Capítulo 14

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Luísa 

Como é bom chegar em casa! Teve momentos emque pensei que nunca mais voltaria para esse lugar. Estavacom saudade de tudo por aqui. Desde a comida deliciosaque a Jane prepara às flores que o Seu Chico cultiva no jardim. 

De repente, tudo parece muito mais bonito e especial.Estar perto da minha família não tem preço. Depoisde passar por situações difíceis é que percebemos comocertos sentimentos são imensuráveis. 

Todos estão radiantescom o meu retorno, incluindo os empregados. Cada gestode carinho que recebo me faz perceber o quanto sou querida nesta casa. Meu pai e Helô não saem do meu lado parapraticamente nada. Nem foram trabalhar; o que é realmente um milagre. 

Hoje à tarde fui fazer o exame de corpo de delitoe, mesmo já tendo noção de como seria o procedimento,confesso que fiquei um pouco constrangida. Não sei se pelofato do meu psicológico ainda estar abalado ou por contade eu não ser mais virgem.O resultado sai em torno de dez dias e até lá tereique arrumar uma desculpa convincente para meu pai emrelação a esse último fator. 

É lógico que ele não tinha controle sobre a minha virgindade, mas lembro de que há pouco tempo lhe contei que nunca tinha ido além de beijos e amassos com homem algum. 

Sempre tivemos uma relaçãoaberta e de muita conversa, principalmente depois que minha mãe morreu, mas nesse caso não poderei ser sincera.Se ele descobrir a verdade, tenho certeza que no mínimovai pirar. Ah, convenhamos que não é muito natural um paisaber que sua filha perdeu a virgindade de livre e espontânea vontade com um bandido. 

Na verdade, terei que mentir na cara dura e inventar algo para não incriminar ainda mais um homem queeu nem mesmo sei quem é, pois será difícil para a minhafamília acreditar que não fui estuprada naquele cativeiro. 

Enquanto isso, fico me perguntando onde aquele cara podeestar. Sei que mora em São Paulo, já que deixou escaparessa informação lá no casebre, mas será que depois de receber o dinheiro do resgate continua por aqui ou foi emborapara finalmente mudar de vida? 

Bom, eu no lugar dele trataria logo de fugir comminha tia, irmão, cachorro, papagaio... Não deixaria maisrastro nenhum nesta cidade. E deve ter sido isso mesmo oque ele fez. 

Se ficar aqui, as suas chances de ser encontradoaumentam drasticamente e por isso tenho a certeza de queo que ele mais quer de mim agora é distância.Ah, eu nem mesmo sei o porquê de eu ainda continuar me importando com essa história. Nós dois sabíamosque ela não teria futuro depois que eu saísse daquele cativeiro. E, além de que, duvido muito que ele ainda estejalembrando que eu existo. 

Um cara daquele tipo não deve seapegar a ninguém tão rápido.E é isso mesmo o que eu irei fazer; vou colocar deuma vez por todas uma pedra em cima de tudo o que aconteceu naquele lugar. Será melhor apagar todas essas lembranças que insistem em dominar meus pensamentos. Vouesquecer o rapto, a surra que levei, a fome que passei... Vou esquecer também o abraço que me aqueceu quando eu estava doente, os beijos que incendiaram minha alma naquela noite de tempestade e também aquele corpo incansávelque soube invadir o meu de luxúria e de prazer. 

Vai ser umatarefa árdua, já que meu ventre se contrai só de lembrar nassensações que ele me apresentou quando estávamos juntos. 

Deito em minha cama e me ponho a pensar emcomo conduzirei minha vida de agora em diante. Não quero mais ser essa Luísa tão tímida e introspectiva. 

Sou despertada dos meus pensamentos quando vejoHelô entrar em meu quarto com uma bandeja nas mãos. 

– Trouxe um jantar caprichado para você! – diz sorrindo. 

Paixão em CativeiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora