mil e quinhentos

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Tic

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Tic.

Toc.

Tic.

Toc.

Tic.

Toc.

Tic.

Toc.

Onze horas da noite.

O olhar cansado pesava tal como as mãos e os pés que sustentavam pesos e andavam subidas íngremes. A caneta, abrigada nos dedos da mão, parecia maior do que deveria ser. As juntas doíam conforme assinava tal como o pescoço costas braços pernas corpo todo corpo nada.

A noite era quente demais para seu costume de dia de trinta e cinco graus e falta de Sol de vinte e dois. O corpo transpirava, ardia. O pulmão não mais queria o ar abafado; o coração acelerava enquanto ela ficava parada. Os cabelos, antes suaves e belos, mais pareciam uma assombração do que já foram.

Olhos cansados, mente ocupada e corpo doente.

Ela negava enquanto seus girassóis na pele ardiam, implorando por Sol mesmo sabendo que o Sol mais lhe machucaria.

Assinava seu nome em papéis que não queria mais ler. A mente não mais agia faziam-se anos, entretanto, ultimamente ela ia e vinha de formas que não deveria ter ido.

Tic.

Toc.

Ergueu o olhar.

Uma da manhã.

Apavorou-se a mulher ao lado dos papéis que não diminuíam nunca; erguera-se, assustada, sem mais compreender a própria noção do tempo. O que fez nas últimas horas, se havia feito algo? Assinara e lera papéis, contudo, não mais lembrava-se dos mesmos e de seu conteúdo. A memória não fora gravada, não fora guardada e não fora cuidada. Também, para o pavor, não mais se lembrava do que fazia nos últimos dias. Sabia onde estava, o que fazia, mas não lembrava-se do conteúdo, do recheio do suposto bolo maravilhoso que sua vida iria ter se tornado após a morte da mãe.

Que mais havia feito nos últimos anos? Planejara, fizera missões, assinara papéis, (tentara) cuidar da única filha e de seu futuro. Lera e relera a Profecia até a mente, de tão envolta por ela que se tornou, ficou permanentemente gravada com suas palavras. A mulher não mais se lembrava onde havia deixado aquele livro, tampouco onde estava a caneta que segurara agora a pouco.

Aterrorizada, a Rainha Helena fitava o relógio do quarto. Piscava, para ver se era verdade: Duas horas em dois minutos? Duas horas em dois segundos? Duas horas em duas piscadas? Passaram-se cinco minutos e ela ainda encarava o objeto sem acreditar.

Desesperou-se. Era como se nada havia realmente ocorrido naquele tempo, como se ela simplesmente tivesse saltado para o futuro. O corpo implorava por descanso, entretanto, não deveria. Temia que repousar significasse que a doença recém-adquirida realmente existisse, tal como o salto do tempo que acabara de dar.

(LGBTQIA+) O Conto do Feiticeiro MalignoOnde histórias criam vida. Descubra agora