Capítulo 14

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"Quando a boca não consegue dizer o que o coração sente, o melhor é deixar a boca sentir o que o coração diz."
William Shakespeare.

Margot Franco, em pleno sábado à noite, sentada em sua cama escutando consecutivamente o ressoar do relógio de ponteiro que havia em cima do criado-mudo. O relógio era velho e barulhento, e a garota se questionava o motivo de ainda não ter substituído aquele objeto por outro mais novo.

Tic tac. Tic tac. Tic tac.

O barulho nunca havia parecido tão irritante como agora. Enquanto esperava por Nicolas, seu coração acelerava e suas mãos soavam, e por mais que quisesse acobertar seus sentimentos, mentindo para si mesma dizendo que aquelas eram sensações por ter acabado de brigar com Olga, sabia que no fundo, não era bem assim. Era pressa em vê-lo. Ansiedade em encontrar aquele professor tão inconveniente, mas ao mesmo tempo, tão engraçado e brincalhão. Até mesmo a música no andar de baixo conseguia exercer uma tortura mais leve em sua mente do que o barulho das horas passando lentamente.

Tic tac. Tic tac. Tic tac.

O movimento da porta de seu quarto sendo aberta tirou a concentração de Margot no relógio, e ao virar o rosto com a expectativa de avistar o rosto de Nicolas, encontrou o de Mark.

— Mark? O que faz aqui? — A garota questionou, com o cenho franzido.

O jovem loiro, apenas emitiu um sorriso tímido, e em passos lentos, sentou-se ao seu lado na cama. Margot finalmente resolveu reparar no modo em que Mark a admirava, e percebeu o que Mikaylla havia dito, e o que Leonora havia deixado em seu diário; Mark a olhava com amor e ternura, e não era de irmão, igual ela sempre achou que fosse. 

Desde que ela ficou sabendo qual eram os reais sentimentos dele, havia evitado a todo custo aproximar-se, o que era difícil, já que o rapaz também morava na mesma república, junto com seus outros dois amigos. No geral, Margot não sabia o que era pior; dividir a república com Olga, que implicava constantemente com tudo o que ela fazia; ou com Mark, que acabou descobrindo seus reais sentimentos amorosos, e agora, vivia em uma fuga constante do rapaz.

— A Olga falou que estava aqui. — Mark afirmou. — Queria ficar aqui com você.

— Mark... — Margot suspirou, cansada de fugir.

— A verdade é que eu tenho que te falar uma coisa que estou adiando por muito tempo, Margot. — O rapaz abaixou a cabeça, constrangido.

Era nítido que ele havia bebido. Seus olhos cristalinos estavam avermelhados, e seus cabelos que estavam sempre cobertos por muito gel, e sutilmente penteado para o lado, dessa vez, estava bagunçado. Sua voz também lhe entregava, pois estava embargada pelo álcool, especulando cada palavra lentamente. Margot sabia que aqueles eram os cinco minutos de coragem de Mark, e antes que pudesse interromper o rapaz de dizer qualquer coisa que pudesse se arrepender no dia seguinte, ele encarou seus olhos de modo confiante, e começou:

— Margot, já faz um tempo que eu sinto algo diferente quando estou na sua presença. Eu confesso que comecei a namorar Leonora para me aproximar de você, e eu sei que isso não foi certo. — Mark balançou a cabeça negativamente, discordando das próprias ações. — Mas eu apenas fiz isso porque sabia que nós não nutríamos amor um pelo outro, talvez apenas um apego emocional. — Engoliu um seco. — No começo, o que eu sentia por você era apenas atração física, mas conforme o tempo passava, desenvolvemos carinho um pelo outro, e o sentimento começou a ser muito maior do que uma simples atração física. A verdade é que eu passei a te amar sem perceber, Margot. — Emitiu um riso nervoso e desajeitado. — Eu te amo mais do que um dia eu poderia prever.

A Morte Te SegueWhere stories live. Discover now