— Aconselho a esconderem os remédios dessa garota. — Alertou. — Cansei de falar para essa família que o que ela parece ter é TEPT¹, porém, ninguém daqui consegue levar isso a sério.

TEPT?

— É. Estresse pós-traumático. — Afirmou. — E precisa de tratamento. Nesse papel há o nome de alguns calmantes. — Colocou um pedaço de papel logo acima do criado-mudo.

— Calmantes? — Indagou.

— Como você pode ver... — Apontou para os objetos jogados no chão. — Estresse. Muito estresse.

Nicolas assentiu, e observou o doutor sair do quarto, enquanto aproximava-se de Marion, que estava sentada na cama com a testa franzida e um olhar rancoroso em sua direção.

— Não precisa falar como se eu não estivesse aqui. — Ela repreendeu.

— Não fui eu, foi esse médico esquisito. — Afirmou o rapaz. — Por que fez isso? — Indagou Nicolas, com receio.

— Eu queria dormir. — Ela suspirou. — Por um bom tempo.

— Marion... — Ele deslizou as mãos pelo rosto, sem saber o que dizer.

— Não precisa dizer nada, Nick. — Prosseguiu. — Era disso que estava tentando te poupar. Agora não tem mais segredos, é essa minha vida. Sou perseguida pela polícia, e ao mesmo tempo, perseguida por um assassino, tenho um pai que parece querer colocar um fim na minha existência, mas eu tenho tanto medo dele a ponto de mudar totalmente meu comportamento quando estou em sua presença. Sim, eu já percebi isso. Ainda assim, não consigo evitar que isso aconteça. — Ela suspirou. — Por fim, eu sinto no fundo da minha alma que acabo com a vida de todas pessoas perto de mim. Cada uma dessas meninas que morreram, não fui eu que matei, mas eu me sinto culpada. Eu sabia o que iria acontecer com cada uma antes de acontecer, e mesmo assim, não fui capaz de fazer nada. Elas apenas morreram porque eram minhas amigas ou me conheciam. Por um tempo quis acreditar que não, que era apenas uma enfática coincidência, mas vamos ser sinceros, não tem chances disso ser coincidência.

Marion começava a chorar novamente, e seu rosto que estava pálido começava a aderir um aspecto vermelho de novo. Nicolas sentou-se ao seu lado, olhando para a jovem com compaixão, enquanto tentava de todas as formas controlar seu choro que também era iminente.

— Se apenas isso não bastasse, olha meu irmão, você... — Mencionou, limpando as lágrimas persistentes. — Vocês acabam carregando o peso disso. Esse era o motivo de manter as pessoas tão distantes de mim. — Alegou. — Não precisa ficar comigo, Nick. Não é a melhor opção, e eu entendo seu distanciamento. Mas me avisa. Eu acabo... — Emitiu um longo suspiro antes de prosseguir. — Te querendo cada vez mais, e te ver se distanciando sem justificativa é difícil.

Nicolas acolheu Marion em um abraço, sentindo o cheiro intenso de perfume sendo emitido de seus cabelos e de sua pele. Sem remediar, acolhido em seu pescoço, ele prosseguiu:

— Não preciso ficar com você, mas eu quero. — Admitiu. — Não me distanciei, apenas precisava pensar, e parando para pensar vejo o quanto você ferrou minha mente. — Especulou, aos risos. — Porque eu também te quero cada vez mais, Marion. Estar com você não é nenhum peso.

Após dizer isso, a garota encarou seu rosto, mostrando que ainda continha lágrimas nos olhos, mas dessa vez, também carregava um sorriso nos lábios. Ela colocou as mãos em volta do rosto de Nicolas, bem na parte que havia uma barba cerrada, e esmagou duas bochechas, fazendo com que ele fizesse um bico com os lábios.

— Obrigada, Watson. — Pronunciou, em um tom afetivo, selando seus lábios no de Nicolas, e logo afastando-se.

Nicolas encarou os lábios bem desenhados de Marion, não satisfeito com o beijo superficial que havia recebido, agarrou sua cintura, contornando sua língua descontinuamente por cada canto de sua boca. A sintonia que tinham era inegável, e após aquele momento de aflição e desespero, era impossível não transparecer toda ardência daquele gesto. Ao deslizar as mãos por todo corpo de Marion, ambos já sentiam um calor incontrolável dominarem ambos. Até que o momento foi interrompido por batidas na porta. Ambos, desconcertados, encararam um ao outro, e Marion finalmente prosseguiu:

— Pode entrar!

Em segundos, puderam ver Marcus adentrando pela porta. Com seu terno azul marinho, e seus cabelos loiros, dessa vez, bagunçados. Ele mostrava-se constrangido por estar ali. Nicolas não sabia distinguir se o constrangimento era por sentir que atrapalhou algo ou pela conversa que haviam tido ao lado de fora do quarto.

— Queria saber como está, passarinho. — Marcus disse, analisando Marion com cuidado.

— Estou bem, irmão. — Especulou.

— Desculpa interromper. — O rapaz suspirou. — Não sabia...

— Tudo bem. Que bom que vocês dois estão aqui. — A garota disse, encarando Nicolas e Marcus com atenção. — Preciso mostrar algo que recebi.

Ela levantou-se da cama, e abriu a primeira gaveta do criado-mudo, pegando em suas mãos a pequena caixa preta que havia guardado com tanto cuidado. Os dois olhavam curiosos para ela, com uma certa expectativa estampada em suas expressões faciais. A jovem, ao abrir a caixa lentamente, pode notar a fisionomia confusa que formou-se, tanto no rosto de Marcus, como no de Nicolas. Com temor, ela rodopiou o pen-drive em sua mão.

— Vocês não vão acreditar no que tem aqui. — Anunciou, e em seguida sentiu um arrepio dominar o seu corpo ao lembrar-se do conteúdo que continha naquele vídeo.

《•••》

TEPT¹:  Estresse pós-traumático. Definido como uma situação experimentada, testemunhada ou confrontada pelo indivíduo, na qual houve ameaça à vida ou à integridade física de si próprio ou de pessoas a ele afetivamente ligadas. Seriam situações essencialmente violentas. Por exemplo; enchentes, incêndios, soterramentos, acidentes automobilísticos, assaltos, sequestros, estupros, entre outros. 

Tradicionalmente a sintomatologia do TEPT é organizada em três grandes grupos: reviver do trauma consecutivas vezes, à esquiva e distanciamento emocional, e também, hiperexcitabilidade psíquica. 

A Morte Te SegueWhere stories live. Discover now