Capítulo 15

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"Os demônios devem dormir, ou eles nos devorarão; devem ser mergulhados no sono,
ou nós pereceremos!" 
Edgar Allan Poe.

Ao abrir os olhos, Margot percebeu que estava em um ambiente diferente do qual costumava acordar, e que também não estava sozinha. Os braços de Nicolas abraçavam sua cintura, e uma de suas mãos estava apertando um de seus seios. A garota recordou-se da primeira noite em que ambos passaram juntos no depósito, e um sorriso ligeiro invadiu seu rosto ao lembrar-se da expressão assustada do dia em que despertou pela manhã deitada em seu peitoral. A única diferença da cena anterior para a que estavam naquele exato momento é que no depósito ambos estavam vestidos, e agora, estavam sem uma única peça de roupa. Margot vislumbrou pelo canto dos olhos o rosto de Nicolas, e pode ver o rapaz, antes submerso em um sono profundo, abrir os olhos aos poucos.

— Já se arrependeu? — Ele sussurrou, após perceber que Margot já havia acordado.

— Sim. Você ronca. — Mentiu, fazendo com que Nicolas gargalhasse em resposta.

— Consegue me dizer algo gentil pelo menos uma vez na vida? — Ele questionou, esperançoso.

Margot fez uma pausa, pensando em algo gentil para falar, e Nicolas aguardou sua resposta com uma certa expectativa. O professor sabia que ela não era uma pessoa que fazia muitas gentilezas, mas mesmo assim, contemplava seu jeito de ser.

— Hum... — A garota ponderou. — eu gosto de você dormindo.

— Acha que pareço um anjo dormindo, é? — Nicolas questionou com um sorriso soberbo, o que fez com que Margot suspirasse em resposta.

— Não, na verdade, é o único momento em que você cala a boca, Nick. Por isso acho lindo. — Ela respondeu com desdém, e em seguida, levantou-se da cama segurando um lençol contra o seu corpo, enquanto recolhia suas peças de roupas espalhadas pelo quarto.

— O banheiro fica ao lado do quarto do meu pai. — Anunciou. — Pode ficar tranquila, ele não deve ter chego ainda.

— Ele passa a noite inteira fora assim?

— Só algumas. — O rapaz riu. — Tal pai, tal filho.

— Ah, que fofo. — Margot pronunciou, com sarcasmo.

— Brincadeira. — Redimiu-se. — Te falei que ele está em outra cidade.

A jovem caminhou até o banheiro ignorando Nicolas, e de frente para o espelho pode observar as diversas marcas em seu pescoço. Ao mesmo tempo que aquilo estimulou sua raiva, fez com que um sorriso estampasse em seu rosto, e um frio surgisse em sua barriga ao recordar-se da noite ontem. Margot havia apreciado cada momento, e de certa forma, sabia que com Nicolas não era diferente. — Como é possível sentir essas coisas por alguém que eu odeio? — O questionamento rodeou a cabeça da garota, mas infelizmente, ela não tinha uma resposta para isso. — Talvez eu não sinta ódio. Talvez eu sinta afeição. — Margot deduziu.

A garota dispensou qualquer pensamento afetuoso que pudesse sentir pelo professor, e ordenou em sua mente que o frio na barriga — para adolescentes, caracterizado como borboletas no estômago — fosse totalmente extinto. Era difícil controlar seus sentimentos, principalmente quando surgiam de forma tão intensa como aquela, mas ela, sentia-se uma tola por não ser capaz de comandá-los em momentos que exigiam isso.

— Sou a favor de todos seres vivos, mas essas borboletas que estou sentindo na barriga devem morrer. — Murmurou para si mesma.

Ao entrar no banho quente, tentou mandar todos pensamentos embora, inclusive, os pensamentos sobre a ligação que havia recebido na noite anterior. Nicolas a fez esquecer aquilo por uma noite, mas agora que o dia já havia amanhecido, as memórias conturbadas daquela voz sinistra assombravam sua mente. Para sobreviver, Margot tentou por muito tempo ignorar muitas coisas que aconteciam ao seu redor, por mais que seu inconsciente gritasse e suas recordações a assombrassem. Algumas pessoas viviam submissas ao seu futuro, outras contemplavam o presente, mas a jovem, apesar da pouca idade, era escrava dos demônios do seu passado, passado o qual, tinha o poder de predestinar a sua vida, desatar e desfazer nós, e naquele momento, Margot sentia esse nó na sua garganta, tirando seu ar pouco a pouco, até chegar a hora que não restaria mais nada.

A Morte Te SegueWhere stories live. Discover now