Capítulo 28

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"A paixão aumenta em relação aos obstáculos que se lhe opõem"
William Shakespeare.

Um quarto trancado e uma faca embaixo do travesseiro. Desde que havia chego em sua antiga casa não saia daquele cômodo com paredes mescladas na tonalidade azul e rosa, pois era o seu único refúgio. Ela continuava deitada em sua cama ainda com temor de encarar o mal que lhe assombrava, não arriscava nem mesmo sair de seu quarto somente em pensar na possibilidade de poder encontrar com seu pai no meio do corredor. Por sorte, ainda tinha o apoio de Nicolas e Marcus, que passavam longas horas com ela na solidão daquele ambiente. Marion, mesmo sabendo que uma hora ou outra esse apoio poderia acabar, não conseguia manter os dois distantes. A garota estava acostumada com partidas, e desde quando conhecia uma pessoa já começava a preparar seu psicológico para o momento em que ela não estaria mais lá.

As provas que lhe foram encaminhadas, acusando Alexander Compton da morte de Inez e colocando como responsável dos assassinatos das outras sete garotas um desconhecido, que tem como obsessão a jovem Marion Sparza, era tudo o que ela precisava para aproximar-se da sentimento de liberdade, mas ainda não sentia-se assim. Apesar de agora ser alguém com provas de sua inocência, a sua mente ainda a julgava como culpada, e aquele era um fardo árduo demais para carregar.

O pen-drive com o vídeo de Alexander e o seu celular com as ligações desconhecidas haviam sido apreendidos pela polícia, e eles estavam tentando trabalhar com a única coisa que tinham do assassino; a voz. Marion, há um tempo atrás, quando ainda estava sendo acusada dos primeiros assassinatos que ocorreram, chegou a entregar o celular para fazerem esse mesmo procedimento identificação, mas ninguém havia levado a sério. Segundo os investigadores da época, qualquer um poderia modificar a própria voz, e mesmo que não tenham a acusado explicitamente de ter feito tal ato, a garota sabia que no fundo era o que pensavam; que alguém próximo à ela havia feito as ligações para despistar a polícia.

Entretanto, Marion sabia que dessa vez era diferente. Agora, além da voz da ligação, tinha a voz do vídeo, e ela nutria esperanças que se conseguissem comparar as duas, pelo menos estaria livre das acusações. Havia sido detectado, até então, que aquele timbre temeroso do outro lado da linha havia sido modificado por um aparelho capaz de alterar a voz em tempo real, e não por edição ou aplicativos de celular. Isso, consequentemente, tornava o trabalho da polícia mais difícil. Todos responsáveis pela investigação estavam tentando deixar a voz mais nítida possível por meio de uma projeção, porém, era algo que demorava um certo tempo, e tudo o que restava era aguardar.

Enquanto os fones de ouvido ressoavam uma música calma, e Marion encarava o teto branco de seu quarto, a sua mente flutuava em pensamentos que tentavam, de alguma forma, chegar a algum lugar, mas ao mesmo tempo, continuavam dando voltas. A jovem não entendia o motivo de estar sendo perseguida, mas de qualquer forma, tentava associar isso ao assassinato inesperado de Alexander Compton. Afinal, ela ainda não havia desvendado o motivo que tornaria Alexander um alvo do assassino se os dois acabavam fazendo a mesma coisa; torturar garotas.

— A forma como ele foi assassinado foge de todos os padrões do assassino, deixando explícito um certo rancor que tinha por Alexander. — Marion murmurou. — Talvez eles façam a mesma coisa, mas não com a mesma finalidade.

Ao abaixar o som dos fones para poder pensar melhor, Marion pode ouvir batidas na porta do quarto, e sorrateiramente ela saiu da cama para poder verificar quem era e o que queria, deixando seu fone de ouvido e seus pensamentos de lado.

Para sua surpresa, a pessoa que estava persistentemente batendo na porta era o razpaz que havia cuidado tanto dela nos últimos dias, Nicolas. Ele estava ofegante, levemente suado, com um sorriso brincalhão em seu rosto, e as mãos ocupadas, carregando um buquê de rosas azuis. A jovem piscou mais de uma vez para ter certeza que aquela cena era real.

A Morte Te SegueWhere stories live. Discover now