NÃO ESTÁ TUDO BEM

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Ele havia acabado de tomar o seu segundo banho de remédios daquela semana.

Saiu para fora daquela piscina e secou-se. Estava de noite, então nenhuma sombra, nem Emanuel e a sua mãe iriam surgir para lhe atrapalhar.

Nosso feiticeiro respirou fundo – já não precisava mais de apoio para andar, apesar de que não poderia forçar muito o corpo. Faltavam dois dias (e meio) até o Baile, então aquela era a hora perfeita.

Trocou de roupa e colocou uma de suas capas pesadas. Pegou o cajado, que estava apoiado em um canto, e, então, se retirou da sala.

Ninguém sabia da existência daquele local – OK, mentira, sabiam, sim, mas essa é uma dessas salas que você pensa "ah, tá, eu não ligo pra esse lugar não, tchau", então nenhuma alma viva entrava ali, a não ser por Meia-Noite (e Lelouch, às vezes), mas, obviamente, isso não impedia o nosso feiticeiro de trancar aquela salinha, porque É ÓBVIO que ele iria fazer isso, o que você esperava?

ENFIM, Meia-Noite foi andando pelos corredores com a felicidade de uma pessoa indo para uma prova que sabia que iria se dar mal, alcançando os jardins da fortaleza em apenas alguns poucos minutinhos.

Muito silenciosamente, para não acordar nenhuma das criaturas que vivia por lá (acredite em mim, fadas podem ser criaturinhas fofinhas, mas você não iria querer acordar alguma delas), Meia-Noite seguiu na direção da Floresta dos Espinhos.

Caminhou durante vários minutos até achar um dos portais abandonados. Batucou nele com o cajado – tuc, tuc, tuc, bem rápido, depois tuc-tuc-tuc, mais devagar, e tuc, tuc, tuc, rápido de novo.

O portal que se abriu não era um feito de luz, como os que o nosso cavaleiro, Edgar, usava! Era um portal feito de trevas puras, e, pior ainda: Se você olhasse bem, parecia que ele era feito de...

De...

D....

...

De espinhos.

Meia-Noite adentrou a passagem recém-aberta sem pensar duas vezes.

... Você sabe que eu... Meio que não sei o que é o "Aquilo". A verdade é que eu não sei de muita coisa. Eu sou defeituosa, no final das contas. Uma anomalia. Narradores geralmente sabem muito mais das coisas, só que eu não.

Então...

Eu acho que já sei o que é Aquilo. E temo que você também já suspeite o que é.

Vamos só prosseguir. É melhor!

Nosso feiticeiro chegou em um local mais aberto da floresta. Havia uma única coluna caída e quebrada ao meio do chão. Uma coluna das Ruínas das Rosas. Totalmente coberta de espinhos.

Não dava para escutar nem mesmo o som do vento.

As árvores próximas daquela coluna também estavam cheias de espinhos, como num aviso.

Meia-Noite engoliu em seco, o coração acelerando, até que se aproximou daquela construção quebrada. Deus uns quatro passos e parou.

Ainda dá para voltar.

Mas eu não posso voltar.

Eu preciso disso.

Eu preciso disso.

Eu preciso disso.

Abriu a boca, e... Com a voz trêmula... Disse, em alto e bom tom:

(LGBTQIA+) O Conto do Feiticeiro MalignoWhere stories live. Discover now