Capítulo 26

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"Apenas a violência pode servir onde reina a violência, e apenas os homens podem servir
onde existem homens."
Bertrolt Brecht.

Após a conversa na delegacia, Robert Sparza tratou de ir para Universidade do Colorado negociar as férias de Nicolas, o que não foi difícil, pois a sua posição social permitia com que ele fizesse o que bem entendia e concedia diversos privilégios inimagináveis. A viagem de volta para Los Angeles não havia sido longa por conta do jatinho que foi aderido.

Toda trajetória havia sido silenciosa, com Robert resolvendo problemas de seu trabalho. Nicolas perdido e confuso em meio a situação que havia sido colocado, sua cabeça girando em torno do que havia acontecido na delegacia — para o professor, um homem que tenta estrangular a própria filha, poderia também asfixiar garotas desconhecidas — e em meio ao silêncio de todos, o único que tentava quebrá-lo era Marcus tentando puxar assunto com a irmã, que por sua vez, mantinha um comportamento estranho, mostrando-se concentrada em pensamentos distantes. Muitas vezes ela apenas respondia as perguntas feitas com um balançar de cabeça, como se estivesse viajando em um outro mundo. E realmente estava.

Ao chegarem na imensa casa cujo a família Sparza residia, puderam observar um aglomerado de pessoas em frente, fazendo protestos contra Robert, mas a maioria, ainda continuava sendo contra Marion. Haviam mensagens alarmantes, como; "Lugar de assassino é debaixo da terra." ou até mesmo "Você carrega a cruz de oito mortes, se entregue."

Marion... — Nicolas murmurou em sua direção, percebendo que ela havia lido as mensagens.

— Está tudo bem. — A garota confirmou com um sorriso no rosto, mas o professor pode ver ao mesmo tempo que seus olhos estavam marejados.

Marion estava em um estado atônito, e dentro de seu coração continha a esperança que a única coisa que estaria faltando para que tudo ficasse totalmente bem era apenas uma longa noite de sono, com sonhos bons, que lhe tirassem daquela realidade que estava vivendo. Mas a fantasia de que era somente aquilo que precisava acabou quando entrou em sua casa depois de tanto tempo morando em Boulder. Aquela casa guardava tantos momentos ruins, que ela pode ver que a única coisa que parecia um sonho bom em sua vida havia sido o momento em que viveu tranquilamente em Boulder, fingindo ser alguém sem medos, sem traumas, sem mortes e sem dor. A dor de ser quem ela era.

— Eu vou te apresentar o quarto de hóspedes, Nicolas. — Marcus ofereceu.

— Você pode ir para o meu quarto comigo, Nick... — Marion solicitou, aturdida.

Ela sabia que naquele momento, estava parecendo tudo, menos a pessoa forte que sempre parecia ser. Sua personalidade arredia era apenas uma casca, e finalmente a casca foi quebrada. Marion sentia-se frágil, desprotegida e vulnerável, e por mais que não quisesse, transparecia todo seu desespero através de seus comportamentos.

Nicolas, por sua vez, conseguia sentir que a garota, em meio a tudo aquilo, buscava unicamente seu apoio. Ela depositava toda confiança que ainda restava dentro dela, nele. Porém, ele ainda permanecia com medo de não corresponder suas expectativas. Nicolas sentia angustia por não conseguir ajudá-la.

— Linda, eu acho melhor eu ir para o quarto de hóspedes. — O professor sugeriu. — Acho que precisamos assimilar tudo o que está acontecendo primeiro.

— Tudo bem. — Abaixou a cabeça, e guiou seu corpo lentamente até escada que continha no cômodo, subindo a mesma em passos involuntários.

A garota estava evitando ficar sozinha. A solidão era o maior monstro que teve que lidar por toda sua existência. Ao percorrer o corredor com pouca iluminação que concedia acesso ao seu quarto, a jovem foi parada pelo mordomo. O senhor tinha um sorriso amigável, e um rosto similar a muitos outros que ela via pela multidão. A sua barba era cheia, com alguns fios brancos, e ele possuía um enorme bigode, igual ao de seu pai, e por um momento, Marion até confundiu aquele homem com ele, o que fez seu corpo todo reagir em negação e medo.

A Morte Te SegueWhere stories live. Discover now