Marcus, com a cabeça baixa, enquanto esfregava seu rosto com as mãos.

A sua primeira impressão sobre Marcus havia mudado após o segundo contato que teve com ele. O rapaz briguento havia mostrado ser alguém emotivo e com um coração bondoso, apesar de ainda seguir os mesmos passos do pai.

— Marcus? — Nicolas chamou e obteve a atenção que queria. Marcus olhou em sua direção, mostrando seus olhos marejados, e seu rosto totalmente vermelho devido ao choro.

— Nicolas. — Ele respondeu. — Está procurando a Marion?

— Sim. Esse é o quarto dela? — O professor questionou, confuso com a situação.

— É sim. — Afirmou, ressentido. — Ela está com um médico da família...

— Por que? — Pronunciou em voz alta.

Marcus olhou para o teto tentando buscar palavras para o que iria dizer, mas balançou a cabeça negativamente ao mesmo tempo que refletia. No fundo, ele sabia que não haveria melhor maneira para explicar a situação.

— Ela usa medicação para dormir e exagerou na dose. Mas está tudo bem agora.

— Está tudo bem? — Emitiu um risada irônica. — Não está tudo bem. Por que não levaram ela para um hospital?

— Não podemos chamar a atenção no momento... — Marcus suspirou. — Não nesse momento delicado.

Nicolas olhava com desaprovação para o rapaz à sua frente, e por mais que quisesse desferir várias palavras ofensivas, bastou apenas uma frase para feri-lo:

— Eu achava que não, mas vejo que sim... — O professor aproximou-se dele, especulando em voz baixa. — Você é igualzinho ao seu pai.

Em seguida, Nicolas entrou no quarto sem ao menos pedir licença, e deparou-se com Marion recostada na cabeceira da cama, com o rosto pálido, cabelos desgrenhados e o olhar vazio, trajando um robe. Enquanto o respectivo médico da família, um senhor careca de expressão emburrada estava sentando em uma cadeira em sua frente, fazendo anotações em um papel. Assim que ele viu o homem que adentrou no quarto, levantou da cadeira e entregou o papel em suas mãos.

A Morte Te SegueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora